quinta-feira, 18 de novembro de 2010

AMANTES - 32 -

- Juliette Binoche -
- 32 -
Completava o sétimo de gravidez para Vera Muniz. Naquele dia, ela estava no seu escritório quando sentiu vontade de ir ao banheiro para urinar. Ao sair do escritório ela fez um aceno para a sua vice-presidente de que estava a precisar urgente do material. Vera não disse qual, porém Racilva entendeu e respondeu o aceno levantando a folha do papel a dizer que já estava pronto, com certeza. Com isso, Vera sorriu e caminhou depressa para o sanitário existente no edifício da Agencia Pomar. Os demais funcionários estavam ocupados com seus afazeres. O Diretor Executivo, Silas Albuquerque também tinha o que fazer e nem chegou a notar a saída de Vera, a sua esposa, para o sanitário. Era comum se ir ao gabinete por parte dos funcionários da Agência. Na Agência tinha dois gabinetes: para homens e para mulheres indicando apenas com um “Aviso” com os dos homens uma plaquinha com a figura de um homem e o das mulheres com outra plaquinha com um desenho de uma mulher. Alem desses gabinetes sanitários havia dois outros para o pessoal que fazia serviços na Agencia Pomar. Isso em cada edifício do prédio. Na parte dos escritórios da presidente, a sua vice, e dos diretores havia uma divisão de madeira e vidro. Em alguns, essa divisão era fosca, como o da presidente Vera Muniz.

A presidente do órgão entrou no sanitário para cumprir suas obrigações necessárias. Isso foi bem rápido. Logo após, Vera acionou a descarga, daquelas baixas por dentro da parede e olhou sem querer ou querendo ver a urina desaparecer e deixar o sanitário limpo. Foi então que a mulher se assombrou. O aparelho estava sujo por uma cor vermelha. Era sangue o que havia no sanitário. Os olhos da mulher se abriram com um ato de horror, medo e pânico. Ao desespero, a mulher tentou gritar para alguém.

--- Acudam-me! Pelo amor de Deus! Socorro! Socorro! – gritava a mulher, porém com sua voz falhando não deixado se ouvir quase nada.

Nesse ponto Vera Muniz veio ao desmaio. Com a porta meio aberta da entrada do sanitário, a mulher caiu desacordada. No escritório ninguém ouviu coisa alguma. Apenas a mulher que fazia faxina do salão, ao entrar no local em que estavam os sanitários encontrou Vera Muniz plenamente desacordada e caída ao solo. A mulher da faxina gritou:

--- Ai meu Deus. Acudam aqui! – gritou a mulher da faxina para os funcionários que estava por perto.

E um punhado de gente acorreu em socorro de Vera Muniz. O caso tomou conta de imediato do andar do edifício fazendo com que os funcionários mais graduados acorressem em socorro também. E dentre eles estavam Racilva e Silas, o marido de Vera. Cada um que mais quisesse soerguer a sua chefa e patroa. Foi um pleno alvoroço. As pessoas gritavam, chamavam por Deus, punham a mão na boca e faziam qualquer fato para melhor socorrer Vera Muniz. Foi um verdadeiro tumulto naquela parte do edifício. O marido ao chegar e notar a mulher Vera Muniz caiu em cima para ver se ela estava desacordada mesmo. Batia-lhe no rosto e dizia ao mesmo tempo.

--- Desperta Vera! Desperta! Quem viu o que aconteceu? – perguntava ao desespero o senhor Silas Albuquerque continuando a sacolejar a mulher com toda a força possível.

Ninguém sabia ao certo. Apenas alguém respondeu:

--- Ela está grávida! Ai meu Deus! – comentou lacrimosa uma funcionaria.

O seu Diomedes também chegou ao local e foi quem disse:

---Melhor é levar para o Hospital! – argumentou Diomedes cismado com o desmaio da mulher

O esposo de Vera nem escutou ao certo o que dissera Diomedes. Mesmo assim, ordenou que se buscasse um auto. Nesse ponto Diomedes já estava a caminho com a preocupação de ver a mulher desmaiada. Ele nem pensava ou pensava tudo a um só instante: desmaio, gestante. Por isso ele, certa vez, leu um artigo médico no qual dizia que a tonteira e o desmaio eram sintomas comuns durante a gestação. Mesmo assim, ele pensava ser um caso mais agudo o de Vera Muniz e por isso mesmo seria melhor levá-la ao Hospital Pró- Matre onde o médico que a atendia prestava expediente. O velho já estava no veículo quando Silas desceu com a mulher já um pouco recuperada do desmaio. Mesmo assim. O marido a conduzia nos braços auxiliado por duas moças. Diomedes abriu a porta de trás do veículo onde as três pessoas – inclusive Vera – conseguiram entrar. A outra moça ficou de fora do veiculo. E a porção de funcionários também ficou de fora. Alguns na porta do edifício.

Dona Vera Muniz ficou quase deitada no banco de trás segura pelo marido e por Racilva, que também surgiu de imediato dispensando a outra servidora. O carro seguiu para o Hospital e tão depressa chegou os maqueiros colocaram a mulher em cima da maca numa precisão incrível. No meio do caminho, Silas acionou o seu celular para o médico dizendo o ocorrido. O médico talvez tenha dito que a levassem para o Hospital Pró-Matre, pois ele estaria seguindo para o setor.

Na metade do caminho Silas ainda conversou com à esposa:

--- Acorda amor. Não durma. Vamos já chegar. – dizia Silas à mulher.

--- Ai meu Deus. O sangue! – respondeu Vera Muniz.

--- É normal. É normal. Vai passar. – respondia o marido choroso e com voz baixa.

Ao chegar ao Hospital os maqueiros de imediato acudiram a mulher e uma enfermeira aplicou soro na veia. Silas procurou a atendente deixando o seu cartão de previdência particular e correndo atrás dos maqueiros que já haviam desaparecido no edifício.

--- Onde estão os homens? Onde estão os homens? – perguntava aflito Silas à moça Racilva que estava ao seu lado na companhia do velho Diomedes.

--- Eles subiram pelo elevador – respondeu com calma Racilva.

--- E nem me esperaram? – reclamou atônito o homem marido de Vera.

--- Não precisa. Eles sabem o que fazer. – respondeu Racilva ao atônito Silas.

--- Vou esperar o médico. Tenho que esperar! – conjecturou Silas malcriado.

As horas foram passando e nada de médico. Nem mesmo que andar a mulher tinha sido posta. Os maqueiros apareceram com a sua maca e foram para a entrada do hospital. Silas perguntou a um deles o que fizeram com sua mulher. Ele respondeu:

--- Está com o médico. – disse o maqueiro com expressão trancada.

--- Ah bom. Mas o medico qual é? – indagou Silas ao desespero.

--- O de plantão. Só tem ele. – respondeu o maqueiro.

--- Ah meu Deus! Mas é o doutor Dimas! É ele que cuia de Vera. - - declarou desesperado Silas.

O homem não disse mais coisa alguma e foi para a porta do hospital a espera de outro paciente que porventura chegasse. E na entrada do edifício ficou a conversar com o outro maqueiro sobre o jogo na noite e quem devia ganhar. Por mais que quisessem Silas continuava ao desassossego. E Racilva procurava lhe acalmar.

--- Tenha calma. Tenha calma. Tudo vai se ajeitar. – rogava Racilva a Silas.

A moça que atendia o pessoal perguntara a ele se tinha alguma identidade. Silas prontamente a entregou. O velho Diomedes ficou no balcão à espera para entregar ao seu patrão enquanto esse tremia de medo pelo que estaria a ocorrer lá em cima ou cá em baixo. Racilva olhava para o Diretor da empresa com ternura enquanto esse se debruçou em seu ombro a tão somente chorar e angustia e emoção. A sua mulher estaria passando bem ou mal? Era tudo o que mais preocupava Silas Albuquerque. A jovem moça acalentava Silas com afeto igual a uma mãe que mima o filho amado. Racilva tinha um afeto profundo por Vera e Silas como se eles fossem um casal de eternos namorados. Em outras ocasiões ela ficou sabendo a estória dos cajus que Vera lhe havia contado quando ainda era estudante do Grupo Escolar. Elas sorriram para valer do enxame de abelhas a atormentar Vera. A menina Vera ficou toda arrepiada com os cabelos desorganizados. Parecia a ninfa até mesmo um assombro do outro mundo. Ao se lembrar dessa estória, Racilva sorriu por dentro com as travessuras dos dois infantes.

--- Que loucura! – recitou Racilva.

--- O que foi? – indagou Silas procurando adormecer.

--- Nada não. – sorriu Racilva afagando os cabelos da cabeça de Silas.

Pouco tempo depois o velho Diomedes voltou do balcão com todos os documentos de Silas e depositou no bolso do seu paletó apenas pondo os apontamentos e batendo no ombro do homem como se fôra um dileto amigo e como fora afinal. Amigos para sempre.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

AMANTES - 31

- Julie Delpy -
- 31 -
E tudo voltou ao começo. Diomedes sentiu a falta do mestre, porém nada pode fazer. Ataque de surpresa. A mulher, viúva, ainda estava no Hospital de repouso a se recuperar lentamente. Um ferimento feio aquele que ela sofrera. O marido morrera e ela não sabia. Só saberia depois de algum tempo quando deixasse o hospital. A mulher sentia raiva do marido por causa da outra. E então, ele tendo morrido, nada restava para a mulher. Três meninos de pouca idade. E o velho Diomedes era quem podia fazer algo para manter a mulher ainda nova. Porém, naquele momento, ele estava à procura de outro mestre. O tempo urgia e ele somente podia nos dias de sábado e domingo.

