quarta-feira, 7 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 78

- OUTRORA -
- CONTO -
--- Atende!! Atende!!.Bosta!.Atende!. – e o celular parou de chamar enviando para a caixa postal.
Adélia não queria deixar recados. Por isso, desligou o seu também. Onde estaria ele àquela hora da manhã que não atendia o celular, ela não sabia. Na noite anterior eles brigaram por um negócio fútil. Brigas de namorados, apenas. E Euclides saiu sem mais conversa, amargurado de dor. Adélia bem sabia que o romance estava por um fio. Euclides era do tipo esquivo e não fora a primeira vez que ambos brigaram. Naquela hora da manhã, ele desejava fazer reconciliação e deixar de lado o que acontecera na noite passada. Mesmo assim, não sabia se Euclides estaria na mesma condição de conversar. Outrora, houvera a mesma contestação entre Adélia e Euclides quando o rapaz saiu do apartamento da namorada com ares de quem não voltaria jamais. Porém, ele voltou. E era assim toda vez que os dois brigavam.
Dessa vez, o rapaz estava um tanto inquieto e irritado que não pensava mais em voltar. Não haveria algum motivo para a reconciliação entre ambos. Algumas palavras ele deixara de dizer. Euclides sabia que era doloroso em dizer o que pensava. Embora necessitasse ver mais uma vez Adélia, ele não suportaria viver para adiante com brigas e desesperança. O seu amor foi sempre sincero mesmo assim, por mais que relutasse, preferia não voltar. Lembrava–se dos momentos felizes que viveram no Campus da Universidade onde era freqüente ouvir dos amigos.
--- Esse casal vai longe! – diziam os amigos.
Era uma alegria demais ouvir comentários iguais a esse. Quando a noite era de lua, passara na quietude do céu a ouvir o marejo do oceano, ele e ela sentados na areia da praia acalentando-se por todo um momento de amor. No vagar das horas, o tempo se esvaia como ninguém poderia dizer. Eles não se importavam com o tempo, pois esse não seria um amanha e nem fora um depois. Mesmo assim, naquela hora do presente não havia amor de idílio e divino prazer. A sinceridade que ele plantara se curvou no ocaso da vida. Aquele amor de ontem, não mais repercutia no presente. O fitar de um momento de prazer se acabara, portanto e enfim, o romance nada poderia ser. Mesmo sendo um agora esse afeto, pois não haveria solução para o seu caso.
Adélia não tinha levado estas conjecturas ao pensamento. Ela queria apenas dizer que para ambos o amor não tinha fim. A separação era um caso sem juízo. Sempre no seu coração ela levaria aquele apego, pois sempre haveria o juramento que ambos fizeram de dedicação eterna. Adélia acima de tudo era sentimental. Uma pura jovem que sentia na ternura o seu sossego. Ao contrario de Euclides, homem de tão somente racional. Lembrava-se Adélia de momentos felizes que eles passaram em uma praia distante onde tudo era placidez sob o sol quente da manhã primaveril. Lembrava-se também das urtigas que queimaram suas pernas ao voltar por um caminho tortuoso em direção à vila de pescadores do lugar.
--- Passe álcool! Passe álcool! – dizia uma velha senhora que morava em um mocambo de palha fincado na areia.
E Adélia apenas chorara de dor por conta das urtigas brabas. Ao pleno choro da moça, Euclides passara tudo o que lhe indicavam, vendo o roxo se espalhando por amplos lugares das pernas da sua namorada. Coisas de viajantes por locais estranhos. No seu caminho de ida não teve ninguém que lhe orientasse com respeito das urtigas brabas. Adélia não esquecera aquele momento inglorioso. Quando pegaram eles o automóvel de Euclides, sem medo de chorar, a moça veio por todo o caminhar com o seu pranto cruel a lhe aplacar a face.
Dois ou três dias se passaram com a vermelhidão para se desfazer. Na Faculdade, os amigos de classe a todo instante perguntavam por Adélia. E, de momento, Euclides apenas dizia que ela se acidentara no caminho, porém tudo estava bem. Quando Adélia retornou as aulas, ninguém podia ver o inchaço das suas penas. De veste comprida modelo jeans, ela amarrara com gases o local do inchaço para que as manchas não se esfregassem de muito nas pernas da calça. Por muitos dias, as pernas da jovem ainda eram uma vermelhidão. Com o tempo, passou. Com mais alegria estampada em sua face, Adélia comentava o fato com as amigas de classe dizendo que tudo estava normal, pois a moça, de urtiga, não tinha medo. Conversa para boi dormir.
De outra ocasião, ela viveu momentos de extrema doçura. Foi à vez que os dois namorados combinaram em ir ao Teatro assistir a um concerto de musicas onde o predominante era a antiguidade do repertório. Doce momento de encanto aqueles em que ambos viveram ouvindo valsas e canções num verdadeiro deslumbramento. As vozes que se interpunham eram das mais sublimes ao executar verdadeiros hinos de amor plangente. No seu lugar, em um camarote, Adélia se emudeceu sublime quando um nostálgico cantor interpretou uma antiga canção que a fez lembrar-se dos discos de vinil que seu pai guardava em sua casa de campo. Em instantes de temor, Adélia se pôs de veras a chorar. Naquela ocasião, o seu namorado guardou a sua face em seu ombro terno dentro a imensa serenidade que o ambiente imprimia.
Velhos momentos de amor foram aqueles em que os dois namorados vislumbravam o futuro com a melhor desventura. Em um tempo, Euclides perguntou a Adélia:
--- Vamos casar? – indagou Euclides.
--- Quando? – inquiriu Adélia.
--- Agora. – disse Euclides a sorrir
--- Já? – perguntou Adélia.
--- E por que não? – respondeu Euclides.
--- Doido. – sorriu Adélia.
--- Você não quer? – inquiriu o rapaz.
--- Tá muito cedo para casar. – respondeu à jovem se aquietando no colo do rapaz.
Isso foi no passado. Naquele instante, a história era bem diferente. Euclides, já diplomado igual à Adélia, vislumbrava o futuro. Ela, por seu modo, carecia de afeto e implorar um pouco de dedicação. Brigas eram coisas passageiras. Porém, Euclides não respondera ao seu chamado.



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