sábado, 11 de abril de 2009

RIBEIRA - 284

AMANTES


Naquela manhã, por volta das 9h30, Carlos voltava para o seu escritório, onde trabalhava, quando passou em frente do bar do “Giba” e, sem querer, notou a presença de uma garçonete inda jovem, coisa dos seus 20 anos, mais ou menos, e resolveu ficar, um pouco, para ver quem era a garota tão bela e fascinante que se mostrava a seus olhos. Subiu um degrau feito de tronco de coqueiro e tão logo debruçou no parapeito do balcão. Quem estava ali era a dona do bar, conhecida por Bebé, mulher baixa, alva, cabelos curtos, corpo roliço como quase gorda. Ela - Bebé - estava fazendo as unhas dos pés e levemente notou a presença de Carlos no balcão e disse logo, sem levantar a cabeça:
--- Diga o que quer. Fresco? - falou Bebé.
---- Olhar você cortando as unhas dos pés - respondeu Carlos com um leve sorriso.
Então, aproveitou para olhar mais a miúdo para a nova garçonete e em seguida teceu conversa com a jovem de cabelos loiros, um par de brincos nas orelhas, vestido composto e um corpo suave e meigo, de uma altura mais baixa que a dele. Então, Carlos perguntou à garçonete.
--- Você é nova, aqui? - perguntou Carlos
--- (leves sorrisos) Segunda-feira. Por quê? - respondeu a moça
--- Não tinha te visto, ainda. - disse Carlos.
A moça sorriu e Bebé completou o que a moça não disse.
--- Chegou segunda. Você não perguntou o seu nome! - falou Bebé
--- Verdade! Como te chamas? - falou Carlos
--- Carol. - disse a moça sorrindo.
---- Carol! Belo nome. Onde moras? - perguntou Carlos.
--- Na minha casa. - disse isso e sorriu.
--- Ah! É verdade. Como eu sou burro. Por que não pensei nisso? - reclamou Carlos do forma recriminatória. Disse isso e sorriu também.
--- Pois eu vejo você, sempre. Sei onde trabalhas....(sorrisos) - falou Carol.
--- Sabes mais do que eu. - respondeu Calos, sorrindo.
Nesse meio tempo, Carol escorou o queixo no batente do balcão que ficava um pouco distante - não muito. Coisa de um metro ou menos - onde Carlos estava, e olhou para o rapaz como se tivesse óculos, percorrendo aquele homem de cima a baixo, até a cintura, como se estivesse olhando por baixo dos olhos. E era assim mesmo. Carlos sorriu e disse que depois voltava para conversar. Carol sorriu disfarçadamente e nada comentou. O rapaz desceu o batente e dobrou a esquina, entrando para o escritório onde trabalhava. Ao entrar na porta, sentiu uma leve pancada nas costas e viu um cajá caído no franco que dava acesso ao escritório. Olhou em direção ao muro, e viu apenas os cabelos loiros da moça já de retirando para o interior do botequim. O rapaz sorriu e nada comentou.
À tarde, no final do dia, quando não tinha nada a fazer no escritório, Carlos fechou as janelas e portas, deixando encostada apenas a porta principal, por onde ele costumava entrar todos os dias. Não tendo mais ninguém a atender ou mesmo serviço a fazer, Carlos foi fazer um programa que ele costumava bater à máquina, pois, logo mais, à noite, coisa de 10hs ele estaria apresentando tudo àquilo que datilografara horas antes. Não se lembrava nem mais da encantadora moça do bar, a garçonete. Não era por que quisesse esquecê-la, mas, apenas por estar compenetrado no seu laborioso trabalho que ele fazia com tamanho esmero. Dentro de momentos, como sempre aconteciam todos os dias, a luz do sol já havia se ido e começava a escuridão da noite. Nem os pássaros cantavam mais. De fora, só se ouvia o gargalhar de um bêbado vindo do bar da esquina. O choqualhar de talheres no bar, não raro de ouvia. E Carlos estava compenetrado no seu afazer que nem prestava a atenção. A porta de entrada estava apenas escorada, por onde uma brisa suave perseguia a entrar sem causar desatenção alguma. E foi por esse tempo que um perfume delicado lhe abordou o sentido e ele ouviu um chiado de sandálias como que se aproximava de forma mansa e ele voltou o olhar para traz e viu o contorno da moça a se acercar. Um leve tremor soprou o corpo de Carlos, enquanto dizia:
