quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 36 -

- Gene Tierney -
- 36 -

Luiza estava a escrever à maquina o oficio que Honório lhe entrou instantes antes. O homem Miguel, guardador das chaves do edifício, estava limpando o chão desde que chegara para o seu segundo expediente. Dentro do escritório de Dumaresq estavam Honório e sua esposa, Ângela tratando de assuntos da firma e da nova loja “A Botija”. Tão logo terminou a reunião Ângela estava a sair da sala quando, de repente, escorregou no encerado e levou um tombo. Foi queda esquisita. A mulher foi ao solo com as suas belas nádegas ao chão. As suas pernas completamente abertas; o vestido pela cintura; calcinhas brancas de seda; e os documentos que ela conduzia ficaram espalhados pelo corredor. Foi um baque ensurdecedor. Ângela bateu com a cabeça na parede. E fez um grunhido como se dissesse um “ai”. Quase que de repente, o homem Miguel porteiro, soltou o limpa-chão que estava a passar para cima e para baixo no chão quase limpo e correu para atender a jovem mulher esparramada. O seu marido também fez o mesmo. E Luiza se levantou da cadeira onde estava, a bater a maquina, e ficou atônita, imóvel vendo os dois homens a socorrer Ângela. Ainda foi dar à mão a mulher para que ela se erguesse. Ângela olhou de repente de quem era a mão e então disse sem mágoas:

--- Pode deixar. Eu me levanto. – falou Ângela se ajeitando toda.

--- Você está bem, querida? – indagou Honório preocupado.

--- Que queda senhora!! – respondeu Miguel porteiro, assustado e tremendo de medo.

--- Pode deixar. Eu levanto só. – se desculpou Ângela.

--- Cuidado! Cuidado! – fez Honório à mulher.

--- “AÍ”. Minha perna. Parece que torci. – falou a mulher fazendo careta.

--- É melhor ir ao hospital, querida! – argumentou Honório bem atento a situação.

E Ângela se pôs de pé, ajeitando suas vestes, procurando andar para apanhar os documentos esparramados pelo chão e voltou a dizer – “ai” – quando procurou andar firme. O marido, assombrado, preferiu levar a mulher para o hospital onde faria exames minuciosos. Pediu que Miguel fechasse a porta do escritório e caminhou com Ângela, devagar, pelo corredor, com o paio pelo lado direito da moça Luiza, fazendo a vez de uma muleta. Ao chegarem ao carro de Honório, a moça Luiza ainda perguntou serenamente:

--- É preciso eu ir também? – falou a moça se dirigindo aos dois. Principalmente a Honório.

--- É bom. Entre com Ângela para o banco de trás. Muito cuidado com a perna machucada. – comentou Honório plenamente nervoso.

Luiza segurou a mão de Ângela e pôs até o meio do banco para em seguida poder entrar. A mulher gemia com a dor na perna direita. O que motivou a queda talvez tenha sido o chão ainda úmido que o homem Miguel passara a esponja minutos antes. Com pouco tempo, Honório chegou ao pronto-socorro do Hospital Geral. Quando entrou no pronto socorro, parecia até que os maqueiros estavam a sua espera. De imediato um deles pegou Ângela pelas pernas e costas e a socorreu para uma maca posta bem próxima ao veículo. Os gemidos de dor da mulher pouco importaram ao maqueiro, pois de imediato o rapaz a levou na maca e subiu para dentro do consultório do médico de plantão. De imediato, foi feito o exame, diante do marido Honório e da moça Luiza. O médico recomendou um Raio-X de toda a perna enquanto o marido ficou a esperar pelo lado de fora do gabinete do médico. Luiza, calada, também ficou a olhar os pés de roseiras plantadas no local onde não havia nada para construir. Era rosa bela e cheia de encantos. Luiza pegou em uma delas e sentiu seu cheiro, mas não a tirou. Nesse instante, Honório se aproximou de Luiza, cabeça abaixada, tristeza imensa, voz cortada. Tudo que o rapaz não tinha ainda posto. Ele perguntou a Luiza:

--- Isso demora? – indagou Honório a Luiza.

--- E eu sei? Deve demorar. Um pouco! – respondeu Luiza olhando as rosas.

--- É danado. Logo agora! – falou Honório cabisbaixo.

--- Pois é. O pai está internado e agora a esposa. – comentou Luiza olhando mais rosas.

--- E você? – perguntou Honório a Luiza.

--- Eu? Estou bem. Passou aquele tempo. – falou Luiza voltando-se para Honório.

--- Sei. Mas tem alguém? – perguntou Honório disfarçando a conversa.

--- Não tenho ninguém. E é bom saber que tal fato não me interessa. – falou Luiza.

--- Sei. Sei. É bom assim. – comentou Honório.

--- E o senhor, continua afoito? – falou Luiza com um sorriso disfarçado.

--- Eu? Não. A mulher é braba. – sorriu Honório olhando para onde Ângela tinha entrado.

--- É bom assim. Quanto mais braba, melhor. Pega no osso! – falou Luiza trincando os dentes.

--- Quem te conheceu! – resmungou Honório lembrando o passado.

--- Pois é. Com gente até de boa aparência. – sorriu Luiza.

Com isso, Honório sorriu. Queria indagar se ela não saíra mais com ninguém. Mas não houve a oportunidade. Talvez com ele, depois. Algum dia. Quem sabe? O tempo foi passando e já fazia uma hora de espera quando o enfermeiro chamou Honório para a sala do médico. O homem foi ligeiro e entrou a esposa com a perna direita engessada. Totalmente engessada. Dura, pára a frente. Ela chorava não pela dor. Porém pelo engessamento. O médico lhe passou a receita dizendo para a mulher voltar dentro de quarenta e cinco dias. Houve uma fratura no fêmur. Porem muito pequena a fratura. Se a moça ou senhora sentisse dor, podia dar tais medicamentos prescritos. De um modo ou de outro, o médico receitou medicamentos para dois meses, sabendo que a fratura levaria um mês para cicatrizar. Andar, somente após uma semana. Evitar esforço. Banho morno e outras recomendações como a de não molhar a parte engessada. Embora sentisse uma dor suave, Ângela continuava a chorar por saber que não poderia sair de sua Mansão nos próximos trinta dias. Todos os dias ela teria que mandar instruções para a sua secretária.

Ângela foi direta para a Mansão acompanhada de Luiza no automóvel dirigido por Honório, o seu marido. Sua cara era horrível, constantemente gemendo, não se sabe se de dor ou de dengo. O automóvel foi devagar trafegando até a residência nobre do casal. A Mansão ficou como residência para Ângela e Honório. Eles passaram a conviver com Dona Do Carmo e o restante dos membros da Mansão, inclusive criados. Enquanto a jovem senhora Dumaresq gemia, a funcionária do escritório não estava dando a menor importância. O que Luiza tinha em sua mente era de que aquela pobretona era agora uma ricassa.

--- Megera pobre metida à rica! – pensava Luiza no seu silencio e com a cara por demais antipática torcendo a boca para um lado.

Depois de arrumada em seu quarto ainda de núpcias, Ângela se aquietou na cama procurando um melhor caminho para por a sua perna engessada. No momento, estavam no quarto de Honório, a sua mãe, Do Carmo e as duas empregadas – Catarina e sua mãe além de Luiza. Após um breve momento de determinações, com os cuidados passados pelo médico do plantão do hospital e a atenção para tomar a medicação na hora certa, Homero pediu licença e se despediu da esposa levando consigo a ajudante de gabinete, Luiza, cujo objetivo de cuidar da enferma terminara naquela hora. Quando eles chegaram ao escritório, já estava na hora da saída, pois era quase cinco horas e meia da tarde. De qualquer modo, Luiza ainda terminou de bater o oficio que Honório lhe recomendara e outros pais de urgência. Ao entrar no escritório de Honório para entregar a documentação, o homem recebeu e conferiu o que estava batido à máquina por sua ajudante de secretária. Em seguida, ele recomendou a Luiza no dia seguinte ela colocar a sua mesa no interior do escritório, pois seria mais prudente que os documentos evitassem ficar à mostra. Ela agradeceu e disse que faria tudo como Honório recomendara.

--- Com relação ao pessoal do atelier da “Botija”, só tem entrada exclusiva a moça Cleia. – recomendou Honório torcendo a gravata do pescoço para um lado.

--- Pois não. Quanto ao telefone? – indagou Luiza a Honório.

--- Telefone? Que telefone? Ah sim. Telefone. Vamos fazer o seguinte: quando Miguel transferir a mesa, amanhã, que ele traga também o telefone. A extensão fica com você. – resolveu Honório de uma vez por todas.

--- E a sua esposa vai concordar com isso? – perguntou a moça.

--- Concorda. Concorda. Afinal, o diretor sou eu. Oras. – reclamou Honório com a cara fechada.

--- Eu sei. Mas, ao que parece ela não vai muito bem com os meus modos. – enfatizou Luiza.

--- Mas eu dou um jeito nisso. Ela concorda. – disse Honório desapertando o cinturão.

--- E a viagem? – perguntou a moça muito delicada.

--- Ah. Isso é o problema. Pode cancelar essa viagem. – recomendou Honório.

--- Cancelo logo amanhã. Digo por quê? – perguntou Luiza.

--- Assuntos domésticos. Só isso. – concluiu o rapaz.

 



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 35 -

- Kassandra Marr -
- 35 -
Honório chegou ao escritório junto com a sua esposa, Ângela, pouco antes das nove horas, após o médico ter dado informações da noite porque o paciente Dumaresq passara. Pelos exames e observações conclusivas, o paciente continuava a dormir, muito embora já por meios de sedativo tal qual como chegara à tarde do dia anterior. Os médicos, em número de três, fizeram avaliação do quadro de Dumaresq não chegaram a qualquer conclusão. Eles estariam a espera das vinte e quatro horas para saber se Dumaresq continuava a dormir ou não. Um bom dia foi o tradicional cumprimento de Honório. A sua mulher passou direto para o atelier. O silencio em todo o edifício só era quebrado pelas marteladas uniformes que se ouvia de homens desempacotando os quadros ou peças vindas de outros locais para se expor e vender. De seu modo, Luiza nem tanto deu importância a dona do atelier. Nem tampouco deu a devida importância ao seu marido, Honório. O homem puxou a cadeira de estufa e se sentou no local que costumava sentar o seu tio. Ele passou em revisão o que estava faltando. E como não havia falta alguma de matérias – documentos, memorandos, avisos e outros tantos – Honório se deu por satisfeito. Em instantes entrou na sala bem ornada o senhor Miguel, responsável pelas chaves do prédio. Ele foi quem falou:

--- Notícias do mestre? – indagou Miguel curioso.

