segunda-feira, 19 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 91

- AVENTURA -
- CONTO -
No sábado a tarde, Dino estava pronto para viajar com Francisca e Deodora. Sua mãe, Olindina fazia severas recomendações para todo cuidado possível. Ele apenas sorria por ter que sair de casa e passar um ou dois dias no sítio do velho pai de Francisca, negócio que nunca antes havia tido tal oportunidade. A vontade de urinar lhe dava com o vexame que o garoto sentia de ir. Por vezes ele foi ao banheiro e nada fez ficando a sensação de urinar mais sentindo que antes. O garoto cada vez que passava pela sala de jantar olhava as horas. Duas três ou quatro horas. Ele cogitava em se despedir de Dalva, mas desmanchava a idéia. Na certa a mocinha teria sermões por causa da ação de Francisca dois dias antes onde a moça buliu com o garoto. Dino olhava pela janela do beco e escutava. Assim mesmo, uma vez ele ouviu um bater de panelas e era apenas a velha avó de Dalva arrumando os troços, com certeza. De imediato Dino saiu da janela. Dalva deveria estar deitada na cama, talvez dormindo, talvez não. Apenas escutando as recomendações severas de Olindina que a todo instante passava.
--- Não vá pra longe. Não bula com os bichos. Tenha cuidado. Tem abelhas por lá. Não se esqueça de urinar. Beba muita água. Não coma nada que não preste. – eram as recomendações de sua mãe.
Dino ouvia tudo e sempre calava. O seu pai estava naquela hora fazendo contas para saber que milhar jogaria. Nestor tinha esse costume. Jogar no bicho da sorte. Não raro estava de costas para a porta de entrada apontando os seus cálculos na lousa. O homem tinha o costume de mascar fumo. E de minutos em minutos ele dava uma cusparada que não media distancia. E sempre pregava na parede aquela gosma de cor de fumo. Não adiantava a sua mulher reclamar, pois certamente ele nem ouvia. A parede do quarto em que ele dormia era toda marcada com cusparada de fumo. Certa vez, Dino escondeu o cachimbo que o homem fumava e deu um escândalo. O homem procurou o cachimbo e não encontrou. Nestor virou uma fera:
--- Vá já buscar meu cachimbo, seu peste! – dizia o homem bastante aborrecido.
E o garoto foi apanhar o cachimbo no meio dos livros que o homem guardava em uma estante para o sossego do leão aterrorizador.
Quando era pouco mais das quatro horas, Francisca chegou à companhia da estimada amiga Deodora trazendo uma mala de roupas – com certeza eram roupas que ela levaria para dar de presentes ao pai, sobrinhos e pessoas queridas que morassem no sitio ou perto de lá. Francisca nem bateu palmas, pois a mãe de Dino já estava na porta da casa esperando a visita que ela faria com certeza.
--- Pronto. Chegamos. A mala pesa que nem só. Upa! – e Francisca encostou a sua mala de roupas como também fez o mesmo a amiga Deodora.
--- Boa tarde dona Olindina. – falou Deodora sorrindo.
--- Boa tarde. – respondeu a mulher sorrindo também, mas de pouco entusiasmo, pois seu filho era a preciosidade que Olindina entregava a Francisca para sair.
Nesse mesmo instante um carro parou em frente a casa de Olindina. Era o automóvel de aluguel que Francisca contratara para levar até o terminal de ônibus do interior. Então as moças e o motorista arrumaram tudo na mala do carro com todo o cuidado possível para não serem sacudidos de um lado para outro. Enfim, depois dos abraços apertados tradicionais, Francisca e Deodora se despediram de Olindina e de Nestor que estava somente de cuecas escrevendo na lousa. O homem tinha uma coceira nos testículos e nem deu conta da saída do garoto. Após o carro pegar a estrada foi que Nestor perguntou.
--- E já saíram? Nem me avisaram! – falou Nestor vestido de cuecas.
