sábado, 31 de maio de 2008

RIBEIRA - V


Quando o garoto foi ao seu trabalho, logo no início quando começava a fazer o serviço mandado por seu tio, ele viu, no centro da capital, na rua Ulisses Caldas, um homem carrancudo, ligeiramente baixo, cara grossa, batendo em uma máquina de dactilografia com extrema rapidez. Ele olhou o homem que trabalhava em um Cartório, e ficou a pensar que um dia aprenderia a bater maquina tão bem quanto aquele homem ou melhor, talvez. Certamente que ele aprenderia a bater maquina. Certamente.

Um dia, já fazia um mês que o garoto trabalhava no escritório do seu tio, ele fornecendo toda semana uma feira quase completa que o garoto levava para a sua casa, o homem chamou o menino e disse:

- Menino! Vou pagar a você 150 cruzeiros...quer dizer...meio salário-mínimo..que o direito para pagar a um garoto de sua idade. Certo? - falou Zeca.

O garoto ficou por demais animado com a noticia, pois já resolvera que daquela conta ele daria todo a sua mãe para os gastos da casa. Por certo, a sua mãe se alegraria com a noticia com o garoto então ficou. E foi com sensibilidade que ele naquele dia, voltou para casa no carro do seu tio, como já fazia desde o inicio em que começou a trabalhar naquele escritório. Aquele, sem duvidas, era um presente dado por Deus, pensou o garoto, quase um rapaz. Seus catorze anos lhe davam a condição de um homem. Quase um homem. A vida se encheu de felicidade, em seu pleno vigor. De certo, o garoto que o seu tio o chamava de "menino", se sentia revigorado e quando recebeu seu salário chorou de alegria. Ao chegarem casa, teve a boa noticia a dar para a felicidade de sua mãe.
- Zeca é um "santo" - disse a mulher, enxugando gotas de lágrimas que lhe vinha à face.
- E tem a feira, também, que ele mandou. - falou o garoto.
- Deixe aqui. Segunda-feira eu vou comprar uma camisa e uma calça para Joãozinho fazer. - falou a mulher.
O garoto teve somente que pedir à sua mãe, trinta cruzeiros para ele pagar a matrícula da escola de datilografia, pois decedira a fazer seus estudos na Escola de Datilografia que ficava na av, Rio Branco, escola da professora Helena, o que foi consentido por sua mãe ao dizer que aquele dinheiro era todo dele. Mesmo assim, o garoto disse "não", pois queria com ele ajudar a cobrir a despesa da própria casa. Era um sonho que o garoto nutria em fazer algo de proveitoso para manter a sua mãe, o seu irmão e mesmo o seu pai.
O certo é que na segunda-feira, o menino foi fazer sua matrícula na Escola da Professora Helena, uma moça de baixa estatura, cor branca, cabelos louros que fazia de sua casa, da sala de visitas e de sala de jantar um local para por as suas máquinas de datilografia com as quais ensinava a toda uma turma de alunos, de manhã, de tarde e de noite, até 9 horas da noite. Era assim que a professora vivia. Seu curso era de sete meses, quando o aluno já estava completo para fazer a sua prova. Na mesa tinha uma máquina - e eram várias mesas por todas as salas -, papel, e um livro de aulas que o aluno seguia atento. Uma aula durava uma hora. No começo, o estudante digitava as letras do meio do teclado - a s d f g - e quando já estava pronto, com uma semana ou mais, passava para a outra mão, digitanto - h j k l ç -. Após algum tempo o aluno digitava as letras de baixo do teclado - z x c v - e em seguida - b n m. - Isso era um tempo e tanto até que o estudante tivesse condições para digitar todo o alfabeto da máquina sem olhar o teclado. Quando eram sete meses, o aluno passava pela lição final. Porém, o garoto não seguiu esse mesmo risco. Ele passou catorze meses de aprendizado, pois o jovem não tinha máquina de escrever. Na verdade, no Escritorio havia uma máquina. Mesmo assim, o garoto não se atrevia dizer que estava a fazer um curso de datilografia. Para esse dizer, levaria um certo tempo. Só então, quando o garoto ja estava com seus 15 anos, ele então diria ao tio que aprender a escrever à maquina.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

RIBEIRA - IV



O garoto, agora, se sentia um homem. Afinal, todos lhe dariam importância pois não era sem tempo que ele largaria o tempo de verdadeiro boa-vida e passaria a ter uma obrigação na sua existência ainda tenra. Ele não sabia, ainda, trabalhar. Porém, com certeza, aprenderia. Sua mãe por bem lhe recomendava que não desobedecesse às ordens dadas pelo seu tio. E, certamente, ele, o garoto, não desobedeceria. Ele conheceria prédios como o do INPS, antiga Escola Doméstica de Natal, a praça Augusto Severo, o Teatro Alberto Maranhão, a Recebedoria de Rendas, enfim, o famoso Tabuleiro da Baiana que ficava ao largo do Coreto da pracinha ocupado pelos os notívagos da cidade. Esse era o seu caminho até o prédio d'A ORDEM, um jornal de orientação católica que igual aos outros matutinos da cidade era igualmente diário, localizado na rua Dr. Barata.

Para chegar até o local do escritório de José Leandro, se tinha que cruzar todo esse emaranhado de edifícios, como o da Radional, um prédio simples, mas de grande importância, pois era capaz de ligar Natal com qualquer capital do pais via rádio. A pessoa podia "falar" com alguém na outra parte do Brasil. As torres da Radional ficavam em um terreno totalmente desocupado, perto de onde fica o 7º BEC. Por seus transmissores a pessoa falava com quem quisesse ou precisasse. Aquilo era uma grande novidade para uma Cidade pequena como era Natal. Cidade de cerca de 30 mil habitantes. Esses prédios passaram a ser conhecidos pelo garoto.

A pracinha Augusto Severo, que tinha em um dos seus largos a estátua do homem que cruzou o céu de Paris em seu balão PAX, era quase esquecida. Um dia do ano a pracinha era lembrada pela Banda de Musica da Força Aérea, quando as autoridades locais, do Governador ao Prefeito, do Comandante da FAB aos familiares do patrono do PAX vinham depositar uma coroa de flores aos pés da estátua de Augusto Severo em memória ao seu grandioso feito, em céus de Paris, longe de sua terra natal. Após essa solenidade, tudo voltava ao esquecimento. O lodo tomava conta dos dois lados da praça. Lodo, fruto das chuvas caídas na Cidade e que enchiam o bairro da Ribeira de água fétida e borbulhenta quando mexida.

Logo cedo do dia o garoto já estava sentado no batente do portão de ferro do prédio que dava acesso ao primeiro andar do Edifício de A Ordem. Ele chegava às 7 horas da manhã e o seu tio só aparecia às 8,30, pois era seu costume tomar café pequeno na companhia de seus amigos, jogando conversa fora. O comércio abria às 7,30 e o garoto estava a observar todo aquele movimento de gente indo e voltando como se todos fossem umas formigas que entravam e saíam do seu formigueiro. Eram várias lojas existentes naquela rua, centro neuvragico da Capital. Ali encontrava-se de tudo para comprar. Sapatarias, lojas de discos, rádios, ferragens, tecidos, medicamentos, até mesmo objetos maiores e menores, para bem dizer. Uma casa de dinheiro, isso tinha: a Caixa Rural, onde as pessoas faziam empréstimos a preços bem mais baixos que os oferecidos pelos Bancos onde os juros eram elevados. O Diretor dessa Caixa era o dr. Ulisses de Góis, igualmente dono do jornal A ORDEM e dos prédios onde funcionavam a Caixa e o Jornal. Eram dois prédios, cada um de um andar acima do térreo. Na verdade, esses prédios não eram de dr Ulisses. Havia outros sócios. Mesmo assim, quem se sobressaia no meio de tudo era o dr. Ulisses de Góis. Ele era um homem calmo e profundamente religioso. Tanto é que mantinha uma Escola do Comércio que funcionava na Cidade Alta, no prédio vendido tempos depois a Dinarte de Medeiros Mariz, que construiu uma estação de rádio no local.