--- Tudo na mesma. Só faz dormir. – respondeu taciturno Honório com sua cabeça baixa para os documentos em revisão.

--- É danado. Eu conheci uma moça que teve um sono assim por mais de dez anos. Um dia, acordou e sabe o que ela disse? – “O café está pronto?” – sorriu de leve Miguel.

--- É. Mas cada caso é um caso. Não sei se ele vai escapar dessa. – ventilou Honório.

--- É verdade. Cada caso é um caso. – destacou Miguel.

--- Hoje, nós vamos fazer uma reunião para acertar quem fica por aqui até o velho melhorar. ... Ou não melhorar. – respondeu Honório meio acabrunhado.

--- É bom. É bom. Ninguém sabe o que vem pela frente. – disse Miguel sem sorrir.

--- A morte. O que vem é a morte. De quem for. – falou Honório meio choroso.

--- Não diga isso, senhor. Não diga isso! – criticou Miguel assombrado

--- Por quê? Você tem medo da morte? Todos morrem nesse mundo! – lamentou Honório.

--- Eu vou embora que não quero ouvir mais nada. Morte!!! - - respondeu Miguel e saiu.

Honório ficou em seu birô e sorriu para o guardador de chaves. Aquele homem não teria senso de humor para qualquer coisa. Ele temia a “morte”. Isso era o que restava a pensar Honório pelas tolices que havia dito. E sorriu mais franco. Logo após calou. Na sala vizinha estava a moça Luiza batendo a maquina assuntos do seu oficio. Em momentos, Lucia consultou o calendário para ver a data do dia. Em seguida, depositou o calendário na parede da sala. Era o local todo ornado de lustre entre outras bugigangas que não sei quem teve a idéia de por na mureta.

O telefone tocou e Luiza atendeu. Era para Honório. Ele fez o sinal interno e colocou o telefone no gancho. De qualquer modo, Luiza podia ouvir o que se falava por um interfone locado em uma mesa próxima. Naquele instante quem falava era uma estranha a perguntar pelo estado de saúde de Dumaresq. Ela ouviu a voz de Honório dizer estar do mesmo jeito. E os dois conversaram mais um pouco, e o telefone foi desligado. Enquanto isso, Ângela subia os degraus para o andar de cima onde deveria haver a reunião com eles e mais a secretária de marchant cujo contrato Ângela já havia assinado. A jovem mulher passou de raspão por Luiza sem cumprimentar. E Luiza não deu à mínima. Se Ângela soubesse do passado de Honório seria um tanto mais cordial, até mesmo para com Luiza. Nesse ponto, a moça em nada falava. E Ângela nem mesmo se rebaixava a indagar o que foi o homem com quem casara.

Em minutos, entrou a secretaria de Ângela e logo recebeu ordens de fechar a porta. Com certeza, ninguém mais poderia entrar no recinto, nem mesmo Luiza. A moça também não ligou para tal fato. Ela deu de ombros para os donos da firma como que diz:

--- Eu! Nem ligo para esses “merdas”. – e silenciou.

A reunião durou até o meio dia ou mais, fase em que Luiza com fome já saíra para almoçar no Restaurante Popular onde a refeição era barata. Depois do almoço, Luiza seguiu para a casa de Osmarina, onde também tinha uma espécie de restaurante e cuidava de motoristas, em sua maior parte. Na casa de Osmarina a moça trocou conversa com a mulher dos seus cinqüenta anos. Osmarina quis saber como estava seu Jorge Dumaresq. A moça contou o pouco que sabia a respeito da saúde do velho.

--- Coisa ruim esse negócio de saúde. – reclamou Luiza com temor.

--- E ele? Já velho! Deus que o proteja! – proferiu Osmarina com os olhos no fogão de carvão.

--- Ainda dá muita gente? – indagou Luiza para puxar conversa vendo o numero reduzido de fregueses postos à mesa.

--- Dá nada, minha filha! Depois desse Restaurante Popular o movimento aqui caiu muito. – reclamou a mulher se fazendo de vítima.

--- Mas o preço é igual ao de lá. E a comida é mais gostosa. Agente pega a bóia no Popular, mas não sabe nem o que se está comendo. – deduziu Luiza atrás de um gancho para conversar.

--- Pois é. Aqui, se você pede panelada, tem panelada. Eu sirvo o que há de melhor para o freguês. Tem goiamum, porco, tatu-peba. E tem comida comum mesmo. Carne, tripa e todas essas coisas. Tem até picado. – sorriu a mulher.

--- Amanhã eu venho comer aqui. – sorriu Luiza com a barriga cheia do almoço no Popular.

--- Venha! Eu faço o seu prato. E você nem precisa pagar da primeira vez. Venha! – chamou Osmarina oferecendo de graça a primeira refeição.

--- Tem refresco? – perguntou Luiza sorrindo.

--- Virgem! É o que mais tem! Toma um pouco pra você vê! – colocou Osmarina um copo de refresco.

Com o passar das horas, Luiza se despediu de Osmarina prometendo voltar no dia seguinte para sentir o aroma da comida caseira. E ao chegar ao escritório, encontrou ainda fechado. O seu Miguel das chaves não estava presente. Luiza não reclamou e se sentou nos batentes de uma casa em frente, onde não fazia sol, e ficou a esperar pelo homem das chaves. A ventania que sobrava naquele mês fazia com que voassem para todos os cantos os papeis que andavam soltos pela rua. O vento brandia como um feroz terrível felino e as mulheres tinham maior preocupação com os seus vestidos de seda ou de algodão para conservá-los sempre abaixados. No prédio onde Luiza trabalhava era um chamariz para a força de tais vendavais. Em frente ao local onde a moça estava, era o terrível e derradeiro momento em horas incertas do dia. Luiza estava naquele momento, sentada nos batentes altos que ficavam por trás de uma magnífica casa de teatro se amparando da ventania. Em frente à moça tinha um caminhão parado em baixo de dois pés de fícus. Na boleia do caminho estava o seu dono ou caminhoneiro. Em certo momento da ventania, a roupa de Luiza subiu alegre a cima de sua cintura. Tudo foi muito rápido, pos a moça foi pega desprevenida de modo a não ter o tempo de abaixar a saia. O motorista foi quem viu maravilhado as calcinhas de Luiza. Aproveitando a oportunidade, o caminhoneiro não teve mais recursos de que a de se masturbar em intenção daquela santa virgem fêmea. Foi um gozo tremendo que o caminhoneiro não se importou onde jogar o sêmen o deixado cair por todo o espaço da boléia. Era o enigma do gozo. Ao final, o homem procurou se limpar com um pano de flanela o qual trazia no interior do seu caminhão e fez-se de perene gozo. Era o fim de mais uma epopéia.

Quando Miguel porteiro, o homem das chaves chegou, Luiza correu para o interior do prédio onde tudo ainda era bem mais tranqüilo que nas ruas do Barri Alto. Ela sequer notou a presença do caminhoneiro a descompor a ninfa endeusada como se fazia com as damas da noite após uma aventura de amor.

--- Puta! – praguejou o caminhoneiro muito bravo quando a jovem moça passou pela frente do carro e entrou em seu escritório.

A tarde estava calma e Luiza começou a trabalhar dentro do seu oficio de datilógrafa fazendo tudo como costumava a ser feito. Miguel porteiro passou com um balde para carregar água indo até o banheiro encher aquele recipiente. Após o feito, ele voltou com mais uma vassoura e um pano, talvez para limpar o chão. Era tanto que Luiza ouvia bem o homem puxando a vassoura como quem estava a limpar a sala de forma habitual. Ao passar por ele Honório, seu novo chefe, ele parou de varrer. Logo em seguida vinha dona Ângela. A mulher olhou para o homem e sorriu. Ela nem prestou atenção quando o chefe disse:

--- Nem vamos esperar por Cleia. Você mesma faz. – declarou Honório.

A moça que estava batendo à maquina pouca importância ligou. Continuou a bater à máquina até que Honório a chamou por uns instantes.

--- Você faça esse documento para nós assinarmos. – citou Honório cabisbaixo.

A moça viu o documento e em baixo de tudo estava escrito; Diretor Interino. E nada mais.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 34 -

- Astrid Bergès -
- 34 -
No dia seguinte, Luiza já estava no escritório. Chegara bem sedo, antes mesmo que Honório, o rapaz casado com Ângela de 21 anos de idade. O rapaz era muito mais velho que a esposa. O caminhar de Luiza levava sempre ao mesmo lugar. Mesmo assim, retornando ao antigo cargo, ele não perguntou a ninguém pela melhora de seu Dumaresq, afinal eles haviam saído no dia passado. Quando Honório falou ter visto o carro de Dumaresq, ela ficou assombrada, pois o carro era uma pista para se descobrir com quem ele estava no quarto do motel. Antes daquela tarde, em tempos mais antigos, Luiza saíra algumas vezes com Dumaresq e até mesmo ficara com o velho em um quarto desocupado do escritório, depois do expediente. Com tudo o que fazia ela era moça de guardar silêncio, mesmo quando a ocasião tivesse sido de Honório, o sobrinho do Sr. Dumaresq. Quando Luiza pediu demissão, há alguns tempos foi por causa do suicídio do seu namorado, um enigma até aqueles dias.

Em todos os tempos que vivera Luiza, aos braços do senhor Dumaresq, El se lembrava de todos em seus mínimos detalhes. Isso inclui a primeira vezem que Luiza e Dumaresq foram para um lugar tranqüilo, em um solar de um recanto na região de Dourados onde a brisa marinha era uma espécie de sedução e amor. Disso Luiza bem se lembrava, pois fora a vez primeira. Nesse tempo, Dumaresq já era um cinqüentão e Luiza uma garota dos seus dezoito anos de idade. Foi um convite feito sem grandes atrações e, no instante em que o homem seguiu para Dourados, foi que Luiza indagou sem grandes pretensões:

--- Para onde o senhor está indo? – indagou Luiza um tanto desprevenida.

--- O senhor, não. Você. É assim que eu quero ouvir quando você me tratar. – sorriu Dumaresq.

--- Desculpe! – disse Luiza toda sem jeito e acuada dentro do carro.