--- Surpresa! Não estava te esperando! - falou Carlos
E a moça sorriu muito leve. De modo quieto se aproximou do rapaz e sentou em uma cadeira que estava ao lado, olhando-o com extrema ternura. Então, o moço parou o que estava fazendo e passou, também, a olhar aquela silhueta de uma jovem esmerada e encantadora. Sorriu para Carol e olhou todo o seu corpo franzino e cheio de curvas, mas parecendo uma boneca de veludo cor grená como o que ele tinha visto certa vez na exposição de uma loja de armarinho de eventos de luxo. Desfeito do pasmar, Carlos declarou:
---- Você é verdadeiramente encantadora. Tens uma pele suave como uma pluma e um cheiro sublime e angelical, como as cantoras sacras. - falou Carlos
--- A quantas já dissestes esse negocio? - perguntou Carol.
--- A ninguém, como estou a ti falar. Juro por Deus! - retornou a falar o rapaz.
--- Nem a tua mulher? - perguntou Carol.
--- Eu nem sou casado, ainda! - respondeu o jovem
--- Não? E aquela que estava com você? - voltou a inquirir a moça.
--- Qual? Quando? Onde? - perguntou novamente o rapaz.
--- Sei lá. Na rua. - e voltou a sorrir a mulher.
--- Você é de todo sensual. Tu és capaz de me fazer com lagrimas e preces e sem sentir encher-te de delicados e sublimes ósculos embriagadores. - falou Carlos.
A jovem mulher não entendeu nada com esse palavreado do rapaz querendo apenas dizer que sentia um imenso desejo de fornicar com aquela divinal donzela, se ainda fosse donzela. Os termos que Carlos empregava bem davam para perceber que a jovem era apenas uma mulher, ocorrência tão cabível naquele tempo. Apesar da pouca idade que aparentava ter, ela já não era mais virgem, pois alguém se aproveitara do estonteante encanto que aparentava ter a tal imaculada jovem. Em um passo, Carol cruzou as suas pernas, permitindo ao rapaz antever suas coxas e nesse ponto ele não teve mais nenhuma duvida. Ali, bem ao seu lado, permanecia uma alegre e encantadora mulher, talvez de programa, de muito domínio juvenil e de doçura real, com os seus distraídos vinte anos. Por isso, Carlos não contou conversa. Olhou para uma sala ao lado, viu um grande sofá que parecia até deixado ali de propósito. Ele pediu licença à jovem e se apartou um pouco, por onde nem a moça sabia, abriu outra porta e em seguida depois de rodear por um beco alpendrado que havia na casa, trancou a cadeado, como era de costume, porta de entrada, e depois, voltou pelo mesmo lugar, fechou a passagem por onde ele saíra da vez primeira. E em seguida, quando voltou, a moça perguntou o que ele esteve a fazer.
Carlos respondeu que foi somente fechar a porta por onde ela entrara.
--- E agora? Que é que eu vou fazer? - disse Carol, assustada.
--- Nada! - respondeu Carlos, a sorrir.
Era um sorriso malando de quem já via o que iria ocorrer daquele instante para frente. Já não tinha nada a dizer o cavalheiro voraz, cheio de sede em poder degustar tão bela feminidade e que somente a aquela boneca de porcelana e seda podia possuir. Foi aí que ele a chamou para viver talvez um longo e fortuito aceno de amor.