A Ribeira dos anos 50 era assim: cheia de vida. Vida diurna e vida noturna quando movimentava os seus bares e cabarés. Nesses locais, eram frequentadores a fina flor da sociedade natalense. Nas ruas como a Chile e a Frei Miguelinho, tinham seus cabarés. E esses locais que davam vida à noite natalense. Além dessas ruas, tinham a rua 15 de Novembro, a Ferreira Chaves e a Almino Afonso onde outrora habitavam familias de um certo luxo. Com o passar do tempo as familias se mudaram para outra parte da Cidade e as suas belas casas, algumas de dois andares, viveram os dias de gloria das prostitutas. Isso tudo era o começo que o garoto estava a descobrir.

RIBEIRA - III



No inicio de Janeiro de 1952, um dia de sexta-feira, por volta das 10 horas, Néra estava no Escritório do seu irmão, José Leandro, costumeiramente chamado por Zeca, para buscar a sua ajuda conforme ele havia prometido. Na ocasião, ela disse ao irmão que seria melhor conseguir um trabalho para o seu filho, pois ele acabara os estudos e já estava grande para não fazer nada. Zeca concordou com a sua irmão, ao ser perguntado se ele não conseguiria um trabalho qualquer para o jovem. Zeca disse a Néra que faria um bilhete para um homem que era gerente da firma M.Martins, pois sabia que o homem teria meios de conseguir algo para o garoto. Com isso, a mulher se deu por feliz pois Zeca era um homem de boas amizades no meio da Ribeira.

Tão logo ele escreveu o bilhete, entregou a Néra. Ela agradeceu por tudo, pela ajuda também, e seguiu direto para a firma dita por seu irmão. M.Martins ficava na esquina da Rua Frei Miguelinho com a rua Tavares de Lira. Em lá chegando procurou o gerente, seu Gusmão, um homem atarracado, cheio de maneiras cujo birô era pregado no chão, pois o homem tinha uns sustos que se sacudia todo. Era uma espécie de choque. Então, seu Gusmão atendeu a mulher e disse que ela voltasse na semana seguinte.

- Quando? - perguntou Néra.

- Quarta-feira. É isso! Na quarta! - respondeu o homem.

E a mulher agradeceu, saindo satisfeita e feliz com a resposta do homem cujo nome ela quase nem lembrava. Néra voltou ao escritório para contar o êxito do bilhete e Zéca ficou também feliz com o entusiasmo da irmã. Para bem dizer, Zeca era um homem de baixa estatura, gordo, muito gordo cuja pança se sobressaia. Usava uns óculos de grau, a camisa por dentro da calça, calçava uma espécie de sandálias e vestia uma calça de brim, escuro. Falava alto, quando queria, e tão baixo quando estava a segredar algo, de uma forma que a pessoa nem mesmo ouvia. Esse era o homem que naquele instante era o irmão de Néra. Por vezes, nos dias da crise da fome, ele visitou a irmã por duas ou tres vezes. Nessa ocasião perguntou também pelos os demais irmãos para saber se alguém esteve lá, como ele estava. Néra respondeu que Segundo esteve lá, em sua casa, Miguel, também e Justa, Alice, Nenem. Então, Zeca se deu por satisfeito.

Quando Néra foi no escritório do irmão, ele voltou a fazer as mesmas perguntas. E ela respondia que Nôza esteve em sua casa por várias vezes, quase todo dia. Segundo, era outro que também se fazia presente, disse Néra. Havia um desentendimento entre Zéca e Segundo, de modo que os dois não se falavam. É tanto que Néra a citar o nome desse irmão, fazia de uma forma tímida. Dizia, apenas:

- Segundo...... - voz de Néra

Para não molestar o seu irmão, Zeca. Esse ouvia e nada respondia.
Na quarta-feira da semana seguinte, Néra voltou ao escritório da firma M.Martins. Era de manhã de um dia claro e de muito movimento naquele bairro, o mais ativo da cidade. Havia gente fervilhando para um lado e para o outro. Gente com pacotes, outros fazendo compras em lojas por ali existentes, carros passando, trens fazendo o seu costumeiro roncar, bondes a tilintar como se tivesse a espantar toda aquela gente. O bairros era o único de maior movimento da cidade, pois o outro, o bairro do Alecrim ainda demorava a despontar como um verdadeiro algoz. Entretanto, no Alecrim se sentia a presença de lojas, farmácias, armazéns, bares, cinemas e uma quantidade imensa de recantos quem um dia faria frente ao bairro da Ribeira.
Quando o homem chegou a seu escritório, Néra se apresentou um tanto tímida. Gusmão não teve boas respostas. Pediu-lhe desculpas mas ainda não tinha nada a oferecer. Ao dizer tal coisa, Gusmão fazia uma cara feia, puxando o birô para cima dele, coisa que não acontecia. porque o móvel era pregado no solo. O homem dava chutes desordenados, como que tivesse arengando com o seu birô. Nada feito. Tudo em vão. Néra saiu dali e parou do escritório de Zeca para dar o seu desengano.
- Zeca, eu acho que aquele homem não vai conseguir nada. - falou Néra.
Com esse balde de água fria, o irmão pediu que o garoto voltasse no dia seguinte, pois ele colocaria alí, para aprender a trabalhar. Esse foi um santo remedio. Então, a mulher se sentiu arranjada, pois a palavra de Zeca era um tiro certeiro. E assim, o garoto começou a aprender a trabalhar, buscando café numa lanchonete próxima, varrendo e espanando o escritório e, em alguns dias, indo buscar as cartas que deviam estar na caixa-postal, com certeza. Para tal fim, o garoto precisaria de ajuda de Antônio Patrício, o Rapa-Coco. Esse era um homem que costumava beber e, de manhã já estava de ressaca da cachaça do dia anterior. Mesmo assim, ele era um serviçal e com Rapa-Coco o garoto aprendeu a dar os seus primeiros passos na vida.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

RIBEIRA - II



O garoto não esquecera de quando, a vez primeira, sua mãe foi com ele e o seu irmão menor à casa da tia Anunciada. Isso foi quando a história veio a tona. No domingo, Néra matou o galo, o unico que existia no quintal, para que ela, o marido e os dois filhos fizessem a refeição do almoço. À noite, o pessoal comeu "cabeça de macaco", uma espécie de pão, pequeno e duro, bem menor que um pão crioulo. E eles comeram aquele pão pequeno com xícaras de café. O garoto, vestindo a sua velha camisa de meia, ouviu seu dizer.

- "Amanhã eu vou a Cooperativa comprar uma roupa para você" - voz do seu pai, João.

Aquilo, em nada importou ao garoto. Ele se lembrava, apenas, do seu diploma que não quiz pegar quando seu Nozinho foi entregar, pela manhã. E, no dia seguinte, uma segunda-feira, foi quando sua mãe botou o filhor menor nos braços e arrumou de qualquer as vestes do seu garoto, rumando, então, para a casa de Anunciada, sua irmã. Ao chegar naquela casa, feita de taipa e tijolo, no centro da Cidade, o garoto viu na sala várias peças de motos, desmontadas, arrumadas de qualquer jeito no canto da parede. Ele se lembrou de Guilherme, marido de sua prima, Neusa. No meio de tudo aquilo estavam os filhos de Neusa - Dita e Wilson - procurando dar um conserto nas peças. O garoto ficou em pé, olhando tudo aquilo e, na ocasião foi cumprimentado por seu primo mais novo - Dita - com um "como vai!" ou qualquer coisa desse preço. Ele respondeu e ouviu o sinal de uma buzina de moto que Wilson acionara de um jeito ou de outro. Passou-se um leve tempo até que ele ouviu sua mãe lhe chamar. Então, o garoto se depediu de Dita e seguiu para dentro da casa.