--- Desculpe, não. Você não teve culpa para se desculpar. – aludiu Dumaresq com certo amor olhando a mocinha com um sorriso na face.

Então, Luiza nesse mesmo instante beijou o homem na face. E nesse momento, Dumaresq quis mostrar a Luiza como de fato se beijaria para se ter amor de verdade. E beijou a moça em sua divinal boca naqueles dias, suave e cheia de encantos. Isso foi na metade do caminho para Dourados. E quando Dumaresq desceu do carro para se hospedar em um chalé propício para o amor, ele disse à mocinha que tomasse cuidado, pois não queria levantar suspeitas. Eles estavam ali a hospedar pai e filha. Isso foi em um sábado à tarde e eles ficariam até o domingo quando tinham que voltar para os seus lares na cidade. Teve banho de mar, descanso em redes bem ornadas, comida farta, bebida em igual conteúdo e prazer. Noite de delírio e amor.

Na oportunidade em viveram a salutar viagem, eles aproveitaram um chalé bem equipado na Quinta do Pouso instalado em plena região do mar. A Quinta do Pouso era servido por chalés cujo ambiente oferecia quarto duplo, sala com frigobar, casa de banho e terraço. Era um local aprazível pelo menos para dois namorados. No seguir do dia, eles aproveitavam o banho de mar com águas cálidas e serenas. O remando que o mar oferecia dava a impressão de estar sempre acolhedor. Águas mansas, poucos arrecifes, praias longas como fosse baía, céu azul, campos límpidos ao se olhar por trás a costa. Tudo eram sol e mar sem contar com as plácidas e pacíficas serras cobertas de árvores robustas. Para Luiza era um verdadeiro encanto e canto de amor total. Bem poucos outros componentes do tranqüilo ambiente. Um casal com seu dois filhos foram vistos do chalé pelos dois amantes. Uma menina de seus oito ou dez anos apanhava, talvez, conchas na beira da praia. Ela juntava as conchas e corria para depositá-la na areia da praia ao largo. O menino também o mesmo fazia. O casal de estranhos talvez ocupassem um dos chalés perto ou longe do que estavam Dumaresq e Luiza naquele dia de domingo tranqüilo.

Do terraço do chalé para o chão havia um espaço de dois metros. Em cima era a varanda. Em baixo eram toras de madeira a sustentar o terraço circundando todo o chalé. Havia guarda-sóis mesas e cadeiras pelo lado de fora do terraço onde se podia refestelar as iguarias oferecidas pela cozinha das casinhas humildes. Acima da varanda havia um primeiro andar. Para saída da casa, havia uma porta bem larga feita em três bandas. Em cima da casa, havia apenas uma porta em duas bandas e uma proteção de estacas de um metro de altura. Apesar de ser bem construído o chalé dava ter a impressão de antiguidade. Logo abaixo, no chão rente, uma piscina de cinco metros de cumprimentos por três de largura. Ao largo, a vegetação e árvores campestres iguais as existentes na mata virgem. Apesar de todo este exuberante panorama, para Luiza nada importava, pois, logo cedo da manhã do domingo ela estava a acordar Dumaresq para poder ir tomar banho de mar onde estavam os pais e seus dois filhos a colher conchinhas.

Os pratos servidos pela cozinha dos chalés eram à base de frutos do mar: ostras, camarões, caranguejos, lagostas e, principalmente peixe salmão. O barman oferecia ainda diversos tipos de vinho e, de modo especial, o champanhe para os dois hóspedes. Outro garçom trazia a bandeja com o almoço e depositava na mesa de dentro da sala. Dumaresq observava atento a tudo o que era oferecido. Do terraço, vinha o cheiro eterno do mar distante. Ele observou o resto de Luiza e sorriu:

--- Que foi? – indagou a jovem bela.

--- Nada. Apenas você. – sorriu carinhoso o homem Dumaresq.

--- Que tenho eu? – indagou Luiza comendo a lagosta que estava ao prato.

--- Não sei como se pode ser tão linda como você. – sorriu o homem.

--- Verdade? – indagou a moça a sorrir leve enquanto degustava a lagosta.

--- Para mim você é tudo o que eu nunca tive na vida. – falou baixinho Dumaresq.

A moça sorriu devagar e apenas disse ao homem.

--- Coma! – falou Luiza com sua voz mafiosa.

--- Comer nesse instante é desfazer o que a natureza se obrigou a fazer. – respondeu com sua placidez o homem Dumaresq.

--- Coma meu bem. Vai esfriar. – proferiu a moça enquanto comia a lagosta.

Dumaresq não se importou com as palavras de Luiza e ficou a olhá-la, com as mãos encurvadas no queixo como se tudo aquilo que estivesse a admirar fosse apenas uma visão de uma aquarela distante como um arco-íris ao logo no mar bravio. Nada importava ao homem senão aquele vulto de menina ou de mulher. Para o homem, era ela simplesmente divinal. Corpo esbelto, cabelos longos, belos, fartos e negros, cor morena e quase alva, boca sensual, olhos divinais, lábios de ternura, seios pequeninos, mãos carinhosas, pernas esculturais. Talvez ali estivesse uma obra de arte da qual os gregos e os romanos talvez nunca observassem em ter.

A viagem era distante no seu caminho de volta. O homem refletia taciturno como deveria fazer para ter Luiza para sempre em seu caminho. Era noite quando o automóvel chegou à cidade. Em uma parada de Bonde Luiza ficou. Dumaresq prosseguiu viagem até a sua moradia. Estava completamente bronzeado. Diria a mulher algo simples que a convencesse. Depois dormiria sem nada para digerir. No dia seguinte, segunda-feira, estava tudo normal no seu escritório. Luiza calada, Honório lendo as colunas de esportes dos jornais e Dumaresq pedindo ligação para fora, o que a moça, totalmente assada pelo sol que tomara no dia anterior, faria com prazer. Todo estava normal no dia seguinte. Não raro, no decorrer da semana e dos meses, Luiza indagava a Dumaresq quando ele poderia ir ao Chalé da Quinta do Pouso, em Dourados e ele respondia.

--- Qualquer dia. Qualquer dia. Talvez no fim desta semana. – sorria Dumaresq para fazer Luiza se esquecer de perguntar novamente.

Quando Honório chegou, logo cedo do dia, Luiza nada perguntou. Desta forma ela assim não levantaria suspeita. No dia em que os dois saíram Jorge Dumaresq reclamou de fortes dores no peito. Naquela tarde, a moça levantou a hipótese de Dumaresq ter sofrido há pouco tempo de um problema cardíaco. O homem apagou tal hipótese. Talvez estivesse com dores estomacais, por certo. A moça ficou assustada com o aspecto do velho e decidiu nada fazer para evitar maiores constrangimentos. O velho pediu um medicamento que havia em seu bolso. A moça lhe deu. Ele deixou dissolver embaixo da língua. E assim, os dois passaram algumas horas. Ela sugeriu ele ir ao médico. E ele disse:

--- Amanhã. Amanhã. – comentou Dumaresq.

--- Vá hoje, querido. – respondeu a moça intranqüila.

--- Amanhã eu vou. Juro por Deus. – falou Dumaresq.

Ao cabo de algumas horas, Jorge Dumaresq saiu meio cambaleante, e a moça temerosa ficou certo tempo esperando que ele fosse embora. A mulher do motel perguntou a Luiza o que tinha havido com o homem, e a moça respondeu.

--- Talvez eu ache que é coração. Ele não acredita. Mesmo assim, pôs à língua um comprimido para prevenção de ataques cardíacos. – respondeu a moça á mulher do motel.

--- Esse caso é grave. Já perdi muitos clientes por isso mesmo. Um deles não saiu nem do quarto. Espero que ele se recupere. – retrucou a mulher do motel.

O carro fez manobra e saiu. Luiza esperou alguns minutos para poder sair também. O motel ficava um pouco distante do escritório de Dumaresq.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 33 -

- DEMI MOORE -
- 33 -
Jorge Dumaresq cumpriu o prometido. Da última vez quando viu Luiza, ele mesmo disse quando um dia ela resolvesse voltar, o emprego estava garantido. Naquele instante ele pediu para que Luiza ficasse logo um meio expediente, pois pagaria redondo com se estivesse o dia todo no escritório. Notava-se então um apego de Jorge Dumaresq por Luiza até mesmo no seu olhar onde procurava seduzir a moça igual a um bicho do mato. Luiza sabia muito bem de propostas de Dumaresq para que ela ficasse mais uns tempos, pois precisava por em dias uma documentação. Honório era ainda solteiro. E bem mais jovem que naqueles amenos dias. Mesmo assim, Luiza prontamente aceitava em ficar por mais uma ou duas horas. Nesse tempo ela sonhava em ser algo mais, assim como Honório. Gostaria de ter um automóvel, como o rapaz havia tido e depois se desfizera. Gostaria de andar no requinte da moda. Gostaria de sempre ir ao cinema. E de ir à praia por excelência. Luiza sonhava com um mundo melhor para si a custo do que fosse preciso. Algumas vezes saíra com Honório, era um fato. Porém, aquelas vezes não garantiam coisa alguma. Luiza sentia ciúmes do velho ao receber a mulher gorda para lhe apresentar a sua “sobrinha”.

De momento, Jorge D sugeriu a que Luiza se sentasse ao seu lado, pois era para mostrar uma relação de memorando que ele estava a fazer. Daquele instante em diante, Luiza ficaria incumbida de redigir tais memorandos para que ele pudesse mandar por no Correio e então os documentos seguirem para os seus destinatários. A moça acedeu ao pedido e juntou-se ao velho Dumaresq, ouvindo todas as explicações. De momento, os cachos do seu cabelo caíram por sobre o ombro de Jorge Dumaresq o que lhe deixaram muito mais frenético e extasiado. Então, discretamente ele beijou a ardente madeixa a qual lhe chegava ao rosto e ligeiramente teceu comentário.

--- Maravilhoso o perfume! – comentou Dumaresq.