Após tanto procurar, Diomedes se deteve no caso de um mestre, morador no município. Esse homem tinha serviços para executar e não podia deixar o trabalho. Ele indicou outro, que poderia fazer a obra na praia. Esse estava completamente bêbado todos os dias. Porém Diomedes não perdeu a esperança e foi, depois de muito procurar, ao encontro de um homem de meia idade e esse negociou por um preço bem elevado. Nada feito. Diomedes continuou a procurar. E um dia, ele estava no Mercado da cidade quando, então, foi abordado por um homem que estava de passagem pelo município. E conversa vai, conversa vem, ele afinal encontrou outro mestre de obras. E acertou com ele fazer o restante da construção. Esse dia era um domingo. Na segunda-feira, tudo estava a caminhar conforme o combinado. Porém, na segunda feira Diomedes estava ausente. Por isso mesmo deixou a ocupação com o seu sobrinho para fiscalizar e mesmo ajudar no serviço. O trabalho prosseguiu. Contudo, o novo pedreiro tinha o costume de chegar tarde e sair antes da hora do trabalho. E o caso só veio, a saber, Diomedes no primeiro final de semana. Mesmo assim, foi feito o pagamento ao mestre.

No domingo, veio uma forte chuva. Coisa que poucas vezes ocorria no vilarejo de Coqueiros. E com o temporal, veio a derrubadas das divisórias ainda moles e já erguidas pelo novo mestre, cujo nome ou apelido era Sargento. Apoquentado, em meio ao temporal, Diomedes só sabia dizer com muita raiva.

--- Isso é uma merda! Agora deu! – reclamava Molambo das paredes caídas.

O caso foi levado ao conhecimento de Silas. Esse ficou bastante indignado com o que estava a acontecer. Era dia de segunda-feira. Diomedes já estava de cabeça quente por tanto alterar com as obras que havia desfeito no dia anterior. O dinheiro estava se acabado e nada de obra feita. Nesse instante o telefone tocou. Era Vera. Falou com Silas algo cauteloso. A jovem senhora estava sabendo de tudo porque o que acontecia na casa ou no apartamento, ela imediatamente tomava conhecimento. Silas de repente pediu licença a Diomedes e saiu às pressas. E logo em seguida entrou na sala de Vera e a ouviu dizer:

--- Faça o seguinte. Consulte Câmara e veja se ele interessa em fazer a obra. Não diga nada a Diomedes até receber resposta. – foi o que disse a mulher já com sete meses de gravidez.

--- Está bom. Eu faço isso. E telefono até daqui mesmo. Marco um encontro com Câmara para logo mais. – falou serio o rapaz.

Quando foi a tarde, Silas Albuquerque chegou ao escritório da Construtora Câmara e fez um relato do que acontecera nos últimos dias. De Câmara ouviu a palavra de que a sua empresa tomaria para si o cuidado de construção da casa de Diomedes. Com relação ao custo, esse seria contabilizado da fatura da Agencia Pomar, fosse o que fosse. Ademais, a construção seria toda refeita porque a empresa sabia muito bem que uma casa de praia era uma construção singular para todos os efeitos. No dia seguinte, um engenheiro da firma tomaria nota do que precisava ser feito para dar inicio a obra propriamente dita. Câmara aconselhou a que o velho Diomedes mandasse suspender o trabalho que havia sido feito, pois nova obra seria começada dentro de breves dias. A equipe de engenharia deveria estar no local em vinte e quatro horas para tomar todos os assentamentos necessários. Era tudo que Câmara recomendava a Silas Albuquerque no final daquela tarde chuvosa.

Tendo dispensado seu carro para tratar de assuntos outros, Silas, ao voltar a Agencia teve uma breve conversa com Vera Muniz e logo após chamou Diomedes para tratar do assunto. Ao tomar conhecimento do que pretendia fazer o seu patrão, o velho Diomedes pôs a mão na cabeça ao dizer que essa obra sairia cara demais para quem não tinha quase nada. Silas sossegou Diomedes ao dizer que o valor da residência seria pago pela Agencia Pomar, para qual o velho trabalhava.

--- E quanto vai ser? – indagou triste o velho.

--- Tenha calma! Tenha calma! Quem paga a conta é a firma para qual você trabalha. Entendes agora? – perguntou Silas ao velho

--- Eu entendo. Eu entendo! Agora, e eu quanto vou pagar? – indagou Diomedes.

--- Já ti desse que você deve ter calma! Eu nem sei quanto vai ficar a construção. Por isso, não tenha pressa. – concluiu Silas Albuquerque.

No dia seguinte o velho teve que ir à remota praia e mesmo paradisíaca dos Coqueiros para mandar parar toda a construção, pois não queria ver mais nenhum tijolo pregado nas paredes da moradia em obras depois do que houve no domingo com a chuva torrencial. O dia estava nublado, porém não mais chovia naquele instante. E ele pagou os dias de trabalho ao pedreiro e teve que voltar com pressa a capital no veículo da repartição. No meio do caminho notou uma aglomeração. Gente muita para uma rodovia estadual. O velho foi obrigado a diminuir a marcha e chegou até parar de vez. Outros veículos vinham da capital para o interior e também foram obrigados a parar. Na verdade, tudo o mais pela curiosidade dos motoristas. O aglomerado de gente não deixava igualmente o transito seguir normal como devia. No meio do caminho, um corpo estendido. A vítima estava deitada de bruços caída no chão. Molambo olhou com atenção para ver sem perguntar de inicio. Mesmo assim, diante do tumulto dos que estavam a olhar o corpo do aparente morto ele, Molambo, concluiu ser outra vítima ou de acidente ou de morte matada. Por fim, Molambo indagou de um menino quem era a vítima:

--- Lindô! Mataram ele! – respondeu o garoto a sorrir.

--- Lindô? – indagou preocupado o velho ao recordar que Lindô era o mesmo que matou o preso Sargento.

--- É. Mataram! – sorriu o garoto como se aquilo fosse à coisa mais normal do mundo.

E então o garoto saiu em debandada e outras pessoas se acercavam do morto para verificar se estava de fato morto, com certeza. Uns dialogavam quem matou Lindô outros perguntava quem deveria ter sido. Alguns diziam que o Sargento tinha sido solto e na hora Lindô metera-lhe o punhal no peito. Eram todas conversas sem nexo, porém de verdade. De repente um rapaz falou quem tinha sido.

--- Foi Telmo! Foi Telmo! Eu vi quando ele estava a esperar o morto. Tinha até um revolver! – declarou um rapaz da redondeza.

E o assunto tomou conta de meio mundo. Nesse ponto, dez minutos depois da morte, o velho Diomedes conseguiu passar com o seu veículo e trafegar de volta à cidade apenas a pensar no que estava a se verificar no meio da estrada da praia dos Coqueiros.

No restante do dia Molambo só estava a pensar no caso de Lindô e até assim perguntou a Silas como estaria a passar a mulher do Sargento. Silas, preocupado com seus afazeres, apenas disse que nas últimas horas não tinha telefonado para o Hospital para saber de alguma notícia. E o homem então ficou a refletir que ninguém de fato se importava com a mulher. Em determinado horário ao sair para fazer algumas compras para a firma, o velho tomou a atitude de passar no Hospital e procurar saber do estado de saúde da mulher que foi furada. Na ocasião o atendente procurou saber que nome era o dá mulher.

--- Não me lembro. Sei apenas que ela deu entrada no domingo com ferimento nas tripas. – respondeu Molambo.

--- Momento. Vou saber da enfermeira. – respondeu o atendente.

E saiu um poço gritando pelo corredor do hospital o nome da provável enfermeira.

--- Catarina! Catarina! – saiu o homem com seu jeito de homossexual.

Molambo achou desprezível o jeito do rapaz. E chegou a perceber por mais uma vez voltando-se em seguida para ver a pouca gente que estava a esperar por atendimento ou mesmo por uma resposta para uma consulta com algum médico que estaria de plantão naquele horário. Carros chegavam e partiam no mesmo instante deixando uma enfermeira trazendo um pacote de medicamentos com certeza. Ele olhava a mulher. Essa rompia o vão da sala e se metia de porta a fora com uma pressa brutal. Uma ambulância chegou e encostou para ser retirado um paciente com ferimento de bala, provavelmente. O motorista, muito calmo, abria a porta de trás da ambulância e por ela desciam dois ou três ajudantes de enfermagem. Eles estavam no socorro da vítima. E Diomedes apenas olhava aquele momento de inquietação que vivia um pronto-socorro o dia todo. Era um vai-e-vem eterno. Naquele momento, o atendente apareceu para o sossego de Diomedes. E disse:

--- Ela morreu! – e cuidou de outras tarefas que tinha de se ocupar.

--- Morreu? – indagou o velho ao atendente.

--- Está no necrotério esperando alguém da família. – respondeu o auxiliar.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

AMANTES - 30 -

- Carolinie Figueiredo -
- 30 -
Na noite de uma terça-feira Diomedes conduzia em seu veículo o seu chefe Silas Albuquerque conversando casos que se passaram no Centro no dia que passou. Um deles era de um cego – deficiente visual – que estava posto sob cuidados especiais de um dos médiuns. O rapaz, toda vez que estava no Centro apresentava um quadro de obsessão por diversos espíritos, cada qual que quisesse atormentá-lo. Diomedes, o velho, temia que tais espíritos tivesse sido seu desalento em tempos passados. Na verdade, o velho teve pelo menos dois espíritos em sua longa existência: Cila, sua noiva e Macedo, seu rival. Cila não era uma obsessão. Era mais uma prisão do velho que não esquecia a noiva. Porém, Macedo, esse se tornou obsessão por queria a todo custo ser o namorado de Cila e não se conformava ter passado para outra vida. Esse era o tom da conversa.

