quarta-feira, 21 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 95

- DESPEDIDA -
- CONTO -
Quando Dino entrou na casa onde trabalhava Francisca, procurou por ela e não a encontrou no seu quarto de dormir. Daí partiu para a cozinha da casa onde a moça estava sentada no chão, entristecida, cabeça pensa para um lado, uma xícara vazia de café que ela ainda segurava. A vassoura estava postada em um canto do lavador de louças. Um balde de se colocar lixo também estava encostado ao lavador. De alegre somente umas plantas de roseiras pequeninas que dormiam como sempre encolhidas nos canteiros. No lavador, apenas algumas panelas vazias. A moça estava calada e calada assim ficou. Não abria a boca para dizer coisa alguma. Aquele era um dia de quarta-feira. Dino estava ali, calado com medo de perguntar o que houvera a bela garota do campo. E assim ficou por alguns minutos, encolhido como sempre fazia, com suas mãos para trás escorado na parede. O homem do pão passara naquela hora oferecendo seus gostosos pães. A moça não de mexeu por conta do homem. Calada estava e calada ficou. Dino foi quem falou:
--- O pão! – alertou Dino de baixa voz.
--- Não vou comprar. – disse a moça com voz arrastada.
--- Você está doente? – inquiriu Dino a moça triste.
--- Não. – respondeu Francisca sem maiores rodeios.
--- O que você tem?. – perguntou o garoto a estranha o comportamento a moça.
---Vou embora. – respondeu Francisca sem maiores explicações.
--- Embora pra onde? – perguntou inquieto o garoto.
Francisca olhou o menino por um tempo e respondeu.
--- Pra lua! – disse ela de forma a não dar maiores explicações.
--- Pra lua? E tem ônibus pra lá? – perguntou o garoto assombrado.
--- Tem. Sai daqui há pouco! - respondeu Francisca com um leve sorriso no rosto.
--- Mentira! – criticou o garoto por demais curioso.
A moça voltou o olhar para Dino e perguntou.
--- Quantas vezes eu te menti? – perguntou Francisca naquela hora de dúvida.
--- Nenhuma. Mas diga a verdade! Pra lua não se vai. – respondeu o garoto esperto com aquela mentira da moça.
Francisca ficou sentada no chão e colocou a face entre as mãos. Não disse a Dino para onde ia. Queria somente ficar ali, sentada, calada sem que ninguém a incomodasse.
--- Vou embora! – disse o garoto.
--- Espere. Fique aqui. Não vá embora. Estou triste, hoje. E amanhã também. – respondeu Francisca começando a chorar lento.
--- Então me diga pra onde você vai? – perguntou Dino mais curioso ainda.
--- Pra casa! – respondeu Francisca enxugando os olhos de lágrimas.
--- Pra casa? Tem gente doente lá? – indagou Dino com espanto.
--- Não. Está tudo bem em casa. Assim eu espero. – relatou a doméstica soluçando de emoção.
--- E por que você vai pra casa? – indagou o garoto tomado de surpresa.
--- Porque é o meu lugar. – respondeu Francisca, olhando para Dino.
--- Eu sei que é. Mas por que você vai agora? – indagou Dino surpreso.
--- Briguei com o velho dono da casa! – respondeu Francisca de modo brando.
--- Brigou com ele por quê? – aventurou Dino a perguntar de repente.
--- Mas você pergunta, não é? – reprovou Francisca o modo do garoto.
--- Só quero saber. Ora. E não se pode perguntar? – respondeu Dino ficando abusado.
A moça olhou o garoto e o abraçou de forma que nunca fizera. Encheu-se de lágrimas e apenas contou o que sucedera.
--- Por um litro de leite. Hoje, eu estava cuidando do café dos dois e, quando vi, o leite estava derramado. Eu penso que foi o gato. Ele fugiu quando me viu. – disse Francisca.
--- Ah. Mas por que você brigou com o velho? – indagou mais uma vez o garoto.
--- Ele veio dizer umas coisas que não gostei. Então eu pedi as contas. Vou embora hoje, de mala e cuia! – respondeu Francisca de forma grosseira.
--- Mas hoje? – indagou o garoto de modo assombrado.
--- Hoje e estamos conversados. Não tenho nem onde dormir. Mas vou assim mesmo! – reclamou a moça por todas essas coisas.
--- Durma lá em casa! – ressaltou o garoto se alegrando.
--- Pode ser. Mas aqui não fico. Gente estúpida. Ele veio dizer por conta de leite que não se podia confiar nessa gente. E eu perguntei a ele: “Isso é comigo?” Ele calou. Eu disse que então ele me desse o pagamento dos dias que trabalhei que ia embora. E agora vou mesmo. Deixo a chave no canteiro onde sei que ele acha. Vou embora mesmo. – concluiu a moça.
--- É danado. Quando tudo estava se ajeitando veio o velho para entornar. – reclamou o garoto cheio de mágoa.
A moça então se levantou do lugar onde estava e passou a mão na cabeça de Dino seguindo para o seu quarto. Não tinha mais o que fazer ali. Arrumou a mala e todos os seus pertences e saiu de casa acompanhada do menino. Ela seguiu até a casa de Dino e pediu para a mulher, Olindina, agüentar até o dia seguinte, pois ela partiria de vez para a casa dos pais.
A dona da casa aceitou o pedido e disse mais que uma pessoa que ela conhecia estava precisando de uma domestica para cuidar da casa, pois essa mulher trabalhava fora e só havia na casa uma mocinha que era estudante. Francisca pensou que nessa casa podia ficar. Na mesma hora, em companhia de Olindina e de Dino, as três pessoas foram até a casa da mulher. Neusa era o seu nome. A mulher não tinha chegado até àquela hora da repartição onde trabalhava. A filha da dona da casa estava ali, com um monte de livros a estudar. A moça mandou que elas entrassem. Brincou com Dino, pois ambos eram conhecidos. Quando deram cinco horas da tarde, chegou dona Neusa. Foi feita as apresentações e acertado o ordenado e dias de folga e Francisca já estava colocada em novo lar. A moça só pediu licença para ir buscar suas coisas na casa de Dino, pois logo estaria de volta.
--- Gostou garoto? – perguntou Francisca sorrindo.
--- Foi melhor assim no lugar de você ir para a lua. – sorriu o garoto.
Para a moça, tudo estava normalizado. Para o menino, não. Ele teria que andar um bocado para ver Francisca onde ela estava empregada. Contudo, ainda lhe tinha Deodora, certamente. Uma vez que não desse certo com Deodora, lhe restava Dalva, mocinha briguenta e cheia de manhas. Naquele instante eles – Dalva e Dino – estavam brigados. Porém, com certo afago, ela voltaria a ser a Dalva que ele sempre quis. Se não desse certo, para Dino era apenas ele poder admirar a mocinha quando ela saia para urinar no beco e olhar para baixo da saia. Nisso tudo o garoto meditou enquanto Francisca, em sua casa, arrumava a mala para ir de vez. Em breve instante alguém bateu a porta. Era Deodora que já deixara o trabalho naquele dia. Ela estava apenas de passagem. Porém, ao saber da reviravolta com Francisca aproveito para entrar, sentar e saber melhor o que acontecera. As três mulheres conversaram por um bom tempo. Em seguida, Francisca, após tomar café com cuscuz, pegou a reta da direção da casa de dona Neusa. Deodora também estava na casa do garoto e quando Francisca saiu, ela também arranjou um jeito de dizer adeus. O pai de Dino estava estudando um livro em Latim, pois prestaria exames no dia seguinte. As moças se despediram e Nestor, como sem jeito disse as duas moças aquele adeus de sempre.

LUZ DO SOL - 94

- VOLTA ÀS AULAS -
- CONTO -
Na segunda-feira Dino já estava no Grupo onde estudava em companhia de toda a turma de estudantes anarquistas e barulhentos. Ele procurou ver se Dalva estava ali e a encontrou de certo. Uma coisa estranha acontecera com Dalva, à jovem moça. Ela virou a cara para outro lado como quem não quisesse falar com Dino. O garoto não importou. Porém, na hora do recreio Dalva já ia passando para pegar o lanche quando Dino a encontrou e quis saber o que estava acontecendo. E ela virou a cara para o outro lado sem falar com Dino. Apenas apontou os dos dedos indicadores como forma de Dino cortar ao meio significando que eles, os dois, estavam de mal para sempre. Dino não cortou os dedos. Ele perguntou o que estava havendo. Ela respondeu:
--- Não fale mais comigo. Estou de mal com você. E pronto. – disse a jovem com a cara rude e enfezada.
--- Mas por quê? – perguntou Dino assombrado e sem saber o que levara a jovem a cometer tal ato.
Ela não respondeu. Dino insistiu. A moça procurou a professora e disse que estava sendo molestada pelo garoto. A mulher e nada falou. Dalva saiu em outra direção. Dino a procurou e viu que a jovem moça tinha saído da escola para algum lugar. Com isso ele se refez do que pode talvez porque a moça estivesse enciumada pela viagem que ele deu no final de semana. Quando foi a tarde, depois das três horas, ele ficou a vigiar a casa de Dalva do fundo do quintal, sempre a observar a porta de saída para o quintal. Aliás, na casa só tinha uma porta, pois não havia janela para lado nenhum. Passou-se o tempo e aparece Dalva da porta olhando para um lado e para outro. Não vendo ninguém por perto, ela entrou no beco existente entre as duas casas e foi ali urinar, como era o seu costume. Nesse ponto, Dino saltou de cima do forno que seu pai um dia fizera, e foi para um lado onde só tinha carrapateira e pôs a ver a moça a urinar, como sempre, olhando para baixo do vestido. Ao terminar, levantou a calcinha e já vinha saindo quando se deparou com a figura de Dino.
--- Ai que susto terrível. O que você vai querer seu bosta? – indagou a moça surpresa.
O garoto sorriu e disse com toda a franqueza:
--- Nada. Só queria ver o que vi. – e achou graça até demais.
--- Seu merda. Você sabe que você é um merda? – replicou com muita raiva a moça.
--- Não – respondeu Dino.
--- Pois é. Não fale mais comigo. Tá ouvindo? – replicou Dalva enfezada.
O garoto parecia nem ser com ele. Portanto, perguntou a seguir.
--- E o quarto? – falou Dino sorrindo.
--- Vá pra merda. Sente aqui!!! – e estirou o dedo maio para Dino.
--- Vem cá sinhá puta. Eu quero você. É isso. E só. – falou embrutecido o garoto.
--- Me solta, seu corno! – voltou a falar a moça procurando se desatar do puxão que o garoto lhe dera agarrando pelo braço.
--- Solto não. Vamos pra cama. É lá o seu ninho. – respondeu o garoto com raiva.
--- Vá pra merda. Me solte. Eu grito. – respondeu a mocinha querendo soltar o braço.
--- Grite! Grite! Até que é bom. Grite agora sua vaca! – gritou o garoto.
A mocinha se pos a chorar diante da agressividade do garoto e com um soco soltou o seu braço correndo para dentro de sua casa. E o garoto foi atrás. Quando ela entrou no quarto, Dino entrou também. Ali foi sufoco. Cada um que mordesse o outro. Foi tanta dentada que no fim, a moça caiu de costa sobre a cama e o garoto, em cima dela mostrando enfim que ele era o homem e que mandava também. Após breves minutos o garoto saiu de cima da mocinha, todo ardendo de dentadas e já sem forças também dizendo apenas:
--- Tá vendo quem manda? Sou eu. Pode ficar com ela que não quero mais. – respondeu enfezado e de forma cruel o garoto Dino. Cuspia na cara de Dalva e saiu.
A mocinha limpou o rosto e chorando aos cântaros apenas disse:
--- Bruto! Cruel! Sacana! – gritou Dalva. De qualquer jeito ali havia amor.
Dino saiu pela cozinha e foi para a sua casa. Quando entrou, se encontrou com a sua mãe que vinha saindo da cozinha. Ele nada falou procurando esconder as mordidas no braço que Dalva lhe dera. A sua mãe seguiu em frente quando, de repente, alguém bateu à porta.
--- Quem é? – indagou de forma baixa a mulher. Ela esticou o pescoço e abriu bem os olhos para saber se enxergava de pronto.
--- Boa tarde dona Olindina. – falou a moça de modo a se identificar melhor.
--- Boa tarde. Ah. É a amiga de Francisca – respondeu a mulher já grande desencanto.
Nesse momento Dino estava presente, procurando abrir a porta. Tal porta era de três bandas. Duas que se abria e uma inteira, que ficava fechada. Dino abriu a porta e deu um longo abraço em Deodora segurando a moça pela cintura e se chegando mais para cima de Deodora quase como quisesse chorar.
--- Te ajeita menino. Deixa a moça! – repreendeu Olindina de certo modo brava.
Porém o garoto não se importava com os carões que levava. Ali estava a moça que ele aprendera a amar depois que soube o que ela sofrera e, talvez antes, por seu modo encantador. Deodora olhou bem para o garoto Dino e quase o abraçou com fez da vez anterior quanto o levou para passear no alpendre da casa de Nazareno. De qualquer forma, a moça de nada fez. Apenas saudou a mãe de Dino e lhe entregou dois pacotes bem arrumados lhe dizendo.
--- Tome aqui para a senhora. São pinhas. Frutas do Conde. Está neste embrulho quase ameaçado. E este outro é de sapoti. Eu mesmo os fiz. – respondeu Deodora sorrindo e com o garoto já se desprendendo para abarcar os pacotes de frutas.
--- É pra mim, mãe? – perguntou o garoto cheio de entusiasmo.
--- Sim. É para todos nós. Muito obrigada. – respondeu agradecida ao seu modo a mulher Olindina.
--- Deodora, mãe. É o nome dela! – sorriu o garoto.
Com o correr do tempo Deodora já estava sentada na cadeira de vime que havia na sala com o garoto por perto, em cima do braço da cadeira. A mãe o repreendeu por aquela sua atitude.
--- Sai daí menino. A moça está cansada. – falou Olindina com certo ciúme.
--- Tá cansada não. Ela é forte. – respondeu Dino a sorrir. No entanto, o garoto meio encabulado preferiu sair do braço da cadeira e foi se alojar do colo de sua mãe. Nesse tempo, as duas mulheres conversavam assuntos triviais que Dino não entendia muito bem ou não queria saber. Mesmo assim, ali ficou a olhar fixo para Deodora, moça bela que ele fazia de conta ser uma santa. Por algumas vezes ele tentou recordar o caso do amor perdido que Deodora foi vítima há alguns anos. Mesmo assim, ele calou. Tinha prometido a Francisca nada dizer. E assim, para ele, era melhor não falar coisa alguma para não levantar preocupações a sua mãe. Com alguns minutos de conversa, a moça chamou a atenção do garoto.
--- Sabe dona Olindina. Eu vou trabalhar aqui perto num posto de saúde. Quando precisar, estou as suas ordens. – disse a moça Deodora.
--- Um posto? É o do doutor Mesquita? – perguntou apressado o garoto cheio de idéias
--- Não sei bem. Deve ser. – sorriu a moça de forma delicada.
---Eu ouvi falar que tem um posto aqui. – respondeu Olindina meio sem forma
--- Tem mãe. Tem um posto, sim. – falou de forma surpreendente o garoto Dino.
--- E vai ficar aonde? – inquiriu a mulher quase sem graça.
--- Em uma república de moças. No centro. Perto da Secretaria. Fico nessa república e venho todos os dias. – respondeu Deodora de forma alegre olhando bem o garoto.
--- Assim é mulher. Já ouvi falar na república das moças. É coisa nova. É uma casa encostada a Secretaria.
--- É sim. Por lá eu me ajeito. – disse Deodora olhando demais para Dino.
--- É melhor. Só tem moças por lá. Assim é melhor. – respondeu Olindina de forma sem jeito.
Após um breve descanso, a moça pediu um pouco de água, pois estava com sede. O garoto foi buscar água para Deodora e veio num instante com um copo na mão e uma jarra de vidro com água. Ela tomou um pouco de água e quase sem pressa, se despediu de Olindina dizendo que depois voltaria para visitá-la. A mulher Olindina agradeceu pelos presentes dados e respondeu que a casa estava aberta para quando ela quisesse vir. O garoto, então, correu a porta e se encostou fechado a banda que se abria.
--- Você não me vai deixareu sair? – indagou a moça de forma carinhosa.
--- Não! – respondeu o garoto com a cara cínica.
--- Deixa a moça passar. – repreendeu a sua mãe.
O garoto saiu da porta e recebeu um beijo na testa por conta de sua obediência. Em seguida a moça se despediu e foi até a casa de Francisca, sua amiga que ficava perto da casa de Dino. O garoto foi em seguida com Deodora para ver a sua namorada da cidade, Francisca, que ainda não vira naquele dia.