A jovem Luiza sorriu discreta e olhou para o rosto de Dumaresq, retirando em seguida aquelas madeixas propositadamente largado sobre o velho senhor. De imediato o velho pediu que Luiza deixasse como estava, pois daquela maneira ele se sentia mais revigorado pela juventude a moça a lhe cobrir a enrugada face. A moça sorriu e deixou cair sobre seus ombros os cabelos ondulantes que tanta satisfação deixava em Dumaresq. Nesse instante ele pode ver o membro erótico do velho a fazer agitação em suas – dele – pernas como querendo vibrar mais forte pelo manusear dos instantes maviosos de glória impostos pela cabeleira de Luiza. Ela, que estava em pé, encurvada sobre os ombros de Dumaresq, observou sem nada dizer, o órgão genital do velho a querer vibrar. A moça discretamente sorriu ao ponto de Dumaresq indagar:

--- Que houve? – indagou Dumaresq disfarçando o medo a Luiza.

--- Nada não. – (respondeu Luiza). – Eu estava olhando como se escreve. – descreveu a moça.

--- Você não sabia? – perguntou o velho olhando leve para Luiza.

--- Sabia. Mas não foi nada. Só a curiosidade. – sorriu Luiza.

Por um instante o velho desceu a mão da moça até as suas coxas de modo a apalpar aquilo que tanto ele gostaria de ver tateado por anos afins.

Com o passar das horas, Jorge Dumaresq avisou a Ângela, dona de “A BOTIJA”, que teria de sair por um tempo, pois veria nos Correios as mensagens da caixa postal. A mulher concordou sem nada dizer. Apenas olhou para o velho e tornou a fazer seus ajustes de compras e vendas. E assim ficou distraída com a sua secretaria argumentando que preço poderia dar aos instrumentos de sopro que havia chegado à manhã daquele dia. O velho saiu da sala e tomou seu carro, seguindo veloz para uma direção qualquer. Ângela ainda olhou quando ele se fora e voltou a comentar a questão dos preços. Após alguns instantes, Luiza também saiu do escritório deixando o aviso com Miguel porteiro de que estava a sair para lanchar e voltaria em breve. O homem concordou com o pedido da moça. Dali em diante, ela se encontrava com Dumaresq e depois pegaria o rumo do motel.

No dia seguinte, Honório teceu comentário com Luzia de que ele vira o veículo do seu pai estacionado perto do motel “DUNAS”. A moça não questionou o assunto. Apenas disse a Honório que, com certeza, fora a visita da mulher gorda e sua sobrinha, por certo.

--- E elas estiveram aqui? – indagou Honório com bastante surpresa.

--- Não sei. Mas deve ter sido algo desse tipo. – comentou a nova secretária.

--- É danado. O velho passou por um infarto há pouco tempo. E já está na “luta”. – badalou o sobrinho de Dumaresq.

A moça estava batendo a máquina e continuou a escrever, com certeza, sem comentários. E pouco observou o olhar desconfiado de Honório para ela. A moça bem sabia que o automóvel estivera naquele local por largos minutos. Ela e o velho. Com o passar das horas, Honório seguiu para o Porto sem deixar aviso. Nesse tempo, Ângela subiu ao primeiro andar a procura do velho Dumaresq. Ela não havia chegado. Luiza foi que declarou. A mulher consultou o seu relógio e fez uma cara amarga. Então indagou à moça:

--- Ele telefonou, ao menos? – indagou Ângela à secretaria.

--- Não. – respondeu a moça despreocupada e batendo a maquina os memorandos da firma.

Nesse momento, Ângela resolveu ligar o telefone para a casa de Dumaresq a perguntar por ele se identificando. A pessoa que atendeu o telefonema lhe disse que Dumaresq tinha saído, porém voltara com poucos instantes. Ângela indagou se era possível falar com ele e a voz respondeu que naquela hora o homem estava a dormir, ao que parecia. Talvez efeito do medicamento que ele tomara logo de manhã. Ângela estranhou, porém não disse nada. E desligou a ligação.

--- Estranho! Muito estranho! – comentou baixinho.

Então, Ângela resolveu telefonar para o marido relatando o que estava ocorrendo. No Porto, alguém disse que chamaria Honório e pediria que ele voltasse à ligação. Ângela agradeceu e desligou o telefone. Com poucos instantes o marido ligou de volta a perguntar do que se tratava. Ângela disse que Dumaresq não viera e estava a dormir neste momento. Honório pediu um tempo e fez ligação para a casa de Dumaresq a falar com Anita Colares. Esta respondeu que estava tudo bem e apenas Dumaresq sentiu um pouco de fadiga devido ao medicamento. Honório voltou a dizer que tal medicamento não provocaria sono. A mulher insistiu que ele voltara, pois estava sonolento. Nesse ponto, Honório agradeceu e pediu para verificar de hora em hora a pressão de Dumaresq até ele ter se recuperado por completo. Anita Colares declarou que a pressão foi medida e ele estava naquela hora a dormir. O homem reportou que voltaria a indagar novamente pelo estado de saúde de Dumaresq no segundo expediente. Ele agradeceu a cortesia a senhora Anita Colares e desligou. Fez nova ligação para a sua mulher reportando o que lhe dissera Anita. E em conseqüência alertou ter que ir ao consultório do médico para ouvir a opinião do mesmo.

À tarde, Honório esteve no consultório do médico informando que o seu paciente não fora trabalhar durante aquele dia por ter tido sono demais. Todavia, a pressão de Dumaresq estava normal. O que poderia ter sido aquilo, ele não sabia dizer. Por tudo isso, estava a voltar ao consultório do médico. Honório confidenciou que, no dia anterior, vira o carro do seu tio em um motel. Era só isso. O médico estranhou o fato e pediu que levasse Dumaresq de imediato para o Hospital do Coração, pois quando este o chegasse – o médico – também estaria no local. De imediato, Honório rumou para a casa de Dumaresq onde o homem continuava a dormir. Temendo seqüelas mais graves, Honório chamou uma ambulância para levá-lo ao Hospital do Coração. O homem, adormecido, foi tirado pelos componentes da ambulância, depois de medir sua pressão e, de imediato, o levou com o sobrinho e a esposa Anita Colares no veículo de Honório.

Ao chagar no Hospital do Coração, de imediato o médico verificou as condições do velho D e ordenou que o levasse para a UTI. Honório ligou para a sua mulher, Ângela, avisando que estava no Hospital do Coração e o seu tio tinha sido posto na UTI. A moça ficou alarmada e, de imediato, em um carro de praça, seguiu para o hospital, instruindo a sua secretária do que tinha a fazer até a sua volta. No hospital já havia a celeuma. O médico procurou amenizar a situação informando que o paciente estava a se recuperar de um infarto grave e dentro daquele momento deveria seguir a risca todas as recomendações médicas; não fazer esforço, principalmente. E se alimentar de verduras, peixes, sopa e tudo que a enfermeira recomendou naquela ocasião.

--- Nada de aventuras paradisíacas. Alimentar-se de forma moderada. E perder muita gordura. Principalmente as gorduras oleosas. Ele vai ficar aqui até certo tempo. Eu não vi moléstia grave a não ser dormir demais. No entanto, espera-se que ele torne para poder ver o que sente. – declarou o médico.

--- Vamos levar a risca as suas orientações. – respondeu Honório.

--- Tem mais. Outro médico também vai acompanhá-lo por esses dias. Isso até a melhora do paciente. – alertou o medico.

Todos os que estavam no gabinete do médico ouviram calados. O dia já estava no fim e na sala de estar do Hospital de Coração estava uma senhorita dos seus 25 anos, sentada em um banco hospitalar, folheando uma revista de modas. O homem Honório olhou para ela e desviou a vista, pois estava ao lado a sua esposa, Ângela sempre de olho arremessado no homem para qualquer eventualidade.

domingo, 26 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 32 -

- Gene Tierney -
- 32 -
A data tão desejada por Honório e Ângela chegara afinal. Dia de sexta-feira, sossego no bairro Alto, pelo menos para a família Dumaresq. Às três horas da tarde, estava o Juiz, o Escrivão e o Sacerdote da Igreja Católica a espera da noiva. No local estava também o noivo, testemunhas, familiares de ambos os casais em numero reduzido. O local era o Bosque de São Paulo, local paradisíaco, onde em outros recantos casais se união em matrimônio como haveriam de fazer os noivos Honório e Ângela. A espera demorou meia hora até a chegada da noiva em um vestido branco de cetim de seda. Ângela foi conduzida em uma charrete para dar mais pompa e gloria ao enlace. O noivo estava vestindo uma casimira listrada de com azulada e com todos os requentes que o cerimonial ostentava. As arvores do Bosque faziam silêncio, com certeza, à espera da brilhante noiva, cujo atrase era bem normal. Após a solenidade de praxe, foram todos os participantes até a Mansão dos Dumaresq onde a festa começou por volta das cinco horas da tarde. Em frente à Mansão a Prefeitura havia concluído o calçamento da rua e pôs uma iluminação em cordões para ilustrar a ocasião. Foi festa muita, com os noivos a dançar à meia-noite a Valsa da Despedida para depois sumirem de vez para o Chalé da Montanha, onde os dois passariam oito dias pleno de amor.

O bazar Casa das Artes “A Botija” já nesse ponto estava operando negócios extraordinários, com a compra e venda de coisas novas e velhas, como era o caso de um piano de parede que o dono havia deixado ali para negociar. Além do piano, tinham também almofadas de veludo, xícaras ornamentais, pratos feitos a mão com impressões de pássaros a cantar nos galhos dos arbustos, peças de um abajur feito em bronze, uma saleta completa com todos os utensílios do lar, quadros de belas artes, baú do século 19 entre outros aparatos originais e remotos. “A Botija” era uma casa de amplos negócios, tanto para os seus magnatas donos como para o público freqüentador. O movimento era imenso, principalmente à noite, pois pela manhã “A Botija” não abria para negócios. O movimento era apenas interno. O velho Dumaresq sempre dava uma olhada para ver como estavam se saindo os novos proprietários, tão logo eles regressaram da lua de mel no Chalé da Montanha.

Um quadro de fotografias era aberto para que todos pudessem admirar quando os noivos se casaram em pleno bosque com a participação de poucos convidados. Honório examinou as fotos do casamento e deu um sorriso fugaz. Eram oito horas da manhã e ele ainda tinha o que fazer no Porto deixando a sua mulher a gerir a Casa de Arte onde os negócios estavam perenes com a participação de uma gerente de compra e venda e a participação de dois empregados. A parte da manhã era destinada a compra. E a tarde, por volta das quatro horas, era aberta a Botija para os que desejavam vender ou comprar. As luminárias eram acesas de modo que as peças ficassem bem aclaradas. O funcionamento da Casa de Artes era até a meia noite, quando isso era nas sextas-feiras, sábados e domingos. Nos demais dias da semana a Galeria trabalhava apenas até as de horas da noite.