Ao chegar a frente ao edifício onde ambos moravam – e mais Vera Muniz, esposa de Silas – o velho notou um rapaz do lado de fora do edifício, na calçada. Ele olhava com atenção a rua e a movimentação de carros para um lado e para o outro. E as pessoas que passeavam a fazer o seu Cooper ou apenas a caminhar para resolver algo. Um bêbado chamou a atenção do rapaz. O homem ia e vinha para e outro da calçada ao lado oposto onde estava o rapaz. Em determinado instante, o bêbado se escorou em uma parede por não conseguir mais caminhar. O bêbado estava todo envergado, de cima a baixo e conduzia uma pasta 007 com certeza cheia de documentos. O rapaz olhava o homem e procurava não sorrir, pois o caso era somente para se gargalhar, certamente. O bêbado era tão estranho que nem chamou a atenção do rapaz para o automóvel que se aproximava da entrada do edifício.

Porem, nesse instante, o carro parou em frente ao portão magnético a espera do rapaz que tomava conta da entrada e saída de veículos. Porém, o velho Diomedes notou a presença do rapaz a esperar alguém e tão de imediato perguntou ao mesmo.

--- Quem espera? – indagou Diomedes ao rapaz.

E o rapaz por fim notou o velho vestido de túnica, bem diferente do homem que ele vira na construção da sua casa na vila dos Coqueiros. E de repente, o moço se aproximou assustado e indagou se ele era o homem que estava a construir a casa na vila.

--- Sou eu. Por quê? – respondeu Diomedes já um pouco preocupado.

--- É que estamos parados há dois dias porque o mestre não apareceu. – respondeu o rapaz.

--- Ah. Ele deve ter saído para alguma coisa que lhe interessava. E por que ele não veio? – perguntou o velho a toda pressa.

--- Sabe. A mulher dele. – replicou o moço.

--- Que tem ela? – averiguou o velho mais atento.

Um carro estacionou logo atrás do auto que Diomedes dirigia e buzinou. O velho, com pressa disse ao rapaz que ele esperasse enquanto o velho estacionava o carro no local indicado. E saiu dirigir, enquanto o rapaz ficou a esperar. Por seu lado, Silas indagou se aquele era de fato o rapaz da construção. E o velho respondeu afirmativo.

Ao deixar o auto na garagem do interior, o velho mais Silas vieram até a entrada do edifício do apartamento de Vera. E no caminho os dois falavam do Centro, cuja atividade acontecia na quarta-feira. E chegando ao portão eles saíram até ao lado de fora o moderno prédio e o velho Diomedes voltou a perguntar ao rapaz:

--- Então? A mulher? Que aconteceu? – indagou Diomedes ao rapaz.

--- Ela está mal. Se não morreu! – respondeu o rapaz pleno de temor.

--- Morreu? Por que morreu? – indagou o velho assustado.

--- O mestre furou ela. Meteu-lhe a faca na barriga. As tripas caíram. – respondeu o rapaz com real temor.

--- Nossa! Por que você não falou logo, de uma vez? – perguntou alarmado o velho.

--- Pois é. Ele foi preso. Levaram ele para a cadeia. – respondeu o moço alarmado.

--- Essa é boa! Tá feito a história do papagaio. Ele está preso?! – relutou em saber o velho de total pavor.

--- Está. Isso foi no domingo à noite. Ele meteu a faca na mulher. Caso de outra mulher que o mestre tem. – explicou o rapaz.

--- Puta Merda! – respondeu Silas a ouvir o desfecho.

--- Tá vendo! Tá vendo! É isso o que dá! Matou a mulher por causa de outra! – respondeu, com efeito, o velho Diomedes ao seu patrão.

--- Mas não é assim. Puta merda! Puta merda! Puta merda! – falou alarmado Silas vendo a morte de perto.

Depois de todo o caso explicado, Silas chamou o rapaz para entrar em seu apartamento e por certo o rapaz teria mais o que falar. Meio espantado com o prédio de mais de dez andares o moço foi com os dois homens a seguir até o apartamento de Silas e Vera. E por certo, o rapaz contou tudo o que houve da forma com ele sabia. Um automóvel de aluguel que estava em uma bodega da praia foi quem fez o traslado da mulher mortalmente ferida para o hospital do município e de lá uma ambulância a trouxe para a capital. O mestre tinha sido preso por três homens que bebericavam na praia. Era gente humilde moradora da mesma praia. No local não havia telefone, pois o único aparelho que havia, tinha sido depredado por vândalos da capital há certo tempo e até aquela data não se havia feito a reposição. Quem precisava fazer ligação caminhava a pé desde o vilarejo até a sede do município. A caminhada durava dez minutos para quem podia andar. A mulher estava internada no Hospital da capital e parecia estar passado bem pelo que disse o enfermeiro de plantão ao ser indagado por Silas pelo telefone de seu apartamento. Tão logo Silas soube do caso telefonou de imediato para o hospital. Por isso mesmo estava com o resultado em mãos. O velho conversava com o moço e este não teria muito a acrescentar. Tudo era briga de casal. O mestre continuava detido sem advogado para cuidar do caso. E Silas, de imediato telefonou para o advogado de sua repartição, doutor Duarte para conduzir do tema. O rapaz ajudante da obra reclamava por não ter onde ficar.

--- Isso se arranja! – declarou o velho Diomedes.

--- Tem outro mestre por perto? – indagou Silas ao rapaz.

--- Acho que não. Tem o velho José. Mas esse não trabalha mais. Está velho. E tem também um pescador. Esse é quem faz algum serviço. Os outros vieram para a cidade. Só aparecem por Coqueiros de semana sim, semana não. – falou meio precavido o moço.

--- Deixa pra depois esse caso. Vamos ver o caso do mestre. Amanhã eu vou com o advogado até a sede do município para ver o que se pode fazer. – relatou Silas desesperado.

--- Estou em suas mãos. Amanhã se põe o caso pra frente. – respondeu o velho Diomedes a Silas, o patrão.

---Deixa comigo! Deixa comigo! – respondeu então Silas.

No dia seguinte, depois de algumas horas, doutor Duarte procurou Silas no seu escritório. Os quatro homens – Duarte, Silas, o motorista Diomedes e o rapaz ajudante – estavam a caminho do município onde devia estar detido o mestre de obras. O rapaz passou pouco tempo no local, pois tinha que voltar a sua casa. Então ficaram apenas os três senhores: Silas, Diomedes e o advogado Duarte. Após conversar com o detento, o advogado procurou o Juiz de Paz que atuava na região para poder liberar o homem apresado. Isso demorou o dia todo. Com espera e tudo. O advogado ia e vinha de uma sala a outra do prédio onde funcionava o Fórum. Para fazer refeição do meio dia, os homens procuraram um restaurante onde conversaram sobre o caso e outros fatos que diziam interesse de Silas Albuquerque.

Ao final da tarde o Juiz deu seu parecer para a soltura do preso de forma condicional. Ele não podia sair do município até se resolver a questão. Com relação a mulher do mestre, se essa viesse a óbito, a suspensão do condicionamento perdia efeito e o mestre voltaria à prisão. Com toda essa documentação, o advogado chegou ao delegado e entregou a petição de soltura do homem. O caso foi examinado e o delegado mandou liberar o preso. Após tudo resolvido, o mestre seguiu para casa agradecendo a deferência dos três senhores. De repente um homem se acercou do preso e com uma punhalada o matou sem dó nem piedade. Após isso, escapuliu por entre a feira do Mercado da Cidade e desapareceu de vez. O velho tentou estancar o sangue bem pouco por entre o ferimento e ouviu do moribundo apenas um sutil falar de quem havia feito a agressão.

--- Lindô! Lindô! Lindô! – respondeu baixinho o moribundo e então morreu.

--- Lindô? Quem é Lindô?! – indagou alarmado o velho Diomedes.

Não houve resposta de imediato para se ter uma definição do algoz. Ele – Lindô – era bem conhecido do mestre. Porém ninguém sabia dizer ou não queria se envolver no caso. O corpo do mestre pedreiro foi levado para o hospital supondo-se que o mesmo ainda estivesse com vida. Mesmo assim, o médico de plantão só teve que dizer.

--- Ele está morto! Levem daqui! – resmungou o médico.




segunda-feira, 15 de novembro de 2010

AMANTES - 29 -

- Graziella Schmitt -
- 29 -

Na noite daquela segunda-feira, o Centro Espírita estava repleto de gente como era costume de todas as semanas. Algumas pessoas estavam para ver apenas as pessoas “enfermas” sob “encosto” de algum espírito da escuridão e outras apenas para namorar do lado de fora do Centro, com era um eterno costume dos que freqüentavam as sessões mediúnicas. Com certeza, tais namorados nem sabiam que, por detrás deles, havia um “espírito” do escuro a atormentar ao casal que, não raro, um dia chegava para ser tratado com os passes mediúnicos, pois o tormento já lhe acabava o sentido. Era um caso bastante normal para o médium ouvir e ver os espíritos, até mesmo do resgate de espíritos sofredores. Em certas ocasiões o médium era colocado em contato com as entidades médicas do plano espiritual. Então, o médium com os enfermos possibilitava o atendimento do campo espiritual. O trabalho de tratamento de obsessões era feito da mesma forma com a ajuda dos espíritos protetores. E nesse ponto é que os enfermos do corpo e da alma procuravam assistência.

