quinta-feira, 29 de maio de 2008

RIBEIRA - II



O garoto não esquecera de quando, a vez primeira, sua mãe foi com ele e o seu irmão menor à casa da tia Anunciada. Isso foi quando a história veio a tona. No domingo, Néra matou o galo, o unico que existia no quintal, para que ela, o marido e os dois filhos fizessem a refeição do almoço. À noite, o pessoal comeu "cabeça de macaco", uma espécie de pão, pequeno e duro, bem menor que um pão crioulo. E eles comeram aquele pão pequeno com xícaras de café. O garoto, vestindo a sua velha camisa de meia, ouviu seu dizer.

- "Amanhã eu vou a Cooperativa comprar uma roupa para você" - voz do seu pai, João.

Aquilo, em nada importou ao garoto. Ele se lembrava, apenas, do seu diploma que não quiz pegar quando seu Nozinho foi entregar, pela manhã. E, no dia seguinte, uma segunda-feira, foi quando sua mãe botou o filhor menor nos braços e arrumou de qualquer as vestes do seu garoto, rumando, então, para a casa de Anunciada, sua irmã. Ao chegar naquela casa, feita de taipa e tijolo, no centro da Cidade, o garoto viu na sala várias peças de motos, desmontadas, arrumadas de qualquer jeito no canto da parede. Ele se lembrou de Guilherme, marido de sua prima, Neusa. No meio de tudo aquilo estavam os filhos de Neusa - Dita e Wilson - procurando dar um conserto nas peças. O garoto ficou em pé, olhando tudo aquilo e, na ocasião foi cumprimentado por seu primo mais novo - Dita - com um "como vai!" ou qualquer coisa desse preço. Ele respondeu e ouviu o sinal de uma buzina de moto que Wilson acionara de um jeito ou de outro. Passou-se um leve tempo até que ele ouviu sua mãe lhe chamar. Então, o garoto se depediu de Dita e seguiu para dentro da casa.

Ao chegar na sala de jantar, o garoto tomou a benção à sua tia que respondeu com uma voz carinhosa, do jeito que ela falava. A sua prima, Neusa, estava na sala, ouvindo a conversa de sua mãe e olhou para o garoto, penalizada pelos trapos que ele vestia. Os olhos de Neusa se encheram de lágrimas. Nesse ponto, não dava para saber o por que de tal choro. Se por a história triste de sua mãe ou por ver aqueles trapos ainda vestindo o garoto. De imediato, Anunciada falou com a sua voz arrastada.:

- Mas, Néra! Por que você não disse isso? Cadê Zeca? Ele deve saber! A meu Deus! Vou dizer a ele! - disse Anunciada.

Néra, então, respondeu, chorando a tudo aquilo.

- Tive vergonha! - voz de Néra

- Que vergonha o que! É pra dizer! Quando a gente precisa, fala! - comentou a mulher.

Em um passo, surgiu na porta de trás da cozinha a figura de Jubal, um dos filhos de Anunciada. Ele estava no quintal. Veio porque ouviu a voz de sua irmã a lhe chamar. Como se soubesse o que Anunciada teria que mandar, Neusa então chamou logo o seu irmão. O rapaz entrou na sala e tomou a benção a sua tia, Néra. Em seguida, ele cumprimentou o garoto, seu primo. Nesse instante, Anunciada foi logo dizendo, com sua voz arrastada.

- Néra, você não vai sair daqui de mãos abanando. Vou mandar fazer uma compras da venda de Medeiros...Não se importe em pagar. ...Eu dou um jeito. ....Justa precisa saber disso. Alice, também. - disse a mulher um tanto aperriada.

De imediato ela chamou Neusa e Jubal, mandando que eles fossem fazer umas compras na bodega de Medeiros, um seu parente, casado com Nenêm, filha de Justa. Juntou as roupinhas que estava a cozer em frente à mesa de jantar, se levantando em seguida. Nesse instante, ela se deu por nota e chamou Neusa.

- Neusa, cadê as roupas de Jubal? - perguntou Anunciada.

- Tão aqui, minha mãe! - respondeu Neusa.

- Deixa eu vê - comentou Anunciada.

Então, a mulher começou a ajuntar aquelas roupas, esperimentando umas de outras, tirando a medida, colocando umaq calça sobre as pernas e verificando as camisas. Enquanto isso, ela mandava Neusa ir à bodega de Medeiros fazer as compras que se faziam nescessarias e por tudo aquilo na caderneta que a mulher mantinha com Medeiros. Tão logo chegou a caravana na bodega, com minha mãe no meio de todos, fazendo tudo aquilo em segredo, a mulher de Medeiros apareceu, pediu a benção a sua tia, Néra, e disse também que alguma coisa não se ia cobrar, pois seria dada de graça por conta de Nenêm.

Foi uma festa total até a saída de todos, daquela bodega. Para se trazer a mercadoria, Neusa conseguiu a ajuda de um homem que morava perto de Medeiros, trazendo a sua camionete para ajuntar as coisas essenciais. Na carroceria da camionete tomaram assento os dois filhos de Neusa, mais o seu irmão, Jubal e na boleia seguiram juntas a sobrinha Neusa, a tia Néra e o próprio motorista. Foi uma tarde inteira que o pessoal levou para ajuntar tudo aquilo na carroceria da caminhonete depois que foi despachada a mercadoria no balcão da venda de Medeiros,

No dia seguinte, Zeca foi informado do que sucedera. E, aí, o negócio tomou um novo rumo, com a contribuição dada pelo homem e o seu pedido para que no final do mês de dezembro ou inicio de janeiros, Néra estivesse lá no seu escritório, quando então ele dava a sua contribuição para o sustento da família. Foi assim que tudo começou. Nos dias seguintes veram donatidos de outras irmãs, como por exemplo de Alice, Justa, Nenem - uma irmã de que se chamava Iraci - para suavizar um pouco mais a grave situação da familia de Néra. Vários outros irmãos, inclusive Segundo, Cicì (Cicero), Euzébio tambem ajudaram enviando dinheiro e alimentos.


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