Quando tudo terminou a moça reclamou está redondamente “molhada”, carecendo de um bom e salutar banho de chuveiro. E sorria com alegria por ter alcançado aquele sonho que tanto suspirou por ele, horas antes. Sonho de amor e de paixão era o que pensava a sutil fêmea, pois não havia no mundo alguém mais feliz que ela após tanta ânsia desesperada. Enfim, foram os dois ao banho salutar e revigorador. Ela asseando o rapaz que, ao seu modo, também estava “molhado” de todo aquele momento crucial de amor casual. Só então Carol olhou para o seu relógio e, quase gritando, clamou:
--- Sete horas, amor. Ave. Se Bebé me chama!!!!...-- falou Carol.
--- Pra que ter medo? Agora é tarde e Inês é morta. - respondeu o rapaz.
A mulher olhou para o rapaz, e começou a sorrir. Sorria bem muito que se desligara do tempo. E ouviu de uma radiola, com certeza, do bar, uma música tocar que, pela distancia, chegava como um murmurar. A tal melodia que então tocava reproduzia: “Sempre no meu coração o teu nome há de ficar...”. Ela prosseguiu a cantar a melodia, com uma sua voz terna e embriagadora como uma cantora de tempos remotos. A sua vozear eram verdadeira e afetuosa como as ninfas do paraíso do nirvana que tanto buscam a superação do apego aos sentidos e a existência. Ao entoar tal melodia a fêmea cantora apresentava sempre um vocal capaz de assimilar qualquer composição com tamanha ternura. Em instantes, Carol ouviu um pigarrear como de uma mulher, vindo do lado de fora da casa. Ela logo percebeu ser a sua senhora, Bebé, a dona do bar, que certamente achou a sua demora demais até, pois havia fregueses para atender naquele horário.
--- Bebé! - proferiu Carol para o rapaz de um modo baixo.
E Carlos sorriu por tudo que acontecera. Não tendo mais o que fazer, ele abriu a porta de trás para que os pudessem sair sorrateiros. Ele, além do mais sabia que a dona do botequim nada iria dizer, a não ser perguntar a estonteante mulher se tudo o que se passou havia sido de boa lembrança.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