Na galeria de artes havia três cordões de lâmpadas a iluminar as peças em mostras embutidas na divisória do salão de modo a que ninguém ficasse a sem notar no mínimo algum defeito que porventura houvesse. Nas sextas-feiras, sábados e domingos do final do mês eram comuns haver exposição de quadro de arte. Além do mais, havia exposição de artes sacras em salão a parte, onde se podia sentar em dez cadeiras e um sofá de vime do século 19 devidamente acamado pela ordem no meio da sala. As obras sacras estavam afixadas em divisórias por todo o quadrado do recinto. Em outra mostra os autores criavam imagens que caracterizavam os mais sombrios dos sonhos. Ali estava uma galeria de arte “negra”, pois nesse recinto havia exposições de peças raras, novas ou antigas. A constante da galeria era a de mostrar uma expo a cada final de mês. Além do mais, a galeria exibia todos os dias os trabalhos artesanais feitos por mulheres e homens do interior e peças de um dia do século passado. Certa vez, houve uma reunião de diretores de “A Botija” composta pelos membros oficiais: Honório, Ângela e Jorge. Seria realizada em outro Estado da Federação reunião dos empresários de obras de arte, onde se consultava a presença da diretoria de “A Botija” vez que estava fomentando um largo efeito na mostra das artes da sua região. Nesse caso, deveriam estar presentes pelo menos dois dos seus organizadores. Essa reunião foi feita de certo pela manhã. O encontro durou largas horas do expediente matutino. Essa era a primeira vez que uma entidade local tinha o ensejo de ser chamada para representar o Estado.

--- Devemos ir. Ficariam à frente da loja o seu pai e a gerente, por certo! – declarou Ângela.

--- Isso é. – respondeu Honório entusiasmado.

--- Eu entendo somente de compras e vendas. – sorriu o velho D.

--- Creio que a moça entende já e muito bem. – sorriu Honório.

--- Ela vai casa! – lamentou Ângela de surpresa.

--- Bosta! Isso é uma merda! E esse casamento vai ser quando? – indagou Honório alarmado.

--- No final do mês. – respondeu Ângela angustiada.

--- É mais bosta ainda! Eu me casei durante um fim de semana e você nem reclamou. Passamos oito dias fora. Foi do mesmo jeito. Agora, por causa de uma reunião e ela não vai tolerar por causa de um casamento? – indagou Honório cheio de ira.

--- É. Vamos ver. A reunião vai ser numa terça feira. Eu queria também conhecer pelo menos uma galeria de arte. Então, nós estávamos a voltar no muito na sexta feira. – sorriu Ângela.

--- E tem Luiza! – declarou o velho D.

--- Luiza? Que Luiza? – indagou Ângela assustada.

--- Luiza? E ela esteve aqui? – perguntou Honório assustado.

--- Esteve. Luiza era funcionaria do escritório. Eu já falei dela. Eu disse que Luiza voltasse à tarde. No muito ela ficaria com o afazer do escritório e eu tomaria conta do atelier. – fomentou com certo orgulho o velho D.

--- Luiza! Quem diria! Ela apareceu em uma hora oportuna! – comentou Honório a se lembrar dos velhos tempos.

--- É Essa tal Luiza pode ficar mesmo com o escritório. Eu já tenho três empregados no atelier. Isso vai inchar muito. – respondeu Ângela enciumada com o marido, pois sabia muito bem quem era a peça.

--- Eu fico com Luiza. Ela entende bem do negócio. – respondeu o velho D.

--- Assim é melhor. Eu sei. Luiza! – rebateu com antipatia a mulher.

--- Ela é boa! – disse Honório sorrindo.

--- Eu sei o quanto! – respondeu Ângela arrumando os seus pertences a olhar para o marido.

Finda a reunião, os três partiram para o almoço do meio-dia deixando o prédio aos cuidados de Miguel, o porteiro.

O almoço foi servido no Restaurante Magestic, local de lauta refeição onde era muito bem freqüentado pela sociedade aristocrática da cidade. O local tinha três fileiras de mesas, cada uma com oito passadios. Àquela altura das horas, era repleto o restaurante com os garçons a atender a todos quantos pediam um almoço. Para contentar a freguesia, de início, servia-se um vinho com salgadinhos. Depois é que se servia o almoço de verdade. Para Jorge D ele pediu um peixe o que foi pedido também pelos outros dois acompanhantes. Por isso, o almoço findou ornado em peixe. Alguém que estivesse a olhar a mesa de D., ficava a saborear aquele augusto prato de salmão ao molho e não se negava a dizer:

--- Era bem melhor se ter pedido o prato de salmão. – recitava alguém.

--- Você preferiu filé! – respondia o outro aturdido.

--- Você é quem quis filé! – respondia malcriada apesar de baixa a voz à mulher intiqueira.

Logo após o almoço, os três D da família seguiram viagem no auto de Honório para o escritório do Bairro Alto. O velho tinha então uma refeição um pouco leve, pois a arritmia do seu coração o alertou para moderar nos alimentos, notadamente a carne de sol ou verde. Às duas horas da tarde, com Ângela a cuidar doas afazeres do seu atelier e Honório no Porto, coube a Jorge D ficar no escritório, com certeza, a cochilar derribado na cadeira alcochoada. Foi nessa ocasião que entrou no recinto a jovem moça Luiza, tocando de leve na porta para não assustar o seu chefe, pois Jorge Dumaresq estava a dormir. Mesmo assim, com o toque, o homem acordou e se ergueu da cadeira recomendado a moça que ela cuidasse em sentar.

--- Obrigada! – respondeu Luiza a sorrir.

--- E então? – indagou Jorge Dumaresq.

--- Então? Então digo eu. – sorriu a moça esperando a resposta.

--- Os seus papeis estão aqui. Você voltou. Faz tempo. Mas estás admitida! – sorriu o velho Dumaresq como quem dizia; “O lugar é seu”.

Então, Luiza abriu um sorriso largo e cumprimentou Jorge D com um beijo na testa.

sábado, 25 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 31 -


- Belinda Lee -
- 31 -

Três dias depois do ocorrido, Jorge Dumaresq já estava em seu apartamento de primeira casse no Hospital Geral sob os cuidados de um especialista em doenças coronárias. A moça veio fazer sua pressão e observar as batidas cardíacas. De saída, a moça olhou para Honório e ainda disse para o homem, Jorge Dumaresq, que ele estaria “bom para outra”. E logo deixou o apartamento. Ao sair, com o intuito de fechar a porta, deu uma olhadela para o rapaz. Ela triscou os seus olhos deixando no ar uma leve impressão de uma promessa de amor. Honório sorriu e nada acrescentou. O velho Jorge esteve sempre a observar a garota. E quando a moça saiu o homem disse a Honório, único presente no apartamento:

--- Leva a moça! – e sorriu querendo tossir.

--- Deixa comigo. – sorriu Honório se aquietando daquela enfermeira.

Nesse ponto, o homem declarou a Honório. Este havia sido um aviso. Ele sabia já de antemão que pouco duraria. Portanto, como Honório estava para casar com Ângela, o homem havia dividido a sua herança para o sobrinho e para a sua própria mulher, Anita Colares. Todavia, tinha um, porém: o rapaz somente teria direito a esta metade da herança – em espécie – tão logo se casasse com Ângela. Após casar, ele era o dono da riqueza que Jorge lhe deixara. Antes, não seria possível. Jorge D ainda queria sentir com maior o orgulho de ver a Casa de Artes “A BOTIJA” a funcionar a pleno vapor. Por seu lado, Honório declarou que aquele não seria o momento de se discutir negócios.

--- Negócio é tudo no mundo. Até para morrer. É um negócio. Nunca se esqueça disso meu filho. – declarou Jorge D.

--- Está bem, meu tio. Mas é melhor o senhor repousar um pouco. – tranqüilizou Honório.

Ainda de manhã, ao chegar ao escritório da Loja onde estava a sua noiva Ângela, o rapaz, de imediato, puxou a moça pelo braço e foi dizendo:

--- Vamos sair! – destacou o rapaz.

--- Que foi? Seu tio piorou? – indagou assustada a moça.

--- Não fale! Vamos sair! – arrastou o homem a moça pelo braço.

E os dois rumaram até ao carro de Honório e ela sempre preocupada tinha a intenção em saber o que estaria há haver. O rapaz não respondia nada. Quando o carro atingiu um local distante percorrendo a beira do mar, Honório foi firme a responder a Ângela;

--- Prepare-se, pois vamos nos casar tão logo você se vista. Um vestido branco. ...Tem que ser branco, o campo, o padre, o tabelião e os padrinhos e madrinhas. Chama-se mãe, irmã – a sua irmã, é o caso – o tio Jorge, se ele tiver em condições, a sua mulher, Anita Colares e nada mais.

--- Por que assim tão depressa? – indagou a moça aturdida com o impacto.

--- Uma fortuna nos aguarda. – respondeu o rapaz a sorrir.

Foi uma gargalhada estrondosa que o rapaz soltou. Por mais que tentasse falar, ele não podia fazer. Apenas gargalhar. Em certo ponto, ele olhou para o rosto da moça e não se conteve: gargalhou outra vez. A moça estava aturdida a perguntar:

--- Que fortuna é essa? – indagou Ângela angustiada.

Após alguns momentos, o rapaz voltou à sobriedade e contou a verdade de tudo. Seria uma monumental quantia a esperar pelo casal. Era preciso os dois tão logo acertassem o noivado. A moça teria condições de abrir a Loja “A BOTIJA” sem maiores preocupações. O velho Jorge D, se ainda estivesse vivo, teria o lugar de patrono da organização.

--- Eu não quero isso! – declarou com abuso a moça Ângela.

--- E por que não? A fortuna está no Banco à nossa espera! – reclamou Honório com angustia

--- Dinheiro de um “morto”? Nunca! – teceu Ângela.

--- Espere amor. Ele está ofertando esse valor em vida. Ele não está morto! Ele está vivo! E a metade da fortuna que ele amealhou durante a vida que vai ser tua. Não tem nada de errado. Ele me deu essa informação ainda hoje, no Hospital. – exclamou Honório.

--- Mas ele é teu tio! – reclamou Ângela.

