quinta-feira, 15 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 87

- NOSSO AMOR -
- CONTO -
Na tarde de quinta-feira, Dino estava estudando as lições passadas pela manhã por sua professora. De momento, quando terminou de estudar, procurou ouvir se a sua mãe estava a dormir o sono de todas as tardes. Ele veio até a porta fechada do quarto e passou a escutar. Ouviu o ressonar da mulher e entendeu que ela estava a dormir. De imediato, Dino ficou a pensar: se fosse para Francisca, a sua “noiva” poderia procurar por ele e não encontrar. Quando acabar vinha aquela toda ladainha e ele não tinha paciência para dizer o que a mocinha teria que perguntar. Então, ele resolveu ir para a casa de Dalva, a “noiva”. Era o mais certo. Antes, porem, foi até o banheiro cumprir suas necessidades. Logo depois, voltou e pulou a janela para entrar na casa de Dalva por seu quintal. Ao chegar à porta de trás da casa, não viu Dalva e muito menos Dona Cora, a avó de Dalva. Então, ele entrou, tomando o cuidado para não tropeçar em nenhum móvel ali existente. Os moveis eram quatro cadeiras acanhadas e uma mesa velha de quatro pernas. Ele seguiu em frente à procura do quarto de Dalva. Nesse momento ouviu alguém tossir. Estremeceu. Porém. Logo se pos firme. Era Dona Cora, a velha que estava na sala da frente a esperar pelo homem do pão. Então, Dino se conformou. Na porta do quarto de Dalva ele viu que estava entreaberta. Empurrou devagar e notou a presença da mocinha deitada na cama de solteiro existente ali mesmo. Ela parecia dormir. Tinhas os olhos fechados. Dino se aproximou pé após pé para ficar ao lado da cama da mocinha. Quanto estava perto mesmo ouviu a mocinha gritar de medo.
--- Que susto, cadáver! Ave Maria! Chega estou tremendo! – proferiu Dalva diante da silhueta do garoto
--- Desculpe. Não quis acordá-la. Foi sem querer. – respondeu o garoto.
--- Nem vem que não tem! – declarou a mocinha.
--- Não tem o que? – inquiriu o garoto.
--- Aquilo. Você sabe o que é. – disse Dalva um tanto magoada com o susto levado.
--- Não tava nem pensando nisso. – comentou o garoto.
--- O que é que você quer? – perguntou Dalva aborrecida.
--- Só vim olhar você. Pronto. Mas se não quer, eu vou embora. – contestou Dino com a cara amuada.
--- Não. Não. Sente aqui. – respondeu a mocinha já um tanto sossegada.
--- Pra que eu vou sentar ai? – perguntou Dino um tanto desconfiado.
--- Sente seu bosta. Ou vá embora! – voltou Dalva com a mesma ira.
--- Pronto. Sentei. E o que você tem? – perguntou Dino ao vê-la toda retorcida na cama.
--- Nada não. Tô doente! – respondeu Dalva toda encolhida.
--- Gripe? – perguntou Dino assombrado.
---Não! Você pergunta cada merda! – respondeu a mocinha cheia de ira.
--- Mas doente de que? – voltou a perguntar Dino de forma insistente.
--- De merda! Ora bosta! – respondeu a jovem quase pegando o garoto.
--- Pois diga. Esta com dor de barriga! – respondeu o garoto.
--- Não é isso não, seu burro! Ora que merda! Dê uma massagem aqui, vamos. – pediu a moça um tanto alarmada com as dores que sentia.
--- Prá que eu vou dar massagem na sua barriga. Vá pro banheiro! – respondeu Dino meio sem graça.