terça-feira, 20 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 93

- CASARÃO -
- CONTO -
Quando Francisca voltou para casa, enveredou por outro caminho ao contrário que o de costume. A choupana de massapé ficou para trás. Ela e Dino seguiam sua íngreme viagem quanto de repente o garoto viu uma casa grande que tinha pelo menos vinte cômodos. O casarão estava todo trancado e o garoto percebeu tudo aquilo no meio do caminho e perguntou a Francisca sem vexame:
--- Quem mora ali? – perguntou Dino sem querer tanto saber.
--- É o Casarão. Ali não mora ninguém. É a casa do velho. – respondeu a moça.
--- Que velho? – indagou o garoto um tanto inquieto.
--- O velho é o Coronel. – respondeu Francisca já tanto aborrecia com as perguntas de Dino.
--- Que Coronel? – inquiriu de novo o garoto.
--- Bevenuto! Ora que pergunta mais essa! – criticou Francisca de modo estabanada.
--- Por que você não diz? – respondeu Dino, mal criado.
O burro andava e eles montados em cima, com o garoto na frente da garupa, colado com Francisca, sua namorada do sertão. A moça então disse ao menino, estacando o burro.
--- Venha cá. Vou te contar uma historia. Não é pra você contar a ninguém. Tá ouvindo? – falou a moça com a cara séria.
--- Sim. Não conto nada. – respondeu Dino ciente do que ouviria de contar a sua namorada do sertão.
E a moça desceu do burro e ajudou o garoto descer também para então começar a contar a historia, indo devagar em direção ao casarão, pela porta de frente, pois ali tinham vinte janelas e uma porta no centro de tudo.
--- Preste atenção. Aqui morou o velho Coronel Tacino. Eu não alcancei esse homem. Era avô do coronel Bevenuto. O pai de Bevenuto morreu também quando tinha trinta anos de idade. Uma chifrada de um touro. Pois bem. Bevenuto se criou com a mãe e sua avó, A avó de Bevenuto está bem velhinha. E ele cuidou dessas terras. E tem mais terras no Oitão, onde ele mora lá nos cafundós do Judas.
--- Judas! Seu pai me falou. – sorrio Dino com a história.
E Francisca continuou a contar a Dino sem graça.
--- Pois bem. Certa vez, quando o Coronel Bevenuto era ainda mais moço, teve uma moça que estava de casamento marcado com um filho do Coronel.
--- Que moça era? – perguntou Dino assustado.
--- Você pergunta que só. Não digo. – falou Francisca de modo aborrecido.
--- Diga que moça era? – voltou a indagar Dino inquieto.
--- Bem. Era Deodora. – respondeu Francisca olhando para todos os lados para se certificar de que não tinha alguém escutando.
--- Deo....- o menino começou a falar de surpresa e teve a boca fechada por a mão de Francisca que se mostrava alarmada.
--- Psiu. Cala tua boca. Se não, não vai saber! – falou Francisca de modo severo.
O garoto tirou a mão de Francisca de sua boca e ficou parado.
--- Pois conte! – disse o menino sem mais temor.
Sossegada, Francisca falou;
--- Bem. Deodora estava de casamento marcado. Tinha dezessete anos. Tudo era festa aqui nesse arraial. Foguetões, girândolas, bebidas, comidas. Quando sem ninguém esperar, o noivo, Jacinto, foi esfaqueado por Manoel da Broa. Morreu na hora. Facada no estomago. Manoel da Broa queria namorar Deodora e ela não queria saber dele. Só queria Jacinto. Então, Manoel fugiu em disparada. Ninguém mais soube noticia dele. Mas, se conta que os jagunços do coronel Bevenuto fizeram justiça. Deram cabo dele e esconderam o corpo bem escondido. Foi essa a história. Toda a semana o Coronel aparece por aqui. Vem buscar as rezes para o matadouro. Mas, da casa, ele não quer nem saber. Minha mãe é quem cuida. Sempre vem aqui. Tem muita coisa ai dentro. Camas, mesas, retratos do velho Tacino e de sua mulher. De outros parentes. Muita coisa mesmo. Ferro de engomar, cadeiras, birôs, tudo que se imagina ter. Tá me entendendo, pirralho? – indagou a moça a estremecer de medo.
--- E o corpo de Jacinto? – indagou Dino.
--- Enterrado no cemitério atrás do Casarão. Aqui tem cemitério, capela de Nossa Senhora dos Martírios. Tudo. – concluiu Francisca o seu segredo.
--- É danado! E você tem segredos? – perguntou Dino a sorrir.
--- Vem pra cá, vem, com esses desaforos! – falou Francisca abusada.
E os dois namorados pegaram o burro e saíram devagar, a caminhar para a casa de Francisca. No meio do caminho a moça notou a presença de um vaqueiro de perneiras, gibão de couro de cor suja de ferrugem amarrados por cinta, jaqueta também de couro, chapéu igualmente de couro de forma baixa e abas curtas, esporas de ferro nos pés nus, um chicote na mão, calça de couros de cor enferrujada. Tudo era aquilo do vaqueiro do sertão. Ao ver o homem, Francisca torceu o caminho. O homem que estava sem montaria, ficou ali de pé a olhar a moça com a boca parece calada. Era uma espécie de Judas. Francisca dobrou para uma moita de carrasco e por ali foi embora com o garoto Dino. Quando estava longe do homem, Francisca disse ao garoto:
--- Aquela peste foi que me desonrou. Eu tinha apenas 14 anos. Ele me pegou a força e fez o que quis. Peste! – contou Francisca estremecida de medo.
--- Mas fez o que, ele? – perguntou Dino sem muito entender.
--- Tudo. Aquilo que eu fiz com você. – respondeu Francisca aterrorizada.
--- Ah sim. Por que você não mata ele? – perguntou Dino com muito ódio.
--- Faz sete anos. E mesmo ninguém se importa com isso. Felizmente não tive gravidez. – articulou Francisca ao garoto.
--- Eu vou comprar isso tudo e vou matar ele. – vociferou o garoto bastante abusado.
A moça sorriu com a tempestade de coragem do garoto. Pela primeira vez ela sorriu com franqueza por conta do homem que a ofendera. De imediato, o garoto perguntou para promover a sua vingança.
--- Como é o nome dele? Daquele canalha? – perguntou Dino com mais raiva ainda.
--- Deixa pra lá. Já até esqueci-me do bicho. – respondeu a mulher toda cheia de graça pela coragem que despertou naquele garoto que estava com toda a raiva do mundo.
--- Você gozou com ele? – indagou Dino com a cara séria.
--- Menino!!! Cala essa boca!!! – respondeu Francisca de forma atrevida.
Na sala de almoço da casa, estavam duas irmãs de Francisca, os maridos delas, os filhos também, um conhecido do pai Nazareno e Deodora. O garoto ao ver Deodora se agarrou com ela começando a chorar. Um choro languescido que ninguém sabia o porquê daquele choro de garoto. Nem a moça também que agarrou Dino pelos ombros e o suspendeu até a altura de sua face dizendo, afinal.
--- Por que choras filho? – perguntou Deodora inquieta.
Foi então que mais ainda o garoto chorou sem poder dizer por que chorava tanto. Ele só sentia o apego da moça ao tecer-lhe carinhos por sua cabeça sempre a lamentar por esse choro inquieto e nervoso que tanto Dino fazia.
--- Coitado. Amor a primeira vista. – disse uma das irmãs de Francisca sorrindo.
As outras pessoas que estava presentes também sorriram a valer. Apenas o garoto Dino chorava pelo sentimento que se partira. Ele não podia dizer por que tanto choro assim pelo compromisso assumido com a sua namorada Francisca. A moça, Deodora, então colocou no colo abraçado e saiu a cantar uma canção dorida daquelas que só se ouve cantar quando a própria mãe coloca a criança para dormir em sua rede.
Após serenos e suaves agrados Dino calou com sempre a ternura de Deodora de forma acalentadora a lhe fazer carinhos e agrados em sua cabecinha sem perguntar por que de tanto choro que o garoto revertia. Após breve instante, com o garoto já calmo e tranqüilo, apesar de estar com sua cabeça rente ao ombro de Deodora, a moça que ficou a passear pelo alpendre da casa a cantar cações de ninar, pôs Dino em lugar onde deveria estar: na mesa do almoço. A moça ainda perguntou de forma silenciosa que o garoto teria sentido a Francisca e essa disse não saber. Talvez fosse um mero choro de criança que sentira saudades da jovem Deodora. E ela então sorriu por ter um garoto de tão meiga idade a chorar por sua causa.
Após o almoço, com quase todos os adultos a conversar no alpendre da frente da casa, os meninos a inventar brincadeiras prazerosas, Francisca chamou Dino para se arrumar pôs na verdade ela pegaria o carro que passava às quatro horas da tarde e ela com o garoto seguiria para a capital, pois no dia seguinte o garoto teria aulas e a moça estaria a fazer seus costumeiros almoços, jantas e quitutes para agradar o casal onde ela trabalhava. Enfim, terminara o recreio que Dino tinha vivido.