Ao chegar na sala de jantar, o garoto tomou a benção à sua tia que respondeu com uma voz carinhosa, do jeito que ela falava. A sua prima, Neusa, estava na sala, ouvindo a conversa de sua mãe e olhou para o garoto, penalizada pelos trapos que ele vestia. Os olhos de Neusa se encheram de lágrimas. Nesse ponto, não dava para saber o por que de tal choro. Se por a história triste de sua mãe ou por ver aqueles trapos ainda vestindo o garoto. De imediato, Anunciada falou com a sua voz arrastada.:

- Mas, Néra! Por que você não disse isso? Cadê Zeca? Ele deve saber! A meu Deus! Vou dizer a ele! - disse Anunciada.

Néra, então, respondeu, chorando a tudo aquilo.

- Tive vergonha! - voz de Néra

- Que vergonha o que! É pra dizer! Quando a gente precisa, fala! - comentou a mulher.

Em um passo, surgiu na porta de trás da cozinha a figura de Jubal, um dos filhos de Anunciada. Ele estava no quintal. Veio porque ouviu a voz de sua irmã a lhe chamar. Como se soubesse o que Anunciada teria que mandar, Neusa então chamou logo o seu irmão. O rapaz entrou na sala e tomou a benção a sua tia, Néra. Em seguida, ele cumprimentou o garoto, seu primo. Nesse instante, Anunciada foi logo dizendo, com sua voz arrastada.

- Néra, você não vai sair daqui de mãos abanando. Vou mandar fazer uma compras da venda de Medeiros...Não se importe em pagar. ...Eu dou um jeito. ....Justa precisa saber disso. Alice, também. - disse a mulher um tanto aperriada.

De imediato ela chamou Neusa e Jubal, mandando que eles fossem fazer umas compras na bodega de Medeiros, um seu parente, casado com Nenêm, filha de Justa. Juntou as roupinhas que estava a cozer em frente à mesa de jantar, se levantando em seguida. Nesse instante, ela se deu por nota e chamou Neusa.

- Neusa, cadê as roupas de Jubal? - perguntou Anunciada.

- Tão aqui, minha mãe! - respondeu Neusa.

- Deixa eu vê - comentou Anunciada.

Então, a mulher começou a ajuntar aquelas roupas, esperimentando umas de outras, tirando a medida, colocando umaq calça sobre as pernas e verificando as camisas. Enquanto isso, ela mandava Neusa ir à bodega de Medeiros fazer as compras que se faziam nescessarias e por tudo aquilo na caderneta que a mulher mantinha com Medeiros. Tão logo chegou a caravana na bodega, com minha mãe no meio de todos, fazendo tudo aquilo em segredo, a mulher de Medeiros apareceu, pediu a benção a sua tia, Néra, e disse também que alguma coisa não se ia cobrar, pois seria dada de graça por conta de Nenêm.

Foi uma festa total até a saída de todos, daquela bodega. Para se trazer a mercadoria, Neusa conseguiu a ajuda de um homem que morava perto de Medeiros, trazendo a sua camionete para ajuntar as coisas essenciais. Na carroceria da camionete tomaram assento os dois filhos de Neusa, mais o seu irmão, Jubal e na boleia seguiram juntas a sobrinha Neusa, a tia Néra e o próprio motorista. Foi uma tarde inteira que o pessoal levou para ajuntar tudo aquilo na carroceria da caminhonete depois que foi despachada a mercadoria no balcão da venda de Medeiros,

No dia seguinte, Zeca foi informado do que sucedera. E, aí, o negócio tomou um novo rumo, com a contribuição dada pelo homem e o seu pedido para que no final do mês de dezembro ou inicio de janeiros, Néra estivesse lá no seu escritório, quando então ele dava a sua contribuição para o sustento da família. Foi assim que tudo começou. Nos dias seguintes veram donatidos de outras irmãs, como por exemplo de Alice, Justa, Nenem - uma irmã de que se chamava Iraci - para suavizar um pouco mais a grave situação da familia de Néra. Vários outros irmãos, inclusive Segundo, Cicì (Cicero), Euzébio tambem ajudaram enviando dinheiro e alimentos.


quarta-feira, 28 de maio de 2008

RIBEIRA - I



Era o ano de 1951 e, nesse tempo, Alderico estava a concluir o quinto ano do Ensino Fundamental, no Grupo Escolar "Alberto Torres". O tempo corria e o garoto era atento a todas as lições que a professora passava, muito embora ele soubesse de tudo aquilo, pois no ano anterior, ao fazer a terceira série no Colégio Salesiano, já dera tudo e, ao passar para o quinto ano, dispensado o quarto ano ele, daquilo que se passava já bem sabia com exactidão. Por isso, o garoto não teve cuidados em aprender o que já sabia.

Ao começar o ano lectivo, para o menino o que mais valia era o lanche que toda manhã era servido na escola: pão com manteiga, um copo de café com leite e, não raro, umas bolachas macias que dava gosto de se comer. Era tudo o que se passava no Grupo Escolar. As turmas eram divididas em manhã e tarde. A turma da manhã se considerava mais rica por ser a primeira a frequentar a escola. Um outro caso que a turma mantinha era a discórdia entre ela e a do outro Grupo "Aurea Barros", que ficava na mesma rua, sendo um tanto mais distante. Quando havia encontro entre as turmas dos dois Grupos, na certa havia desafios.

Em sua casa, o garoto enfrentava o desafio da vida com o seu pai fazendo um reles vencimento e tudo que se podia fazer era comprar na Cooperativa dos Funcionários e se constituir no velho "fiado". Para o menino, nada disso importava, pois era uma função assumida por seu pai. Quando estava perto do final do ano, começou-se a ensaiar um jogral que os garotos apresentariam numa festa organizada pelas professoras. O garoto também estava no meio da turma a apresentar algo que falava sobre a vida dos pescadores de Natal ou de praias próximas. Todos os dias havia ensáio do jogral quando se aproximava o final do ano. Todos os garotos que foram selecionados para os alegres festejos, não cabiam em sí de tanto entusiasmo.

Enfim, o dia chegou. Era um sábado pela manhã. Mas, em meio a tudo isso, algo aconteceu ao garoto. Ele, ao se baixar para apanhar algo do estudo sentiu rasgar atrás a camisa fazendo uma abertura da gola até o abanhado. Aquilo representava o fim da festa para o audaz menino. Em seguida, ele foi para a sua casa e sua mãe viu o que tinha ocorrido e dito que tentaria costurar o rasgo. No entanto, aquilo foi em vão. O rasgo desmachou a camisa e duas bandas. Ele sabia que daquela vez não assistiria a festada de final de ano e o seu diploma de conclusão de curso não lhe seria entregue.