A mocinha Dalva então chorou. Ele, Dino, de nada sabia. E ela, Dalva, tinha medo de sair da cama. Estava toda molhada de sangue e não queria que ninguém visse o seu estado, pois se assim alguém notasse buscaria trazer compressas mornas para por na sua barriga. Para a moça, aquilo era o fim do mundo. Nada mais horrível do que uma menstruação. E ela sentia dores horrorosas no seu ventre. Isso aconteceu logo que chegou da escola. Dalva já estava sentindo dores esparsas no Grupo. Quando chegou da aula, então viu que o negócio aumentara. Ela então verificou sua calcinha e notou que estava molhada de sangue. Daquele momento em diante, Dalva não mais comeu coisa alguma. Ela ficou apenas deitada em sua cama. Até mesmo quando sua avó a chamou para fazer refeição, ela respondeu que não queria, pois estava doente. A velha ainda perguntou se eram as regras e ela nada respondeu. Na verdade era as tão chamadas e aborrecidas regras.
De outras vezes essas tais “regras” derrubaram a moça por completo. Dores atrozes que ela sentia em seu útero. Dalva passou três dias sem se levantar da cama, a não ser para ir toar banho de ervas que a velha Cora preparava. Dalva tomava o banho em uma bacia e por um tempo ficava sentada na bacia deixando esfriar a água. E depois se embrulhava e caía na cama. Certa vez o seu pai reclamou:
--- Levanta! Deixa de mau agouro. Isso é lá doença! – respondia seu Raimundo,
--- Não é no senhor! – respondia seu Raimundo malcriado.
Ele ficou embrutecido desde que perdera a sua mulher, Clara, quando a criança nasceu em casa mesmo. Era uma menina corpulenta, talvez dos seus cinco quilos. A mulher já vinha sofrendo com esse parto há uma semana. Quando teve a criança, logo após a mulher morreu. Foi um desespero para seu Raimundo. Sua irmã, Noêmia protegeu a criança. A mulher, Noêmia, já era mãe de cinco filhos. Deu de mamar a Dalva até os seus cinco meses. Depois desse tempo, Noêmia suspendeu a amamentação. Sempre que ia a escola ou mesmo quando não tinha nada para fazer em casa, Dalva sempre estava na casa da sua tia que morava no meio do quarteirão entre a casa de Raimundo e a venda de seu Aprígio, um homem que tinha uma bodega na região.
Depois da morte de Clara, o homem tornou-se calado. Não bebia, não fumava, não tinha vicio algum, a não ser de jogar no bicho da sorte em um ponto na cidade perto do Mercado. Vez por outra ele ganhava alguns mil reis. Para casa, ele trazia de tudo que conseguia por doação e mesmo de compra que ele conseguia tão somente no Mercado. Naquele dia Dalva estava doente e seu pai, quando chegasse, havia de passar carão. Dalva sentia que o velho Raimundo tinha certa cisma com qualquer rapaz que se aproximasse da filha, pois não queria vê-la a namorar a qualquer um.
--- Esses sujeitos são uns bostas. Filha minha não casa! – era o que sempre dizia em conversa na própria casa seu Raimundo.
Apesar de Raimundo não saber o que havia com Dalva, sempre a garota tinha os seus namoricos às escondidas com um e outro. Dessa vez, era com Dino, o mais próximo de sua casa. Dino era inocente por todos os meios e medos. Só veio a despertar depois de Francisca que fez do garoto o seu amante provisório. E dentro de um episódio, caiu Dalva que naquele momento estaria sendo a sua noiva de fato e de direito.
O garoto fez a vontade de Dalva e por fim fez fricção na barriga da mocinha para ver se as dores atrozes passavam. A mocinha, agradada por tanto carinho do garoto, findou por beijá-lo diante de tanta emoção que o garoto sentira. Por fim, Dino emborcou sua cabeça em cima do ventre a mocinha e ali ficou quieto por logos tempos. Dalva então lhe acariciou a cabeça delicada tornando o garoto como se fosse o seu próprio filho.
--- Tá melhor? – perguntou Dino com voz suave.
--- Um pouco. – respondeu Dalva com voz em prantos.

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