LUZ DO SOL - 92

- PENSAMENTO -
- CONTO -
Na noite daquele sábado, Dino tomou café com cuscuz, pamonha, bolo que nem se lembrou que o pão não estava presente. Além disso, ele comeu também um pedaço de queijo de manteiga dispensando o leite misturado com café. Daquele instante em diante ele podia dizer muito bem que estava de bucho cheio. O velho Nazareno era contente com o garoto e sempre dizia:
--- Coma mais! – falava Nazareno a sorrir.
--- Quero não. – respondia o garoto já um tanto pesado na barriga.
Após o jantar, Francisca e Deodora foram lavar os pratos dispensando a ajuda de dona Maria, mãe de Francisca. O garoto Dino saiu com Nazareno para passear pela varanda. Noite ainda de lua já em plena altura, ele viu as cabras a chocalhar por perto, além de algumas reses que ainda estavam por perto. O menino perguntou a Nazareno por ampla curiosidade:
--- É grande aqui? – perguntou Dino nem tanto preocupado.
--- Ave Maria. É o fim do mundo. Vai daqui até lá longe. Muito grande, sim. – falou o velho para satisfazer a curiosidade do garoto.
--- É tudo do senhor? – perguntou o garoto.
--- Meu? Quem me dera. É do Coronel Bevenuto. Ele que é o dono de toda essa gleba. – respondeu Nazareno puxando o seu cachimbo para baforar.
--- Toda essa o que? – perguntou o garoto estranhando o que disse o homem.
O homem sorriu para poder responder.
--- Terra. Essa terra. É dele. Gado, tudo. Eu só tomo conta. Ele mora lá nos confins do Judas. -respondeu Nazareno poço mais seria a olhar o rebanho que pastava no campo.
--- Quem é esse outro homem? – indagou o garoto cismado com a conversa.
--- Que homem? O coronel? Ele é o coronel. Herdou tudo isso do seu avô – explicou Nazareno se curvando para encostar-se à mureta de madeira do alpendre.
--- Não. Esse Judas! – perguntou Dino um pouco azedo.
--- Ah Sim. Judas? Judas é uma historia antiga. Quando se diz que ele mora nos confins do Judas, quer dizer muito longe. – explicou Nazareno dessa vez todo escorado na mureta do alpendre.
--- Ah sim. Agora entendi. – respondeu o garoto.
E Dino ficou também escorado na mureta do alpendre como fazia Nazareno. O tempo passou Nazareno olhou a lua, seu cachorro estava por perto a se coçar a vida toda, e, por fim, o velho chamou o garoto para os dois irem para frente da casa, onde o homem se sentaria na cadeira de balanço a pontilhar o violão sem ter nada para tocar. Era só bater nas cordas e ele com o rosto pra cima, cabeça vaga a escutar apenas o som daquele violão plangente.
Após as 9 horas da noite, todos foram se deitar. Era o fim do inicio de uma jornada que continuaria, com certeza, no domingo, dia seguinte. Os empregados do cercado estavam ainda acordados e ficariam assim por quase a noite toda. Eles tinham o dever de tirar o leite das vacas e das cabras. Alguns daqueles homens colhiam o leite para fermentar e fazer o coalho. O garoto, apesar da hora, não tinha sono. E disse a Francisca que não podia dormir com o chocalhar das cabras perto da janela.
--- Não se importe com elas. Durma. – falou Francisca de forma dolente.
Após a janta, Deodora arranjou as roupas que ela trazia da capital e rumou para a sua casa bem distante, morando quase na cidade. Ela mesma foi quem disse ao garoto enquanto faziam a janta. Após lavar e enxugar a louça, Deodora se despediu de todos e de sua amiga Francisca saindo para a sua casa sob as vistas de Dino que a olhava com certa ternura e afeição.
Quando o galo cantou bem próximo a janela, era à hora de acordar. E foi o que Dino fez apesar de todos já estarem acordados, trabalhando a cozinha, fazendo tapiocas, bolos e beijus. Ele procurou o pinico no quarto, mas não o encontrou. Fez carreira para o banheiro onde urinou a vontade. Era como se o céu tivesse sido aberto. Naquele momento ele se lembrou de Deodora que fora embora para a sua casa na noite anterior. E perguntou a si mesmo:
--- Será que ela vai com a gente? – indagou mentalmente o garoto Dino.
Depois que ele saiu notou, de imediato, Francisca fazendo pamonha e tapioca. Ele ficou a observar o que a moça fazia postado de longe do fogão em um local da sala. De repente, a moça olhou para trás e notou a presença de Dino. Nesse instante ela falou:
--- Já está ai menino? - falou Francisca com um sorriso na face.
O garoto, escorado na parede, com as mãos para trás respondeu com um sorriso, apenas. E voltou para a varanda procurando seu Nazareno, pai de Francisca, que, com certeza, provavelmente estaria na entrada da casa. O garoto foi até a entrada e não o encontrou. Tinha apenas um vaqueiro puxando uma vaca em direção ao fundo do terreno que era verdadeiramente imenso. O garoto ficou desapontado e sentou na beira da calçada pegando um pedaço de pau e ficou a desenhar no chão algo que vinha a sua cabeça. Coisa sem importância. Ele continuou assim de cabeça abaixada por um breve espaço de tempo. Somente se levantou, quando Francisca chegou e convidou para tomar café. Ele, um tanto acabrunhado por ter passado por tal decepção de não encontra Nazareno, se levantou, bateu nas próprias nádegas para tirar alguma sujeira e ajeitar a calça que vestia e entrou acompanhado da moça. De imediato, Francisca deu uma tapa nas nádegas do garoto. Ele sorriu. Na mesa, tinha de tudo um pouco. Dino sorriu para Francisca e sentou em uma cadeira de palha onde pôs o café e colheu uma tapioca. Depois de comer tal tapioca, se arvorou numa pamonha. Com isso estava de barriga cheia. O tamanho da tapioca era salutar e ele não precisava de mais nada.
--- Leite? – perguntou dona Maria mãe de Francisca.
--- Run-run. – disse o garoto querendo sorrir sem poder, pois a boca estava cheia de pamonha.
Francisca sorriu a valer. E ele saiu correndo para fora para se livrar dos gases que podiam ser maus cheiros como ele pensava. A moça então chamou de volta.
--- Menino! Vem cá! – chamou Francisca inquieta.
Ele não respondeu, pois estava experimentando soltar os seus gases e ver se eram ou não maus cheiros. Após um breve tempo, o garoto voltou, tirando dos dentes o resto da pamonha.
--- Voltei. – disse ele com a cara sem vergonha.
--- Pra onde você foi? – perguntou Francisca.
--- Ali fora. – respondeu Dino com a cara deslambida.
Por volta das oito horas, Francisca encilhou o burro e chamou Dino para dar uma volta por todo o terreno do sitio. O menino obedeceu e subiu na garupa do burro. A moça disse a Dina:
--- Ai não. Na frente. – falou a moça com carinho.
O garoto trocou de posição e eles começaram a caminhada. Passaram pelas vacas, bodes, cabras, galinhas, perus, gansos e até mesmo tatus. Seguiram em frente no burro até entrarem em um matagal onde não tinha mais ninguém. Era mata fechada. Depois de andarem um bom trecho a moça topou com uma choupana feita de reboco com as velhas portas trancadas.
--- É aqui. Desça. – disse Francisca alegre.
--- Desça pra onde? – perguntou o garoto meio assombrado.
--- Desça. Ora. Vamos entrar na casinha. – falou a moça com um ar de quem sabia o queria fazer. Então, agarrou o garoto pela cintura e entrou na casa. De lá só saíram quando era quase meio dia. Em um ato de frenesi por demais vibrante a moça se refez das suas necessidades que a atormentavam por aqueles longos e indecentes dias.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 91

