sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 16 -

- Ava Gardner -
- 16 -
Na hora do almoço servido às treze horas, vários dos passageiros estavam pra lá e pra cá. Havia os que choravam os que cantavam melodias dolentes, e aqueles que vomitavam tudo o que ingeriram para depois beber novamente. As duas irmãs eram as mais desatinadas a sorrir dos pobres otários da vida. Os equilibristas do mundo soavam melodias irreconhecíveis, pois suas vozes estavam todas ofuscadas pelo álcool os quais estavam a entornar a cada instante. O bar do Catamarã estava aberto. E para o pessoal adulto vendia todo tipo de licores, uísques, cervejas, até mesmo preta, gim, rum entre outros. Para os menores só atendiam algo que não contivesse álcool, como guaraná e outras tão leves assim. O almoço era servido à mesa com um cardápio bem variado regado a frutos do mar iguais a crustáceos. No almoço, Adélia já estava pronta para outra, pois o enjôo passara de vez e a moça estava feliz e contente sorrindo a valer com histórias contadas por Honório. Por seu lado, Ângela junto ao rapaz comia a valer os frutos do mar e a despeito de ser um alimento “carregado”, a ostra ela comia ao Deus dará. Foi um lauto almoço o que foi servido. O pessoal que tomara banho de mar era o mais guloso, pois essa gente argumentava que o seu apetite aumentara substancialmente.

Quando chegou às duas horas da tarde, o barco já estava no arquipélago do Cachimbo Torto onde passaria cerca de uma hora e depois seguiria para o arquipélago de Odessa, ponto final da viagem. No arquipélago de Odessa, o barco pretendia ancorar no cais do porto se não fora um acidente cometido por um dos passageiros. Ao se avistar o arquipélago, um rapaz de vinte anos completamente embriagado, saltou de cima do Catamarã para o mar. O rapaz não conhecia nada de profundeza de mar. E ao saltar, um tripulante ainda gritou:

--- Cuidado! – gritou o tripulante quando o rapaz pulara.

No baque com as águas ele desconhecia onde tinha uma mancha escura. Foi ali que o rapaz bateu com a cabeça em uma pedra tendo morte instantânea. Quando o jovem pulou, três outros tripulantes pularam a seguir tentando acudir o rapaz. Os tripulantes resgataram o corpo da vítima. Mesmo assim, a pancada na cabeça tirou a vida desse passageiro. O Catamarã ficou parado longe do porto esperando a chegada de oficiais da Marinha e além do especialista em acidente ao mar para identificar a vítima e poder liberar a embarcação. Horas se passaram com a embarcação parada longe do porto de Odessa. O corpo do rapaz foi posto em um corredor do lado esquerdo do barco e assim ficou até a perícia investigativa averiguar as causas do acidente. Os três amigos – Adélia. Ângela e Honório – ficaram apavorados com aquele acidente cruel e inimaginável onde um rapaz de vinte anos perdera a própria vida sem explicação. O corredor teve que ser interrompido para passagem de passageiros. Os hóspedes do Catamarã que estavam em uma sala próxima ao local em que foi posto o cadáver pelo lado de fora, foram transferidos para outro apartamento ou beliche. No barco era um alvoroço total de pessoas querendo saber que era a vitima:

--- Quem era ele? – perguntava alguém.

--- Não sei. Só o vi quando ele estava bebendo com outros. – respondia outro.

--- Não era da cidade? – era a pergunta de uma terceira pessoa.

--- Eu sei que ele entrou só. – respondeu alguém.

--- Ave Maria. Meu do Céu! Que coisa incrível! – era o comum.

--- Por que a gente não pode ir lá para ver? – perguntou uma mocinha a alguém.

--- Eu vi tudo! – disse um garoto se vangloriando do feito.

--- Tinha um rapaz batendo fotos! – respondeu outro homem.

--- Vai sair no jornal? – perguntou a mulher desesperada.

--- Amanhã deve sair, não resta duvidas! – sorriu outro homem sorrindo da desgraça alheia.

--- E por que não sair? Aconteceu? Virou manchete! – foi o que afirmou aquele loiro repetindo uma frase da televisão.