Quando o carro saiu, Dalva estava olhando quase encoberta pela entrada da porta. Olhava triste e cismada com o que poderia suceder com Dino, seu noivo de brincadeira que a mocinha já estava mesmo apaixonada pelo garoto. Depois que o carro sumiu na estrada, Dalva entrou para o quarto onde chorou bastante.
--- Aquele merda! Bosta!Por que eu sinto isso? – reclamava a mocinha entre as fronhas
Francisca se ajeitou na cadeira do ônibus de modo a deixar espaço folgado para o garoto e Deodora que também viajava para o interior. Quando o ônibus saiu o sono apertou os olhos de Dino e ele ali mesmo dormiu no colo da sua primeira namorada. Depois de muitas paradas pelo meio do caminho, o carro chegou ao seu destino. O garoto Dino ainda dormia quando Francisca o acordou com todo o dengo possível. Com muito sono, Dino enfim despertou. O pessoal que estava dentro do ônibus começava a descer. Francisca e Deodora também se preparavam para desembarcar ajeitando suas malas cheias de embrulhos. O garoto esfregava os olhos e só desceu quando todos saíram de dentro do carro. Ele na frente e as duas moças atrás. Após desembarcarem, as moças ajeitaram suas malas em cada uma de suas cabeças e seguiram em frente. Eram sete horas da noite quando Francisca e Deodora chegaram ao sito do velho pai de Francisca. Na cerca de pau, Francisca disse:
--- Enfim arrastamos as malas! – e soltou uma bela e larga gargalhada acompanhada por Deodora que também fazia o mesmo.
Dino seguia na frente das duas moças. Ao abrir o portão da cancela para entrar em direção à casa, um cachorro sarnento começou a latir como se desse um aviso a todos de casa. O garoto parou de remexer na cancela. Francisca falou braba para o cachorro
--- Cala boca peste! Tais me desconhecendo? – falou a moça com voz altiva.
O cachorro veio receber Francisca abanando o rabo. Vez por outra o cão se mordia todo. Eram as pulgas ou carrapatos que estavam a incomodar no seu couro. A moça entrou acompanha do garoto Dino e seguida pela amiga Deodora. Seu pai, Nazareno, chegou quase que imediato para acudir a filha na troçada que ela trazia na cabeça.
--- Hum. Pesado! – falou Nazareno pegando a mala de roupas.
--- Deixa pai que eu levo. – respondeu a moça no mesmo instante.
--- Não. Deixe que eu levo. – falou Nazareno levando a mala.
A jovem Deodora que vinha com Francisca se costumava com o seu mal feito pacote e não disse coisa alguma. Apenas caminhou seguindo Francisca. Logo, a mãe de Francisca apareceu na porta. Então Francisca pediu a bênção enquanto a mulher se preocupou com o garoto Dino
--- Quem é esse menino? – perguntou dona Maria, mãe de Francisca.
Em seguida, Francisca apresentou Dino e disse que ele pedisse a bênção a dona Maria, pois era com certeza a idade de sua avó, caso ele tivesse.
--- Dino, essa é minha mãe, Maria. E esse é meu pai, Nazareno. Pronto. Tome a bênção a eles que faz de conta que são seus avos. – falou Francisca bem humorada.
O menino obedeceu e pediu a bênção de ambos os avós, muito embora não fossem nada de parente para ele.
Deodora arriou o saco que trazia e se sentou em uma cadeira de balanço que estava postava na frente da casa em baixo de um alpendre. A casa tinha calçada alta, coisa de trinta centímetros.
--- Vem pra dentro mulher. Tu pensa que vai ficar na boa vida? – perguntou Francisca.
Deodora sorriu e se levantou dizendo:
--- Quero um pouco d’água. Estou morrendo de sede. – sorriu Deodora com o modo de Francisca em lhe repreender.
--- Vem tomar. Quer que eu leve na tua boca? – perguntou Francisca a gargalhar.
Mesmo assim, as duas amigas ficaram a sorrir por mais longo tempo. Dona Maria foi que trouxe a água para Deodora. Então, Francisca perguntou a Dino se ele queria água como Deodora pediu.
--- Quero não. Tô de bucho cheio. – respondeu o garoto.

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