- AVENTURA -
- CONTO -
No sábado a tarde, Dino estava pronto para viajar com Francisca e Deodora. Sua mãe, Olindina fazia severas recomendações para todo cuidado possível. Ele apenas sorria por ter que sair de casa e passar um ou dois dias no sítio do velho pai de Francisca, negócio que nunca antes havia tido tal oportunidade. A vontade de urinar lhe dava com o vexame que o garoto sentia de ir. Por vezes ele foi ao banheiro e nada fez ficando a sensação de urinar mais sentindo que antes. O garoto cada vez que passava pela sala de jantar olhava as horas. Duas três ou quatro horas. Ele cogitava em se despedir de Dalva, mas desmanchava a idéia. Na certa a mocinha teria sermões por causa da ação de Francisca dois dias antes onde a moça buliu com o garoto. Dino olhava pela janela do beco e escutava. Assim mesmo, uma vez ele ouviu um bater de panelas e era apenas a velha avó de Dalva arrumando os troços, com certeza. De imediato Dino saiu da janela. Dalva deveria estar deitada na cama, talvez dormindo, talvez não. Apenas escutando as recomendações severas de Olindina que a todo instante passava.
--- Não vá pra longe. Não bula com os bichos. Tenha cuidado. Tem abelhas por lá. Não se esqueça de urinar. Beba muita água. Não coma nada que não preste. – eram as recomendações de sua mãe.
Dino ouvia tudo e sempre calava. O seu pai estava naquela hora fazendo contas para saber que milhar jogaria. Nestor tinha esse costume. Jogar no bicho da sorte. Não raro estava de costas para a porta de entrada apontando os seus cálculos na lousa. O homem tinha o costume de mascar fumo. E de minutos em minutos ele dava uma cusparada que não media distancia. E sempre pregava na parede aquela gosma de cor de fumo. Não adiantava a sua mulher reclamar, pois certamente ele nem ouvia. A parede do quarto em que ele dormia era toda marcada com cusparada de fumo. Certa vez, Dino escondeu o cachimbo que o homem fumava e deu um escândalo. O homem procurou o cachimbo e não encontrou. Nestor virou uma fera:
--- Vá já buscar meu cachimbo, seu peste! – dizia o homem bastante aborrecido.
E o garoto foi apanhar o cachimbo no meio dos livros que o homem guardava em uma estante para o sossego do leão aterrorizador.
Quando era pouco mais das quatro horas, Francisca chegou à companhia da estimada amiga Deodora trazendo uma mala de roupas – com certeza eram roupas que ela levaria para dar de presentes ao pai, sobrinhos e pessoas queridas que morassem no sitio ou perto de lá. Francisca nem bateu palmas, pois a mãe de Dino já estava na porta da casa esperando a visita que ela faria com certeza.
--- Pronto. Chegamos. A mala pesa que nem só. Upa! – e Francisca encostou a sua mala de roupas como também fez o mesmo a amiga Deodora.
--- Boa tarde dona Olindina. – falou Deodora sorrindo.
--- Boa tarde. – respondeu a mulher sorrindo também, mas de pouco entusiasmo, pois seu filho era a preciosidade que Olindina entregava a Francisca para sair.
Nesse mesmo instante um carro parou em frente a casa de Olindina. Era o automóvel de aluguel que Francisca contratara para levar até o terminal de ônibus do interior. Então as moças e o motorista arrumaram tudo na mala do carro com todo o cuidado possível para não serem sacudidos de um lado para outro. Enfim, depois dos abraços apertados tradicionais, Francisca e Deodora se despediram de Olindina e de Nestor que estava somente de cuecas escrevendo na lousa. O homem tinha uma coceira nos testículos e nem deu conta da saída do garoto. Após o carro pegar a estrada foi que Nestor perguntou.
--- E já saíram? Nem me avisaram! – falou Nestor vestido de cuecas.
Quando o carro saiu, Dalva estava olhando quase encoberta pela entrada da porta. Olhava triste e cismada com o que poderia suceder com Dino, seu noivo de brincadeira que a mocinha já estava mesmo apaixonada pelo garoto. Depois que o carro sumiu na estrada, Dalva entrou para o quarto onde chorou bastante.
--- Aquele merda! Bosta!Por que eu sinto isso? – reclamava a mocinha entre as fronhas
Francisca se ajeitou na cadeira do ônibus de modo a deixar espaço folgado para o garoto e Deodora que também viajava para o interior. Quando o ônibus saiu o sono apertou os olhos de Dino e ele ali mesmo dormiu no colo da sua primeira namorada. Depois de muitas paradas pelo meio do caminho, o carro chegou ao seu destino. O garoto Dino ainda dormia quando Francisca o acordou com todo o dengo possível. Com muito sono, Dino enfim despertou. O pessoal que estava dentro do ônibus começava a descer. Francisca e Deodora também se preparavam para desembarcar ajeitando suas malas cheias de embrulhos. O garoto esfregava os olhos e só desceu quando todos saíram de dentro do carro. Ele na frente e as duas moças atrás. Após desembarcarem, as moças ajeitaram suas malas em cada uma de suas cabeças e seguiram em frente. Eram sete horas da noite quando Francisca e Deodora chegaram ao sito do velho pai de Francisca. Na cerca de pau, Francisca disse:
--- Enfim arrastamos as malas! – e soltou uma bela e larga gargalhada acompanhada por Deodora que também fazia o mesmo.
Dino seguia na frente das duas moças. Ao abrir o portão da cancela para entrar em direção à casa, um cachorro sarnento começou a latir como se desse um aviso a todos de casa. O garoto parou de remexer na cancela. Francisca falou braba para o cachorro
--- Cala boca peste! Tais me desconhecendo? – falou a moça com voz altiva.
O cachorro veio receber Francisca abanando o rabo. Vez por outra o cão se mordia todo. Eram as pulgas ou carrapatos que estavam a incomodar no seu couro. A moça entrou acompanha do garoto Dino e seguida pela amiga Deodora. Seu pai, Nazareno, chegou quase que imediato para acudir a filha na troçada que ela trazia na cabeça.
--- Hum. Pesado! – falou Nazareno pegando a mala de roupas.
--- Deixa pai que eu levo. – respondeu a moça no mesmo instante.
--- Não. Deixe que eu levo. – falou Nazareno levando a mala.
A jovem Deodora que vinha com Francisca se costumava com o seu mal feito pacote e não disse coisa alguma. Apenas caminhou seguindo Francisca. Logo, a mãe de Francisca apareceu na porta. Então Francisca pediu a bênção enquanto a mulher se preocupou com o garoto Dino
--- Quem é esse menino? – perguntou dona Maria, mãe de Francisca.
Em seguida, Francisca apresentou Dino e disse que ele pedisse a bênção a dona Maria, pois era com certeza a idade de sua avó, caso ele tivesse.
--- Dino, essa é minha mãe, Maria. E esse é meu pai, Nazareno. Pronto. Tome a bênção a eles que faz de conta que são seus avos. – falou Francisca bem humorada.
O menino obedeceu e pediu a bênção de ambos os avós, muito embora não fossem nada de parente para ele.
Deodora arriou o saco que trazia e se sentou em uma cadeira de balanço que estava postava na frente da casa em baixo de um alpendre. A casa tinha calçada alta, coisa de trinta centímetros.
--- Vem pra dentro mulher. Tu pensa que vai ficar na boa vida? – perguntou Francisca.
Deodora sorriu e se levantou dizendo:
--- Quero um pouco d’água. Estou morrendo de sede. – sorriu Deodora com o modo de Francisca em lhe repreender.
--- Vem tomar. Quer que eu leve na tua boca? – perguntou Francisca a gargalhar.
Mesmo assim, as duas amigas ficaram a sorrir por mais longo tempo. Dona Maria foi que trouxe a água para Deodora. Então, Francisca perguntou a Dino se ele queria água como Deodora pediu.
--- Quero não. Tô de bucho cheio. – respondeu o garoto.

domingo, 18 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 90

- DEODORA -
- CONTO -
Dino escapou da palmatória que sua mãe prometera lhe castigar. Por isso mesmo ele agradeceu a Deus de ter Francisca como salvação. Mesmo assim, continuou a ameaça: se ele saísse de casa sem dizer nada a Olindina, a palmatória estava ali, pendurada na parede. O garoto olhou para a palmatória e estirou o dedo grande da mão para ela. Na verdade, de nada adiantaria estirar ou não o dedo: que qualquer forma a palmatória, muda, sem dizer coisa alguma, nada faria. Ela era apenas uma palmatória e nada mais. Daí em diante o garoto se voltou para a janela do oitão para ver se Dalva estava por lá. Depois de algum tempo, pouco mesmo, ele saiu para a sala tendo ficado sentado no birô do seu pai onde ele guardava os seus próprios livros e cadernos. Noticia de Dalva não tivera nenhuma. E nem adiantava perguntar, pois assim despertaria a atenção de sua mãe Olindina ou da avó da moça, dona Cora.
--- Por que está perguntando por Dalva? – diria a sua mãe.
--- Por nada. – ele responderia com vergonha de dizer por que.
--- Ora. Vai estudar que é o certo. – diria a mãe como se ele não estivesse fazendo qualquer coisa de proveito.
Era assim que aconteceria, tinha ele certeza. Por isso o garoto foi ao birô onde passaria a vista nos livros. Certamente tiraria catota do nariz para esfregar no pau do birô e desse modo levaria a vida sossegado. A janela que dava para a rua estava fechada e por tal motivo ele correu e abriu de par a par.. Aberta a janela ele sentou para ficar olhando a rua sem fazer nada. Nesse momento o velho do pão tangendo o seu burro chegou até onde ele estava. Amarrou o burro e disse ao garoto:
--- Vigie aí que vou entregar pão nas casas. Ouviu? - falou o velho com cara sisuda.
--- Sim senhor. – respondeu o garoto, de pernas encruzadas em cima do batente da janela.
Quando o homem saiu com seus pacotes de pão e bolachas, o garoto achou de abrir com muito vagar a tampa da caçamba onde estavam guardados bem arrumados os pães, bolachas, brotes e bolos. O garoto olhou bem a fartura de pães e as outras coisas e o nervoso tomou conta do seu corpo. Não pensou mais que uma vez e tirou cinco pães e dois bolos, correndo para dentro da casa. Fez o trabalho e voltou para sentar no batente da janela tendo o cuidado de deixar tudo bem arrumado, com nada fora do seu lugar. Ali estava e ali ficou. Quando o homem do pão voltou sentiu que alguma coisa estava fora do seu jeito ao arrumar a caçamba. Nisso, perguntou ao garoto:
--- Quem esteve aqui? – falou o homem com voz carrancuda.
--- Ninguém. – respondeu o garoto sem pestanejar.
O velho buliu para lá e pra cá e de modo assustador perguntou a Dino na seqüência dos fatos.
--- Você buliu aqui? – perguntou o velho já meio desconfiado.
--- Não senhor. – falou Dino do jeito em que estava. Pernas encruzadas.
O homem, até que era baixo, olhou para a cara do garoto e este fez da mesma forma, olhando sério para o velho que após bom tempo pegou o burro e tangeu começando a caminha e sempre olhando para trás vendo o que Dino tinha aprontado. Quando o homem já ia longe Dino correu para dentro de casa chamando por sua mãe que estava varrendo o quintal.
--- Mãe! Mãe! Olha o pão! – falou o garoto com voz de quem teria comprado algo mais.
--- Pão? Que pão? Hoje não quero. – disse Olindina varrendo o lixo no quintal.
--- É do vendedor. Ele deixou o burro e eu tirei esses para nós! – disse alegre o garoto.
--- Mas você não tem jeito não. Guarde o pão. – respondeu a mulher sorrindo.
--- E tem bolo! – disse o garoto mais alegre ainda.
A mulher caiu na gargalhada com as artimanhas do seu filho.
Com um pouco, alguém bateu na porta da frente da casa. A mulher olhou e viu a cara de Francisca e de outra moça. Olindina foi até a porta e destrancou pedindo para que as duas visitas entrassem. Feito isso, Francisca apresentou a outra visita.
--- Essa é Deodora. Mora lá no meu interior. Ela estava com o garoto quando você o chamou há pouco tempo. – falou Francisca de modo alegre.
--- Muito prazer. – estendeu a mão Deodora.
--- Prazer também. Você tem um nome estranho! – comentou Olindina.
--- É coisa do meu padrinho. Ele foi quem pôs. – sorriu a moça ao explicar o significado do seu nome.
--- Eu sei muito bem. O meu também foi o meu padrinho quem escolheu. Quem dizia isso era minha mãe. Olindina. HORRIVEL! – disse a mulher caindo na gargalhada.
E a conversa se animou a partir desse instante com cada uma das mulheres quebrando a sisudez que imperava conversando sobre nomes e parentes. Com cada nome que surgia elas sorriam para valer. E nomes de homens esses eram os mais difíceis de pronunciar. As três mulheres se sentaram no sofá e cadeiras de vime a conversar coisas que só o tempo podia parar. Nesse mesmo instante, Dino partiu para a casa de Dalva para saber de sua saúde. Entro pela cozinha, topou com a velha avó de Dalva, perguntou pela mocinha e teve a resposta.
--- Está dormindo. – relatou dona Cora.
--- Ela está melhor? – perguntou o garoto entristecido.
--- Mas tá. Isso leva cinco dias. – rosnou a velha.
--- E tá doente mesmo? – inquiriu Dino.
--- Coisa de mulher arteira. Mas basta. No meu tempo não tinha nada disso. – respondeu dona Cora acertando uns pacotes de pão em cima da estante acabada.
Na sala de visita da casa de Dino as mulheres conversavam bastante animadas e não faltavam sorrisos inquietantes das três “comadres”. Em instantes, Francisca perguntou a Olindina se ela deixaria Dino ir para o interior no sábado à tarde. Ela viajaria em companhia de sua amiga Deodora que estava ali para ficar por uma noite. Como as duas moças viajariam no sábado à tarde, ela perguntava da possibilidade de levar Dino para passarem o domingo no sitio do seu pai. Olindina ficou preocupada, pois o garoto era travesso.
--- Não se incomode com isso. Comigo ele se ajeita. É um sitio. Tem tudo para ele brincar. Bodes, cabras, e vacas. Tudo. Tudo. Pode ficar sossegada que ele não fará nada de meter medo. – disse Francisca querendo suavizar Olindina.
A mulher ficou quieta por um bom tempo e depois, se ergueu e falou.
--- Está certo. Pode levá-lo. Tenho confiança em você. – falou Olindina sem meias palavras.
Francisca voltou ao sossego. Era isso que ela queria. Levar Dino também com ela.
Quando Dino voltou à sala encontrou sua mãe, Olindina, Francisca, a namorada que ele elegeu assim, e Deodora, a amiga de Francisca. Nessa oportunidade sua mãe foi logo lhe dizendo, como forma de sobreaviso.
--- Olhe. Francisca vai levar você amanhã com ela para o sitio. Cuidado, ouviu? Não vá fazer besteira por lá. Muito cuidado! – disse Olindina se precavendo das arteirices do garoto ao se lembra dos pães que ele naquela tarde roubou do velho do burro.

