terça-feira, 28 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 34 -

- Astrid Bergès -
- 34 -
No dia seguinte, Luiza já estava no escritório. Chegara bem sedo, antes mesmo que Honório, o rapaz casado com Ângela de 21 anos de idade. O rapaz era muito mais velho que a esposa. O caminhar de Luiza levava sempre ao mesmo lugar. Mesmo assim, retornando ao antigo cargo, ele não perguntou a ninguém pela melhora de seu Dumaresq, afinal eles haviam saído no dia passado. Quando Honório falou ter visto o carro de Dumaresq, ela ficou assombrada, pois o carro era uma pista para se descobrir com quem ele estava no quarto do motel. Antes daquela tarde, em tempos mais antigos, Luiza saíra algumas vezes com Dumaresq e até mesmo ficara com o velho em um quarto desocupado do escritório, depois do expediente. Com tudo o que fazia ela era moça de guardar silêncio, mesmo quando a ocasião tivesse sido de Honório, o sobrinho do Sr. Dumaresq. Quando Luiza pediu demissão, há alguns tempos foi por causa do suicídio do seu namorado, um enigma até aqueles dias.

Em todos os tempos que vivera Luiza, aos braços do senhor Dumaresq, El se lembrava de todos em seus mínimos detalhes. Isso inclui a primeira vezem que Luiza e Dumaresq foram para um lugar tranqüilo, em um solar de um recanto na região de Dourados onde a brisa marinha era uma espécie de sedução e amor. Disso Luiza bem se lembrava, pois fora a vez primeira. Nesse tempo, Dumaresq já era um cinqüentão e Luiza uma garota dos seus dezoito anos de idade. Foi um convite feito sem grandes atrações e, no instante em que o homem seguiu para Dourados, foi que Luiza indagou sem grandes pretensões:

--- Para onde o senhor está indo? – indagou Luiza um tanto desprevenida.

--- O senhor, não. Você. É assim que eu quero ouvir quando você me tratar. – sorriu Dumaresq.

--- Desculpe! – disse Luiza toda sem jeito e acuada dentro do carro.

--- Desculpe, não. Você não teve culpa para se desculpar. – aludiu Dumaresq com certo amor olhando a mocinha com um sorriso na face.

Então, Luiza nesse mesmo instante beijou o homem na face. E nesse momento, Dumaresq quis mostrar a Luiza como de fato se beijaria para se ter amor de verdade. E beijou a moça em sua divinal boca naqueles dias, suave e cheia de encantos. Isso foi na metade do caminho para Dourados. E quando Dumaresq desceu do carro para se hospedar em um chalé propício para o amor, ele disse à mocinha que tomasse cuidado, pois não queria levantar suspeitas. Eles estavam ali a hospedar pai e filha. Isso foi em um sábado à tarde e eles ficariam até o domingo quando tinham que voltar para os seus lares na cidade. Teve banho de mar, descanso em redes bem ornadas, comida farta, bebida em igual conteúdo e prazer. Noite de delírio e amor.

Na oportunidade em viveram a salutar viagem, eles aproveitaram um chalé bem equipado na Quinta do Pouso instalado em plena região do mar. A Quinta do Pouso era servido por chalés cujo ambiente oferecia quarto duplo, sala com frigobar, casa de banho e terraço. Era um local aprazível pelo menos para dois namorados. No seguir do dia, eles aproveitavam o banho de mar com águas cálidas e serenas. O remando que o mar oferecia dava a impressão de estar sempre acolhedor. Águas mansas, poucos arrecifes, praias longas como fosse baía, céu azul, campos límpidos ao se olhar por trás a costa. Tudo eram sol e mar sem contar com as plácidas e pacíficas serras cobertas de árvores robustas. Para Luiza era um verdadeiro encanto e canto de amor total. Bem poucos outros componentes do tranqüilo ambiente. Um casal com seu dois filhos foram vistos do chalé pelos dois amantes. Uma menina de seus oito ou dez anos apanhava, talvez, conchas na beira da praia. Ela juntava as conchas e corria para depositá-la na areia da praia ao largo. O menino também o mesmo fazia. O casal de estranhos talvez ocupassem um dos chalés perto ou longe do que estavam Dumaresq e Luiza naquele dia de domingo tranqüilo.

Do terraço do chalé para o chão havia um espaço de dois metros. Em cima era a varanda. Em baixo eram toras de madeira a sustentar o terraço circundando todo o chalé. Havia guarda-sóis mesas e cadeiras pelo lado de fora do terraço onde se podia refestelar as iguarias oferecidas pela cozinha das casinhas humildes. Acima da varanda havia um primeiro andar. Para saída da casa, havia uma porta bem larga feita em três bandas. Em cima da casa, havia apenas uma porta em duas bandas e uma proteção de estacas de um metro de altura. Apesar de ser bem construído o chalé dava ter a impressão de antiguidade. Logo abaixo, no chão rente, uma piscina de cinco metros de cumprimentos por três de largura. Ao largo, a vegetação e árvores campestres iguais as existentes na mata virgem. Apesar de todo este exuberante panorama, para Luiza nada importava, pois, logo cedo da manhã do domingo ela estava a acordar Dumaresq para poder ir tomar banho de mar onde estavam os pais e seus dois filhos a colher conchinhas.