Após a abertura e a preleção de um devido médium que contava casos de pessoas enfermas que foram curadas de seus males, era dado o início da parte seguinte. Na segunda parte todas as portas e janelas que davam para a rua eram fechadas. As lâmpadas também eram desligadas e apenas ficavam funcionando os ventiladores para arrefecer o calor reinante no Centro. Todos os que estavam para ser atendidos com brevidade, eram levados pelos seus acompanhantes. Em alguns casos, estava um médium para ajudar a criatura a andar, pois não raro os deficientes de locomoção eram os que ainda mais precisavam de auxilio. Entre os participantes era sempre fácil notar a presença de alguém que se obsedava no meio de tanta gente carente de auxilio e proteção. Então era a vez dos espíritos protetores por intermédio de um médium acudir aquele espírito infeliz. Assim, era a vez desses espíritos serem afastados e recolhidos a hospitais espirituais.

Naquela segunda-feira uma mulher se manifestou no meio do repleto salão. Estava ali um espírito infeliz. Ele queria ir a desforra com a enferma espiritual. E acuava a enferma de ter largado o seu filho, que era ele, quando mais necessitava de vir ao mundo dos vivos. Era um filho da mulher que abortara aquela criatura por circunstancias alheias a sua vontade. O espírito infeliz reprovava a ação de sua “mãe” por tê-lo esquecido ainda no ventre, quando o espírito contava apenas dois meses de idade de fecundação. Era um caso alarmante aquele que se estava a notar. Com tamanha força, a mulher se sacudia em todas as direções e não tinha ser vivente que pudesse segurá-la. Era a primeira vez que a mulher chegava ao Centro por orientação de alguns familiares. O feto foi retirado quando a mulher de seus vinte e cinco anos contava apenas com seus dezesseis anos. Já fazia muito tempo. Desde certa época a mulher vinha tendo alucinações e sem saber a razão daqueles distúrbios constantes. Ela já havia sido tratada por médicos e de nada rendia os medicamentos que ela ingeria. Por mais forte que fosse a dosagem, a mulher teria forças quando passava o efeito da medicação para tentar qualquer coisa. Certa vez, a mulher chegou a ser retirada a ponte de onde tentaria se afogar no rio abaixo. Na certa, era constante desespero para ela e seus familiares. Certa vez, a mulher quando ainda era uma mocinha de dezesseis anos, obrigada por sua mãe, retirou o filho da barriga. A sua mãe não aceitava aquela gravidez. E o pai da criança tinha sumido. Com isso, veio o desespero a partir dos seus vinte e dois anos de idade sem que ela soubesse o tinha ocorrido.

Quando foi ao Centro, a mulher entrou em convulsão e desespero. O espírito do seu provável filho queria trucidar a sua mãe a qualquer jeito e de qualquer forma. Às vezes chorava como um bebê recém-nascido, às vezes era um homem capaz de ser alucinado. Outras vezes ele era constantemente dorminhoco. De outras, se debatia como se quisesse abater a sua própria mãe. E foi assim que, naquela noite ele se mostrou capaz. Aos gritos de:

--- Assassina! Assassina! Você me tirou a vida! Mulher vil! Eu necessito viver! Assassina! – era o grito do homem, rapaz ou menino.

Os médiuns se uniram em prece enquanto “Paredão” e “Pescador” acorreram em socorro da mulher verdadeiramente endemoniado. Eles não sabiam de nada o que se passara com aquela mulher. Somente vieram, a saber, tempos depois. Com toda força que lhes cabiam os dois homens tentaram trazer a mulher para o local de passes aos sofridos sem ao menos ter a paciência de clamar por seus espíritos protetores. Porém esses estavam presentes de qualquer forma. A mulher se debatia com imensa força e não foi sem jeito que os médiuns a colocaram em uma cadeira para receber passes e doutrinar o espírito. O espírito doente era por demais perturbador. A manifestação no perispírito logrou êxito e o espírito infeliz teve sua paz reconfortante por meio dos espíritos protetores. Até o espírito do médico Hermógenes estava presente nessa sessão de desobsessão. A mulher teve um tratamento demorado de oito sessões e continuou a freqüentar regularmente o Centro Espírita.

Em depoimento posterior o médium “Paredão” ficou sabendo da gravidade que havia tido a mulher quando era menor de idade. Outros casos foram registrados nessa segunda-feira, porém de menor gravidade. Um era de um rapaz que já freqüentava a sessão há vários tempos e sempre que voltava tinha um espírito obsessor ao seu lado. Para Molambo, este caso foi o mais grave que já se registrara na sessão do Centro. Com certo tempo de freqüência, Molambo já podia sentir as vibrações de espíritos maus e, ao lado de Racilva, os retirava de imediato. Quando estava sozinho com Vera Muniz e Silas Albuquerque, ambos já casados de há muito, ele sempre recordava o que havia passado no Centro. E dessa segunda-feira em diante, o velho se tornou mais adepto das conversas com “Paredão” e de casos que ele nunca ouvira falar, como de certa vez, um bêbado que morreu na calçada de um próprio estadual e veio despertar anos depois. “Paredão” contou-lhe esse caso como outros que tivera de ver como suicídios e assassinatos.

Vera Muniz estava grávida já há seis meses. Quando, certa vez, ela e o seu marido resolveram passar o domingo na praia do vilarejo dos Coqueiros, ela teve a paciência de arrumar tudo direito dentro do carro de Silas. O velho Diomedes tinha ido no sábado para ver o andamento das obras de sua casa. Ele arrumara uma casa para a anciã Maria, sua filha e filhas de Luiza, bem como netos em uma casa mais menos regular enquanto se ajeitava a nova residência de dona Maria no antigo terreno onde já era construída a primeira casa, uma tapera de duas águas, quase a cair de tão velha que estava. A nova construção seguia a tempo rápido. O velho verificava todo o fim de semana quando então pagava aos trabalhadores: um mestre de obras que era pedreiro, carpinteiro, eletricista e tudo mais, e mais dois auxiliares. Esse dois era um fazendo massa e outro carregando. Às vezes, o que ajudava o auxiliar no fazer da massa, também ajudava o mestre na construção da nova casa. E desse jeito a obra seria construída no prazo de três meses com a entrega da chave.

Na ocasião em que Silas e a sua esposa chegaram aos Coqueiros, à praia, estava Diomedes a verificar as paredes da nobre e nova casa. Não era um casarão. Era apenas uma casa para que dona Maria tivesse um lar mais apropriado para residir. A anciã vivia em outro domicilio e reclama horrores de sua nova moradia. Ela não acertava nunca com o banheiro. Sua filha tinha que levá-la para que a anciã cumprisse as suas necessidades. Por um tempo, dona Maria arranjou uma tipóia que ela aprontava no armador da casa pobre e por lá dormia sossegada. O interessante é que, quando a anciã queria deitar na rede, chamava a sua filha e dizia:

--- Me arrume a “hamaca”! – reclamava a anciã com a voz retorcida.

--- Ô mãe! A senhora também! Tá aí. Pronto! – respondia a sua filha Luiza a mau querer.

Vera, por tempo, ficava na casa de dona Maria. Silas, por seu turno, debatia com o velho Diomedes o que podia ter melhor para ser feito na nova casa onde ele poria a sua mãe para residir. E assim, passava o tempo. Em certa vez, o jovem indagou de Diomedes quanto valeria uma casa a beira mar naquela praia distante de qualquer lugar. O velho coçou a cabeça, puxou a barba que não mais existia e, afinal, declarou que, naquela praia ninguém comprava ou vendia coisa alguma. Alí era uma praia de ninguém. E de todo mundo. Com certeza.

--- O senhor tem interesse nessa praia? – indagou o velho.

--- É. Aqui é bom de passar fim de semana. Apenas o mar quando enche, põe água dentro das casas. Não fora isso, é um bom lugar pra se viver. – comentou Silas a passar a mão também a sua cara limpa.

--- Tem um moço, ali, que ele queria vender sua tapera. Acontece que ninguém tem dinheiro para comprar. Ele luta com jangadas. É a única saída que tem para essas bandas. Jangada! – reclamou o velho Diomedes.

--- Ele quer vender por quanto? – indagou Silas com mais cuidado.

--- Não sei. Dois mil, eu acho. – consertou o velho Molambo.

--- E onde está esse homem? – perguntou Silas um pouco interessado.

--- Não sei. Se ele não estiver no mar, deve estar bêbado. – sorriu o velho

--- Bêbado? – olhou apressado o jovem senhor.

--- É. É o que se faz aqui. Ou bêbado, ou pescando. – sorriu Molambo esfregando o chão da casa com o pé.

E foi assim que o negócio começou para Silas. Uma casa na praia. Não raro faltava água nos Coqueiros. A luz, ou era elétrica ou era de candeeiro. As portas, nem precisava fechar. Dormia- se mesmo de porta aberta. E montar um negocia era a coisa mais fácil do mundo. Apenas se arranjada uns trocados e se comprava uma jangada. Com isso, ganhava-se dinheiro como nem se sabia. Duas jangadas. Três ou quatro. Era o negócio da China. Quando acabar montava-se um armazém para vender fiado. E assim, o pescador comprava tudo o que precisasse. O fim do mês nada lhe restava. Ou restavam uns poucos miúdos. Era mesmo um negócio da China.

domingo, 14 de novembro de 2010

AMANTES - 28 -

- Nívea Stelmann -
- 28 -

A mulher, do modo espantado, com temível medo, se recostou ao peito do marido, esperando amparo por parte de Silas. Pouco se incomodava com a flatulência do amante. Ela queria apenas amparo. O homem começou a arrumar os livres, estantes, armários e outras coisas a mais enquanto o velho Molambo guardava também o que achava pelo caminho, até as cadeiras de pernas para cima, sofás destroçados, toalhas pelo chão e o que podia encontrar, desde bibelôs despedaçados a xícaras de porcelana aos pedaços. Vera, por seu turno, na companhia do marido, procurava refazer o quarto todo em desalinho. Ela procurou examinar a janela e notou que por ali ninguém entrara. Voltou ao banheiro, e estava tudo em completa ordem. Ela também verificou as chaves de segredos da porta principal com a qual abrira a entrada e todas as chaves estavam com ela. Perguntou, com certo medo, ao seu marido:

--- As chaves?! – indagou com olhos abertos para Silas a perguntar sobre as chaves da porta.