No domingo, pela manhã, o homem que cuidava da guarda do Grupo foi até a casa do garoto levando o seu diploma de conclusão de curso que encontrara rolando no chão, a um canto de parede. O homem apanhou o diploma e viu o nome que estava impresso. Com essa certeza, ele foi entregar o diploma perdido ao seu verdadeiro dono. Ao entregar o documento ao pai do garoto, o homem disse apenas que o encontrou rolando no chão do Grupo. O pai do menino agradeceu e entregou ao garoto, que estava por perto, vestindo um calção e uma outra camisa de meia, puída por todo que era canto. O garoto não quis receber o seu primeiro diploma de conclusão de curso.
Desse dia em diante, a noticia correu por toda a cidade, com o sentido de que o garoto de Néra estava sem roupa e lá nao havia o que comer. Daí, então, toda a familia se juntou para ajudar a irmã necessitava e conseguir o que vestir o garoto e o mais novo. Quando José Leandro soube do fato, ficou alarmado e disse a sua irmã, Néra:
- "Por que você não me procurou. mulher?" - falou Zeca.
- " Tive vergonha". - respondeu a mulher com sua voz baixa.
- "Que vergonha, que nada. Vergonha é roubar." - respondeu o homem.
- " É. Eu sei". - respondeu Néra, chorando.
Então, assim, tudo começou. Por recomendação de Zeca, ela estave em seu escritorio, na rua Dr. Barata para receber um auxilio que findou sendo dado por alguns meses, e uma feira que foi dada por todos os seus irmãos. Nesse instante em diante, Néra não cabia em satisfação e aquele natal foi o mais nobre de sua vida. Teve de tudo o que se pensava, até mesmo o famoso queijo-do-reino, um dos mais ricos presentes que a mulher ganhou.

terça-feira, 27 de maio de 2008

OS FILHOS DE MIGUEL


Onde Miguel nasceu, não se sabe. Apenas sabe-se que ele foi adoptado por uma família moradora no município de de Macaíba, perto de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte. Miguel Santino Leandro tinha seus sete anos quando começou a tirar leite de vaca para vender aos que passavam em frente da casa onde ele morava, numa fazenda nas cercarias próximo ao local conhecido como "Ferreiro Torto", uma fazenda que ficava no alto de um morro, nos confins de Macaíba. Ali, ele começou a trabalhar, inda menino, para a alegria do dono da terra. Assim, ele seguiu a vida até que um dia, quando Miguel estava com pouco mais idade, ele saiu para Natal onde foi trabalhar em uma marcenaria da cidade.

O certo é que Miguel cresceu aprendendo a fazer de tudo que uma marcenaria faz e de modo particular, aprendeu a fazer caixão de defunto. Foi aí que ele aprendeu a ganhar dinheiro. Naquele tempo - como é ainda hoje - fazer urna mortuária é um negócio e tanto. Então, dessa forma, Miguel entrou no ramo de negócio e estudando, à noite, para se aprimorar. Dono de uma caligrafia ímpar, não foi por acaso que Miguel subiu na vida. Logo depois, ele conseguiu um emprego no Primeiro Cartório de Natal. De noite, estudava. De dia, fazia caixão de defunto e trabalhava no Cartório do Primeiro Oficio de Notas. Para morar, ele conseguiu um espaço nos fundos da casa do Cartório.

Aos domingos, Miguel costumava ir à Igreja e assim, ele cumpriu a sua obrigação de católico assistido pelo vigário da cidade, padre João Maria (Cavalcante de Brito), tido como um "santo" homem pelos devotos da cidade. O tempo foi passado até que, um dia, Miguel conheceu a jovem Estefânia, filha adoptada por uma família de parcos recursos. Ele, então, pediu a mão da jovem em casamento ao casal. A sorte lhe foi aberta, mesmo a família sabendo que o rapaz vivia de ganhar a vida fazendo caixão de defunto. Com um pouco tempo, Miguel se casou com Estefânia. Daí, começou a vida cheia de atropelos, para um casal ainda de idade nova. Todavia, o homem se arriscava a enfrentar a vida a qualquer preço.

Com treze anos de idade, Estefânia foi mãe. Era o primeiro filho do casal que nascia pouco antes de 1890. Nesse tempo, Miguel assumia a direcção do Primeiro Cartório, como o seu Tabelião. A família morava na, hoje, chamada rua da Conceição que, por sinal, ficava próxima ao Primeiro Cartório. Todos os dias, ele saía cedo de casa para ter no seu trabalho. Como tabelião, Miguel ganhava um bom dinheiro, tendo a ajuda da Casa Mortuária que lhe rendia um bom níquel. Por esse tempo, ele manteve a sua oficina nas ruas próximas a do seu trabalho. O Cartório ficava na rua Vigário Bartolomeu e a oficina, na rua Passo da Pátria. Com o tempo, Miguel mudou de endereço a sua oficina.

Católico fervoroso, Miguel era ainda da Irmandade dos Passos, obediente a todos os atos litúrgicos da Igreja Católica. Ele seguia à risca àquelas recomendações feitas não só pelo "santo" padre João Maria, como também pela Igreja. Costumeiramente dava seu óbulo ao sacerdote e ainda colaborava com as campanhas feitas pelo sacerdote em beneficio das famílias pobre que vinham residir na capital. Com o passar do tempo, a família crescendo, Miguel já era dono de uma boa condição financeira, tendo formado três dos seus filhos - Jairo, João e José - e fazendo de outros dois seus auxiliares do Cartório, - sendo um deles, Crispin e o outro, Miguel. - Os demais, rumaram por outros caminhos, como funcionários públicos federais, como foi o caso de Cícero, Euzébio e Felipe. Um outro, Basílio, morreu logo cedo. Paulo foi servir no Exercito da Borracha, no tempo da IIª Guerra Mundial.

Nesse tempo, a sua mulher, dona Estefânia continuava com sua sina de dar à luz aos seus filhos. Ao todo, foram 21 sendo que escaparam com vida apenas 16, dos quais, 10 foram homens e 6, mulheres. Dos que morreram inda novos teve uma Reinéria e um outro, João. É tanto que, logo a seguir, ao nascer um filho homem, Miguel voltou a colocar o nome de João, esse que se passou a chamar "Segundo", por ter sido o segundo filho que se chamava João, e Reinéria, que se chamava Néra, dengo de família. Desse modo, Miguel Leandro concebeu seus 21 filhos, sendo que escaparam 16. Pela ordem não por idade: Cícero, Crispin, Basílio, Felipe, Euzébio, Jairo, José, João, Paulo e Miguel. Esse foram os homens enquanto que s mulheres foram: Maria Anunciada, Justina, Iraci, Reinéria, Leonor e Alice. Em cada um desses irmão, sempre havia um apelido dado em família. É o caso de Minha, Nenem, Néra, Nôza, Justa. Enquanto que aos homens se chamavam de Zebinho, Zeca, e Jáu. Das mulheres, a última a nascer, foi Alice. E dos homens, foi Miguel. Conforme está gravado em seu túmulo, Miguel Leandro nasceu em 16 de janeiro de 1867 e faleceu a 21 de maio de 1935. Sua mulher, Estefânia, nasceu a 18 de março de 1874 e faleceu a 23 de janeiro de 1942. Esta, uma breve história da Família Leandro. Hoje, ainda, existem os seus herdeiros, como netos, bisnetos e tataranetos.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