sábado, 17 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 89

- A VISITA -
- CONTO -
Às três horas da tarde de sexta-feira, terminada a revisão das aulas da escola, Dino saiu de casa sem nada dizer a sua mãe e logo a frente após andar alguns metros , não mais de dez, passou pelo portão de ferro da casa ao lado onde trabalhava Francisca. Para não incomodar a Francisca, seguiu pelo terraço ao lado, onde havia uma parte do terreno que quase se encostava à sua casa. Por ali ele caminhou sobre uma calçada de um metro de largura, feita para evitar as águas da chuva, quando chovesse, em salpicar nas paredes do imenso casarão. Na verdade, aquele era um casarão verdadeiramente dito, pois em seu interior havia relíquias de móveis e retratos que o tempo não apagaria jamais. O garoto seguiu com seus pés descalços até a entrada da cozinha onde Francisca, com certeza estaria. Ao abrir o segundo portão de madeira, Dino fez de um jeito que a porta não provocasse ruído. Tão logo abriu se deparou com a moça. Ela não estava esperando alguém entrar naquela hora por aquela porta e tomou um susto e gritou de forma baixa:
--- Ai! Que susto! Você não falou nada! Ave Maria. Vou tomar água. Espere! Espere, viu? Moleque! – falou Francisca saindo por alguns instantes para beber água.
O garoto sorriu a contento como se tivesse feito nada demais. Francisca estava de costa para a porta quando ele entrou. Por isso sofreu a impressão de ter levado um grande susto, daqueles que assombram qualquer mortal. É tanto que, ao voltar, Francisca disse ao garoto com franqueza:
--- Olhe! Não me faça mais uma coisa dessas. Eu me lembro de um susto que eu tive quando tinha a sua idade. Meu avô, que Deus o tenha, tinha morrido. E estava no caixão para se fazer quarto. Quando foi de madrugada, o velho abriu os olhos, se levantou e disse para todos os presentes:
--- “Que estou fazendo aqui?” – voz do velho.
--- E tornou a se deitar mortinho da silva. A minha avó, que estava perto do caixão, desmaiou de medo. Outros saíram correndo. Eu – ai meu Deus – entornei num pranto que não sei dizer por que foi. Se por meu avô morto ou se pela gente em debandada. Tá vendo o que é susto? Seu besta! – reclamou Francisca ainda cheia de medo.
O garoto sorria a valer com a história contada pela moça. Era um riso sem fim a cada passo que dava, caindo até por cima de uma jarra d’água. A moça olhava inquieta e cheia de terror com os risos que o garoto fazia. Por fim Francisca falou:
--- Cala essa boca. Tá me dando arrepio. Cala! – repreendeu a moça cheia de ira.
E o garoto fez por onde calar, mas sorrindo interiormente, deixando os grunhidos escaparem por momentos que ele não podia dizer.
--- Olhe! Meu avô era brabo! Eu não digo nada! – reprovou a moça de cara trancada.
--- Mas o teu avô morreu mesmo? – perguntou Dino arrependido até demais com a severidade da moça.
--- Morreu! Se levantou só pra morrer. – respondeu Francisca ainda com muito temor.
Dino se refez dos sorrisos e lamentou pela morte do velho que, com certeza, estava naquela hora, no Céu. Ele olhou bem para Francisca e pensou como poderia uma pessoa morrer e voltar a viver para morrer de novo. Coisa de quem vive, na certa.
--- Vai querer doce de goiaba? – perguntou Francisca a Dino passado algum tempo.
--- Sim! – respondeu o garoto de forma surpresa e cheia de apetite pelo doce.
--- Quer mesmo? – inquiriu outra vez Francisca para ver a resposta do garoto.
--- Quero. Você tem? – respondeu o garoto cheio de expectativa.
--- Tenho. Vou botar no pratinho de doce pra você provar. É doce feito com a goiaba partida em quatro partes. Tem as goiabas e o caldo das goiabas. Ta aqui pra você. Coma! – proferiu Francisca para Dino com um sorriso na face.
O garoto pegou o pratinho de doce e passou a comer com uma colher de chá todo aquele sabor que tem a goiaba. Para ele, parecia que nunca havia comido goiaba. Até achou melhor que os doces de goiaba que sua mãe fazia, apesar de não ser assim tão diferente um do outro. Sempre que a sua mãe fazia doces de goiabas ele aproveitava para raspar o tacho e se lambuzar de todo. No tacho tinha a marca da goiaba no seu final onde se podia roer com pouca pressa aquilo que estava lá no seu final de tudo. E era assim que a sua mãe comia o doce do fundo do tacho.
Alguém batera na sineta do portão no instante em que Dino estava a comer o doce em calda da goiaba. Francisca então disse para o garoto com seu jeito apressado de falar e correr.
--- Tem gente. Vou ver quem é. - falou a moça de forma apressada deixando o garoto a comer do doce de goiaba.
O garoto continuou a acabar com aquele maravilhoso doce enquanto lá de fora ouviu o grito alegre de Francisca a cumprimentar a tal visita da forma mais risonha possível.
--- Mas você! Ora quem diga. Que estas fazendo por esses lados da província? – falou Francisca alegre e cheia de encanto.
--- Que bom você está. Eu vim só lhe ver. – respondeu a visita alegre e sorridente.
--- Mas ora! Entre. Vamos por aqui pelo lado. É bem melhor. Me conta como estão as coisas. Eu não tive mais noticias de lá. Vem. Entra. – disse Francisca muito alegre e feliz da vida.
--- Por lá ta na mesma coisa. Eu estou fazendo um curso aqui. Terminei hoje, por sinal. – respondeu a visita.
--- Sim senhora. Esse é Dino. Menino da vizinha. Vêm aqui todos os dias. Hoje está saboreando uma goiabada. – respondeu Francisca a visita muito alegre.
--- Olá menino. Como vai você? – falou a visita ao garoto.
Dino estava lambendo o prato com a língua, fazendo o asseio de tudo o que comera naquela tarde do que Francisca lhe dera. Lambia meso o prato, sem cerimônias.
--- Cumprimente a visita, Dino. Seu nome é Deodora. Aperte a mão. – recomendou a doméstica de forma cordial.
O garoto lambendo o prato sorriu sem cerimônias para a moça. E apertou a mão que ela lhe estendera.
--- Assim, viu. Assim é que se faz garoto. Deodora, o nome dela. Diga: “Muito prazer Deodora”. Diga. – sorriu Francisca para o garoto com um grato amor que lhe tinha.
--- Prazer. – respondeu o garoto meio confuso.
--- Prazer Deodora. Esse é o nome dela. – sorriu Francisca com carinho.
--- Prazer Deo..Deo...Deo o que? – perguntou o garoto estranhando o nome da moça.
--- Engraçado o garoto. Parece uma miragem. – falou Deodora.
--- Uma o que? – perguntou Dino.
--- Nada não. Meu nome é D e o d o r a! Pronto! – disse a vista a Dino, sorrindo alegre.
--- Ah sei. Deo...não sei o que. – respondeu Dino a sorrir deixando o prato de lado.
As duas moças caíram na risada. Nesse instante alguém chamou pelo nome de Dino. Era a sua mãe. O garoto correu e pulou o muro que separava as duas casas. Dino entrou na sala e logo respondeu.
--- Estou aqui, mãe. – falou o garoto.
--- Onde você estava? – perguntou a mãe de Dino meio estabanada.
--- Lá no forno. – respondeu o garoto amedrontado.
--- Mentira. Eu estive lá e você não estava. – respondeu Olindina impertinente.
Nesse instante uma voz falou por cima do muro. Era Francisca. Ela falou que o garoto estava em sua casa na companhia de uma visita.
--- Não se importe Olindina. Estava aqui comigo comendo doce de goiaba em calda e na companhia de uma visita que está aqui. – afirmou Francisca melhorando a situação para o garoto.
--- Rum. Eu já disse que ele me avise quando vai sair. Obrigada Francisca. – proferiu a mãe de Dino como a descansar da velha palmatória pendurada na parede.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 88


- LEMBRANÇAS -
- CONTO -
Naquele momento Dino ouviu sua mãe lhe chamando. Ele pediu desculpas a Dalva e saiu correndo em direção a sua casa. Para evitar suspeitas, ele não pulou a janela. Circundou a casa e foi entrar pela porta lateral que dava para a sala de jantar. Entrou às presas e atendeu ao chamado de Olindina que já estava na porta de entrada da casa sem saber ao certo o local em que se metera o garoto. De pronto o garoto respondeu ao chamado de sua mãe já pouco aflita.
--- Pronto mãe. Estou aqui. – e sorriu como se estivesse feliz para a sua mãe.
--- Que susto. Onde você estava? – repreendeu a mãe com ar de preocupada.
--- Estava ali. – respondeu o garoto sorrindo.
--- Ali aonde seu moleque? – indagou a mãe.
Ele pensou rápido e logo respondeu.
--- Nas bananeiras vendo se a galinha choca já tirou pintinhos. – respondeu Dino a sorrir.
A mulher fez cara feita e o repreendeu.
--- Nunca mais você me saia de casa. Ouviu? – falou com altivez Olindina.
--- Mas eu estava nas bananeiras. – disse o garoto já sem sorrir.
--- Run. – fez a mulher com a cara fechada.
--- Vai querer pão? O homem está perto de chegar. – disse o garoto.
--- Não sei. Hoje vou fazer cuscuz, e pronto. Vá raspar o côco, cabrito. – disse-lhe a mãe já nem tão zangada.
O garoto saiu para a cozinha e arrumou o raspador. Em seguida pegou um côco já sem a casca e partiu ao meio. Ali mesmo sentou no tamborete e botou o raspador em baixo de seu corpo. Puxou uma tigela de ágata e começou a ralar como fazia a sua mãe. Ela chegou de mansinho e disse ao garoto:
--- Não é para comer o côco. Esta ouvindo? – falou a mãe com voz firme.
--- Sim. Não vou comer. – respondeu Dino sem olhar para a cara de sua mãe.
Dito isso, a mulher saiu em busca do milho para fazer cuscuz. Pegou um alguidar e despejou o milho tendo lavado em seguida por varias vezes. O tempo passou até que o garoto raspou todo o côco. Em seguida levou até a sua mãe que o recebeu. Em seguida Olindina disse ao garoto com altivez:
--- Traga o carvão que tem lá no quarto. – falou Olindina sem meias palavras.
O garoto obedeceu e correu para o quarto do carvão onde deveria apanhar uma lata cheia. Naquele momento o garoto se assombrou. É que tinha um ovo andando por cima do carvão encostado na parede do quartinho. Aquele quarto já fora antigamente um gabinete sanitário. Depois que seu pai comprou a casa, fez o gabinete dentro de casa. O antigo, ele desmanchou, retirando o aparelho sanitário e aterrando o buraco que fora aberto. E do quarto, bem pequeno por sinal, passou a guardar o carvão que um seu primo sempre trazia para vender na cidade. O de Nestor, o primo não cobrava nada. A mulher de Nestor dava em troca um café bastante reforçado ao primo do marido. Mas a questão do ovo não ficou assim. Alarmado, o garoto atirou a lada ao lado e saiu gritando.
--- Mãe! Mãe! Tem um ovo lá dentro! – gritou o garoto com o coração saindo pela boca de tão assustado que estava.
--- Que ovo, menino? Traga o carvão! – disse a mulher com a cara feia.
--- Tem sim. Não vou pegar carvão. Tem um ovo rolando por cima do carvão! Tem sim! – falou quase chorando o garoto alarmado com o fato.
--- Ora já se viu um ovo! Deixa eu ir lá pra ver que ovo é esse. E se não tiver você apanha, ta ouvindo? – respondeu Olindina com um gesto malcriado.
--- Tem sim! Tem um ovo, mãe! – alarmou o garoto com cara de preocupado.
A mulher, então, entra no quartinho e logo viu o imenso ovo. Era uma aranha com um ovo nas costas que estava para parir a qualquer instante. Então, foi aí que a mulher tomou medo. Olindina saiu correndo do quarto e procurando em todo o lugar da casa qualquer toco de madeira para acabar com a vida da aranha gigante e desmanchar o seu ovo. A mulher tremia de medo do bicho aranha. Como só estava ela em casa seria a vez de acabar com o monstro. Após breve instante a mulher apanhou uma acha de pau e correu para o quarto onde estava a monstruosa aranha. Com todo o ímpeto que Deus lhe deu, a mulher meteu a acha nas costas da enorme aranha e com uma só cacetada esbagaçou a fera. Meio cética Olindina ainda teve o cuidado de trazer a aranha esbagaçada para fora do quartinho e ver se de verdade ela estava morta.
--- Bicho feio danado! – cuspia para um lado e para outro com o pavor da aranha.
--- Não disse mãe! Ela tava com o ovo nas costas! – respondeu o garoto.
Nesse instante uma voz falou. Era dona Cora que estava chegando no seu quintal e vendo toda a excitação a mulher não tardou em perguntar com sua voz lamuriosa.
--- Que foi que houve comadre? – indagou a velha senhora com voz tremula.
A mulher se assustou ainda mais e logo respondeu.
--- Uma aranha do tamanho de um bicho. Coisa enorme. – falou Olindina cuspindo o que não havia mais.
--- Aranha? É um bicho feio. Mas não ofende a ninguém. Aqui eu sempre acabo com as que aparecem. – falou dona Cora, avó de Dalva.
--- Deus me livre que apareça outra! – falou a mãe de Dino.
--- E quem viu a pobrezinha? – perguntou dona Cora sem ter medo de nada.
--- Foi Dino. Eu mandei buscar carvão e ele voltou assombrado. – respondeu Olindina.
--- Coitado! – ponderou a velha já voltando para dentro de casa.
Daquele momento em diante, Dino sempre que ia buscar carvão, tinha o cuidado de ver se ali não havia outro ovo andando por cima das pedras. Na noite daquele dia, Olindina fez cuscuz para todos os de casa que eram o seu filho Dino e o marido, Nestor sem contar com ela mesma. Por cortesia, Olindina mandou seu filho entregar a Dona Cora um prato com cuscuz que o próprio garoto disse:
--- Epa! Gigante! – falou Dino sorridente da vida.
E era mesmo bem grande o cuscuz. Dino o levou em um prato de louça coberto por uma renda de filó de cor branca, bem feita por sinal. Ao chegar à casa da velha Cora, ele topou com Raimundo, seu filho, homem carrancudo e sempre sério. O garoto perguntou por dona Cora e o homem respondeu:
--- Tá lá dentro. Que você quer? – perguntou Raimundo sem sorriso.
--- Minha mãe mandou entregar a ela. – respondeu Dino sem pestanejar.
--- Me dê que levo! – respondeu o homem
O menino sem coragem e sem fé entregou o prato a seu Raimundo. Mesmo assim, ele viu dona Cora bem perto da sala e por isso não fez outra coisa a não ser dizer.
--- Obrigado. É pra dona Cora. – replicou o garoto.
--- Sei disso. – respondeu o homem cheirando o cuscuz que estava coberto com renda de filó. O menino então ouviu o homem que se afastava dizendo.
--- Um! Cheiroso! - - e partiu para dentro de casa.
Depois da janta, Dino ouviu alguém puxar o ferrolho da porta da frente e entrar. Depois dos chiados dos chinelos, ele viu chegar à figura de Francisca. De imediato a empregada da casa vizinha, sua igualmente namorada, disse algo assim:
--- Que cheiro. Cuscuz? – perguntou Francisca.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 87