--- Ele vai ser nosso sócio na empreitada. Lembre-se disso. Tudo é negócio, como Jorge bem disse. Até para defecar você está fazendo negócio. Quando se dá roupas para os flagelados, nesse caso é negócio. É negocio para quem dá e para quem recebe. Veja bem: Se você oferta uma camisa para o povo de Zâmbia, na África, você doa. Mas o homem que faz o transporte e leva a mercadoria, pois aquilo é uma mercadoria, está levando para ser vendida por preços absurdos. Não se dá nada de graça. Apenas se vende. – rebateu Honório.

--- Onde é que se vende? – indagou Ângela surpresa.

--- Em qualquer parte do mundo. Os homens que transportam têm caminhões de luxo. Transportam as cargas. Vendem a mercadoria aos sem teto para onde levam. Para você ter consciência. Os pobres de onde recebem as mercadorias procuram dinheiro nos bolsos das calças. Qualquer dinheiro. Seja dólar ou não. O povo tem fome. Porém também tem carência em outras coisas. Eu disse Zâmbia, porém tem outros países, principalmente da África. É essa a verdade. E vem agora com a história de Deus. Deus é o dinheiro que os ricos tentam ganhar ainda mais. Se você não sabia, fique sabendo agora. Essa organização que você está metida é pura armazenagem de pobres para ricos. Você vai comprar por um tanto e vender por muito mais. Pense nisso. - respondeu Honório todo suado e de mal humor.

--- Puxa! Isso eu nunca ouvi falar. Até a Igreja? – perguntou Ângela alarmada.

--- A Igreja é uma das tais. Têm outras. Outras. Eles pedem e você dá. Então eles vendem! Tudo é vendido. Nada é de graça. Pense bem em você. Você! Você “dá” o seu serviço em troca de um pagamento. Você não “dá”. Você vende! – exclamou Honório de modo atrevido.

--- E então? Quer ou não a fortuna? – indagou de novo Honório.

Instantes de comoção da noiva Ângela a pensar nos pobres da África e no seu futuro como empresária da moda e da arte fez com que a moça pensasse mais do que era importante para caminhar na estrada do futuro. No ângulo de sua mente pairava o destino dos pobres de sua terra, homens, mulheres e crianças. Negros vindos das senzalas e brancos meio mulatos, meio negros existentes no interior e no sertão. Produtores de coisas artesanais, garrafas de areias coloridas, cestos e mesmo instrumentos de batuque. Era um verdadeiro mundo, o qual tinha para explorar com certeza. Ela seria um marchant, um comerciante de obras de arte. Um mercador. Nuvens passavam rápidas pelo céu de verão naquela manhã sem chuva. Crianças a brincar a beira da água de um mar tranqüilo, notadamente seco, mulheres a caminhar talvez a procurar peixinhos para dar aos seus garotos e olhá-los a correr em volta das negras pedras do oceano, botecos a vender bebidas aos que mais procuravam. Uma jovem de cor branca e cabelos dourados saindo da bodega com uma meia garrafa de cachaça. Era tudo o que havia por ali no desalinho da civilização.

--- Aceito. Vamo-nos casar. Vestido requintado, branco, almofadado. Vestes com laços ornados atrás, saia bem folgada. É tudo o que em suponho ter. – decidiu a moça em um vislumbre.

--- Isto é que é! Casamento no bosque. Somente isso e nada mais. – respondeu o rapaz com orgulho de ver a moça engalanada com suas vestes.

--- Será tão logo chegue os documentos de casamento. – sorriu Ângela.

--- Isso mesmo. E os recursos serão nossos. Com um ano, nós estaremos dobrando tudo, por conseguinte. Com a orientação do nosso tio. – sorriu Honório ao prazer de beijar a noiva.

Quando tudo se acalmou, Jorge D. já voltara ao trabalho vendo de próximo os artesãos e a loja “A Botija” repleta de serviços, com operários a arrumar as peças, os eletricistas a testar as luminárias de modo que cada uma estivesse focando para o respectivo quadro de obra de arte. Peças de museus para a venda; roupas antigas era o top da moda. Paira a sombra da alegria no rosto da moça e o bem-estar de Jorge D. Naquela ocasião. Honório estava elaborando os convites de casamento marcado para o final do mês. Uma vez ou outra, Ângela chegava até ao noivo para saber se ainda faltava algo. Ele dizia que não, ao mesmo em que se lembrava de chamar também a irmã de Ângela, pois embora da família, devia ser convidada junto com sua mãe, dona Almira.

--- Vai ser uma festa magnífica! Apenas os nossos padrinhos e gente da família. Depois, terá o jantar de bodas na Mansão. Parece estar vendo você em seu traje de cor branca. Quem está fazendo? – perguntou Honório de cabeça abaixada.

--- Segredo! – teceu a noiva sorrindo de mansinho.

--- Segredo! E nós? Onde passaremos a lua de mel? – sorriu Honório.

--- Que tal no Chalé da Montanha? – sorriu Ângela.

--- Bravo! Isso mesmo! É para lá que nós iremos! – sorriu Honório com prazer.

 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 30 -

- Madge Bellamy -
- 30
Honório tão logo ficou sabendo do caso de Jorge Dumaresq. Naquela hora ele estava internado na UTI e maiores informações apenas com o médico de plantão. O rapaz procurou saber qual era o médico. A atendente logo lhe deu a informação desejada. Honório e sua noiva pediram licença e logo entrou no salão a procura do consultório do referido médico. Tão logo eles encontraram o consultório, foram entrando e ali havia outra atendente. A moça ouviu as explicações desesperadas de Honório sob a companhia de lágrimas de sua noiva. Ela recomendou apenas que o casal aguardasse um pouco, pois o médico estava atendendo outro paciente naquela hora.

Por quase meia hora Honório e Ângela ficaram a esperar paciência para o médico atender. Na oportunidade, Honório foi logo a perguntar qual o estado real de saúde do senhor Jorge Dumaresq. O médico lhe disse que era bom esperar as primeiras vinte e quatro horas para se ter uma noção do progresso da enfermidade. Reconhecido pela informação, Honório foi ao protocolo para tratar de internar como paciente de primeira classe, pois Jorge D estava localizado na indigência. Enquanto isso, Ângela ligava para a residência de Jorge D a comunicar o caso havido. A esposa Anita Colares Dumaresq soltou um grito febril.

--- Ai meu Deus!!! Onde ele está agora?! – indagou amedrontada a esposa de Jorge D.

--- Na UTI do Hospital Geral. Mas eu não pude vê-lo! – comentou Ângela chorando bastante.

--- Minha filha! Me espere que eu vou para o Hospital! Urgente! – falou a mulher Anita como quem começava a chorar.

A moça fez uma segunda ligação. Desta feita para a Mansão de Honório comunicando por sua vez a dona Do Carmo o mesmo acontecimento. A mãe de Honório falou que seguiria para o Hospital tão logo se arrumasse. O que sucedeu Ângela comunicou a Honório tão logo concluiu a tarefa. O rapaz olhou para a moça, enquanto preenchia os formulários e depois desviou a vista para o que estava fazendo. Foi passado um minuto então Honório observou o semblante mais que depressa da moça e então indagou:

--- Minha mãe disse o que? – perguntou alarmado o rapaz.

--- Ela vem também! – respondeu Ângela chorando as pencas.

--- Ô meu Deus! Logo a minha mãe! Você o que a ela? – perguntou o rapaz desatinado.

--- Que seu Jorge estava hospitalizado! – respondeu Ângela chorando muito.

--- Isso é uma merda. Agora vou ter que cuidar da minha mãe também. É merda. – argumentou o homem ainda insensato.

--- Vou avisar à minha irmã! – falou Ângela assuando o nariz.

--- Faça. Faça isso, - argumentou Honório enquanto enchia os formulários de primeira classe.

Em meia hora o Hospital Geral estava cheio de gente, a sua maioria, os Dumaresq. Cada qual que perguntasse como estava passando Jorge D. Era uma algazarra tamanha chega ninguém podia entender qualquer um. Ângela se apoiava no noivo e esse falava que era melhor todos terem calma, pois estavam numa casa de tratamento de gente doente grave. Um auxiliar de enfermagem vinha passando com um carro de mão e um paciente enfermo. O homem quase que cai dado o empurra-empurra do pessoal no corredor. Foi preciso vir gente de dentro do hospital para organizar a bagunça formada por parte de gente rica. Ao passo de alguns minutos, dona Anita à porta, foi recebida pelo médico de plantão. A mulher chorava tanto cujo lenço todo cheio de lágrimas teve que ser tirando da mão da mulher e lhe entregue outro.

O senhor Jorge D estava sob cuidados médicos, na UTI, com sintomas de problemas do coração. Uma vez ele estando a dormir sob efeitos de anestésicos, nada mais se podia fazer ou dizer, argumentou o médico de plantão.

--- A senhora é a sua esposa? – perguntou o médico bem paciente e calmo.

--- Sim! Anita Dumaresq. – respondeu a mulher entre prantos.

--- Eu recomendo à senhora esperar até amanhã à tarde quando o médico pode dizer a realidade do seu marido. - confessou o médico de Platão.

--- E eu não posso vê-lo agora? – indagou a mulher às lágrimas.

--- Temo que não seja possível. Mesmo assim a senhora poder dar uma olhadela através do vidro da porta. Ele está dormindo nessa ocasião. – recomendou o médico.

Anita, acompanhada do seu sobrinho Honório, se arrastou até a porta recomendada pelo médico e viu de longe o senhor Jorge D a dormir. Ela ficou naquele local a observar por uns cinco minutos e depois voltou, arrastando os pés, lacrimejando a todo o tempo e se reuniu com Do Carmo, mãe de Honório. As outras pessoas presentes perguntaram a Honório o que o médico havia dito. Com muita calma, Honório respondeu:

--- Só amanhã. O médico vai esperar as vinte e quatro horas para dar um diagnóstico real. – falou Honório acompanhado de sua noiva, Ângela, e de sua mãe, Do Carmo. A senhora Anita foi se sentar no banco posto no corredor onde já havia outros parentes de Jorge D. Passou-se mais de meia hora e Honório decidiu ir para a sua Mansão, levando a noiva para deixá-la em casa junto com a irmã Adélia e a sua mãe, Do Carmo, apesar da resistência da mulher em querer ficar no Hospital. Então, Honório, respondeu à sua velha mãe de que não adiantava ficar ali, pois não haveria coisa alguma a que se pudesse fazer.

--- Anita vai ficar! – respondeu Do Carmo chorando lento.