Esse partiu a procura da chave mestra e encontrou no canto em que a depositara. E se voltou para Vera ao dizer:

--- Está guardada comigo! – replicou Silas cuidando de ter a chave então em seu poder.

--- E quem entrou aqui, Diomedes? – averiguou Vera já falando em murmúrio.

--- Eu julgo ser espírito. – respondeu o velho Molambo.

--- Espírito? Mas que espírito quem fazer um destroço desses?! – devassou atormentada a mulher.

--- Não sei. Não sei. Podia-se se chamar “Paredão” ou Racilva. – respondeu o velho.

--- Hoje?! Nem pensar! – contestou Vera Muniz.

--- Então vamos todos dormir. – sorriu Silas a contestar.

A mulher olhou para o homem e disse por fim com bastante raiva:

--- Aqui eu não durmo! Nem morta! – rebateu Vera cheia de pavor.

O caso tomava rumo sem precedentes com Silas procurando contemporizar. E a mulher não cabia mais em si querendo sair do edifício de uma vez por todas. O velho Molambo atravessou a discussão e formou a hipótese mais viável para aquela ocasião, pois o espírito poderia seguir a qualquer parte os amantes. Foi assim que Molambo falou:

--- No meu pensar, o melhor é se diagnosticar uma sessão agora, aqui. Chama-se “Paredão” e Racilva ou mais alguém para nós fazermos a reunião. – conclamou o velho.

Vera olhou para Silas e este concordou em se fazer a reunião no calor da emoção. Então, Silas ligou para “Paredão” e Racilva a pedir uma reunião de emergência em seu apartamento por conta da comoção que ele testemunhara ao voltar da praia dos Coqueiros. O homem relatou que chegaria a instantes e levaria também Racilva e o “Pescador” pessoas que haviam feito sessões no apartamento de Silas.

O apartamento foi arrumado pela orientação de Vera Muniz enquanto que os dois homens se responsabilizavam de executar o trabalho com pressa para que tudo fosse arranjado na hora de começar a sessão. Silas tomou um banho para se refrescar do dia que passou na praia. E a mulher também. Não hora aprazada “Paredão”, Racilva e o “Pescador” chegaram afinal ao apartamento de Vera cumprimentando a todos os presentes. Após breves conversas do que Vera encontrou da sala onde eles estavam, por fim teve inicio a sessão espírita. Para começar o médium espírita “Paredão” fez prece aos seres iluminados rogando a paz para todos os vivos e em seguida teve inicio com uma oração e mensagem de fé, a segunda parte da sessão. Racilva era a mentora e foi ela quem recebeu o espírito de Annie, como se identificava a todos os participantes da reunião o luminoso ser. Em seguido outro espírito desencarnado teve a oportunidade de incorporar em Molambo, o velho. De um lado, o espírito de Annie indagou do espírito que incorporava Molambo. E assim a projeção se confirmou.

--- Que buscas irmão? – indagou Annie ao espírito das trevas.

--- (sorrisos) Eu te conheço? Nunca nem te vi. Eu quero esse aqui. – discorreu o espírito das trevas sorrindo.

--- Por que tu queres esse corpo mortal? – indagou Annie.

--- (sorrisos) Ele ficou com a moça que eu quero. – falou o outro espírito.

--- Por que fizestes tanto estrago no apartamento desse mortal? – falou Annie.

--- (raiva) Para ele ver quem sou eu!! – discorreu com muita ferocidade o espírito.

--- E quem sois vós? – Annie perguntou com muita.

--- (rosnando) – Ele sabe quem sou eu. (rosnou novamente o espírito). José Macedo é o meu nome. Ele pensa que venceu? – rosnou de novo o espírito

--- Irmão! Deixa esse corpo em paz. – falou Annie.

--- Ele me paga! Esse desgraçado me paga! – rosnou o espírito do mal.

--- Tenhas calma! Vinde comigo para um lugar de paz, luz e refrigério. – dialogou Annie.

E o espírito rosnou mais uma vez até que Annie recomendou a paz e ele pode sair do corpo de Molambo o deixado em paz. Foi uma sessão terrível. Os médiuns estiveram envolvidos aquela noite em um caso melindroso. Molambo foi então a vítima. O espírito das trevas era o homem que em vida foi trucidado por matar a jovem Cila quando a moça estava para se casar com Diomedes Nogueira, o jovem rapaz do qual era a noiva. De há muito, José Macedo perseguia Diomedes. O velho teve tempo em que viveu na mendicância por obra do seu cruel obsessor. O espírito nem sabia o que haviam feito com ele. Ou se sabia pouco se importava com isso. Ele, durantes esses anos procurava se vingar de Diomedes por ter impedido o seu casamento com a jovem Cila. Então, vendo que Diomedes tinha libertado a sua noiva para lugar de paz, Macedo partiu para a vingança como espírito obsessor. O espírito de Macedo era muito mais ignorante do que propriamente maldoso. Racilva recobrou a sua razão uma vez que Annie se retirou.

No dia seguinte, Diomedes estava no escritório de Silas passando em vista umas publicações de belas fotos. Vestindo um terno esporte, apesar de ser o motorista de Silas, ele olhava com atenção as publicações. Ao lado de cada foto e em baixo também vinha impresso dizeres sobre as fotos, algumas das Pirâmides do Egito, túmulo dos Faraós. Ele ficou a meditar como foram feitas aquelas pirâmides. Quantos operários, quantos mestres, quanto ajudantes, quando engenheiros, quantos e tantos. A sua mente não parava de formigar por ver tais esmeros. Silas estava ocupado em seus cálculos e nem se importava com o que Diomedes estava a fazer. Mesmo assim, a atenção de Diomedes jamais se perdia quando o mestre queria dizer alguma coisa. E foi assim que Silas articulou uma conversa que ao tempo Diomedes não entendeu com perfeição.

--- Você precisa tomar um banho. – falou Silas sem levantar a cabeça do que escrevia.

Diomedes ergue a cabeça e olhou para Silas. Então, o homem ficou preocupado com a tal insinuação. Ainda se cheiro para poder responder.

--- Eu tomei banho, hoje. – respondeu Diomedes um tanto preocupado.

--- De ervas. Aromático. Coisa assim. Você anda muito “carregado” – fomentou Silas de cabeça baixa.

O homem então se ateve na reunião da noite passada. E levou um pouco para responder.

--- De fato. O senhor tem razão. Alfazema. Com certeza. – replicou Diomedes.

Após a conversa com Silas sobre os banhos, Diomedes resolveu passar na Casa dos Orixás onde podia comprar alfazema e outros perfumes aromáticos. E olhando mais atento o que havia na Loja, por certo teve a curiosidade de ter às mãos um livro de São Cipriano, caso bastante raro naqueles dias. Diomedes olhou e folheou o compêndio por mais de uma vez e, finalmente reservou aquele epítome. Porém não tinha somente um livro. Havia muito mais. E Diomedes ficou entretido com as brochuras ao passo que havia um amplo estoque de livros, alguns dos quais, extintos no comércio livreiro da cidade. E além das rosas, ervas positivas, folhas de amaci, alfazemas e alecrim o homem saiu da loja plenamente contente. Feliz da vida Diomedes só fazia assobiar repleto de livros, os quais foram possíveis comprar, pois era vasto o conteúdo de alfarrábio ali existente. E não foi sem pressa que o velho se pôs a ler os tomos adquiridos naquela casa mais parecendo um “sebo” de livros aparentemente velhos.

Ao entrar no seu veículo, Silas notou a imensa quantidade de livros que o velho Diomedes trazia consigo além do cheiro aromatizado de perfumes desconhecidos e não evitou em saber o que havia de tão perfumoso havia no interior de seu veículo.

--- Livros, doutor! Livros! – respondeu o velho Diomedes a sorrir.

--- E esse cheiro estranho? – indagou Silas ao velho.

--- Ah. Perfumes aromatizantes de “descarrego”. Coisa de limpeza do espírito e do corpo. – profetizou Diomedes.

Com isso, Silas não teve jeito a mais e sorriu.


sábado, 13 de novembro de 2010

AMANTES - 27 -

- Tânia Khalil -
- 27 -
Após tantas lágrimas Diomedes, o velho, sacudiu para o alto a sua mãe a qual já podia ver melhor o filho seu onde há muito tempo viveu como um pobre de Jó. O homem rodopiou com a anciã Maria por todos os recantos da saleta escura. Ele olhava com sinais de filho carinhoso a sua mãe parecendo menina. Ao assumir as alturas das telhas da choupana a anciã reclamava o cuidado que Diomedes deveria ter para não deixá-la cair ao solo. E sorria ao ver o filho do seu mais alto universo como uma vez tivera essa mesma impressão de que ali estava uma criatura humilde em forma de criança. E dançaram, e dançaram em redondilhas como se fossem duas afetuosas e ébrias crianças benfazejas. Assim, os demais também bailaram ao som de um acordeom inexistente orquestrado por um maestro primoroso e deslumbrado. Ao final da comovente e emocionante dança ravelesca os pares se juntaram em doce riso confrangedor. Os anjos e arcanjos do além glorificaram ao Deus da primavera.

