sexta-feira, 16 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 88


- LEMBRANÇAS -
- CONTO -
Naquele momento Dino ouviu sua mãe lhe chamando. Ele pediu desculpas a Dalva e saiu correndo em direção a sua casa. Para evitar suspeitas, ele não pulou a janela. Circundou a casa e foi entrar pela porta lateral que dava para a sala de jantar. Entrou às presas e atendeu ao chamado de Olindina que já estava na porta de entrada da casa sem saber ao certo o local em que se metera o garoto. De pronto o garoto respondeu ao chamado de sua mãe já pouco aflita.
--- Pronto mãe. Estou aqui. – e sorriu como se estivesse feliz para a sua mãe.
--- Que susto. Onde você estava? – repreendeu a mãe com ar de preocupada.
--- Estava ali. – respondeu o garoto sorrindo.
--- Ali aonde seu moleque? – indagou a mãe.
Ele pensou rápido e logo respondeu.
--- Nas bananeiras vendo se a galinha choca já tirou pintinhos. – respondeu Dino a sorrir.
A mulher fez cara feita e o repreendeu.
--- Nunca mais você me saia de casa. Ouviu? – falou com altivez Olindina.
--- Mas eu estava nas bananeiras. – disse o garoto já sem sorrir.
--- Run. – fez a mulher com a cara fechada.
--- Vai querer pão? O homem está perto de chegar. – disse o garoto.
--- Não sei. Hoje vou fazer cuscuz, e pronto. Vá raspar o côco, cabrito. – disse-lhe a mãe já nem tão zangada.
O garoto saiu para a cozinha e arrumou o raspador. Em seguida pegou um côco já sem a casca e partiu ao meio. Ali mesmo sentou no tamborete e botou o raspador em baixo de seu corpo. Puxou uma tigela de ágata e começou a ralar como fazia a sua mãe. Ela chegou de mansinho e disse ao garoto:
--- Não é para comer o côco. Esta ouvindo? – falou a mãe com voz firme.
--- Sim. Não vou comer. – respondeu Dino sem olhar para a cara de sua mãe.
Dito isso, a mulher saiu em busca do milho para fazer cuscuz. Pegou um alguidar e despejou o milho tendo lavado em seguida por varias vezes. O tempo passou até que o garoto raspou todo o côco. Em seguida levou até a sua mãe que o recebeu. Em seguida Olindina disse ao garoto com altivez:
--- Traga o carvão que tem lá no quarto. – falou Olindina sem meias palavras.
O garoto obedeceu e correu para o quarto do carvão onde deveria apanhar uma lata cheia. Naquele momento o garoto se assombrou. É que tinha um ovo andando por cima do carvão encostado na parede do quartinho. Aquele quarto já fora antigamente um gabinete sanitário. Depois que seu pai comprou a casa, fez o gabinete dentro de casa. O antigo, ele desmanchou, retirando o aparelho sanitário e aterrando o buraco que fora aberto. E do quarto, bem pequeno por sinal, passou a guardar o carvão que um seu primo sempre trazia para vender na cidade. O de Nestor, o primo não cobrava nada. A mulher de Nestor dava em troca um café bastante reforçado ao primo do marido. Mas a questão do ovo não ficou assim. Alarmado, o garoto atirou a lada ao lado e saiu gritando.
--- Mãe! Mãe! Tem um ovo lá dentro! – gritou o garoto com o coração saindo pela boca de tão assustado que estava.
--- Que ovo, menino? Traga o carvão! – disse a mulher com a cara feia.
--- Tem sim. Não vou pegar carvão. Tem um ovo rolando por cima do carvão! Tem sim! – falou quase chorando o garoto alarmado com o fato.
--- Ora já se viu um ovo! Deixa eu ir lá pra ver que ovo é esse. E se não tiver você apanha, ta ouvindo? – respondeu Olindina com um gesto malcriado.