--- Eu volto mais tarde e a convenço de tornar para a sua casa. – respondeu Honório paciente.

Desse modo, a situação foi contornada. Ficaram Anita e alguns parentes de Jorge D. No caminho de volta para a Mansão, Honório sugeriu que no dia seguinte, salvo algum imprevisto, Ângela devia voltar para o ateliê e no local ela devia esperar por alguma novidade. Honório tinha o que fazer no Porto e, desse modo, ele voltaria logo depois ao Hospital para saber das providencias que haviam tomadas com relação ao internamento em primeira classe. Ângela ouviu tudo e até concordou com o que disse o rapaz. Contudo, Ângela indagou por que não ficava na Mansão em companhia de Dona Do Carmo. Nesse ponto, Honório ouviu a sua mãe se concordava ou não. No caso, a mulher concordou, mais pela aflição que estava a viver durante o momento sofrido, onde só lembrava-se do passar em que esteve metida quando perdeu o seu marido igualmente de um infarto repentino e fulminante.

Quando a moça foi a sua casa, para trocar de roupa, ele olhou para Adélia como a perguntar se haveria modo de Ângela suportar aquela dor terrível.

--- Suporta, sim. Tem que suportar! – respondeu Adélia quase a chorar.

--- É uma bosta! Isso é uma bosta! Isso é uma bosta! – retrucou Honório com relação ao fato, com todo o ódio do mundo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 29 -

- Lolita Emo -
- 29 -
No domingo era festa para todos os participantes. Quem eram noivos: Honório e Ângela. Porém, a festa começou às dez horas da manhã sem fim para terminar. Presentes apenas os convidados mais próximos, como a família dos Emerencianos e parte da família dos Dumaresq certamente. O local foi na Mansão dos Dumaresq, residência ampla e muito bem conservada, vinda da época dos avôs Dumaresq e passando para o herdeiro Dumaresq, único filho do casal, seus avôs. Quando Dumaresq morreu, ficou como herança a esposa Do Carmo. Essa também tinha apenas um filho. Seria ele o herdeiro. Os demais Dumaresq tinham o seu solar amplo em cada canto da cidade. Porém isso não se falava na festa. O homem Jorge D era um dos mais influentes da família por seu poder de organizar o seu patrimônio. Os demais irmãos tinham alguns bem abastados e outros com certeza pobríssima. Era uma família rigorosamente importante. Contudo, desde sua origem na Europa, os Dumaresq tinham por tradição pouco falar ou contar, sabendo-se que era uma gente de modo pobre e que se punha apenas de fazer objetos para presentes e vender aos nobres. Era uma reminiscência, com certeza. No caso mais presente, apesar da noiva ser de origem italiana, era por certo um casamento singular, não importava de qual família era Ângela. O importante era ter um Emerenciano.

O almoço tradicional foi servido ao meio-dia com vinhos, champanhes, vermutes e outros requintes da boa mesa. Havia peru, leitão assado e outros gêneros alimentícios com certeza para a satisfação de todos. Não havia prato principal, porém todos comeram de tudo. A noiva era deslumbrante e bela ao lado do seu noivo. A certa altura o noivo, já um tanto ébrio, gritou para todos os presentes em volta da mesa:

--- Isso é apenas o noivado. Preparem-se para o casamento! – e entornou um botijão de vinho garganta abaixo.

A festa checa geralmente se dá em um campo ou em uma montanha. Isso no casamento. Porém no noivado é a tradição mais comum. Nesse ponto, se faz a noticia de que o casal se propõe se casar com a celebração de bodas. O noivado é uma relação que supõe um maior comprometimento que o namoro, pois estabelece a promessa de futuro casamento. A festa de noivado é a celebração que anuncia à sociedade que duas pessoas resolveram prometer-se em matrimonio. Nesse ponto é que se dedica as alianças do pré-casamento. Conforme a tradição checa, o noivo pediu a mão da noiva e pôs o anel pré-nupcial como símbolo do seu amor maior para o festejo – se possível em campo aberto – a ser oficiado o casamento entre os casais. Até a data das bodas, o casal se comprometia em fidelidade ampla.

Após a festa de noivado, que durou a tarde inteira, a noiva foi direto para a sua casa, sendo conduzida no carro de Honório, com sua mãe e irmã. Abraços e beijo para logo em seguida o rapaz voltar a sua Mansão, residência oficial dos Dumaresq. Tudo transcorreu na mais perfeita harmonia entre as famílias presentes. Quando a noite era tranqüila para um sono reparador, Honório foi despertado com um chamado tranqüilo e calmo de alguém a sussurrar. Era a meiga Catarina que o acordou por volta de uma hora da manhã. Naquela hora, todos na casa dormiam. Apenas Catarina estava acordada. Quando Honório despertou de seu sono, a moça sorriu e disse:

--- Agora é minha vez! – sorriu alegre para Honório.

--- Minha vez o que? – indagou o rapaz aturdido.

--- Eu disse que você havia de me pagar? Agora é a vez! – falou baixinho Catarina ao se deitar o leito de Honório sem maiores reclamações.

O rapaz um pouco aturdido, sem ao menos recobrar seus verdadeiros sentidos, olhou para a sensualidade da jovem Catarina e passou a se lembrar da tampa da tigela caída e o modo como a moça limpava o chão, mostrando de muito leve suas roupas intimas. Naquele ponto ele sentiu uma forte emoção para tocar naquele traje feminino. O tempo passou até o dia em que Catarina teve a oportunidade de ir acordá-lo numa manhã de puro azul. Daquela vez, Honório cobrou o seu desassossego. E nesse ponto, era Catarina quem vinha com ímpeto lhe fazer serventia. E o caso se deu sem maiores atropelos. A moça fez o amor contido nas suas entranhas de mulher de alcova.

A manhã seguinte foi exaustiva. Honório saiu de casa de Ângela direto para o escritório do seu tio, Jorge D onde a sua noiva já estava no desatino do dia a dia em levar a frente o seu oficio e começar a lidar com A BOTIJA, casa de amostras de artes e artesanatos, presentes de alguém para outra pessoa e muito mais. No início, Ângela estava escutando os futuros recepcionistas para ver o que oferecia melhores aptidões. Dentre muitos ouvidos se destacou uma mulher, moça de vinte e dois anos. Tal jovem moça se destacou entre as demais. Com sua inteligência de perspicácia, a mulher sentiu levar avante tudo o que havia para se fazer. Uma semana para ser aprovada e foi o necessário. O seu primeiro encargo foi o de consultar artesãos e pintores de obras de arte a se instalar na loja A BOTIJA. Tendo um campo certo para a venda dos artigos, era mais proveitoso se expor em tal loja. E foi assim que se deu.

Toda semana era uma técnica nova e especial para o artista. Ângela montou uma loja de venda a preço módico de artigos usados pelos pintores e artesãos. Na A BOTIJA tinha de tudo: tintas acrílicas, álbuns de amostras, pirógrafo, molduras, estilete, bandeja, aerógrafo, grampeador e muito mais. Era uma loja que nascia pela primeira vez no mercado. Uma casa de arte. Grupo arrojado, em um país onde o artesanato e a arte eram tímidos. Podia-se vender de atacado e a varejo e bem suprir a carência de informações técnicas. Exposições e vernissages, feiras e eventos aliados a cursos especiais em cartum desde a arte francesa a curso de cartonagem. Mosaicos e porcelana fria a modelagem com cerâmica plástica era o toque a moda. De tudo A BOTIJA oferecia aos seus alunos e clientes de dentro do país e até mesmo do exterior. Por fim, quando estivesse pronta, A BOTIJA estava completa para oferecer os melhores modelos de artigos da moda, desde caixa de madeira a bolsa de praia, de chinelos customizados em tecido a bonecas de pano.

Enquanto isso, Honório estava seguro no seu proveitoso trabalho. Foi então que um rapaz do Porto avisou para ele ter havido um telefonema de sua noiva, lhe avisando que entrasse em contacto urgente com a firma. Honório agradeceu e ligou do Porto direto para o escritório de representações e despachos do seu tio. Quem atendeu foi uma moça cuja identidade ele desconhecia. E pediu para falar com Ângela de imediato. A moça que o atendeu passou a ligação para a noiva do rapaz. De imediato, Ângela foi logo lhe dizendo:

--- Caso grave. Seu tio está no hospital. Volte urgente! – reclamou gritando Ângela assustada.

Honório se dirigiu ao carro estacionado em frente ao Porto e seguiu direto para o escritório dado o vexame de Ângela, pois seria algo muito grave até. No caminhar, o rapaz pensou em uma trombose ou um surto do coração, pois estes seriam os casos mais graves para um homem com a idade do seu tio. Carros à frente do seu dificultavam a passagem e ele não parava de buzinar insistente. Por fim, estava o rapaz em frente do prédio do escritório. El desceu do carro e foi pego pelo rapaz que tomava conta de tudo o que havia lhe dizendo que não temesse, pois o homem havia sido socorrido com a devida pressa ao hospital. Honório pouco ouviu da conversa de Miguel e entrou com mais pressa seguido de Miguel até o escritório do velho Jorge D. Ao chegar, perguntou a Ângela o que havia ocorrido. A moça não parava de chorar em companhia de sua secretaria.

--- Vamos amor! O que houve? Ligeiro! Ligue para a casa dele! – recomendou com pressa Honório bastante aturdido.

--- Mas vou dizer o que? – indagou a moça chorando.

--- Qualquer coisa! O que houve mesmo? – perguntou Honório atormentado.

--- Ele passou mal e eu mandei Abel levá-lo ao hospital. - respondeu a moça se molhando de lágrimas.

--- E ele? Onde está? – indagou nervoso o rapaz.

--- Não sei! Deve estar no Hospital. Penso eu. – declarou Ângela chorando bastante.

--- Deixa que ligo! Passe o telefone! – lastimou o rapaz agoniado.

--- Vai dizer o que? – indagou a moça ao tempo que assuava o nariz e limpava as lágrimas da face.

--- É! Não sei! É melhor irmos primeiro ao hospital. – reclamou Honório estremecido.