RIBEIRA - 283

LIBERDADE
Ferdinand Victor Eugène Delacroix nasceu em Saint-Maurice em 26 de Abril de 1798. É inegável que foi um importante pintor francês da era do Romantismo, movimento artistico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII. Caracterisou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo. Delacroix é considerado o mais importante representante do romantismo francês. Na sua obra convergem a voluptuosidade de Rubens, o refinamento de Veronese, a expressividade cromática de Turner e o sentimento poético de seu grande amigo Géricault. O pintor, que como poucos soube sublimar os sentimentos por meio da cor, escreveu "...nem sempre a pintura precisa de um tema". E por isso seria de vital importância para a pintura das primeiras vanguardas.
Delacroix nasceu numa família de grande prestígio social, e seu pai virou Ministro da República. Alguns acreditam que seu pai natural teria sido na realidade o príncipe Talleyrand, seu mecenas. O fato é que Delacroix teve uma educação esmerada, que o transformou num erudito precoce, frequentou grandes colégios de Paris, teve aulas de música no Conservatório e de pintura na Escola de Belas-Artes. Também aprendeu aquarela com o professor Soulier e trabalhou no ateliê do pintor PIerre-Narcise Guérin, onde conheceu Géricault. Visitava quase todos os dias o Louvre, para estudar as obras de Rafael e Rubens.
Seu primeiro quadro foi "A Barca de Dante" -- a obra deste escritor italiano foi um dos temas preferidos do romantismo. A tela lembra "A Barca de Medusa", de Géricault, para quem o pintor havia posado. Algumas pessoas viram no artista um grande talento como o de Rubens e a semelhança de Michelangelo. Não tão apreciados da mesma maneira: "O Massacre de Chios" (1822), "A Morte de Sardanápolo" (1827) e "A Tomada de Constantinópla pelos Cruzados" (1840), baseadas em temas exóticos e históricos, de composições bem mais caóticas e de uma dramaticidade e simbolismo cromático incompreensiveis para a Academia.
Delacroix se interessou também pelos temas políticos do momento. Sentindo-se um pouco culpado pela sua pouca participação nos acontecimentos do país. pintou "A Liberdade Guiando o Povo" (1830), um quadro que o estado adquiriu e que foi exibido poucas vezes, por ter sido considerado excessivamente panfletário. O certo é que a bandeira francesa tremulando nas mãos de uma liberdade resoluta e destemida, prestes a saltar da tela, impressionou um número não pequeno de espctadores. Essa obra de Delacroix é a capa de um album "Viva La Vida ", de 2008, da banda Coldplay.
Em 1833 Delacroix foi contratado para decorar o palácio do rei em Paris, o Palacio de Luxemburgo e a biblioteca de Saint-Sulpice. Nos seus últimos anos preferiu a solidão de seu ateliê. Eugène Delacroix morreu a 13 de agosto de 1863.
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terça-feira, 7 de abril de 2009