- NOSSO AMOR -
- CONTO -
Na tarde de quinta-feira, Dino estava estudando as lições passadas pela manhã por sua professora. De momento, quando terminou de estudar, procurou ouvir se a sua mãe estava a dormir o sono de todas as tardes. Ele veio até a porta fechada do quarto e passou a escutar. Ouviu o ressonar da mulher e entendeu que ela estava a dormir. De imediato, Dino ficou a pensar: se fosse para Francisca, a sua “noiva” poderia procurar por ele e não encontrar. Quando acabar vinha aquela toda ladainha e ele não tinha paciência para dizer o que a mocinha teria que perguntar. Então, ele resolveu ir para a casa de Dalva, a “noiva”. Era o mais certo. Antes, porem, foi até o banheiro cumprir suas necessidades. Logo depois, voltou e pulou a janela para entrar na casa de Dalva por seu quintal. Ao chegar à porta de trás da casa, não viu Dalva e muito menos Dona Cora, a avó de Dalva. Então, ele entrou, tomando o cuidado para não tropeçar em nenhum móvel ali existente. Os moveis eram quatro cadeiras acanhadas e uma mesa velha de quatro pernas. Ele seguiu em frente à procura do quarto de Dalva. Nesse momento ouviu alguém tossir. Estremeceu. Porém. Logo se pos firme. Era Dona Cora, a velha que estava na sala da frente a esperar pelo homem do pão. Então, Dino se conformou. Na porta do quarto de Dalva ele viu que estava entreaberta. Empurrou devagar e notou a presença da mocinha deitada na cama de solteiro existente ali mesmo. Ela parecia dormir. Tinhas os olhos fechados. Dino se aproximou pé após pé para ficar ao lado da cama da mocinha. Quanto estava perto mesmo ouviu a mocinha gritar de medo.
--- Que susto, cadáver! Ave Maria! Chega estou tremendo! – proferiu Dalva diante da silhueta do garoto
--- Desculpe. Não quis acordá-la. Foi sem querer. – respondeu o garoto.
--- Nem vem que não tem! – declarou a mocinha.
--- Não tem o que? – inquiriu o garoto.
--- Aquilo. Você sabe o que é. – disse Dalva um tanto magoada com o susto levado.
--- Não tava nem pensando nisso. – comentou o garoto.
--- O que é que você quer? – perguntou Dalva aborrecida.
--- Só vim olhar você. Pronto. Mas se não quer, eu vou embora. – contestou Dino com a cara amuada.
--- Não. Não. Sente aqui. – respondeu a mocinha já um tanto sossegada.
--- Pra que eu vou sentar ai? – perguntou Dino um tanto desconfiado.
--- Sente seu bosta. Ou vá embora! – voltou Dalva com a mesma ira.
--- Pronto. Sentei. E o que você tem? – perguntou Dino ao vê-la toda retorcida na cama.
--- Nada não. Tô doente! – respondeu Dalva toda encolhida.
--- Gripe? – perguntou Dino assombrado.
---Não! Você pergunta cada merda! – respondeu a mocinha cheia de ira.
--- Mas doente de que? – voltou a perguntar Dino de forma insistente.
--- De merda! Ora bosta! – respondeu a jovem quase pegando o garoto.
--- Pois diga. Esta com dor de barriga! – respondeu o garoto.
--- Não é isso não, seu burro! Ora que merda! Dê uma massagem aqui, vamos. – pediu a moça um tanto alarmada com as dores que sentia.
--- Prá que eu vou dar massagem na sua barriga. Vá pro banheiro! – respondeu Dino meio sem graça.
A mocinha Dalva então chorou. Ele, Dino, de nada sabia. E ela, Dalva, tinha medo de sair da cama. Estava toda molhada de sangue e não queria que ninguém visse o seu estado, pois se assim alguém notasse buscaria trazer compressas mornas para por na sua barriga. Para a moça, aquilo era o fim do mundo. Nada mais horrível do que uma menstruação. E ela sentia dores horrorosas no seu ventre. Isso aconteceu logo que chegou da escola. Dalva já estava sentindo dores esparsas no Grupo. Quando chegou da aula, então viu que o negócio aumentara. Ela então verificou sua calcinha e notou que estava molhada de sangue. Daquele momento em diante, Dalva não mais comeu coisa alguma. Ela ficou apenas deitada em sua cama. Até mesmo quando sua avó a chamou para fazer refeição, ela respondeu que não queria, pois estava doente. A velha ainda perguntou se eram as regras e ela nada respondeu. Na verdade era as tão chamadas e aborrecidas regras.
De outras vezes essas tais “regras” derrubaram a moça por completo. Dores atrozes que ela sentia em seu útero. Dalva passou três dias sem se levantar da cama, a não ser para ir toar banho de ervas que a velha Cora preparava. Dalva tomava o banho em uma bacia e por um tempo ficava sentada na bacia deixando esfriar a água. E depois se embrulhava e caía na cama. Certa vez o seu pai reclamou:
--- Levanta! Deixa de mau agouro. Isso é lá doença! – respondia seu Raimundo,
--- Não é no senhor! – respondia seu Raimundo malcriado.
Ele ficou embrutecido desde que perdera a sua mulher, Clara, quando a criança nasceu em casa mesmo. Era uma menina corpulenta, talvez dos seus cinco quilos. A mulher já vinha sofrendo com esse parto há uma semana. Quando teve a criança, logo após a mulher morreu. Foi um desespero para seu Raimundo. Sua irmã, Noêmia protegeu a criança. A mulher, Noêmia, já era mãe de cinco filhos. Deu de mamar a Dalva até os seus cinco meses. Depois desse tempo, Noêmia suspendeu a amamentação. Sempre que ia a escola ou mesmo quando não tinha nada para fazer em casa, Dalva sempre estava na casa da sua tia que morava no meio do quarteirão entre a casa de Raimundo e a venda de seu Aprígio, um homem que tinha uma bodega na região.
Depois da morte de Clara, o homem tornou-se calado. Não bebia, não fumava, não tinha vicio algum, a não ser de jogar no bicho da sorte em um ponto na cidade perto do Mercado. Vez por outra ele ganhava alguns mil reis. Para casa, ele trazia de tudo que conseguia por doação e mesmo de compra que ele conseguia tão somente no Mercado. Naquele dia Dalva estava doente e seu pai, quando chegasse, havia de passar carão. Dalva sentia que o velho Raimundo tinha certa cisma com qualquer rapaz que se aproximasse da filha, pois não queria vê-la a namorar a qualquer um.
--- Esses sujeitos são uns bostas. Filha minha não casa! – era o que sempre dizia em conversa na própria casa seu Raimundo.
Apesar de Raimundo não saber o que havia com Dalva, sempre a garota tinha os seus namoricos às escondidas com um e outro. Dessa vez, era com Dino, o mais próximo de sua casa. Dino era inocente por todos os meios e medos. Só veio a despertar depois de Francisca que fez do garoto o seu amante provisório. E dentro de um episódio, caiu Dalva que naquele momento estaria sendo a sua noiva de fato e de direito.
O garoto fez a vontade de Dalva e por fim fez fricção na barriga da mocinha para ver se as dores atrozes passavam. A mocinha, agradada por tanto carinho do garoto, findou por beijá-lo diante de tanta emoção que o garoto sentira. Por fim, Dino emborcou sua cabeça em cima do ventre a mocinha e ali ficou quieto por logos tempos. Dalva então lhe acariciou a cabeça delicada tornando o garoto como se fosse o seu próprio filho.
--- Tá melhor? – perguntou Dino com voz suave.
--- Um pouco. – respondeu Dalva com voz em prantos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 86