JOSÉ MAGNO


O MENINO

Após sete dias internada no Hospital Miguel Couto, Néra voltou a sua humilde e bem acabada casa, trazendo consigo o novo rebento mais recolhido ao seu colo. Alí, ela tomaria conta dos novos afazeres. O carro de praça parou em frente à residência, na rua Afonso Pena, trazendo Néra, o seu esposo, João e a sua irmã, Nôza. Durante o tempo que ela esteve fora do lar, Nôza tomava conta da casa. Nas horas de visitas - e para Néra era qualquer hora - lá ía Nôza levando frutas para a sua irmã. Enquanto esteve no Hospital, Néra foi muito bem acolhida, recebendo a visita de todos os seus irmãos, parentes e amigos. Ao chegar em sua casa, muitas outras visitas de seus irmão também se fizeram. Ao chegar em sua casa, Néra foi recebida com carinho por toda a vizinhança que queria ver o novo rebento.
- "Parece com o papai!"
- " E com a mamãe também!".
- "Parece com a vovó!"
- "Não. Nao perece com ninguém!"
- "Ele, é ele só! Sua Majestade, o nenêm!!"
Diria o poeta, tempos depois, fazendo uma elegia a todas as crianças recem-nascidas. A criança é ela só. Não parece com ninguém.
E o tempo correu depressa com as constantes visitas de Nôza para ver o seu novo afiliado. Ela chamava o bebê de "José". Quando estava por perto, não parava de dizer:
- "Olha, como ele é lindo!!! Néra! Ele fez cocô!! - dizia em sua forma de sorrir.
E limpava - fazia o asseio - a criança. Quando a mãe chegava no quarto, tudo já havia sido feito.
- "Pronto, Néra! Ele, agora, está limpo!" - dizia Nôza e tomava o bebê nos braços.
- " Decá ele. Já tá dando muito trabalho!" - respondia a mãe, acalentando a criança que não parava de chorar.
- Esses foram os primeiros dias. E o segundo, terceiro e quarto também, com Noza sempre por perto para fazer afagos. Um dia, ela disse que voltaria à casa de Do Carmo, a mesma senhora que passou um tempo cuidando do seu afiliado, o menino asmático. Quando esteve na casa da sua madrinha, o garoto asmático ficou sabendo que, naqueles dias chovia muito da região de Caicó, com o Tenente Severino fazendo doações de alimentos para os necessitados. Em Caicó, chovia a potes e barris. Todos os alimentos comprados pelo Governo do Estado, foram encaminhados as famílias flageladas. Isso, pouco interessava ao garoto que levava o tempo a brincar de bola com os seus amigos, filhos de Do Carmo - , cujo nome era Iaponan - e outros tantos daquela redondeza. A madrinha do menino asmático morava na rua Mossoró, perto do centro da cidade. O interessante é que antes daquele tempo, a rua Mossoró se chamava de um nome bem peculiar: "Vai Quem Quer". Naquele tempo, era uma rua de casas de taipa, só vindo a ter novas casas pelos ídos de 1930, quando se passou a construir residências feitas com tijolos. E naquele ano, a rua passou a ser chamada de Mossoró, um rio existente no Rio Grande do Norte.
No domingo, o asmático já estava em casa vendo, de perto, no "Rei no Trono": o nenêm José.. E vieram as recomendações de sua mãe.
- Olhe o menino! Veja se ele está dormindo" Tá acordado? Veja se ele está com fome! Que horas são? Vá saber da hora na casa da esquina!!!- Era a recomendação que a sua mãe lhe dava todos os dias, como também outras de que o garoto asmático devia ir à bodega de seu Geraldo comprar pão ou mesmo um vidro de vinagre que custava 200 réis. Desse modo, a casa virou um "inferno" para o garoto que nem podia brincar com o seu "cavalo" de pau, para não fazer barulho e acordar o nenêm, ou mesmo jogar bola na sala da frente. Quando ele era surpreendo fazendo algo mal feito, o pau "comia" em sua cabeça. Nem por isso o menino asmático se assustava. Quando não estava balançado a rede do bebê, ele costumava ir sentar no batente da janela para ver quem ia ou quem vinha.
Com o passar dos meses, o nenêm já estava mais "duro", com sua mãe saindo à rua para ir na casa de suas irmãs ou mesmo de alguma outra parente, como Laura, sua cunhada, cujo morrera em 1935 e outras sobrinhas. O interessante é que, para o asmático, aquele garoto tinha algo diferente: vivia com a boca um pouco aberta, com a língua quase que de fora. O garoto não compreendia a razão de tal fato. Certa vez, Néra, que muito reclamava da precária situação da vida, achou por bem tirar uma foto de José numa Foto da cidade. Ela preparou o garoto sob o maior reclamo, dizendo que o filho mais velho tirou uma foto desse tipo vestindo calças de veludo enquanto José trajava uma roupa de seda, tipo bem inferior ao do garoto asmático. Ela não sabia que os tempos já haviam mudado bastante, com o pai das crianças ganhando bem menos que antigamente, em 1939.
Quando o homem fazia a feira da Cooperativa dos Servidores do Estado. tinha que reservar um pouco daquilo que ele levava para poder vender no Mercado Publico a um preço mais baixo e com aquele dinheiro poder comprar pão para a ceia e carne para o almoço. As aulas nocturnas que dava em casa de nada adiantava, pois o dinheiro era insignificante. Na casa, tinha um quadro-negro bem grande onde o velho professor costumava a fazer cálculos,os mais diversos. Ela com aqueles cálculos que o homem apostava em um número, não raro pregado alí no quadro: era o famoso "Jogo de Bicho". As vezes, acertava. As vezes, não, pois era a sorte que ele não tivera. Certa vez, ele chegou a mostrar um numero que estava no quadro-negro, como o certo que se podia apostar. Nesse dia, ele não fez "a fé", pois lhe faltava dinheiro. Ao procurar saber qual tinha sido o número da sorte, no dia seguinte, estava lá, impresso o real numero que ele alcançara.
O menino, José, já tinha seus três anos. Nesse dia, o seu pai, João, estava sentado da sala. O menino José brincava com um carro de madeira, que o seu pai havia feito. O carro prestava muito bem para se conduzir saco de cimento. As rodas da frente dobravam para um lado e para o outro, por força de um parafuso que amarava os cocões da frente. Os cocões traseiros eram firmes em seu lugar. Nesse dia, José brincava com o carro, sentado e empurrando a carroça com um pé, em um corredor da casa. Num dado instante, o garoto perdeu a direcção e foi de encontro a um pilar da casa, ferindo a testa e quebrando um dente. O menino caiu em um choro terrível e sua mãe correu para pagar e levá-lo de imediato ao médico.
- "Besteira, mulher! Foi só uma batida" - disse João.
Já era quase noite, e a mulher fez compressa com água com sal, lavou a testa do menino, naquele alvoroço tirano, reclamando por todos os cantos que se estava numa cidade onde não havia nem médico, nem dentista. Depois de algum tempo, a mulher sossegou e no dia seguinte foi ao médico, no Hospital Infantil. Em lá chegando, o médico examinou e viu que não havia nada de mais para ser feito,passando um emplastro para sarar o ferimento d testa de José. O dente? Esse caiu. Por muito tempo Néra falou nesse incidente. De outra vez, a mulher procurou uma moeda de 50 centavos que tinha posto num local, e não á encontrou. E quem levou a culpa foi o menino, que teria engolido a moeda. Nesse momento, a mulher se agarrou com promessas feitas ao patrono São José, para ele fizesse aparecer a maldita moeda. Uma vizinha recomendou purgante, e Néra empurrou gola a dentro um purgativo para ver se um menino expelia a moeda. Nada feito. Pensando que o menino estava com os dias contados, finalmente dona Néra encontrou, em baixo de um travesseiro os 50 centavos que tanto tempo ela perdeu. Essa moeda, ela guardou bem guardada, dentro da mala, para nunca esquecer daquele ocorrido.
E assim, começou a viver José Magno, dando sustos em sua genitora e deixando o seu pai, João Álvares, inquieto com os lamentos de sua mulher. O tempo foi passando e o garoto crescendo. Quando chegou o ano de 1958, o seu pai, João Álvares, veio a falecer. Ele, nesse dia, estava em uma residência de familiares, para onde foi levado. Somente soube do ocorrido no dia seguinte, quando o seu irmão lhe chamou para ir ver o velho pai. Nesse instante, José chorou e desmaiou ao saber da noticia da morte de João. Essa foi a história dos primeiros anos de José, sua mãe, seu pai e seu irmão asmático. Outras histórias ainda houve nesse tempo.

domingo, 25 de maio de 2008

NÉRA


Era o ano de 1905, dia 26 de junho quando, na casa de Miguel Leandro nascia a nova filha do casal - Miguel Leandro e Estefânia. Seu nome fora escolhido por seu pai: Reinéria. Era a segunda filha do casal que recebia o mesmo nome, vez que a primeira - Reinéria - morrera com pouco tempo de nascida. Os irmãos da menina tão logo viram lhe puseram o nome de Néra, o seu nickname. Assim, Néra cresceu no meio de todos os seus irmãos e vendo nascer outros que enchiam de graça a casa da Rua da Estrela - hoje, chamada rua José de Alencar, no centro de Natal, capital do Rio Grande do Norte. A menina, com o passar do tempo virou moça. Ela estudava no Colégio da Conceição e teve como principal mentor o seu irmão, Crispin, um pouco mais velho que Néra. A sua vida era da escola para casa quando não tinha que ir à Igreja de Nossa Senhora da Apresentação com seus demais irmãos.