RIBEIRA - 282

O BEIJO


Naquele dia, Niel estava em companhia de Lígia, uma jovem de idade cinco anos menos que a de Niel. Os dois caminharam até uma loja de eletros e lá, o rapaz pediu à moça que escolhesse o objeto desejado, pois ele cobriria a despesa com o seu cartão de crédito, vez que Lígia não tinha meios para pagar o que desejava comprar. O dia estava calmo e claro, numa manhã de primavera quando o sol reluzia com mais fulgor e doce encanto. As pessoas passavam em frete à loja, olhando e perguntando qualquer coisa que lhes interessava aos balconistas de cara amarradas, pois eles sabiam muito bem que aquela gente não queria adquirir coisa alguma. O trânsito de carros era intenso, com o buzinar ensurdecedor para os ouvidos de Niel que a cada vez ficava mais enervado com tamanho barulho. Foi em um instante desse que o rapaz olhou para o relógio de pulso, consultando as horas, vez que ainda tinha que ir a repartição, uma vez que deixara trabalhos por fazer. Lígia tinha que trabalhar somente à tarde e por isso estava tranqüilo, pois ainda lhe restava um tempo para gastar com a vida até chegar à sua repartição. Niel sabia disso muito bem, uma vez que já trabalhara lá em tempos passados. Para bem falar, Niel e Ligia eram tão somente apenas amigos, porém, por dentro, o jovem nutria um sentimento em segredo pela linda e cativante moça, de terna beleza com os seus cabelos soltos, cobrindo até a cintura, olhos negros, pele clara, mãos alongadas combinando com o seu porte, ligeiramente alto, quase ou talvez igual com o do seu companheiro de luta. Eles estavam sentados esperando que o rapaz fizesse as contas para poder Niel passar o seu cartão de crédito. Isso, depois de muito pesquisar entre uns e outros objetos que a linda donzela procurava comprar. Por um pouco tempo, a bela senhorita sorriu para o rapaz, com um sorriso faceiro como se quisesse deixar escapar algo que tanto Niel gostaria de ouvir. Porém, o que a jovem lhe disse foi apenas:
---- Calor!! Sentes? - disse Lígia.
---- Um pouco. É o tempo. - respondeu Niel.
O vendedor olhou para ambos, como se estivesse usando óculos, e nada comentou. Apenas pediu que o rapaz passasse o cartão de crédito para sanar o seu acerto de compromisso de compra e venda do objeto adquirido. Em seguida, o vendedor se levantou do local e puxou a nota de compra que estava saindo da máquina que parecia mais com um duende. Uma vez feito, o vendedor perguntou ao jovem:
--- Vai levar agora? - perguntou o vendedor.
Nesse instante, Niel olhou para Lígia, procurando ouvir uma resposta. E a moça perguntou:
--- A loja não leva? - perguntou Lígia.
O vendedor respondeu:
---- Demora talvez dois dias. Depende da quantidade de artigos que tem para levar. - disse o vendedor.
--- Ah! Bom! Eu espero. É melhor do que eu sair com ele. Espero! - disse Lígia.
De saída do local de vendas, onde havia móveis, geladeiras, frízeres e tantas outras coisas mais, Niel acompanhou Lígia e perguntou-lhe com cerimônia a seguir se não gostaria de ir até a uma lanchonete logo ali perto onde ambos poderiam tomar alguma coisa, como um suco ou um sorvete, ou outra coisa qualquer. A moça concordou ao tempo em dizia:
---- Só ti dou trabalho, não é? - falou Ligia com um sorriso na face.
--- Que nada. Trabalho esse. - retrucou Niel com um leve sorriso, ao ponto de querer com isso beijá-la de verdade. O temor em ser recusado lhe fez estremecer num leve arrepio como sacudido por uma brisa gelada.
O rapaz fitou a moça, disfarçadamente e, ao chegar à esquina, ele e Ligia dobraram a sua direita, enveredando por entre pessoas que caminhavam apressadas. O semáforo do trânsito estava vermelho dando, assim, a permissão de passagem. Porém, Niel achou por bem caminhar um pouco mais, dado o grande fluxo de veículos, buzinando e acelerando os motores, deixando os pedestres aborrecidos com tamanha confusão. Niel pegou a mão de Ligia e ambos atravessaram pelo meio dos veículos cheirando a fumaça que soltavam pelos escapes, acelerando cada vez mais, como se estivessem prontos para agarrar o casal de qualquer maneira. Os motoristas eram plenamente deseducados, como se podia ver.
--- Que coisa chata. - disse a moça, a correr por entre os carros. E sorriu. Sorriso leve, porém de medo ou de temor. Pressionando a mão de Niel, ela sorriu outra vez, enquanto gente passava na calçada daquela rua. Uns, vinham, outros iam. Gente e mais gente. Mais parecia um formigueiro. Niel olhou para Ligia, e lhe devolveu o sorriso. Era como se entendesse o que a jovem pensava. Nas lojas em frente, tinha de tudo um pouco. Então, Ligia chamou a atenção do rapaz para que olhasse uma cama exposta na exposição. Niel voltou o olhar e viu outros objetos expostos. Era uma loja de variados objetos, pois atendia a quem quisesse comprar. A moça ficou parada por uns instantes, verificando os preços do que estava à mostra. Então, Niel perguntou-lhe, para apenas saber ou insinuar:
--- Vai levar? - e sorriu com o seu modo de sorrir.