- CENÁRIO -
- CONTO -
Quando foi quinta-feira, Dino tinha ido com Dalva para o Grupo Escolar onde ambos estudavam. Daquele dia em diante, eles se acostumaram ir para a escola de comum acordo, pois enfim, os dois eram então “noivos”. A hora já estava bastante adiantada para a aula começar às sete horas da manhã. Por isso, Dalva nada falou a Dino do que tinha para dizer deixando para depois, como Dalva mesmo disse.
--- Depois eu conto uma história para você. – falou Dalva ao entrar no Grupo.
--- Que história é? – perguntou inquieto o garoto.
--- Depois. – respondeu Dalva.
O garoto ficou com aquela dúvida insistente latejando em sua cabeça. Não imaginava nem de sombra o que a mocinha queria lhe dizer.
A aula teve o seu começo e a professora delicada chamando os nomes dos alunos para ver se todos estavam presentes. Se alguém faltara, ela deixava anotada para depois ver se de fato aquele aluno não estaria na aula durante todo o seu transcurso. Não raro um aluno residia um pouco longe e desse modo se atrasava para entrar ao Grupo. Isso era bastante normal. Durante a aula, que foi aula de geografia, a professora disse algo que os alunos nada sabiam. A questão da lua e das marés. Falando na classe, a mestra disse que as marés tinham a influencia da lua. Quando a maré era de lua queria dizer que aquilo era a força da lua. E explicou que as pessoas também sofriam a força da gravidade da Lua. Em certas ocasiões, alguém era acometido de loucura. Não se sabia o porquê, mas, assim mesmo era pela força da lua.
--- Vocês entenderam o que eu disse? – perguntou a Dona Magnólia, mestra.
E a turma gritou:
--- Siiiiim! – voz da turma de alunos do primeiro ano.
Era um verdadeiro cenário aquele que os alunos pintavam. Diziam “sim” quando era para dizer “não” e vice versa. De modo, que aula teve prosseguimento com ordem para uns estudiosos e outros não. Cada aluno que fizesse cara feia quando caía uma sentença mais complicada. Outros garotos se espreguiçavam como podiam quando a aula estava “chata”. É que o aluno não entedia bem o que dizia a professora. Alguém perguntava a outro:
--- O que foi que ela disse? – falava baixinho aquele que perguntava.
--- Silêncio! – chamava atenção à professora de forma ríspida.
E tudo voltava ao normal, mesmo sem alguns alunos entenderem o que a professora, Dona Magnólia, estava a ensinar naquela ocasião. Para a mestra aquela era uma turma de “bárbaros”, pois não se dava conta a tudo o que se estava ensinando por que alguns deles sempre vinham com a dúvida.
--- São uns bárbaros. – dizia a professora em seu solilóquio.
Quando deu a hora do recreio a turma saiu apresada, uns empurrando os outros. O chiado dos sapatos no chão era comum. Os garotos que desorganizavam as carteiras dos outros também. Capilés era o que não faltava na cabeça de alguém. E o troco era uma bofetada que o outro garoto dava no seu algoz. Uma azáfama perfeita. A gargalhada comia no centro. Na verdade, todos queriam ir pegar o seu lanche: um copo de leite com café e um pão com manteiga. Esse era o lanche que muitos alunos tinham como o seu café principal da manhã e até mesmo o almoço. Havia aluno que não tinha almoço em sua casa e para se refestelar, chupava manga do pé caída durante aquela aula de dona Magnólia, a mestra, ou mesmo de outra professora nas salas vizinhas. No Grupo tinham umas mangueiras que brotavam mangas pequenas, mas de sabor maravilhoso. E eram dessas mangueiras que alguns alunos subiam no pé para colher em cima as melhores mangas, ainda verdes, para chupar ao sabor do vento que fazia a açoitar as árvores.
Nesse instante, Dalva chamou Dino para ir mais a fora, em um lugar sossegado dos demais colegas de classe ou mesmo de Grupo. O tempo era de sol quente e só a brisa que fazia trazida do morro amornava mais o calor tépido. E então a mocinha começou a conversa com o seu “noivo” de forma delicada. Ela estava de olhos bem abertos ao começar a sua dissertação.
--- Você conhece aquela moça que trabalha na casa vizinha, do outro lado da sua? – perguntou de forma sutil a mocinha.
Dino ficou na dúvida em responder. Se disser “não”, a sua “noiva” podia perguntar coisas que ele não saberia responder. E teve a vez que ele e Francisca saíram juntos para o Mercado, à noite. E mais. Eles foram para Missa e depois, foram à praia. Por tudo isso era melhor confirma e esperar o desaforo que seguia.
--- Sim, Francisca. É ela? – confirmou Dino amedrontado.
--- Não sei seu nome. Mas parece que é Francisca. Mesmo assim, o que eu vi ontem, foi algo sem sentido. - - falou Dalva na seqüência.
Sempre amedrontado, Dino perguntou:
--- Que foi? – perguntou Dino procurando terra.
--- Eu estava engomando na sua casa. Eram mais de oito horas. Você estava dormindo. Eu coloquei carvão no ferro de engomar e pus para pegar fogo. O ferro estava aberto naquela janela que você pulou. Então eu vi a mulher quando entrou no seu quarto. Eu, devagar, fui ver o que ela queria fazer com você. E abri a porta devagar. Vi a mulher fazendo negocio com você. – disse Dalva precavida dos ouvidos alheios.
--- Que negócio? – perguntou Dino atônito.
--- Ela estava fazendo negócio com a boca com seus “troços”! – disse a mocinha um tanto, ofendida.
--- Chupando? – perguntou Dino já meio a sorrir.
--- Eca. Nojento. Safado. Cachorro. Inda ri. Covarde. – rezingou Dalva envergonhada, ao desespero dizendo tudo o que podia dizer.
--- Foi isso? – voltou a perguntar o garoto cheio de sorriso.
--- Sei não! Vocês não prestam mesmo! – reclamou Dalva querendo ir embora.
E o menino caiu na risada. Dalva nesse tempo foi embora, cuspindo para todo o lado, passando a mão na boca como se estivesse a limpar de alguma coisa. E ainda disse de volta ao garoto:
--- Bruto! Cascavel! – falou Dalva partindo para a sala de aula, pois a sineta acabara de soar.
O garoto se pôs a gargalhar.


terça-feira, 13 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 85

- A VOLTA -
- CONTO -
Tão logo Dino deixou a casa de Dalva voltou para a sua pulando depressa a janela que estava posta ao beco. Então, ele procurou ouvir se a sua mãe já havia acordado do sono do meio da tarde. Foi até o quarto em que Olindina dormia, e procurou ouvir através da porta. Então, pelo modo de respirar da mulher, ele concluiu que a sua mãe ainda estava a dormir. Dino então passou reto para a sala de visita quando ouviu alguém bater à porta. Era Francisca. Ela estava ali para perguntar se a mulher queria comprar pão da tarde:
--- Menino! Sua mãe vai querer comprar pão? O burro está ali! – falou Francisca de modo calmo.
--- Vou saber dela. Péra. – disse o garoto surpreso com a presença de Francisca àquela hora da tarde.
O garoto voltou ao quarto e perguntou através da porta a sua mãe se ela queria pão da tarde. Olindina disse que não queria. Ele voltou para dizer a Francisca o recado.
--- Mãe não quer. Ela disse. – falou Dino meio cabisbaixo.
Então Francisca agradeceu e falou para Dino que o dele estava guardado em sua casa. O garoto agradeceu e respondeu que depois ia comer o pão com doce ou queijo. Francisca sorriu para Dino e saiu depressa.
Mas o garoto estava tenso. Em lugar de sair para a casa de Francisca, ele voltou ao seu quintal onde alcançou Dalva então estendendo o cobertor em uma corda estirada no quintal de sua casa, de fora a fora. Ele, então constrangido com o feito, perguntou a Dalva.
--- O sangue saiu? – perguntou Dino.
A moça, embrulhada no seu afazer quase leva um susto.
--- Que susto, doido. Saiu. Não está vendo? – respondeu a mocinha com voz malcriada.
--- Desculpe. Estava só perguntando. – falou o garoto encabulado.
Em dado momento uma manga rosa do pé que nascera no quintal de Dalva, caiu do lado do de Dino causando um impacto com um som abafado. O menino se assustou. E logo pegou a manga. Ele cheirou a fruta e disse a Dalva.
--- Caiu do meu lado. Então eu levo para dentro. – falou Dino, alegre.
A moça sorriu e respondeu:
--- Leve. Aqui tem mais duas que caíram nesse instante. Tome. Leve essa. – falou Dalva sorridente e cheia de doçura.
O garoto recebeu as mangas e disse para Dalva.
--- Hoje eu já comi uma manga no almoço. A gente só tinha feijão e farinha. E também manga. – contou Dino.
--- Eu também chupei manga, hoje. E vocês não comeram carne? – perguntou Dalva assombrada com o que ouvira Dino dizer.
--- Não. De noite tem pirão de leite e só. Nem sei se tem café. – respondeu o garoto de uma forma triste.
--- Ave. Só isso? – falou espantada a mocinha.
--- Só. – respondeu Dino mais triste ainda.
--- Espera ai. Vou lá dentro e já volto. – respondeu a mocinha correndo para dentro de casa. Dino pegou as mangas e também saiu para a sua casa.
Com um tempo passado, dona Cora, avó de Dalva, chegou até a janela que dava para a sua casa e chamou por Olindina, mãe de Dino.
--- Mulher! Mas que é isso! Tome carne pra amanhã e depois. Meu Deus do céu. Tem piedade. Ave Maria. Santa Mãe de Deus. Como é que pode acontecer uma coisa dessas. Deus me acuda. – falou a velha senhora dos seus 75 ou 80 anos de idade.
Olindina chegara naquele momento. Ela estava a cochilar no primeiro quarto da casa. Ficou surpresa com tamanha ladainha da velha senhora. Olindina nem sabia o que estava se passando quando a velhinha entregou uma manta de carne para ela e os outros que moravam ali também. Quase assustada a mulher pegou o que a velha estava lhe estendendo como se nem pudesse pegar. Após uns minutos passados, a mulher agradeceu quase chorando e disse que aquilo era coisa de Dino. E foi mais além. Contar a verdade do que estava acontecendo dentro de sua casa. O marido, funcionário do Estado, não recebia pagamento fazia três meses. Quando era fim de mês ele comprava coisas na Cooperativa dos Funcionários. Porém naquela hora ele já nem podia comprar muito. E carne, a Cooperativa não estava vendendo. Não raro, tinha carne de charque. Porém nos últimos dias, nem isso tinha. Dessa vez Olindina chorou, coisa rara de fazer.
O garoto ouviu tudo escondido por trás de um pilar da casa. Dali saiu correndo, desembestado, desaparecendo porta a fora, ingressando no quintal, para chorar também, lá longe, no fundo de tudo, em cima de um forno que o seu pai fizera para ver se podia ali fazer pão. Chorou desregradamente. Em um só tempo apareceu Dalva para lhe acariciar com ternura e afeto. Do interior de sua casa sua mãe não vira Dino sair. Mesmo que tivesse vontade de castigar o menino, não mais era possível. O que o garoto fez foi contar uma história. Coisa de forma simples. No galpão onde estava armado o forno, tinha ao lado um quartinho onde Olindina guardava carvão. Isso foi num tempo mais para dentro quando o seu marido, Nestor, tinha seu pagamento em dia. Quando mudava o governo, também mudava a forma de pagamento. E com esse governador a coisa ia de mal a pior. Com isso, Dino não sabia dizer. E nem Dalva entenderia. Seu pai – de Dalva – era empregado no Mercado Publico. Por lá ele arranjava a carne verde e outros gêneros alimentícios que os donos dos açougues e locais de venda de produtos de comer lhe davam em troca de favores recebidos. Era uma forma de agradar seu Raimundo, pai de Dalva.
A tarde já passara e com pouco mais era noite. Os dois namoradinhos estavam ali, enroscado um no outro. Dino com a sua tristeza. Dalva com a sua ternura. Ela ficava só em retribuir os afagos recebidos durante a tarde por parte do seu namoradinho. E aproveitava para entoar uma canção dolente para assim cuidar do garoto cheio gana por tudo o que sucedera durante aquela tarde sombria. Para ele, a volta para se lamentar mais ainda estava bem distante. Coisas que o tempo não apagaria dele como era de se lembrar com o passar das horas, minutos e, talvez, séculos. Nesse momento alguém chamou pelo nome de Dalva.
--- Quem te chama? – perguntou Dino.
--- Minha avó. Papai chegou do mercado. – disse a mocinha um pouco assombrada.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 84