--- Tem sim! Tem um ovo, mãe! – alarmou o garoto com cara de preocupado.
A mulher, então, entra no quartinho e logo viu o imenso ovo. Era uma aranha com um ovo nas costas que estava para parir a qualquer instante. Então, foi aí que a mulher tomou medo. Olindina saiu correndo do quarto e procurando em todo o lugar da casa qualquer toco de madeira para acabar com a vida da aranha gigante e desmanchar o seu ovo. A mulher tremia de medo do bicho aranha. Como só estava ela em casa seria a vez de acabar com o monstro. Após breve instante a mulher apanhou uma acha de pau e correu para o quarto onde estava a monstruosa aranha. Com todo o ímpeto que Deus lhe deu, a mulher meteu a acha nas costas da enorme aranha e com uma só cacetada esbagaçou a fera. Meio cética Olindina ainda teve o cuidado de trazer a aranha esbagaçada para fora do quartinho e ver se de verdade ela estava morta.
--- Bicho feio danado! – cuspia para um lado e para outro com o pavor da aranha.
--- Não disse mãe! Ela tava com o ovo nas costas! – respondeu o garoto.
Nesse instante uma voz falou. Era dona Cora que estava chegando no seu quintal e vendo toda a excitação a mulher não tardou em perguntar com sua voz lamuriosa.
--- Que foi que houve comadre? – indagou a velha senhora com voz tremula.
A mulher se assustou ainda mais e logo respondeu.
--- Uma aranha do tamanho de um bicho. Coisa enorme. – falou Olindina cuspindo o que não havia mais.
--- Aranha? É um bicho feio. Mas não ofende a ninguém. Aqui eu sempre acabo com as que aparecem. – falou dona Cora, avó de Dalva.
--- Deus me livre que apareça outra! – falou a mãe de Dino.
--- E quem viu a pobrezinha? – perguntou dona Cora sem ter medo de nada.
--- Foi Dino. Eu mandei buscar carvão e ele voltou assombrado. – respondeu Olindina.
--- Coitado! – ponderou a velha já voltando para dentro de casa.
Daquele momento em diante, Dino sempre que ia buscar carvão, tinha o cuidado de ver se ali não havia outro ovo andando por cima das pedras. Na noite daquele dia, Olindina fez cuscuz para todos os de casa que eram o seu filho Dino e o marido, Nestor sem contar com ela mesma. Por cortesia, Olindina mandou seu filho entregar a Dona Cora um prato com cuscuz que o próprio garoto disse:
--- Epa! Gigante! – falou Dino sorridente da vida.
E era mesmo bem grande o cuscuz. Dino o levou em um prato de louça coberto por uma renda de filó de cor branca, bem feita por sinal. Ao chegar à casa da velha Cora, ele topou com Raimundo, seu filho, homem carrancudo e sempre sério. O garoto perguntou por dona Cora e o homem respondeu:
--- Tá lá dentro. Que você quer? – perguntou Raimundo sem sorriso.
--- Minha mãe mandou entregar a ela. – respondeu Dino sem pestanejar.
--- Me dê que levo! – respondeu o homem
O menino sem coragem e sem fé entregou o prato a seu Raimundo. Mesmo assim, ele viu dona Cora bem perto da sala e por isso não fez outra coisa a não ser dizer.
--- Obrigado. É pra dona Cora. – replicou o garoto.
--- Sei disso. – respondeu o homem cheirando o cuscuz que estava coberto com renda de filó. O menino então ouviu o homem que se afastava dizendo.
--- Um! Cheiroso! - - e partiu para dentro de casa.
Depois da janta, Dino ouviu alguém puxar o ferrolho da porta da frente e entrar. Depois dos chiados dos chinelos, ele viu chegar à figura de Francisca. De imediato a empregada da casa vizinha, sua igualmente namorada, disse algo assim:
--- Que cheiro. Cuscuz? – perguntou Francisca.

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