Então, a jovem olhou para ele e respondeu que não, mas bem que queria poder comprar, pois a sua estava um tanto velha, de pernas quebradas e ela temia que qualquer dia a sua cama desabasse. Disse isso, e sorriu. E Niel também sorriu, levemente, olhando para os olhos de Ligia. Um temor lhe assombrou o espírito, pois sentiu o desejo terno de beijar bem próximo, agarradinho, descuidado aquela jovem de pele clara, altura mediana, boca suave, olhos negros e tentadores, mãos suaves, e um corpo extraordinariamente encantador. Vestida de saia de cor azul, quase negro, de bolinhas brancas, mangas descidas, aquele tipo de mulher sensual enfeitiçava qualquer ser mortal, E Niel não saberia dizer o porquê do seu silencio em não se declarar de uma vez por todas o quanto sentia pela doce e suave criatura. De mãos dadas, eles observavam o que havia naquela loja. Ela, mais ainda. Gente passava de um lado para o outro, carros buzinavam de forma ensurdecedora. Era a vida que corria por entre o mundo desigual e igualmente igual ao mesmo tempo. Entre tanta gente que passava um velho maltrapilho, calças rotas, camisa em desalinho, toda suja, paletó que nunca mais vira água, um saco às costas seguro por uma das mãos, se aproximou do casal, de mão estendida, pedindo uma esmola. Ligia estremeceu de medo enquanto Niel tirou do bolso uma nota de um valor não alto e deu ao homem, velho, de cabelos desgrenhados, quase cobrindo o pescoço. O velho lhe fez agradecimentos, desejando aos dois uma eterna felicidade, coisas que dizem os pedintes a qualquer um que lhe faz um presente tão meritório. Niel não disse nada e sentiu o temor de Ligia, chamando-a a prosseguir caminho até o Beco, logo ali próximo. Beco era Beco mesmo. Não tinha nome. E se tinha Niel não saberia dizer. Era assim que ele chamava o tradicional Beco onde havia casas de vendas de coisas de “despachos”, bodegas quase sempre cheias de bêbados e tudo mais que aparecesse. Naquele Beco tinha um prédio de dois andares e no andar solo, uma lanchonete, àquela hora do dia, pouco freqüentada. Era uma lanchonete de grande procura por volta das 11 horas da manhã, indo até 2 horas da tarde. Seu quiosque era sortido, vez que tinha quase de tudo que o freguês procurava. Niel procurou uma mesa que ficasse perto da parede de dentro e chamou Ligia para sentar ao lado dele onde conversariam ao bom gosto. Um garçom quase sem jeito de barman, por causa da roupa que vestia, somente de calça de brim e camisa de meia manga, veio de imediato lhe oferecer um cartão, pois se parecia mais com isso do que com um cardápio. Niel recebeu o cardápio e fez questão que Ligia verificasse também, porque ele já tinha em mente o que desejava. A moça pegou o tal cardápio e consultou para ver o que de havia melhor. Com isso, a moça sorriu leve. E perguntou ao seu amigo:
---- Que vais pedir? - perguntou Ligia.
--- Salada de frutas e um copo de suco de cajá. - disse Niel.
--- Ah! Bom. Parece razoável. É isso que eu também vou pedir. - respondeu à jovem.
Ao longo do Beco, gente passava num vai-e-vem sem parar, como costumeiramente fazia. Uns que vinham da loja de macumba, com roseiras cheirando a mato, um galo escondido num saco de papel e com o pescoço do lado de fora, uns artífices sapateiros que voltavam a rua para a sua oficina, outros com os cestos cheios de frutas - pinha, goiaba, manga, sapoti, graviola e muitas outras frutas - que entravam no corredor da lanchonete até alcançar a rua seguinte. Pessoas que deixavam um doce aroma das frutas prontas para se comer. Aquilo, aumentou a fome em Niel, como se devorasse todo conteúdos das frutas que as pessoas passavam por ali por perto. Em tal momento, quando o garçom servia aos dois amigos um suco e uma taça de salada - ambas para os dois - eis que veio um homem alto, forte, de cara abusada, roupas velhas, sapatos, meias, calça, camisa e paletó, todos um conjunto de coisa suja e se aproximou do casal. Niel o conhecia muito bem, pois todos na rua o chamavam de “poeta louco”, por seu modo de fazer poesia para qualquer um que ele pedisse para fazer em troca de alguns mil reis. O homem se aproximou e falou:
--- Bom dia, meus caros jovens enamorados! Deixem-me cumprir a minha sina de fazer, aqui, uns poucos versos para tão belos casal de namorados? - falou o Poeta.
E Ligia olhou para Niel, demonstrando temor por causa do homem tão grande e que se dizia poeta. Foi aí que Niel aquietou Ligia com um afago em suas mãos, ao falar ao poeta que não tinha importância, pois que merecia fazer o tal poema para uma encantadora jovem que se fazia ali presente. Então, o poeta louco fez num rascunho de talão, seus versos para os dois enamorados jovens e um pouco tempo depois lhe entregava aqueles versos encantadores, com o título tão sublime de: “O Beijo”. Depois de entregá-lo aquele opúsculo, recebeu de Niel uma cédula de alguns reais, ao que sobremaneira agradeceu e guardou o seu talão de notas dentro do seu paletó. Em seguida, despedindo-se de ambos os namorados ao dizer do poeta, ele, com toda pompa de um louco desceu o Beco a procura de quem sabe o que para outros versos que lhe oferecia em forma de poema.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