Os pratos servidos pela cozinha dos chalés eram à base de frutos do mar: ostras, camarões, caranguejos, lagostas e, principalmente peixe salmão. O barman oferecia ainda diversos tipos de vinho e, de modo especial, o champanhe para os dois hóspedes. Outro garçom trazia a bandeja com o almoço e depositava na mesa de dentro da sala. Dumaresq observava atento a tudo o que era oferecido. Do terraço, vinha o cheiro eterno do mar distante. Ele observou o resto de Luiza e sorriu:

--- Que foi? – indagou a jovem bela.

--- Nada. Apenas você. – sorriu carinhoso o homem Dumaresq.

--- Que tenho eu? – indagou Luiza comendo a lagosta que estava ao prato.

--- Não sei como se pode ser tão linda como você. – sorriu o homem.

--- Verdade? – indagou a moça a sorrir leve enquanto degustava a lagosta.

--- Para mim você é tudo o que eu nunca tive na vida. – falou baixinho Dumaresq.

A moça sorriu devagar e apenas disse ao homem.

--- Coma! – falou Luiza com sua voz mafiosa.

--- Comer nesse instante é desfazer o que a natureza se obrigou a fazer. – respondeu com sua placidez o homem Dumaresq.

--- Coma meu bem. Vai esfriar. – proferiu a moça enquanto comia a lagosta.

Dumaresq não se importou com as palavras de Luiza e ficou a olhá-la, com as mãos encurvadas no queixo como se tudo aquilo que estivesse a admirar fosse apenas uma visão de uma aquarela distante como um arco-íris ao logo no mar bravio. Nada importava ao homem senão aquele vulto de menina ou de mulher. Para o homem, era ela simplesmente divinal. Corpo esbelto, cabelos longos, belos, fartos e negros, cor morena e quase alva, boca sensual, olhos divinais, lábios de ternura, seios pequeninos, mãos carinhosas, pernas esculturais. Talvez ali estivesse uma obra de arte da qual os gregos e os romanos talvez nunca observassem em ter.

A viagem era distante no seu caminho de volta. O homem refletia taciturno como deveria fazer para ter Luiza para sempre em seu caminho. Era noite quando o automóvel chegou à cidade. Em uma parada de Bonde Luiza ficou. Dumaresq prosseguiu viagem até a sua moradia. Estava completamente bronzeado. Diria a mulher algo simples que a convencesse. Depois dormiria sem nada para digerir. No dia seguinte, segunda-feira, estava tudo normal no seu escritório. Luiza calada, Honório lendo as colunas de esportes dos jornais e Dumaresq pedindo ligação para fora, o que a moça, totalmente assada pelo sol que tomara no dia anterior, faria com prazer. Todo estava normal no dia seguinte. Não raro, no decorrer da semana e dos meses, Luiza indagava a Dumaresq quando ele poderia ir ao Chalé da Quinta do Pouso, em Dourados e ele respondia.

--- Qualquer dia. Qualquer dia. Talvez no fim desta semana. – sorria Dumaresq para fazer Luiza se esquecer de perguntar novamente.

Quando Honório chegou, logo cedo do dia, Luiza nada perguntou. Desta forma ela assim não levantaria suspeita. No dia em que os dois saíram Jorge Dumaresq reclamou de fortes dores no peito. Naquela tarde, a moça levantou a hipótese de Dumaresq ter sofrido há pouco tempo de um problema cardíaco. O homem apagou tal hipótese. Talvez estivesse com dores estomacais, por certo. A moça ficou assustada com o aspecto do velho e decidiu nada fazer para evitar maiores constrangimentos. O velho pediu um medicamento que havia em seu bolso. A moça lhe deu. Ele deixou dissolver embaixo da língua. E assim, os dois passaram algumas horas. Ela sugeriu ele ir ao médico. E ele disse:

--- Amanhã. Amanhã. – comentou Dumaresq.

--- Vá hoje, querido. – respondeu a moça intranqüila.

--- Amanhã eu vou. Juro por Deus. – falou Dumaresq.

Ao cabo de algumas horas, Jorge Dumaresq saiu meio cambaleante, e a moça temerosa ficou certo tempo esperando que ele fosse embora. A mulher do motel perguntou a Luiza o que tinha havido com o homem, e a moça respondeu.

--- Talvez eu ache que é coração. Ele não acredita. Mesmo assim, pôs à língua um comprimido para prevenção de ataques cardíacos. – respondeu a moça á mulher do motel.

--- Esse caso é grave. Já perdi muitos clientes por isso mesmo. Um deles não saiu nem do quarto. Espero que ele se recupere. – retrucou a mulher do motel.

O carro fez manobra e saiu. Luiza esperou alguns minutos para poder sair também. O motel ficava um pouco distante do escritório de Dumaresq.

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