domingo, 4 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 75

- NORA -
- CONTO -
Quando a luz do sol penetrou quarto adentro Nora foi acordada pela mucama que, naquele momento fazia a limpeza dos cômodos que havia postos ali diante da vista de quem entrasse. Preguiçosa como ninguém, a dama apenas queria mais um momento de sono. E foi assim que passou a reclamar com seu rosto na fronha se encolhendo cada vez mais na cama de casal:
--- Tire essa luz de minha cara. - - soluços de choro que ela fazia.
--- Ora! Já faz tarde do dia, moça! – respondia a mucama com sua voz grave.
--- Mas tire! Feche a janela. – voltou a reclamar baixinho de forma chorosa a dama.
--- Levanta. Que é o melhor que faz. – disse a mucama a dama da noite em sua forma azeda e cheia de ranço.
E Nora voltou a chorar mais ainda por não ver os seus clamores atendidos. A mucama varrendo o chão com uma vassoura de pelo e enxugando as partes molhadas com a sua balde de água, fazia aquilo com toda pressa, se agachando para poder alcançar em baixo da cama ou arrumar as toaletes onde a dama deixava os seus favoritos perfumes a guardar.
Com o tempo passado, Nora saiu preguiçosa, fazendo jeito de que chorava e se encaminhou para até o lavabo social onde se pode ver por um espelho a cara triste de quem passara a noite acordada. Um lustre de cristal dos anos trinta era o que restava naquele canto da suíte de Nora. Mas ao canto, um bidê e um sanitário. Havia também um quadrado lavador onde a moça podia se lavar as partes do rosto e escovar os dentes como era comum de se fazer. De qualquer forma, Nora não precisava de tal expediente. Foi ao bidê e depois ao chuveiro, onde cantava musica melancólica sob a ducha totalmente aberta onde podia se molhar perfeitamente bem melhor e tirar o ranço da noite anterior.
---A carteira!! – lembrou a ninfa nesse instante onde desaguava sobre si a ducha forte.
De imediato, completamente nua, correu para o toalete e procurou a carteira de cédulas que o homem havia deixado em seu quarto. Abriu a gaveta e encontrou uma carteira de couro de jacaré, abarrotada de dinheiro. Ela abriu a carteira e procurou contar às notas que ali estavam. Tinham notas em espécie estrangeira da qual Nora não tinha nem idéia de quanto valia. Sabia apenas que era de um valor enorme.
O frio lhe correu por todo o corpo e ela apenas disse:
--- Nossa! É muita grana! – e engavetou a carteira procurando trancar bem fechada e depois voltar à suíte onde deixara a ducha aberta a chover constante.
A dama pensou na mucama procurando ver se a mulher ainda estava em seu quarto. Abriu a porta do banheiro e notou que a mulher já havia saído.
--- Nossa! Quanto dinheiro!!! – falou a dama de forma baixinha.
E em seguida, após poucos minutos, Nora teve a idéia de ir embora daquela pocilga, pois com o dinheiro que o homem esquecera, era tudo que ela queria ter para fazer a vida de mulher que não fosse dama-da-noite.
De imediato se arrumou, tremendo de medo, rezando para todos os santos e vestiu uma roupa já surrada, abrindo a gaveta, retirando por mais uma vez a carteira de couro e saindo devagar, pelo corredor, até alcançar a janela de vidro e dali pular para a liberdade.
Apenas vestindo a roupa surrada, pegou Nora o bonde da linha e saiu às pressas para algum lugar da cidade. A sua cabeça girava a todo instante para onde ir. Ela pensava em mil coisas e nada dizia o certo. O homem da carteira devia ser um magnata que esteve naquele bordel que era o melhor da cidade, assim ouvia dizer por suas colegas de ofício. Num instante de lucidez, Nora se lembrou dos ônibus:
--- É ali mesmo. Vou partir depressa. – argumentou Nora tentando advinha o que fazer.
No primeiro ônibus que encontrou, a dama seguiu viagem. Ali, Nora estava segura. Viu o campo florido na viagem e se lembrou de sua cidade natal. Com cuidado, procurou apalpar a bolsa no seu colo para ver se não tinha caído.
--- Tudo em paz. – disse a dama.
Nas suas carnes vinha o tremor de alguém lhe perguntar algo. Disso, Nora se preveniu. Talvez fosse apenas impressão que tanto lhe assustava. O carro corria e o dia estava chegando ao seu final. Nora, então resolveu ficar em uma parada onde o carro estacionou. Ali, ela procurou saber se tinha carro para a sua cidade. O rapaz apenas disse que o próximo sairia às sete horas da manha do dia seguinte.
--- E qual o próximo carro a sair? – perguntou Nora de forma inquieta.
--- Tem para outros locais. – respondeu o rapaz.
--- Meu pai esta morrendo. Eu tenho que chegar ao sitio. – falou Nora.
--- Tem um que passa perto do lugar. Reservo? – perguntou o rapaz.
--- Reserve logo. Eu dou um jeito em pegar outro. – falou Nora.
Com isso, Nora embarcou no carro que sairia dali e assim, de roupa surrada, continuou sua viagem para Serra do Mato, onde a dama teria paz e sossego ao chegar. E assim, pela manhã do dia seguinte, Nora chegara ao seu sito ou ao sitio do seu velho pai. Qual não foi sua surpresa, o seu pai havia morrido na noite anterior. Ela caiu em prantos. Nora foi socorrida por um dos seus irmãos que lhe perguntou então.
--- Como você soube? – perguntou seu irmão.
Ela não podia dizer a verdade então disse algo como se alguém lhe disse que o velho estava passando mal.
--- Eu soube de uma amiga. – respondeu Nora.
--- Maria, minha filha! Você chegou? – perguntou aos prantos a sua mãe.



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