RIBEIRA - 281

O MENINO DE CABUL
O Menino de Cabul é uma historia sobre a amizade, mas também um filme fortemente politizado, ao ponto de se tornar largamente panfletario, e perde imenso com isso. Transporta-nos até ao Afeganistão pré-invasão sovietica, fazendo a passagem de 1978 para 1979, refugiando-se depois numa América comodamente tolerante e segura, para dez anos depois retornar à geografia de onde partira, para encontrar um país devassado pela guerra e com um regime de medo instaurado pelos talibãs.
O Menino de Cabul é um filme que quer ser coisas a mais e por isso erra o passo inúmeras vezes. Começa com uma tocante relação de amizade muito sui generis, entre o filho de um senhor abastado e o filho do seu criado. Enquanto que o segundo demonstra ser capaz dos atos abnegados e corajosos em nome de sua amizade, o primeiro evidencia todos os traços de uma sociopatia cobarde. A diferente forma de pensar de ambos está bem patente quando o menino rico conta ao outro uma história que escrevera, em que um homem pobre descobre que suas lágrimas são diamantes e por isso mata a esposa, para que possa chorá-la e assim enriquecer, ao que o filho do criado responde: "mas não podia ele ter simplesmente cortado a cabeça?".
Marc Foster - diretor do filme - é daqueles realizadores com uma carreira cheia de altos e baixos , mas neste caso conseguiu um prodigio: concentrou-se no mesmo filme. O Menino de Cabul tem, literalmente, duas partes, e notá-se. É tão patente que parece haver ao leme dois realizadores diferentes. A primeira parte do filme centra-se na relação entre os dois meninos e é sensivel e comovente, contendo diálogos cheios de sabedoria. A segunda parte do filme tem o menino rico como protagonista, em adulto, e afinal não se tornou num sociopata; vai até cometer um ato de altruismo muito perigoso, deixando os EUA, onde se refugiou com o seu pai após a invasão russa e regressando ao seu país natal, onde será um alvo a abater pelo seu aspecto e origem.
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quarta-feira, 1 de abril de 2009

RIBEIRA - 280

TORRE EIFFEL
A Torre Eiffel é uma torre de ferro construida do Campo de Marte ao lado do Rio Sena em Paris, França. A torre tornou-se um ícone mundial da França e uma das mais conhecidas estruturas do mundo. Inaugurada em 31 de março de 1889, hoje está com 120 anos, a Torre Eiffel foi construida para honrar o centenário da Revolução Francesa. O Governo da França planejou uma Exposição mundial e anunciou uma competição de desenho arquitetônico para um monumento que seria construido no Campo de Marte, no centro de Paris. Mais de cem projetos foram submetidos ao concurso. O comitê do centenário escolheu o projeto do engenheiro Gustave Eiffel, de quem herdaria o nome da torre com uma estrutura metálica que se tornaria, então, a estrutura mais alta do mundo construida pelo homem. Com seus 317 metros de altura, possuia 7.300 toneladas quando foi construida, sendo que atualmente deva pessar em torno de 10.000 toneladas, já que são abrigados restaurantes, museus, lojas, entre muitas outras estruturas que não possuia na época de sua construção. Eiffel, um notável construtor de pontes, era mestre nas construções metálicas e havia desenhado a armação da Estátua da Liberdade, erguida pouco antes no porto de Nova Iorque. Quando o contrato de vinte anos do terreno da Exposição mundial (de 1889) expirou, em 1909, a Torre Eiffel quase que foi demolida, mas o seu valor como uma antena de transmissão de rádio a salvou. Os últimos vinte metros desta magnifica torre correspondem a antena de rádio que foi adicionada posteriormente. A torre é visitada anualmente por cerca de 7 milhões de pessoas.
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