Avida de Néra era simples por demais. Ela cuidava da "cozinha" da casa, apesar de ter ali as suas donas cozinheiras, duas, por sinal, que serviam o café da manhã, o almoço e o jantar. No meio disse, tinha um lanche servido à tarde para a criançada e alguns visitantes que por alí chegassem. Desse modo, com o passar do tempo, Néra aprendeu a cozinhar, ou direto pelas mãos de sua mãe ou mesmo, por uma irmã, que sabia fazer os preparos ideais. A irmã, Justina que todos a chamavam de Justa, era um pouco mais velha que Néra, pois nascera no dia 12 de dezembro de 1898. E foi com essa irmã, que Néra aprendeu a cozinhar, como era de costume naquela época. E assim, os anos se passaram numa cidade de uma vida tranquila. Néra costumava dizer que o seu batizado foi celebrado tão logo depois do seu nascimento, pelo Pe. João Maria - Cavalcante de Brito - que veio a falecer logo após, no dia 20 de outubro de 1905, vitimado por uma forte crise de diabetes. O padre João Maria faleceu numa casinha de taipa no local chamado Alto do Juruá, hoje conhecido por Petrópoles - ou Petrópolis -. A casa onde o sacerdote morreu, naquele tempo, tinha uma vista direta para o mar, pois foi desse modo que ele escolhera. O seu sepultamento moveu e comoveu toda a Cidade, saindo de onde ele estava para a Catedral de N.S.da Apresentação e, dalí, para o Cemitério do Alecrim, unico da cidade. As Igrejas de Natal, no dia do seu sepultamento fizeram repicar os sinos desde a manhã até depois do sepultamento.

Com o passar dos anos, certa vez, Néra viu quando entrou na oficina do seu pai - Miguel - um jovem homem de seus 35 anos, para comprar um caixão no qual seria feito o sepultamento de sua mulher. Ela estava com seus 25 anos. Sentiu um forte aperto no seu coração e logo disse a sua irmã mais jovem, Nôza - seu nome verdadeiro era Leonor -que aquele rapaz era um viúvo, pois acabara de adquirir uma urna mortuária. É bom lembrar de Miguel Leandro era tabelião do Primeiro Cartório de Ofícios de Notas de Natal e mantinha uma Casa Funerária na capital. Com esse dinheiro da Casa Funerária e a renda de lhe propiciava o Cartório, ele conseguiu manter a família, criando os seus 16 filhos, sendo 6 mulheres e 10 homens. Na verdade, o seu último filho foi Miguel Leandro Filho, nascido em 1915. Da renda do pai, formaram-se dois em medicina e um em Contabilidade, sendo os demais, dois tabeliôes, tres empregados públicos, um que serviu a Polícia e porfim, outro que morreu bem jovem. As seis mulheres, foram todas donas de casa.

O homem que Néra observou a comprar uma urna mortuária, era João Álvares de França. Naquele instante, mesmo sabendo que o homem estava coberto de luto, foi amor à primeira vista. Ela não falou nada ao jovem senhor, respeitando a sua dor pela morte da esposa. Foi, só com o tempo que Néra, servíndo-se de sua irmã Nôza, conseguiu manter o primeiro contato com o jovem professor. O tempo já havia passado e, numa carta, João disse a jovem moça que era um viúvo tomado de angustia e certamente ela não havia de querer ouvir os seus lamentos. Mesmo assim, Néra não desistiu e, através de Nôza marcou um encontro com o jovem viúvo na Igreja de Santo Antônio, proximo a Catedral da Apresentação. E assim, começou o namoro entre os dois jovens com encontros sempre havidos na Igreja de Santo Antônio, no primeiro andar que dá para o Coro onde se ouvia entoar os hinos litúrgicos na hora da Missa. Esse namoro demorou um certo período, até que João entendeu de pedir a mão da moça em casamento ao seu pequeno e soberbo pai.

Era o ano de 1933 quando os dois nubentes contrairam matrimônio. Enfim, era uma nova vida que começava a ter a senhora Reinéria Leandro Alvares. Os dois foram morar na rua Camboim - hoje, rua Prof. Fontes Galvão - bem próximo a residencia do pais da recem-casada, dona Néra, na Rua da Estrela. Quando não tinha nada o que fazer em sua casa, dona Néra dava um pulo na casa de sua mãe para saber das novidades. E assim, Néra e João seguiram a sua vida, com ele, também, a visitar a casa de seus pais, Luis de França e Ana Alvares, do outro lado da rua Camboim. Como a rua era estreita, como se dizia, era só um pulo para alcançar a casa no meio do sítio. Por vezes, Néra teve que se ausentar da capital, seguindo o marido em suas viagens por terras de Baixa Verde, Goianinha, São José do Mipibú e Pedro Velho onde o professor cumpria sua faina de Inspetor de Ensino. Por vezes, ouvia-se Néra reclamar das cobras que se enfiavam pelas paredes na casa onde ela ficou hospedada, na cidade de Baixa Verde, ou de um barulho que ouviu no corredor, em uma casa, em Goianinha: aquele barulho findou quando um cavalo apareceu no corredor e cumprimentou aos dois, Néra e João, dando meia-volta e partindo em retirada. Desse tempo em diante, Néra sempre deixava a porta da rua feixada a chave. Assim, a mulher ficava protegida contra a invasão de um cavalo qualquer.

Em 1935, foi um tempo difícil para Néra. Por uns dias, ela teve que ir, diariamente, a casa de seu pai, Miguel Leandro, cuidar do homem, fazendo chá, dando poção, e limpando a cama, não sabe quantas vezes por dia. O velho estava doente de uma forte disenteria causada, conforme disse a mulher, por umas uvas que chupara. Dessa enfermidade, o homem morreu no dia 21 de maio de 1935. Néra disse, certa vez, que não verteu uma lágrima com a morte de seu pai. Não, por maldade, mas por seu temperamento mesmo de não chorar como é costume se fazer quando um parente morre. No entanto, ela não escondeu as suas lágrimas diante do corpo do seu marido, João Alvares, que morreu no dia 29 de março de 1958 e foi sepultado no dia 30, o dia seguinte. Porém, não se viu a mulher chorar para morte de seus irmãos, inclusive Nôza, uma irmã, dentre todas, a mais querida de Néra. A mulher lamentava que, da herança de seu pai, nem uma xicara ficou para ser dada a Nôza. Nada, não.

Depois de 1935 a vida seguiu com seus altos e baixos. Néra enfrentando os maustratos da vida ou de alegrias, como os tempos que ela e João mais seus amigos inseparáveis - Maria do Carmo e Tenente Severino - nome verdadeiro: Manoel Alves Freire -. Houve um tempo em que eles gozaram a vida com o descançar em um veraneio na Praia de Areia Preta. Aqueles foram dias felizes, cheios de fraternidades. Em 1938, nascia o seu primeiro filho. Foram os padrinhos, o casal Maria do Carmo e Tenente Severino. Foram dias de angustia, pois o bebê sofreu de uma crise de ameda, sempre se esvaindo em uma diarreia que fazia o rebento defecar em várias cores. Para Néra, foi um tormento aquela fase da criança a defecar constantemente. Ela se recordou do seu pai. Para o pai da criança, João, o socorro estava em um médico existente em Natal, que cuidava, principalmente, de menores de tenra idade: dr. Varela Santiago. O médico, que chegava à casa do enfermo, receitou um medicamente que, para Néra, "foi um santo remédio". Daquela, o menino escapara. No entanto, outros males surgiriam.