Tantos beijos e carinhos, sorrisos e fraternidades, Diomedes relatou com esmero sobre a viagem que acabara de fazer a Roma, Cidade Eterna, e a visita que fez, junto com os seus chefes, Silas e Vera, a Basílica de São Pedro, o apóstolo, a peregrinação e visitas as catacumbas e a outros importantes locais de Roma e de Veneza. Tudo o que Diomedes contava era visto com carinho por dona Maria, a sua mãe, e Luiza, a sua irmã, além das sobrinhas do homem. Para os que estavam sempre a aprender algo, esse testemunho era o mais feliz de todos. Ele falou de Nossa Senhora, para orgulho de dona Maria. A anciã vertia lágrimas nos olhos e nem ao menos talvez tivesse o prazer de dizer:

--- “AH. Um dia eu também vou ver o Santo Padre” – quem sabe dissesse a anciã.

A anciã Maria não era mais capaz de sonhar com essas aventuras que o filho tivera o prazer de, mesmo com certa idade, fazer a Terra Santa onde estariam sepultados aqueles que foram do tempo de Jesus. Era esse o pensamento de todos os presentes aquela reunião familiar. E para os muitos que estava a testemunhar aquelas façanhas do velho Diomedes, era tão difícil acreditar, pois como o homem da costa brasileira, uma vila perdida no fim do mundo fosse capaz de se meter em tamanha aventura! Um dia talvez fosse bem pouco ou quase nada para o velho relatar tudo o que viu e o que fez. Nesse ponto, atrapalhando a conversa, Silas disse que teria que ir um pouco mais distante com a sua esposa, pois tinham locais que ele então não conhecia em sua terra.

--- Pode seguir patrão. Eu fico aqui com a minha mãe. – respondeu o velho Molambo.

E os dois destemidos andarilhos seguiram a frente em busca de novas aventuras. Quem sabe uma praia esquisita e distante onde não havia viva alma para atrapalhar um recanto de amor ao sol da primavera. O tempo era de estio e nada mais seria possível ocorrer ou acontecer àqueles amantes das quimeras infantis que, certa vez, um dia, então fizeram. Na encosta do morro, os cajueiros nordestinos a fazer sombra ao sol da manhã de verão. Andar ao leu era o prazer de dois amantes onde se banhavam na praia ao longe de olhares inquietos e belicosos. Ao longe, uma vela panda indicava a presença ao longe de uma jangada a singrar o mar bravio e hostil onde os nautas pescadores velejavam ao redemoinho da ventania. Ondas brilhantes e arrepiantes se espatifavam nas pedras ao quebra-mar a desvencilhar na plena areia da praia.

--- Vamos ter que almoçar no recanto onde só se serve peixe. – falou Silas ao findar o que fora então fazer.

--- Eu tenho almoço na bandeja. Nem é preciso. – respondeu Vera a sorrir.

--- Ah bom. Assim se economiza. – relatou o jovem amante.

--- E seria bom ter que nos lavar! – sorriu Vera ao tentar sair da praia para seguir até ao auto.

O rapaz sorriu ao saber que tal providencia era dita para ele. Então correu para mergulhar e voltou com pressa, pois a barriga não mais esperava: frutas, peixe, verduras, um pouco de feijão verde, arroz, macarrão, molho, salada, maioneses. Era tudo o que podia Vera fazer para saborear a dois. Colheres, garfos, facas e mais ocorrências tudo isso posto sobre uma toalha de renda. A comida tinha vindo em uma vasilha de plástico toda ela acondicionada. Além do almoço salutar, tinha o vinho. E Silas podia escolher entre o doce e o seco. O certo é que depois de saborear toda a comida e a bebida só restou a vontade de dormir. E foi isso que ele fez com sua armação a sombra do cajueiro e ao lado do veiculo onde horas depois estava infestado de formigas e moscas.

De volta ao apartamento, Silas, Vera e Diomedes conversavam sobre o dia que passou. Diomedes ventilou um pouco do que estava a pretender executar com a construção de uma nova casa para a família no mesmo local em que estava a outra tapera. Silas, por efeito da bebida durante o almoço estava com uma forte flatulência e, pelo caminho, dirigindo seu veículo, vez por outra ele soltava gases de cheiro fétido. A sua mulher era a que não agüentava mais. Vera baixou os vidros das janelas do carro e passou a descompor o marido em grossos modos. Enquanto isso Silas se melindrava todo e punha a culpa no vinho:

--- Foi o vinho mulher. Foi o vinho. – dizia Silas a morrer de achar graça.

--- Que vinho que nada! Você está é podre! Ave! Não tem quem agüente! – reclamava Vera a todo custo.

--- Quer ver? – dizia Silas ao tempo que outra flatulência estava por vir.

--- Nem vem com essa podridão. Eu salto do carro agora! – reclamava Vera aborrecida.

E outro flato soltava o homem para o desespero da sua mulher.

--- Podre! Cachorro podre! Tapa as ventas Diomedes. Tapa! Esse homem está podre! – reclama a todo instante e a cada flato do marido. Vera Muniz punha a cabeça para o lado de fora do carro para amenizar o fedor que emanava de Silas.

E Silas caía na gargalhada dizendo que a mulher também soltava flatos.

--- E quem cheira? E quem cheira? – gargalhou Silas sem contemplação.

E Vera veio a forra:

--- Vai pra merda! Eu sou tu? – respondeu zangada a mulher como bucho por acolá.

Quando o carro estacionou na garagem do edifício, Vera Muniz abriu a porta e saltou com pressa estabanada, dizendo as mil e uma pragas contra o seu amante. O homem nem reagiu pôs era tamanha graça que restava de vez que Silas apenas gargalhava a ponto de cair sobre a boléia do automóvel completamente extasiado. O velho Molambo ficou a espera de Silas também a fazer risos e a mulher Vera correu depressa para o elevador. As crianças ainda brincavam no playground do edifício, acompanhados das governantas e mães. E Vera nem notou a presença dos desaforados meninos. E se notou, não deu nem contemplação. Ela queria era se livrar de tamanha flatulência do marido.

Ao chegar a porta do elevador, Vera, de vez, entrou e marcou o número de seu andar. O ascensor demorou cinco ou dez segundos para chegar ao décimo andar onde ela ali saltava. Foram os cinco ou dez segundos mais clamorosos da vida de Vera Muniz. A mulher tinha toda a raiva do mundo por ter que suportar por toda a viagem aqueles flatos do esposo. Não dizia nada, mas pela feição de Vera a raiva era a maior do mundo. Quando o ascensor parou no décimo andar ela saiu e caminhou um pouco para destrancar a porta do seu apartamento. E fez o que havia de fazer. Ao entrar no apartamento notou tamanho estrago feito por todo o canto da sala. Ela ainda teve tempo de verificar as portas. E estavam todas fechadas. Apenas o estrago na estante, livros espalhados pelo chão, alguns de folhas abertas, a mesa estava toda desarrumada com os objetos e enfeites por ela deixados completamente esparramados de qualquer forma. As janelas que davam para fora, todas trancadas como Vera deixara. Mas o vendaval era apenas nos utensílios domésticos, nos livros, na estante, no balcão. Em tudo por ele teria que passar. Com um brutal pavor, Vera andou alguns passos até a porta do quarto de dormir. Chegando a porta, abriu para ver se havia algum estrago. Então, foi a pior desgraça que Vera pode observar. Colchões, cobertores, travesseiros: tudo isso puxado. Era uma verdadeira tragédia. E a mulher não se conteve e gritou o mais alto possível. Gritava e gritava a procura de um ladrão que estivera naquele recinto para roubar alguma coisa. Ela correu até o cofre. Esse estava intacto. Não fora mexido. E a mulher gritou aos bravos temores alarmando até mesmo os moradores dos andares de cima e de baixo.

Nesse momento, entra Silas e o velho Molambo, com muito cuidado temendo o que eles encontraram esparramado pelo chão. Silas esperou a volta do ascensor e tomou de volta para chegar ao seu apartamento. Nesse momento que parecia de paz, ele teve de encontrar um tormento. E indagou a mulher que estava aos gritos a dizer:

--- Ladrão! É um roubo! Ladrão! – gritava a mulher desesperada com o tinha ocorrido durante sua ausência do apartamento.

O velho Molambo abriu devagar a porta que dava para o banheiro e por lá não havia nada que se reclamasse. Tão logo o velho Molambo verificou os livros esparramados pelo chão. Também não notou nada que pudesse indicar ser um homem a procura de alguma coisa. O caso da mesa era outro destino. E o quarto desarrumado também. Em nada o velho encontrava sinal de roubo ou de invasão. Foi então que o velho declarou:

--- Só pode ser espírito inquieto! – falou o velho Diomedes com muito receio do que vira no apartamento naquela hora da tarde e noite.