Os dois saíram com pressa para o Hospital e recomendou que Miguel fechasse tudo. A moça que estava com Ângela foi dispensada até o dia seguinte. O carro correu a toda pressa com o rapaz sem ouvir mais nada do que Ângela dizia. A vontade era a de chegar ao hospital e saber a verdade dos fatos. Com toda a pressa, ele avistou tão logo pode o prédio do Hospital e em seguida, o carro de Abel onde encostou o seu veículo bem ao lado. Abel estava próximo ao seu carro e logo que Honório chegou, ele foi dizendo ter entrado e pedido uma maca para um paciente. Tudo foi imediatamente ajeitado e o motorista declarou não saber de mais nada.

--- Eu vou perguntar a atendente! – informou nervoso o rapaz.

Ao seu lado estava Ângela, encolhida em seu passar de um caso que ela jamais vira atender igual ao seu. O homem se torcia de dor, a cara arroxeada, boca aberta de onde somente se ouvia o som abafado de um “ai”. Jorge D estava sentado na cadeira do seu birô quando foi acometido do surto e lá mesmo ele se levantou esse sentou agonizando. Foi terrível a situação pela qual passara a moça naquele brutal instante. Às pressas ela socorreu o homem com o auxilio da sua secretaria e a ajuda de Miguel.



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 28 -

- Lauren Bacall -
- 28 -
Por alguns minutos, Ângela ficou a sonhar com aquele império posto em suas mãos, o qual não entendia nem um tanto e sem sombra de duvidas era para ela uma magnífica fantasia onde não poderia haver retrocesso. Quando menina ou mais como uma garota dos seus quinze anos, Ângela sonhou com algo imprescindível, como uma quimera. Talvez algo irrealizável para uma jovem igual a que era na ocasião. Tão igual era saber o que fazer com tamanha fortuna. Saber o que seria com aquilo onde brotava o futuro do seu próprio ser. Uma casa de penhor ou outra coisa que mais significasse o pendor de um ser imaginário tal qual o local tivesse a imaginação fértil de todos. Por certo, o nome já diria tudo o que fizesse crer, como “A BOTIJA”, pois seria bem para se imaginar. Ou “O VASO DE OURO” se não algo parecido. Algo como uma figura da antiga Grécia a qual poderia dar certo: “O VELOCIMO”. Assim, Ângela teria enormes verificações para anotar ao seu mimoso caderninho de cabeceira.

--- É certo que todos os nomes são bons. Mesmo assim eu prefiro o primeiro. Sinto nele algo de surpresa. As pessoas pensão logo no primeiro nome. Por isso, eu aprovo “A BOTIJA”. Nome singular. Vale a pena por um nome desse estilo. – comentou Jorge D.

--- Eu também endosso as palavras do meu tio. – ressaltou Honório a sorrir.

--- É. Até que é bom. Botija. Nome alheio e as pessoas ricas ou não logo aprendem. Vá à Botija! – emendou Ângela a sorrir franco.

--- Assim ficamos certos. Agora é ao serviço. Você pretende contratar quantas pessoas? – indagou Jorge D

--- Três. No muito: três. Pode ser duas pessoas. Com o passar do tempo nós sentimos o que precisa ser feito. – falou Ângela então alegre.

--- Muito bem empresaria. Hoje mesmo eu faço uma chamada pelo jornal. Agora, ao serviço! – falou bem alto e alegre Jorge D.

O local onde havia o escritório ficava no primeiro andar. Era ali que Jorge D durante o dia mantinha atendimento aos clientes. Na parte de baixo tinham dois compartimentos fechados. Então, a moça teve a idéia de montar o seu escritório logo em baixo. A medida do que fosse feito progresso, podia-se alargar para outras partes. De inicio, chamar-se-ia o contador. Ele tomaria conta dos papeis e documentação da loja. Far-se-ia um reclame de uma loja cujo funcionamento dar-se-ia dentro de um mês. Ou mesmo em quarenta e cinco dias. A jovem Ângela aproveitaria o momento de trabalho para manter serviço de aproximação com os próprios produtores artesanais. Era assim que a jovem moça começaria o trabalho.

O telefone chamou e Ângela atendeu. Era a sua irmã Adélia para conversas triviais. Na ocasião, Ângela lhe disse o que havia feito. A moça, Adélia, foi tomada de surpresa. Em contrapartida, Ângela lhe disse que aquilo era só o começo e a nova firma precisaria de uns três empregados. No inicio, apenas dois. Porém a visão era ampliar o atendimento. Por isso ela falaria em três. O serviço seria feito, em certos modos, por encomenda. Era uma loja de atendimento ao cliente para fazer presentes aos seus parentes e amigos. Isso de forma preferencial. Teria um projeto de artes visuais, artes e desenhos, produtos de artesãos, oficinas, artes contemporâneas, teorias e entre tudo, o meio estudantil. Era um mundo de o que fazer. A irmã de Ângela ficou admirada com a intenção de sua querida mana. E em instantes chegou a falar não ter noção do que Ângela pensaria tanto.

--- Isso é o começo, mana. O começo! – sorriu Ângela como quem diz – “Pra você ver a irmã que tinha em casa.” Porém não disse nada a esse respeito.

E a conversa se prolongou por mais algum tempo com Adélia a desejar imensas felicidades para Honório – que havia saído para o Porto – e conversaria mais tarde com a irmã, Ângela. Então Adélia desligou o telefone da repartição. Na sua mesa de trabalho Ângela teceu um leve comentário para consigo mesma: “Adélia perdeu a partida” – pensou Ângela. E depois sorriu.

Quando a hora passou, Honório se postou em frente da repartição de Adélia, para fazer a vez de mecânico consertando qualquer coisa no seu automóvel. Na verdade, ele não estava fazendo coisa alguma e depois de algum tempo se dirigiu ao portão da Procuradoria pedido do vigilante o favor para que permitisse ao homem lavar as mãos em uma torneira ali existente. O vigilante permitiu e ele entrou com as mãos sujas de graxa a qual melara de propósito em algo qualquer. Depois de entrar, ele rumou para a sala de Adélia a fim somente de cumprimentar. Assim o fez. Adélia se alegrou com a presença de Honório e levou conversa feliz e descontraída para Honório do jeito que ele queria. Conversas simples, noivado, coisa rápida, empresa e tudo o que se dava de uma só vez. Honório chamou a moça para um canto remoto no jardim da Procuradoria e então pode explicar com toda a franqueza o noivado.

--- Eu fui à casa de sua tia para pedir para você ir comigo a posse do novo presidente do Clube e você não aceitou. Dias depois, já desencantado com a vida, eu pedi Ângela em casamento. Foi isso o que houve. – comentou Honório com um soluço na voz.

--- Entendo. Entendo. Porém foi tudo muito rápido. Hoje, a mana telefonou dizendo que agora ela assumiu um novo cargo. Tudo isso é rápido demais. Eu mesma não suportaria. Apesar de ter um emprego fixo. – falou baixo Adélia.

--- É. O caso do emprego até a mim surpreendeu. Eu não esperava aquilo. Nós estamos – eu e o meu tio – numa fase próspera. Não havia de tal necessidade. Mesmo assim, eu apoiei na organização de nova empresa. Uma não tem nada a ver com a outra. São duas empresas. – argumentou Honório também falando baixo.

--- Mas a mana é uma menina. Não sabe lavar nem as calcinhas dela. Para você vê. – sorriu Adélia ao dizer tal proeza.

--- Não duvido. Não duvido. Mesmo assim, agora ela assume o posto de uma empresária. Isso vai custar muito a ela. Não é brincadeira, não. – ressaltou Honório com certa cisma.

--- E você assume mesmo o papel de noivo? – indagou Adélia embora triste de ter perdido a parada de certa forma.

--- De certa forma, assumo. Eu sei que vai ser duro para mim. O meu caso era com você. Porém ao ver perdida a peleja, eu decidi de outra forma. Agora, se você topar. ...! – argumentou o rapaz um tanto coloquial.

--- Topar o que? Você trair a sua noiva? – indagou Adélia de forma surpresa.

--- Era sim. – sorriu Honório para a moça.

--- Não. Isso eu não faço. Ela é a minha irmã. E mesmo que não fosse. Você deve entender. – falou devagar Adélia.

--- Eu não entendo. Um coito, um sexo não tem nada a ver. – sorriu Honório.

---Veja bem. Eu sou uma moça. E então? – perguntou Adélia assustada.

--- E então deixa de ser. – sorriu o rapaz.

Adélia sorriu francamente como se tudo estivesse em um paradigma deveras muito simples. A contemplar o semblante da virgem dama notava-se aquilo que ela podia não trazer ou não fazer de fato. Com isso, Honório voltou a perguntar.

--- Escute. Eu não ligo para as convenções desse sentido. Você, talvez acredite. Mesmo assim, eu vou te perguntar: você ainda é virgem? – indagou Honório de olho para olho.

--- Claro que sou! Não acreditas? – respondeu Adélia de uma forma cautelosa.

--- Não. Não. Não é isso. É porque a gente faz algo que não quer e acaba rompendo o elo que prende a virgindade. Não que acredite nisso. Para mim, é insignificante. Mesmo assim, para a mulher é um fator deveras valioso. – retrucou o rapaz querendo apenas ter a oportunidade de haver algo que ele pudesse sentir na verdade.

A moça sorriu francamente para a alegoria que se formalizou no contexto delirante do que Honório falou. Ela virou bem o rosto do rapaz para se igualar ao seu. E indagou com firmeza.

--- Não crês em mim? – indagou com suavidade a jovem requintada.

--- Eu não duvido. – respondeu o rapaz sisudo.

--- Quando queres ter a certeza? – indagou Adélia ardente de ciúmes e de paixão.

--- Não seria demais te pedir “agora”? – inquiriu Honório a Adélia.

--- Agora? Já? No meio do mato? – perguntou a moça um meio assombrado pelo aspecto que fez naquele instante.

O lugar era amplo, cheio da brisa do oceano, tarde calma, bentivis correndo a beira mar. De longe, o farol não funcionando. Cajueiros faziam sombras em pleno arrebol do entardecer, aves faziam festa em todo o percurso. A noite não tardaria a chegar. Talvez lenta e efêmera, de singela e curta duração. Pescadores seguiam para a cidade, com os seus pescados à mão. Cestos suspensos, presos pela vara de pesca. Eram os saburás que eles levavam nos sofridos caminhos de casa. Do alto do monte se podia ver de tudo. Os barcos de pesca chegando de alto mar, casais de namorados se banhando na praia de água morna, siris a correr apressados procurando suas tocas. À margem o mar revolto e as ondas não deixando para trás o que podiam levar em seu arremesso. Era o fim de um novo dia.