Quando o garoto já estava com os seus seis anos, veio uma crise de asma provocada por um banho com água quente da torneira. Essa, então era uma "doenção", como dizia a mulher. Quem socorreu, dessa vez, foi um outro médico, dr, Abelardo Calafange. O menino sofia de um "puxado" que não tinha remedio que desse jeito. Mesmo assim, o tempo passou e o acesso de asma se fez mais distante. Todavia, um outro perigo surgiu: "HERNIA". Dessa, o garoto nao escapava. O seu pai começou a caçar calango no mato para passar o sangue do rabo do calango em cima da hernia do garoto. Com isso, João esperava curar a doença. Pelo sim ou pelo não, o menino se fez rapaz, procurou um médico e ficou sabendo que nao sofria de hérnia. O que parecia ser a doença, era nada menos que uma lesão na parede intestinal. Nada para operar. E o rapaz sentiu pesar em saber que por sua hérnia, tantos calangos ficaram sem rabo.

E nasceu o segundo filho. Uma madrugada do dia 18 abril do ano de 1947 que a casa - na av Afonso Pena - se encheu de gente. Dona Néra, já com 43 anos estava a ter o seu segundo filho. Da casa vizinha, estavam dona Mariquinha, Nazaré, neta da velha Mariquinha, e uma mulher que se dizia parteira. Nesse dia, o menino foi mandado para a casa de sua madrinha, Maria do Carmo. Foi um dia dificil com todos fazendo massagens, compressas e nada do menino nascer. Enfim, João procurou a ciencia do seu cunhado, também João Leandro, para tentar cuidar da sua mulher. Nesse instante, o dr. João Leandro foi em seu carro conseguir um quarto no Hospital Miguel Couto - hoje, Onofre Lopes - para internar a paciente. Então, Néra embarcou numa ambulância do hospital e lá, o médico cirurgião examinou a enferma e recomendou uma cirurgia para assim, retirar a ferro, a criança que estava atravessada. Foi um dia terrivel. O 19 de abril de 1947 viu surgir o garoto que, na pia batismal recebia o nome de José, dado por sua mãe, e Magno, dado por seu pai. Foram padrinhos, José Leandro, conhecido por Zeca, e sua irmã, Leonor, conhecida por Nôza.

Dona Néra ainda permneceu por uma semana no Hospital com o seu filho, fazendo um tratamento da cabeça, no lado de trás, de um furo que provocou o instrumento - um fórceps - na retirada da criança. Daí, então, João, em companhia do seu compadre Tenente Severino, saiu orgulhoso, gabando-se que entre todos os temores, sobrava mais um filho para a alegria da casa. João Alvares, dali em diante tinha que trabalhar bem mais para conseguir o leite para o nenêm, pois a sua mulher, Néra, não teve esse líquido salutar para dar de mamar ao seu rebento. O outro garoto tinha ficado "no canto", como dizia Nazaré, sua visinha. E para se confortar com a decisão de ter que ficar no canto, o garoto asmático procurou um canto de parede entre a porta do corredor e uma estante de livros, alí ficando em pé, calado, acanhado matutando em seu futuro de estar que ficar no canto. A sua mãe foi a que acabou com aquela ilusão de criança. A partir de então, o menino tinha outras obrigações para cumprir, como por exemplo, saber que horas eram aquela para a sua mãe, Néra, preparar o leite do recem-nascido. E sempre ele fez esses mandados, numa casa que ficava a cem metros de distância. O fato é que o menino asmático sempre errava a hora quando procurava saber.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

JOÃO ALVARES DE FRANÇA




Este é João Alvares de França, diplomado Professor pela Escola Normal deNatal, em 1918, entre muitos outros alunos. Ele teve uma vida de pouco mais de 60 anos, vez que faleceu em 1958, tendo ele nascido no ano de 1896. Morreu no dia 29 de março, um sábado, nos braços de sua esposa, Reinéria Leandro Alvares, em um dos quartos do Hospital Miguel Couto, hoje conhecido por Hospital Onofre Lopes. Ele já estava doente há alguns meses, tendo ficado em casa um bom periodo de tempo, e foi internado praticamente somente para morrer. Seu corpo veio para a sua residencia de onde saiu o enterro para o cemitério do Alecrim, naquele tempo, o único da cidade. O Atestado Medico deu a causa mortis como sendo Leucemia Linfocítica. João Alvares tinha um emprego como Servidor do Estado, lotado na Cadeira de Professor do Quartel da Polícia Militar. Apesar de ser um Professor de todas as matérias, tinha na Matemática a sua melhor escola. Inumeros soldados, cabos, sargentos, tenentes e outros graduados tinham em João Alvares como um espelho da sabedoria. No seu tempo, a Associação de Professores publicava um livro por nome de Pedagogium, e neste livro ele escreveu por diversas vezes. Nao raro, ele escrevia tambem para um jornal da Cidade e chegou a adotar pseudônimo os mais diversos, sendo um deles "João de Deus". No seu tempo, pelos idos de 1920 até 1950, ele escrevia poemas e artigos que os punha em um livro feito de um velho livro onde colava as suas cartas. Sempre chegou a dizer que nunca alguem colocasse o nome de "João" em seu filho, pois todo João era bobo. Ele nasceu na antiga rua Camboim, bem proximo da hoje Nova Catedral, na Cidade,. Seu pai era Luis de França, que em 1916 ingressou no Liceu Industrial, posteriomente chamado de Escola de Artífice, instalada na ladeira da avenida Rio Branco, centro da capital. Luis de França era mestre em macânica e entrou para o Liceu como Mestre em Mecânica. Foi pai de sete filhos. A sua mulher era Ana Alvares de França, dona de casa. Naquele tempo era tudo que cabia a mulher: ser dona de casa.