Vera Muniz tremia de medo do que estava a olhar de modo espantado.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

AMANTES - 26 -

- Catherine Zeta Jones -
- 26 -

Era manhã de domingo. Às 9 horas, o velho Diomedes pediu autorização ao seu chefe, Silas Albuquerque, para visitar a sua mãe. Esse concedeu de imediato desde que ele – Silas - e sua mulher também pudessem ir. Já fazia alguns poucos dias que o grupo regressara da viagem que fizera ao velho mundo. Ainda pairava na memória de Molambo o que o homem vira nos passeios que dera pela Itália e Turquia. Casos impressionantes que ele nunca imaginara poder ver. Desde o tempo em que perdera a sua noiva, Cila, morta quando seguia para o altar de casamento, Molambo se desatinou da sorte e virou um mendigo. Suas roupas sujas e um saco nas costas era o presente de um verdadeiro molambo a ficar pelas ruas da capital. Foi assim que os amantes conheceram o homem. Tempos depois, os amantes viram Molambo quando ainda não tivera o propósito de mudar de roupa. E um caso ou outro, o velho tirou os trapos de seu corpo e então, após tantos anos de mendicância virou um soberbo homem. E no momento, o velho Diomedes estava querendo ir ao vilarejo dos Coqueiros para pedir a bênção a sua mãe já bastante idosa após ele retornar de sua longa, porém alegre viagem. Quando esteve na Itália, Diomedes adquiriu presentes para a sua velha mãe, Maria, para a irmã Luiza, para as sobrinhas e filhos das sobrinhas. Ele faria uma verdadeira festa ao chegar da viagem exaustiva que havia feito. Por tal motivo foi que ele pediu a autorização ao seu chefe para poder visitar a sua mãe, irmã, sobrinhas e filhos das sobrinhas.

Muito alegre por ter que ir com Molambo a vila dos Coqueiros, Silas de imediato se arranjou e fez o mesmo com a sua amante. A senhora Vera Muniz casara com Silas muito antes de viajar para a Itália. Alegres e satisfeitos, os três seguiram viajem para o interior do Estado, uma região de praia onde havia paz e sossego para os visitantes. A senhora Vera Muniz já estava no quinto mês de gravidez e sua barriga incomodava. É tanto que a senhor sempre seguia com o apoio das mãos em seu ventre. Quando os três começaram a viajem, Silas ainda perguntou a sua mulher:

--- Não falta nada? – indagou Silas a mulher. Por surpresa essa declarou.

--- Ah. Os presentes. Eu já se esquecera de colocar do automóvel. – disse Vera Muniz.

E assim, sorrindo, desceu do carro para ir buscar os tais presentes que ela e o seu marido também arranjaram para dar a família de Diomedes. Ao entrar em seu apartamento, notou uma janela ainda aberta. Com o vento que soprava aquela altura, no décimo andar, objetos foram postos ao chão pela força da ventania. A mulher procurou fechar a cortina e a janela para em seguida apanhar os presentes guardados em cima da cama de casal no quarto onde ela e o marido dormiam. A porta do quarto estava aberta. Isso não faria suspeita a Vera. Porem, ao entrar no quarto onde apanharia os presentes, um vento forte açoitou o quarto, e a porta abruptamente se fechou. A mulher estremeceu de susto. Algo inusitado. E ela viu que a outra janela, a que havia no quarto, também estava destrancada. Ela olhou para um lado e para o outro e, por fim, partiu para o vão da janela. Pôs a cabeça para o lado de fora e viu seu marido a conversar com Diomedes. De cima do apartamento, Vera indagou:

--- Tudo bem aí? – gritou a mulher achando graça para o seu marido.

--- Como? Tudo! – pôs a mão no ouvido o marido e respondeu alegre.

A mulher sorriu e disse.

--- Estou chegando! – sorriu a mulher para o seu marido.

Vera Muniz trancou a janela, puxou a cortina e foi apanhar os presentes que tinha posto em cima da cama. Ali passou a mão no lençol e de repente sentiu a presença de algo estranho em sua sala de jantar. Ela se virou e nada viu. Um frio açoitou o seu corpo. Ela estremeceu. E correu para a porta vendo se havia alguém ou algo. Vera já a essa altura tremia de medo. Porém ao olhar em derredor, nada pode enxergar que desse sinal de invasão. Pé diante pé a mulher seguiu para sair do apartamento quando, de repente, algo estremeceu a suas costas. Vera se voltou de imediato. Nada vira com certeza. Apenas a porta do banheiro estava aberta.

--- Estranho! Aberta?! – indagou a mulher ao ver a porta aberta.

Ela quis fechar, mas aproveitou para chamar o seu marido que estava embaixo a conversar com o velho Diomedes. Foi até a janela do apartamento. Tentou abrir e essa não obedeceu. O tranco estava duro. Isso era devido à intensa maresia. Tais efeitos em suma afetavam todas as embalagens feitas de ferro como eram os ferrolhos. A mulher desistiu. Temerosa com a porta, ela puxou o trinco e fechou deixando o banheiro totalmente lacrado. Vera olhou em volta, no quarto e a porta do banheiro e nada se mexeu. Por fim, a mulher, com a sua barriga já bem crescida, ela seguiu viajem para abrir e fechar a porta principal do apartamento e pegar o elevador que parava em frente ao seu domicilio. Um homem que vinha no elevador era um morador do último andar. Ela estremeceu de susto. O homem todo de fraque ficou parado no canto do elevador. Vera Muniz entrou no elevador e cumprimentou o homem. Esse a olhou sombrio como não querendo receber cumprimentos.

--- Bom dia senhor. Tive um susto! – reclamou a mulher.

--- Bom dia. – respondeu o homem com voz carregada após longo tempo.

Vera Muniz se postou no outro canto da cabina pedido a Deus que aquele ascensor o vácuo de uma vez por todas já descesse. Apenas ela olhava o homem de fraque que estava sombrio a olhar em outra direção. Após alguns segundos um leve estremecer. O ascensor chegou ao fim do seu trajeto. A mulher se apressou em sair da cabine, quase que correndo, com o coração a bater fortemente e nem olhando mais para o tal homem. A chegar ao automóvel do seu marido ela ainda pensou comentar sobre os acontecimentos pelo qual passara. Porém se conteve e nada preferiu. Apenas juntou os seus presentes arrumados em um canto do banco de trás. Ainda sorriu para Diomedes que estava pronto a esperar que a mulher se desocupasse do seu trabalho. A barriga de Vera um pouco a incomodava. Ela, ao sair do assento da parte de trás do carro, ainda comentou:

--- Essa barriga!! – explanou Vera e sorriu.

--- Pronto? – indagou o Silas a sorrir.

--- Tudo. – respondeu Vera a enxugar a testa molhada de suor.

--- Então vamos nós. – sorriu o homem entrado em seu assento de direção.

--- Pronto? – indagou a mulher ao velho Diomedes.

--- Tudo bem. – respondeu Diomedes a Vera.

Ao chegar à casa de Diomedes, o velho, o casal desceu e logo foi cumprimentado por Luiza, irmã de Diomedes, suas filhas e a meninada. Luiza trajava roupa que fora dada por Vera. Os meninos estavam alegres pensando apenas nos pacotes, pois ali deviam estar os maravilhosos confeitos de hortelã. As moças eram as mais tímidas. Um rapaz postou-se a levar os pacotes para o interior da choupana. A mulher, Maria, mãe de Diomedes, ficava dentro da casa a apenas perguntar:

--- Quem é que está lá fora? – indagou à anciã querendo adivinhar quem podia ser.

O rapaz pouco informava e só dizia.

--- Seu filho e os patrões. – comentou o rapaz.

Dona Maria, a anciã, quis se levantar da rede, mas preferiu ficar sentada, descansando, com as pernas estiradas para fora do descanso, utensílio doméstico de origem indígena. Dona Maria ainda era do tempo que se chamava redes de “hamaca”, mas já enfeitadas com varandas e franjas. Com isso, ela sempre estava a pedir à filha que pusesse a sua “hamaca” de dormir, coisa que nem precisava, pois sempre a sua hamaca estava pronto para a anciã se deitar e não raro dormir. Naquele dia a situação era bem mais diversa. Diomedes entrou casa adentro e foi pedir a bênção a sua mãe. Essa estranhou a figura do homem vestindo calças de gabardine. E de imediato perguntou:

--- Quem é esse homem? – indagou a anciã a sua filha Luiza envolta de netos, bisnetos e do casal de amantes.

--- Não é Dió, velha. Nem conhece mais o teu filho? – reclamou a Irma Luiza estarrecida.

--- Dió? E eu tenho filho Dió? Os que eu tive já morreram. – comentou a anciã.

--- Mas esse é Diomedes, velha! - fazer crítica a irmã de Diomedes.

--- Diomedes? Mas é meu filho. Mas ele está diferente. Ele nunca foi assim desse jeito. – resmungou a anciã desconfiada.

--- Mas ela agora está assim. E pronto. Ô velha renitente! - reclamou a filha Luiza

--- Meu filho? É você mesmo? Como está bonito! Que roupa é essa de você veste? – indagou à anciã se arrebatando em choro.

--- É roupa minha mãe. Quero a sua bênção. – chorou Diomedes ao pedir a bênção.

Vera que estava ao lado também chorou de ver tanta alegria e emoção sentida pela anciã ao rever o filho trajando vestes limpas e de gabardine. E Diomedes adotava camisa e calça de gabardine, tecido antigo e durável feito de algodão com belas e distintas nervuras. A anciã não mais lembrava que tantas vezes lavou esses tecidos nos domicílios de gente rica da capital quando Diomedes era menino. Por isso mesmo o velho menino chorou.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

AMANTES - 25 -

- Juliana Baroni -
- 25 -
Às 17 horas, horário local, chegava a Fiumicino o vôo regular que levava entre tantos outros passageiros os três brasileiros; Vera Muniz, Silas Albuquerque e Diomedes Nogueira, esse conhecido popularmente pela alcunha de Molambo. Todos eles trajavam esmeradas roupas, desde Vera Muniz com vestes de seda, a Silas e Molambo, trajando roupas em negro com um cachecol em volta do pescoço também em negro. Por entre as aberturas dos sobretudos que cada um dos homens vestia, notavam-se camisas de linho de cor branca. Sapatos pretos, meias de seda também de igual cor. E para sofisticação a mais Silas conduzia uma bengala de cor negra tendo deixado com Molambo uma mala 007. Com todo o orgulho, Molambo conduzia essa mala como se estivesse conduzindo o mundo em suas mãos. O Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci ficava a trinta e cinco quilômetros do centro histórico da cidade.