- AMOR ANTIGO -
- CONTO -
Na tarde daquela quarta-feira, Dino estava sentado na cadeira de frente ao birô que o seu pai tinha naquela casa. Uma gaveta do birô era de Dino onde ele guardava seus livros, cadernos e lápis. As outras duas gavetas e a principal bem larga por sinal, eram do seu pai, onde o homem guardava documentos e velharias, no entender de Dino. Ali onde ele estava, fazia contas que a sua professora passara na aula da manhã. Eram os deveres de casa, afinal. Foi nesse tempo que Dino ouviu um chiado pelo lado de fora de sua casa, no oitão entre a casa vizinha. Um chiado fraco, mas era um chiado. Com as orelhas em pé, de repente o garoto correu para a janela do oitão para ver o que se passava ali. Era certo que o garoto pressentira o que podia ser. Porém, para ele era melhor ver com a vista que tinha de tão nobre. E viu. A mocinha Dalva tinha ido urinar no beco, dispensado o local próprio, uma casinha feita de cerca onde os mais velhos da casa podiam cumprir suas necessidades. A casa tinha no cercado de vara um aparelho sanitário. E esse aparelho despejava em uma fossa. Porém, a mocinha preferia fazer as suas necessidades costumeiras no beco, entre uma casa e outra.
Então, Dino, de repente viu por toda a janela aberta de fora a fora a mocinha cumprir suas necessidades mais simples. Ele, de longe olhava Dalva a fazer o que tinha ido fazer e olhar por baixo, entre as pernas, o que estava saindo e como saía, talvez. De vestido alongado, Dalva nem se importava com o tempo e ali mesmo urinou a seu bel prazer. Por seu lado, Dino apenas perscrutava o que a garota fazia. Quando Dalva terminou, voltou a casa, pelo oitão, para poder entrar pela porta de trás. Foi ai que ela teve a surpresa. Com a cara mais cínica do mundo, Dino lhe chamou a atenção.
--- Eu vi você! – disse o garoto a sorrir amplamente e de forma bem alegre.
--- Ai. Que susto! Viu o que? – inquiriu Dalva de forma arrebatadora e com muita raiva.
---Você urinando! – respondeu Dino de forma alegre.
--- Vá pra merda! E não pode não? – respondeu Dalva de forma mais malcriada ainda.
--- Quando urina, dói? – perguntou o garoto de forma maliciosa.
--- Pra que você quer saber, seu bosta? – respondeu Dalva já procurando a entrada da latada do final da casa onde ela morava.
--- Pra nada. Só perguntei. Vem cá. Espera um pouco! – articulou o garoto bem mais calmo dessa vez.
--- Que é que você quer bosta merda? – perguntou a mocinha ainda com muita raiva.
---O quarto? – perguntou o garoto feliz da vida.
A mocinha então se refez e dessa vez não estava com muita raiva. Disse apenas isso:
--- Tá lá! Por quê? – sorriu a mocinha com uma sensação estranha.
--- Vamos para lá? – indagou Dino maledicente.
--- Fazer o que? Minha vó ta na sala fumando cachimbo e esperando o homem do pão. Não tarda já ele passar. – respondeu Dalva de forma inquieta.
--- A gente fica lá dentro. Ela nem desconfia. – replicou cheio de ânsia o garoto.
--- Sei não. Vou olhar. Volto já e te digo. Você vai por onde? – indagou a mocinha.
--- Pulo a janela! – objetou o garoto.
--- Pera aí. Volto já. – falou Dalva sorrindo e cheia de encanto que podia exprimir.
De imediato, Dino pulou a janela e se meteu na casa, um tanto velha, com seu fogão a lenha, panelas carcomidas pela fumaça do fogão, tudo exposto de qualquer jeito. Na chamada sala de jantar havia uma única mesa, um armário, um guarda-louças, quatro cadeiras e outros objetos sem grande futuro. Era uma casa de gente pobre de fazer dó. O garoto viu aquilo e nem prestou atenção em vasculhar. De repente, a moça estava de volta. Ao se topar com Dino tomou aquele susto.
--- Que susto, miséria. Ave. Vamos! Vó esta na cadeira de balanço prestando atenção a rua. Cuidado. Devagar. – resmungou a moça de forma meio braba.
Os dois seguiram para o quarto onde Dino já esteve e lá fizeram sexo. Dino tirou o calção. Dalva tirou a calcinha e levantou o vestido. Cada um que começasse a fazer sexo de forma desprovida de algo virtuoso. Dalva às vezes estava por cima e às vezes por baixo de Dino. O garoto se sentia em êxtase e a mocinha não sabia muito que fazer. Ela deixava-se penetrar com muito cuidado com o garoto sem saber ao certo como se fazia aquilo. De um momento, Dino se lembrou de Francisca, a sua namorada mais velha. Calou. Mas, da forma que estava fazendo sexo não dava certo. Ele fez a mocinha ficar de peito pra cima, abriu-lhe as coxas e penetro como todo afinco o seu sexo na mocinha que ouviu quando Dalva gritou:
--- Ai. Tá doendo. Dói muito. Espera! – gritou baixinho a donzela.
O garoto se assombrou. Ele retirou o seu ínfimo e pequenino pênis de dentro da voluptuosa e delicada Dalva e viu o cobertor molhado de sangue. O assombro, então, era dos dois. Ela se encheu de medo o dizer;
--- Você me desvirginou, doido!!! – lacrimejou a moçinha cheia de espanto e desprazer.
--- Eu o que? – perguntou o garoto alarmado e louco de aperreios.
--- Nada. Nada não. Deixa-me pegar o cobertor pra lavar o sangue. – reclamou Dalva quase chorando e com a tensão por demais inquieta.
--- Eu fiz o que? – voltou a perguntar Dino com mais espanto ainda.
--- Nada seu merda. Deixa-me lavar a coberta. – reclamou a moça.
Com muita precaução, o garoto, seguindo Dalva saiu pela porta da cozinha para poder pular a janela e entrar em casa. A sua mãe, naquela hora ainda estava a dormir o sono da tarde e não vira nada do que acontecera entre os dois vizinhos. Antes de sair para a sua casa, ele ouviu Dalva dizer-lhe que daquele momento em diante eles, os dois, eram noivos e que Dino se preparasse para se casar com ela. O torpor invadiu todo o seu corpo, pois como diria tudo que acontecera naquela tarde a sua namorada? Tudo por demais era estranho para Dino. Ele estava atordoado com o que acabara de fazer com a bela morena de cores perfeitas, seios meigos, rosto de amiga. Enfim, Dino se desculpou de tudo o que fizera:
--- Desculpe. Eu não sabia que era assim. Desculpe. – falou Dino de forma lacrimejante.
Enfim Dalva respondeu com eterna meiguice e afetuoso carinho.
--- Doido. Nós somos noivos. Agora. Não se importe com isso. – declarou Dalva com agrado batendo o cobertor na pedra para retirar o sangue quase coalhado.
O garoto Dino ficou por mais uns instantes e saiu para também tomar banho. Enfim ele era homem, dessa vez em diante. Já contava com duas namoradas.

domingo, 11 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 83

- NAMORADA -
- CONTO -

À noite, Francisca foi até a casa de Dino levar o calção do garoto que ela ficara para lavar, pois de manhã o garoto tomou banho de mar com ela e vestiu a roupa normal com que ele fora para voltar a sua casa. A moça fez questão de ficar com o calção de praia do garoto prometendo que o lavaria e depois trazia para entregar a sua mãe. Essa promessa foi feita a dona Olindina, mãe do garoto. No começo da historia de volta a casa, houve certa discussão com a mãe pedindo o calção para lavar. Francisca disse, naquela ocasião que a mulher não se incomodasse, pois Francisca faria a mesma coisa. Enfim, depois de muito debate, Francisca ficou com o calção do menino inda molhado da água do mar. À noite, já enxuto, a moça levou o calção de volta para entregar a dona Olindina. Sem mágoas. Quando Francisca chegou a casa de Dino topou-se com o pai do garoto. Esse estava a conversar com uma pessoa, talvez visita. Porem não perdeu a oportunidade de dar uma olhadela para a extasiante moça e que a tudo respondeu apenas com um:
--- Boa noite. – disse Francisca. E entrou de casa adentro.
O nome do pai de Dino era Nestor. E ela não deu muita ou nenhuma importância ao homem. O que provavelmente quisesse era ver o garoto novamente. Naquela altura das horas, o garoto já havia deitado. Após a chegada de Francisca, o garoto ouviu a sua voz e meteu o pé da cama onde dormia e se largou para o interior da sua casa onde estavam Francisca e sua mãe, Olindina. Na verdade, a casa de Dino, era modesta, bem diferente daquela em que a moça trabalhava como doméstica. Porém, tal fato não surpreendeu a Francisca, pois a moça vinha do interior onde as casas eram também modesta, bem mais modesta que aquele onde Dino morava. Na sua casa do interior, por exemplo, o chão era de barro batido e as paredes somente caiadas.
De momento, Dino chegou aos pés de Francisca e se pôs a ouvir a conversa entre as duas mulheres que se resumia a entrega do calção. Depois de algum tempo, Francisca voltou a conversa falando do divertimento da manhã onde o garoto tinha tomado banho de mar em uma parte onde não havia quase ninguém a não ser outros garotos e meninas acompanhados dos seus pais. Foi, na verdade, uma festa íntima, por assim dizer. O garoto temia que ela falasse no que houvera antes e, por isso, ficou pregado a sua saia para lembrar a Francisca de não falar nada daquilo que ele gostara de fazer com a moça. Em certa ocasião, enquanto as duas mulheres tagarelavam a valer, Dino se sentiu agraciado quando a mão de Francisca tocou a sua cabeça como se ela fizesse um afago meigo e gentil. Em seu corpo correu toda uma energia cujo sentido o garoto não sabia dizer o que estava a sentir. Apenas, de imediato, encolheu as pernas para resguardar o seu órgão genital de mais uma delinqüente ameaça.
Caso passado. Francisca lembrara que era hora do garoto dormir, pois na verdade a jovem estava com bastante sono, já aquela recente hora da noite e precisava dormir, pois acordara bem cedo do dia aquela manhã.
--- Fique mai um tempo. A conversa está tão boa. – falou Olindina com leve sorriso.
--- Não. Eu vou dormir, pois amanhã acordo muito cedo. Os “velhos” têm que tomar café e eu me levanto às cinco da manhã para ajeitar tudo na mesa. - respondeu de forma vexada a moça.
Enfim, as duas mulheres se despediram e Francisca seguiu para a sua casa. O garoto Dino ainda a acompanhou até a entrada do portão de ferro da casa de luxo para receber um beijo de afago de sua “namorada” que de qualquer modo ainda preveniu a Dino.
--- Cuidado. Não diga nada a sua mãe e a ninguém. – falou a moça de forma baixa.
No dia seguinte, à tarde, o garoto já estava na casa de Francisca. Eram três horas e o homem do pão já estava no portão da casa nobre fazendo a entrega de pães, bolachas e bolos que o padeiro trazia no lombo de um burro cuja cabeça era sempre baixa. Dino olhou o burro e caiu na risada.
--- O burro está com vergonha. – proferiu o garoto.
Nesse dado momento, Dino ouviu um chamado de sua mãe, com muita pressa. Ele disse a Francisca que atenderia o chamado de Olindina e depois estaria de volta. A moça compreende e respondeu;
--- Vá logo. Eu espero. O seu pão fica guardado. – respondeu a jovem.
De um pé e no outro, Dino foi atender o chamado de sua mãe. Ao chegar lá, ouviu a mulher que ele aguardasse o homem do pão. E o garoto respondeu:
--- Ele está aqui. Chamo? – inquiriu o garoto.
--- Chame. Hoje eu vou querer o pão que ele traz. – respondeu em contrapartida a mulher de forma simples e sem graça.
Com pouco tempo, o homem do pão estava a frente da casa pobre de Dino. Ali abriu as caçambas e o menino ficou a sentir o cheiro do pão. Uma mulher que morava vizinho a Dino também veio comprar enquanto a sua mocinha lhe pedia:
--- Vó compre bolo. – disse a garota com olhos grandes.
--- Vou lá comprar bolo. Vou comprar pão. – respondeu a mulher meio atrevida.
--- Ô vó. Pra nós! – replicou a mocinha com a cara de choro.
--- Tá bom. Que bolo quer? – perguntou a velha senhora meio a contragosto.
--- Esse! – respondeu a mocinha de forma com os seus olhos cintilando.
Nesse ponto, Dino nada dizia. Sua mãe comprou pães e brotes doce e levou para dentro de casa. O homem despachou a freguesa vizinha, ensacou as caçambas feitas de caixotes de madeira e seguiu em frente, dizendo:
--- Bu-rro. – falou o homem do pão tangendo o burro para frente.
A mocinha da vizinha já ia entrando em sua também mais pobre casa quando se voltou para Dino e perguntou ao garoto.
--- Quer? – perguntou a mocinha com o ar de quem queria mais alguma coisa.
--- Não! – disse o menino meio desconfiado.
--- Venha buscar, venha! – chamou a garota de forma terna.
--- Não quero. – respondeu Dino meio encabulado.
--- Eu te mostro uma coisa. – disse a mocinha.
--- O que mostra? – perguntou de forma curiosa o garoto.
--- Uma coisa. Vem! – chamou a mocinha.
--- Vou ai? – indagou Dino um tanto metediço.
--- Sim. Vem logo. Vó está lá dentro. – disse a mocinha.
E o menino foi de qualquer jeito. A moçinha ficou na porta do quarto e pediu para ele entrar. Dino obedeceu. Ela chamou Dino até a beira da pobre cama e o garoto com certo medo também cedeu.
--- Deite aqui. – conduziu a mocinha.
--- Que vai fazer? – perguntou Dino.
--- Deite. Você vai gostar. Deite. – falou a mocinha.
Com o elevado arrepio o garoto se deitou na cama de um velho quarto de dormir. A mocinha levantou a roupa, colocou o bolo no camiseiro, e deitou com o garoto. Os dois fizeram sexo como se nada houvesse ao redor. O garoto de sexo rígido abriu por mais compasso as coxas da garota e ambos tiveram êxtase por longo período de exultação e alegria naquela tarde de verão.