O PROFESSOR

Era o ano de 1918, ano de formatura como professor dos alunos da Escola Normal de Natal. Um dos formandos era João Álvares de França, ainda bem moço, com seus 20 anos de vida. Foi uma alegria geral para todos os que colaram grau naquela época. Uma euforia generalizada do moças e rapazes, todos olhando para o seu futuro, esperando ser um professor ou professora que viesse dar o melhor de sua capacidade para as crianças do Rio Grande do Norte. O certo era que a cidade tinha pouco mais de 30 mil habitantes e se pensar no futuro era um ufanismo. O certo era que todos os que conseguiram se formar não pensavam em nada além de que ali estava o seu promissor futuro.
Tão logo recebeu o seu Diploma de Professor, João Álvares procurou a Secretaria de Educação do Estado para fazer a sua inscrição e esperar ser chamado para ocupar algum cargo como Professor. Não demorou muito tempo, uma vez que foi no ano seguinte, 1919, ele foi designado Inspector de Ensino, para ocupar uma Cadeira na cidade de Pau dos Ferros, distante da capital, lá para os confins do Rio Grande. Para se chegar lá demorava-se, por certo, certa de três dias ou mais. Porém, para o professor, isso não tinha importância. Ele já era um funcionário publico do Estado e tinha guardado o seu ordenado, com certeza. E assim, João Álvares começou a sua labuta que duraria por toda sua vida.
Inspector de Ensino, naquele tempo, era uma função que o Professor tinha uma graduada pontuação quando chegava a uma cidade o interior do Estado. Os "professores" da cidade, em sua maior parte, mulheres com um estudo aquém do Fundamental, ensinando o bê-a- e o 1 + 1 tinha no Inspector a maior galhardia pelo Mestre, que era tido como o Senhor Mestre Professor.
Para o Mestre nada era além do que um amor desprendido das alegres professoras, com certeza, por sua presença e nada mais. E assim, João Álvares perambulou do incertas cidades do distante sertão do Rio Grande, levando um pouco do seu saber para dar as "professorinhas" que mantinha o sacrifício de uma vida para alimentar a alma dos pequenos alunos que estavam ao seu dispor.
Já no ano de 1927, o Professor João Álvares teve que fazer uma viagem ao Rio de Janeiro, capital da República, onde foi buscar um poucos mais de conhecimento para alargar um seu currículo. Por lá esteve um certo tempo e quando voltou, foi recebido com festas, pelos seus amigos e parentes que lhe jogaram rosas e mais rosas no rio Potengi e pelo caminho que ele teria que fazer na sua volta a terra natal. Toda uma mocidade estava lá presente e quando ele desembarcou do Ita, navio de cabotagem que fazia o trajeto de Manaus a Porto Alegre, era uma festa de boas-vindas. Depois daquela festa, das perguntas mais insinuantes feitas por moças e rapazes, respondidas com galhardia e afagos de um rapaz que conheceu a Capital Federal, João Álvares se recolheu ao seu trabalho normal.
Um certo dia, ano de 1928,uma bela moça, cabelos loiros, pele clara, altura mediana, enfeitiçou o coração do jovem e audaz professor. Foi um namoro rápido e um casamento mais ainda. O professor se casou com Ramunda, uma alegre paraense. Porém,o destino lhe reservava uma triste surpresa. Com pouco tempo de casados, veio o destino e levou Raimunda. A cidade era pequena, naquele tempo, e o sepultamento se fez pelos braços de homens fortes, inclusive João Alvares, de uma casa na rua Camboim, próxima ao sitio do pai de João, até o Cemitério do Alecrim. Todavia, o tempo passou e João Álvares, voltara a vida de solteiro, agora com a alcunha de viúvo. A profissão de Inspetor de Ensino lhe valou uma colocação de Professor na Escola do Quartel da Policia Militar. Mesmo assim, além de ensinar aos militares tinha a função de seguir caminhando pelo interior do Estado.
Um caso aconteceu que voltou a mudar a vida de João Álvares: uma jovem de pele clara se enamorou do viúvo ao vê-lo chegar na Carpintaria de seu pai - Miguel Leandro, homem sobejamente rico - para encomendar o caixão no qual sepultara a sua primeira mulher - Raimunda Álvares -. Ele nem notou a presença da moça. Porém, com o tempo, cartas mandadas e trocadas, então, o Professor pediu a mão de sua futura esposa em casamento. Em 1933, João Alvares voltou a contrair núpicias com a bela senhorita, Reinéria, cujo nome era diminuido palos parentes que a tratavam de tão somente Nera. Com tres anos de casados, Nera perdeu o seu pai, vitimado por uma infecção intestinal.
Era o ano de 1935 quando o Bonde de Petrópolis descia até a praia de Areia Preta, terminando o percurso em um Café que tinha alí próximo, no alto da encosta, que João, junto com o seu amigo da policia, Tenente Severino - seu nome verdadeiro era Manoel Alves Freire - e a sua mulher, Maria do Carmo, prima de João Alvares, alugaram uma casa para o veraneio de fim de ano. Alí, o casal permaneceu durante todo o verão, indo as Festas religiosas que se celebravam na Catedral e na Igrejinha dos Santos Reis, dificil de se alcançar o caminho. Alí, os casais voltaram no ano seguinte interrompendo apenas em 1938, quando Do Carmo deu à luz a um filho, no dia 14 de dezembro. Nesse dia, nasceu Iaponam.
Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, João Alvares conseguiu uma colocação no de Parnamirim. Notava-se o roncar dos aviões, indo e vindo do território da Africa, levando e trazendo soldados. Ali, hoje um pouco de tudo e João Alvares pode conhecer as celebridades do cinema americano até que chegou o fim da guerra. Nesse tempo, a cidade fervilhava de soldados americanos e as mocinhas de Natal só se interessava em saber de quem falasse ingles. Mesmo assim, o tempo passou. Foi um tempo de prantos para os que ficavam e os que partiam. Quando a paz voltou a reinar no seio do mundo, João Alvares retomou a sua faina diaria, ensinando no Quartel da Policia e sendo Inspetor de Ensino em cidades do interior.
A frustação que se abatia em João Alvares era não ter uma padaria. Mesmo assim, depois que se transferiu da rua Trairi para a rua Afonso Pena, ele ainda teve a intenção de fazer algo que se semelhasse a uma padaria. Com suas próprias mãos, construiu o forno de barro do quintal de sua casa, montou dois cilindros utilizando ferro roliço e cheio de cimento, mais umas outras peças, para começar a fazer pão em sua própria casa. Isso, porém, não deu certo. E João, em tanto triste com os seus inventos fracassados, lamentava-se. Certa vez, ele conversando com um dos seus dois filhos, disse: "Quando você crescer, vá ser nem que seja varredor do Banco do Brasil. Mas não queira ser empregado do governo" do Estado. Esse era um pensamento que o velho professor sempre nutria.
No ano de 1953, o Professor vendeu a casa da av. Afonso Pena e comprou outra, com um valor mais modesto, na rua João Olimpio. Ao contrári da outra moradia, a "nova" casa não tinha água encanada , nem luz elétrica. O Profossor fazia a caminhada, todas as noites, com uma lata de agua que ia buscar em um chafariz que existia um pouco, em baixo, no inicio da rua Tófilo Brandão, antigo dono de todos os terrenos existentes naquele enclave de terra. Quem quisesse construir sua casa, tinha que pagar uma mensalidade a dona Aline Brandão, herdeira de todas as terras. E o Professor também ez isso, que toda a gente do Alto do Juruá vinha fazendo. Com o passar do tempo, veio a luz elétrica. E o Professor pos luz em sua casa. Dapois, veio a água. Tudo estava completo.
Os anos se passaram. Depois de uma luta ingloria em conseguir uma patente de Tenente da Policia, um dia, em 1955, João Alvares chegou em sua casa e se entou em um sofá de vime, onde adormeceu. Essa luta, ele já vinha fazendo há vários anos, sem nada conseguir. O que tinha como provento era um salário minimo, muitas vezes vindo com atraso de tres meses. Na casa, não raro, não tinha café. Almoço? Nem falar. No ano de 1948, ainda quando ele morava na rua Afonso Pena, teve vez dele ir buscar cinco latas de Leite Ninho, e vender, a preço mais barato, num local do Mercado Publico. Com esse dinheiro, ele então comprava carne de segunda e outras bugigangas. Quando João vendeu a sua casa, no Tirol, foi para pagar a quem devia. E depois disso, ja em Petrópolis - no Alto do Juruá - o negócio voltou a acontecer.
Em 1955/56 ele sofreu de uma fraqueza geral. Levou-se a interná-lo no Manicomio, onde dali, João Alvares, um dia escapou, depois de uma noticia dada pelo meio do professorado, que o homem havia morrido. Era um alarme falso. Depois desse trauma, quando ele chegou em casa, dizendo, apenas: "Cheguei", para o assombro de sua mulher - Néra - os moradores das casas próximas facharam as portas: - "Seu João chegou!!!". " Chegou o homem que está doido!!!", diziam uns e outros. Mesmo assim, João Alvares não era doido. Sofria apenas de uma frqueza geral pela falta de alimento. Até 1958 , quando João Álvares de França faleceu, do dia 29 de março, seu nome ficou "esquecido". O minguado salario-minimo foi o que deixou como herança para sua esposa, Reinéria Leandro Álvares. Um salario qua a viuva veio a receber tres meses depois, quando tudo o que ele devia na Cooperativa das Funcionários Publicos, foi arrecadado para cobrir o débito. Daí, então, dona Néra, com esse minguado dinheiro e parte do que seus filhos lhe davam, passou a viver.