Roma tem o seu núcleo urbano ao longo do rio Tibre. O inverno marca no mês de janeiro com temperatura chegando a zero e marca gelada. É comum chover nessa época do ano. Mas em julho tem início o verão com pouca umidade. Nesse período de verão é comum ter sol a aproximadamente às 9 horas da noite. Por isso mesmo os jovens amantes partiram para Roma no mês de julho. Era a companhia o velho Diomedes Nogueira, o popular Molambo. De início, os três viajantes foram para um hotel de classe. Por essa primeira tarde e noite aproveitaram para repousar e ver alguns dos imponentes monumentos existentes na Cidade Eterna. Era pouco tempo para se ver de tudo. Por isso, eles tiraram uns poucos depois de fazer um repasto em uma estalagem do século XVIII, porém moderníssima para os dias que o casal de amantes e Molambo estava a desfrutar. Algo como La Cucina a Roma de salutar cardápio. Dalí em diante os três companheiros visitaram casas noturnas e mais alguma das atrações que Roma oferecia. Eles voltaram tão logo puderam em taxis para o repouso da madrugada já então satisfeitos do que viram à noite primeira onde tudo era festa.

Manha por volta das nove horas, o trio seguiu para a sede da Agencia Pomar, em Roma, centro da cidade. Os amantes puseram a trabalhar, depois de se identificar que eram brasileiros e estavam a serviço da agencia da qual Vera Muniz era a Presidente. O velho Diomedes, trajando o seu fraque e com a bolsa 007 ao seu lado, foi com os amantes tendo ficado ao lado para atender a alguma solicitação de urgência feita por Silas Albuquerque. O prédio da Agencia Pomar era antigo, porém acolhedor. Os funcionários foram bem dispostos em atender a todos os pedidos que o grupo fez. O caso era bem mais simples do que Vera e Silas pensavam. Ao final da tarde, depois da hora do almoço, tudo estava terminado. Então o casal e o velho Diomedes puderam visitar os locais nobres de Roma. A capital da Itália, com sede na província de Lácio era o que se falava: a Cidade Eterna. O centro histórico com as suas sete colinas: Palatino, Aventino, Campidoglio, Quirinale, Viminale, Esquilino, e Celio. Este era o primeiro passo para o casal e o velho visitarem. Silas não se cansava em ouvir do velho Diomedes:

--- Mas é magnífico!!! – dizia o velho assoberbado.

Aquilo era a história de mais de dois mil anos: Reino de Roma, República Romana e Império Romano. Foi assim que Roma se tornou República Italiana. No interior da cidade encontra-se o Estado do Vaticano, a residência do Papa. Roma é uma das cidades com maior importância na História mundial. Do Império Romano encontra-se velhas ruínas e monumentos. Vera, Silas e Diomedes ver de perto as pinturas que retratavam a história antiga do império romano. A se ver a cidade de um alto podia-se identificar o velho passado historio da capital da Itália. A partir da Basílica de São Pedro avistava-se um panorama monumental da capital do País onde havia um labirinto de casas de moradia e de comercio. Na verdade a cidade cresceu pela invasão de centenas de milhares habitantes que se projetaram pelo rio Tibre e ocuparam seus espaços por todo o recanto. Era a invasão dos bárbaros, ou seja, povo que não seguia a religião da época.

No dia seguinte, pela manhã logo cedo, os visitantes seguiram o trajeto que deveriam ter, em visitar tais velhos espaços. A Prefeitura de Roma, o Coliseu romano, o Metropolitana de Roma, a Estação Termini, o Centro Histórico, a Basílica de São Pedro, o Panteão, a Fontana de Trevi, o Templo de Saturno, o Castelo de Santo Ângelo, o Palácio do Quirinal entre outros grandiosos monumentos que ao tempo perduravam.

--- Um dia só não dá para ver tudo o que Roma tem. – declarou Vera Muniz. Em sua companhia seguia um cicerone italiano mostrando o que de mais impressionante a cidade guardava. Um quadro que impressionou sobremaneira a visitante da Cidade Eterna foi um da Crucificação de Jesus Cristo feito por Diego Velásquez. As Catacumbas de Roma, local que serviu de cemitério subterrâneo aos primeiros cristãos foi algo que por demais impressionou Silas Albuquerque. A mais visitadas em todo o mundo é a de São Calisto, na região central de Roma. Cerca de vinte mil pessoas estão enterradas nesse local. O local é considerado santo, pois ali estão sepultados corpos de pessoas que viveram na época de Jesus Cristo. Outra catacumba famosa é a de Santa Priscila. Tais catacumbas foram construídas cinco andares abaixo da terra. Mais de vinte quilômetros de corredores levam aos diversos túmulos. No tempo em que Silas, Vera Muniz e Diomedes visitaram o local algumas dessas catacumbas estavam abertas aos turistas.

Ao fim do dia Vera disse a Silas que teriam que ir a Veneza, pois o certame da mostra somente aconteceria de agosto a setembro daquele ano. E a produção não ficara concluída para ser exibida em um Festival de Cinema. Mesmo assim, ela passaria por Veneza, pois o roteiro indicava passar da cidade. E os três turistas visitariam o Palácio do Cinema edificado e aberto ao público desde 1932. Afinal, Veneza era um centro turístico de real beleza. A Praça de São Marcos era um dos mais importantes monumentos de sua história. A cidade histórica ocupa uma localização excepcional numa lagoa no Mar Adriático. O principal núcleo da cidade de Veneza é constituído por um conjunto de ilhas no centro da lagoa. Em se olhar do alto a cidade há de se ver um conjuntos de edifícios em torno do rio Ádige. Entre as diversas lagoas que tem a cidade pode-se citar: Lido, Murano, Burano e Torcello. Quem vai a Veneza tem o dever de fazer a sua travessia de gôndola. Mesmo assim, há a travessia de barcos-taxis entre áreas da cidade. Um aeroporto, o Marco Pólo, serve também para os turistas. Para quem prefere ir de táxis, em Veneza existe muito pouco. A cidade foi construída sobre a água. A Ponte dos Suspiros é a mais freqüentada pelos turistas, pois os amantes e dois acompanhantes estiveram a visitar esse local. E os turistas brasileiros tiveram a oportunidade de conhecer a Basílica de Santa Maria da Saúde, a Ponte Rialto e as tradicionais gôndolas venezianas. Vera Muniz fez o seu breve segredo a Silas:

--- Pena que não temos um Leão de Ouro para comemorar. – sorriu Vera com forma amistosa.

--- Nem o de Prata. – sorriu Silas Albuquerque.

Para se chegar à Turquia, via aérea, tem que se começar pela capital do País, Ancara. Depois de um pernoite em hotel da cidade, toma-se outro vôo para a cidade de Anatólia. É impressionante o que os nobres turistas visionaram de imediato: as torres das Mesquitas. O governo é parlamentarista, a moeda é a Lira turca, o idioma é o turco, porém a religião é Mulçumana, com 99,8% de mulçumanos. Apenas 0,2 por cento de católicos e judeus. Quem viajava a Turquia, pegando o destino de Ancara, já sabe: quer conhecer a Capadócia. A população da região não chega a um milhar de habitantes. O nome de Capadócia nem sequer tem em todos os mapas da história. No local são formações geológicas, conseqüência de fenômenos vulcânicos. Que vê do alto Capadócia enxerga apenas montanhas:

--- Aquela é Capadócia; - relatou Vera Muniz ao seu marido.

--- Puxa. Eu fazia outra coisa. – respondeu Silas de boca aberta.

--- Nem se incomode. Pois tem muita habitação para se ver. – sorriu Vera se tranqüilizado.

--- Espero. Espero. – sorriu Silas a mulher.

--- Aquele monte de cupim, pois se parece com cupim mesmo, foi tombado pela UNESCO. – reportou Vera.

--- São habitações trogloditas. – pensou Silas um tanto acanhado.

--- Mas é uma região habitada há milhares de anos. – ponderou a mulher.

--- E como se faz habitação ali? – indagou Silas a mulher.

--- A região foi habitada pelos os Hititas. E suas formas geológicas permitiram aos homens nativos construir habitações escavando o calcário em lugar de erigis edifícios. – relatou Vera.

--- O que é Capadócia? – indagou Silas.

--- Terra de cavalos de raça. – explicou a amante.

Silas sorriu com o seu significado bastante elementar. O avião seguiu reto e Silas pode olhar que toa a região era em um planalto. Ele avistava um vulcão desativado e a vista de um vale. O velho Diomedes estava a dormir na poltrona do avião e nada do monumento universal ele pode observar. Quando os passageiros chegaram a Anatólio foi o tempo de Diomedes acordar. E Vera sorriu encantada com o comportamento de Molambo na reta daquela viagem. O sono talvez fosse conseqüência da viagem cansativa que os três amigos fizeram desde Roma a Veneza e então a Turquia. Meio descontrolado com os solavancos do aparelho, Molambo, ao despertar ainda perguntou:

--- Estamos no Rio? – indagou Molambo assustado.

--- Que rio? – respondeu sorrindo o seu companheiro de viagem.

Enorme gargalhada se fez presente pela voz de Vera Muniz.