terça-feira, 13 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 85

- A VOLTA -
- CONTO -
Tão logo Dino deixou a casa de Dalva voltou para a sua pulando depressa a janela que estava posta ao beco. Então, ele procurou ouvir se a sua mãe já havia acordado do sono do meio da tarde. Foi até o quarto em que Olindina dormia, e procurou ouvir através da porta. Então, pelo modo de respirar da mulher, ele concluiu que a sua mãe ainda estava a dormir. Dino então passou reto para a sala de visita quando ouviu alguém bater à porta. Era Francisca. Ela estava ali para perguntar se a mulher queria comprar pão da tarde:
--- Menino! Sua mãe vai querer comprar pão? O burro está ali! – falou Francisca de modo calmo.
--- Vou saber dela. Péra. – disse o garoto surpreso com a presença de Francisca àquela hora da tarde.
O garoto voltou ao quarto e perguntou através da porta a sua mãe se ela queria pão da tarde. Olindina disse que não queria. Ele voltou para dizer a Francisca o recado.
--- Mãe não quer. Ela disse. – falou Dino meio cabisbaixo.
Então Francisca agradeceu e falou para Dino que o dele estava guardado em sua casa. O garoto agradeceu e respondeu que depois ia comer o pão com doce ou queijo. Francisca sorriu para Dino e saiu depressa.
Mas o garoto estava tenso. Em lugar de sair para a casa de Francisca, ele voltou ao seu quintal onde alcançou Dalva então estendendo o cobertor em uma corda estirada no quintal de sua casa, de fora a fora. Ele, então constrangido com o feito, perguntou a Dalva.
--- O sangue saiu? – perguntou Dino.
A moça, embrulhada no seu afazer quase leva um susto.
--- Que susto, doido. Saiu. Não está vendo? – respondeu a mocinha com voz malcriada.
--- Desculpe. Estava só perguntando. – falou o garoto encabulado.
Em dado momento uma manga rosa do pé que nascera no quintal de Dalva, caiu do lado do de Dino causando um impacto com um som abafado. O menino se assustou. E logo pegou a manga. Ele cheirou a fruta e disse a Dalva.
--- Caiu do meu lado. Então eu levo para dentro. – falou Dino, alegre.
A moça sorriu e respondeu:
--- Leve. Aqui tem mais duas que caíram nesse instante. Tome. Leve essa. – falou Dalva sorridente e cheia de doçura.
O garoto recebeu as mangas e disse para Dalva.
--- Hoje eu já comi uma manga no almoço. A gente só tinha feijão e farinha. E também manga. – contou Dino.
--- Eu também chupei manga, hoje. E vocês não comeram carne? – perguntou Dalva assombrada com o que ouvira Dino dizer.
--- Não. De noite tem pirão de leite e só. Nem sei se tem café. – respondeu o garoto de uma forma triste.
--- Ave. Só isso? – falou espantada a mocinha.
--- Só. – respondeu Dino mais triste ainda.
--- Espera ai. Vou lá dentro e já volto. – respondeu a mocinha correndo para dentro de casa. Dino pegou as mangas e também saiu para a sua casa.
Com um tempo passado, dona Cora, avó de Dalva, chegou até a janela que dava para a sua casa e chamou por Olindina, mãe de Dino.
--- Mulher! Mas que é isso! Tome carne pra amanhã e depois. Meu Deus do céu. Tem piedade. Ave Maria. Santa Mãe de Deus. Como é que pode acontecer uma coisa dessas. Deus me acuda. – falou a velha senhora dos seus 75 ou 80 anos de idade.
Olindina chegara naquele momento. Ela estava a cochilar no primeiro quarto da casa. Ficou surpresa com tamanha ladainha da velha senhora. Olindina nem sabia o que estava se passando quando a velhinha entregou uma manta de carne para ela e os outros que moravam ali também. Quase assustada a mulher pegou o que a velha estava lhe estendendo como se nem pudesse pegar. Após uns minutos passados, a mulher agradeceu quase chorando e disse que aquilo era coisa de Dino. E foi mais além. Contar a verdade do que estava acontecendo dentro de sua casa. O marido, funcionário do Estado, não recebia pagamento fazia três meses. Quando era fim de mês ele comprava coisas na Cooperativa dos Funcionários. Porém naquela hora ele já nem podia comprar muito. E carne, a Cooperativa não estava vendendo. Não raro, tinha carne de charque. Porém nos últimos dias, nem isso tinha. Dessa vez Olindina chorou, coisa rara de fazer.
O garoto ouviu tudo escondido por trás de um pilar da casa. Dali saiu correndo, desembestado, desaparecendo porta a fora, ingressando no quintal, para chorar também, lá longe, no fundo de tudo, em cima de um forno que o seu pai fizera para ver se podia ali fazer pão. Chorou desregradamente. Em um só tempo apareceu Dalva para lhe acariciar com ternura e afeto. Do interior de sua casa sua mãe não vira Dino sair. Mesmo que tivesse vontade de castigar o menino, não mais era possível. O que o garoto fez foi contar uma história. Coisa de forma simples. No galpão onde estava armado o forno, tinha ao lado um quartinho onde Olindina guardava carvão. Isso foi num tempo mais para dentro quando o seu marido, Nestor, tinha seu pagamento em dia. Quando mudava o governo, também mudava a forma de pagamento. E com esse governador a coisa ia de mal a pior. Com isso, Dino não sabia dizer. E nem Dalva entenderia. Seu pai – de Dalva – era empregado no Mercado Publico. Por lá ele arranjava a carne verde e outros gêneros alimentícios que os donos dos açougues e locais de venda de produtos de comer lhe davam em troca de favores recebidos. Era uma forma de agradar seu Raimundo, pai de Dalva.
A tarde já passara e com pouco mais era noite. Os dois namoradinhos estavam ali, enroscado um no outro. Dino com a sua tristeza. Dalva com a sua ternura. Ela ficava só em retribuir os afagos recebidos durante a tarde por parte do seu namoradinho. E aproveitava para entoar uma canção dolente para assim cuidar do garoto cheio gana por tudo o que sucedera durante aquela tarde sombria. Para ele, a volta para se lamentar mais ainda estava bem distante. Coisas que o tempo não apagaria dele como era de se lembrar com o passar das horas, minutos e, talvez, séculos. Nesse momento alguém chamou pelo nome de Dalva.
--- Quem te chama? – perguntou Dino.
--- Minha avó. Papai chegou do mercado. – disse a mocinha um pouco assombrada.

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