E o alarme durou tudo o resto da tarde sem se saber quanto o barco deveria sair. A ordem era para ninguém pular no mar durante aquele momento. A noite veio com o mar bravio e as moças que acompanhavam Honório não quiseram comer coisa alguma. Para elas todos os momentos não passavam de uma angustia total. E as duas moças – Adélia e Ângela – preferiram voltar para o camarim onde se acomodaram. Ângela foi espremida, com as pernas encolhidas sobre seu corpo em cima da cama enquanto a irmã a todo instante rezava pela alma do rapaz que morrera e dizia quase sempre:

--- Ave Maria! Como é que pode uma coisa dessas? Acabou com a viagem! – dizia Adélia chorando lento.

O corpo ficou estirado no saguão do barco até ao anoitecer quando a pericia o levou para a terra onde faria a autópsia cadavérica do morto. O local onde estava a vítima, no barco, ficou impedido da passagem para quem visse a olhar. Mesmo assim, apenas havia no local a marca de giz de como o cadáver fora deixado e nada mais. Alguns abelhudos olharam para o local através da vidraça de seus apartamentos. Um menino chegava a dizer:

--- Olha ali! Olha ali! – comentava o garoto.

--- Cala tua boca! – respondia uma mulher, com certeza a sua mãe.

No restante do barco somente ouvia-se as conversas dos passageiros com relação ao acidente fatal. Um deles sempre comentava algo que acontecera pouco antes do rapaz pular para as ondas tranqüilas do mar.

--- Ele dizia sempre que a qualquer hora pularia para o mar. Não falava em suicídio. – comentou um homem ainda encharcado de bebida. –

--- Foi morte certa. – relatou um dos que faziam par da conversa.

Houve o jantar e Adélia, Ângela e Honório se puseram à mesa para degustar algo. Porém, naquele instante a impressão do acidente acometido à véspera da noite, ainda era forte. Adélia não deixava de perguntar insistente a Honório se o corpo do rapaz morto seria trazido para o Catamarã e esse respondia um:

--- Talvez! – respondia Honório com a cara enferrujada.

--- Mas ele tem que vir! – argumentava a moça impaciente.

--- É. Pode ser. Mas tem avião para a terra. Então pode ser que não! – respondeu o homem.

--- Vá perguntar aquele rapaz! – falou baixinho com o queixo rende à mesa e apontando para o moço do convés.

--- Ele não sabe de nada. O comandante foi para terra com a ajuda do outro tripulante que procurou impedir o rapaz pular. – comentou Honório.

--- Só esse? – perguntou Adélia muito nervosa.

--- E mais dois tripulantes. O técnico levou o corpo para terra onde se faz a autópsia. – proclamou o rapaz.

--- Para com isso, gente! Ora! Vocês só falam nisso! – reclamou Ângela com muita raiva e nem querendo mais ouvir qualquer coisa.

--- É o assunto da noite. – sorriu Honório.

--- Pois fique ai. Eu vou para o beliche. – reclamou Ângela se levantando e saindo.

Honório sorriu baixinho para Adélia e não comentou mais nada.

Quando chegou às dez horas da noite o comandante do Cataramã anunciou pelo fone que o barco teria de largar. Ele pediu desculpas por não ter se encostado ao porto para os passageiros se deleitarem dos recantos paradisíacos onde o arquipélago de Odessa oferecia a que não o conhecia. Ele ficaria devendo essa oportunidade a todos os seus passageiros. O comandante não falou no corpo do morto. Já em seu beliche, a moça Adélia o que o comandante falou e ficou desencantada com a visita cortada pelo meio e a morte do rapaz, pois fora a causa de todo o dissabor. Com certeza, a moça procuraria ver nos jornais da terça feira alguma nota a respeito da morte do rapaz em Odessa.

A lua ainda em fase cheia lutava para não se encobrir por entre as nuvens. O Cataramã navegava solitário e não fora à vista de luzes ao largo identificado um navio, nada de mais sucedera. No barco ainda se ouvia de pessoas comentando o acidente da tarde. Outro passageiro, porém, indagava sobre o placar do jogo do dia em terra. Ela não acompanhava nem pelo rádio o certame dos times. Um tripulante surgiu solene com bandeja e copos. Ele trazia de um apartamento qualquer. A moça Ângela se acomodou em sua cama onde procurou dormir dado o cansaço do dia, pois não dormira a noite toda com os afazeres de arrumação dos seus costumes e viagem. Adélia, ainda acordada, perguntou de forma simples a Honório:

--- O que significa Odessa? – quis saber Adélia do rapaz.

--- Odisséia. Vem do grego. – respondeu Honório pensando em outras coisas.

--- Interessante. – disse Adélia se acomodando na cama em companhia de sua irmã uma vez a dormir, pois o barco chegaria pela manhã ao Porto.

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