quarta-feira, 17 de novembro de 2010

AMANTES - 31

- Julie Delpy -
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E tudo voltou ao começo. Diomedes sentiu a falta do mestre, porém nada pode fazer. Ataque de surpresa. A mulher, viúva, ainda estava no Hospital de repouso a se recuperar lentamente. Um ferimento feio aquele que ela sofrera. O marido morrera e ela não sabia. Só saberia depois de algum tempo quando deixasse o hospital. A mulher sentia raiva do marido por causa da outra. E então, ele tendo morrido, nada restava para a mulher. Três meninos de pouca idade. E o velho Diomedes era quem podia fazer algo para manter a mulher ainda nova. Porém, naquele momento, ele estava à procura de outro mestre. O tempo urgia e ele somente podia nos dias de sábado e domingo.

Após tanto procurar, Diomedes se deteve no caso de um mestre, morador no município. Esse homem tinha serviços para executar e não podia deixar o trabalho. Ele indicou outro, que poderia fazer a obra na praia. Esse estava completamente bêbado todos os dias. Porém Diomedes não perdeu a esperança e foi, depois de muito procurar, ao encontro de um homem de meia idade e esse negociou por um preço bem elevado. Nada feito. Diomedes continuou a procurar. E um dia, ele estava no Mercado da cidade quando, então, foi abordado por um homem que estava de passagem pelo município. E conversa vai, conversa vem, ele afinal encontrou outro mestre de obras. E acertou com ele fazer o restante da construção. Esse dia era um domingo. Na segunda-feira, tudo estava a caminhar conforme o combinado. Porém, na segunda feira Diomedes estava ausente. Por isso mesmo deixou a ocupação com o seu sobrinho para fiscalizar e mesmo ajudar no serviço. O trabalho prosseguiu. Contudo, o novo pedreiro tinha o costume de chegar tarde e sair antes da hora do trabalho. E o caso só veio, a saber, Diomedes no primeiro final de semana. Mesmo assim, foi feito o pagamento ao mestre.

No domingo, veio uma forte chuva. Coisa que poucas vezes ocorria no vilarejo de Coqueiros. E com o temporal, veio a derrubadas das divisórias ainda moles e já erguidas pelo novo mestre, cujo nome ou apelido era Sargento. Apoquentado, em meio ao temporal, Diomedes só sabia dizer com muita raiva.

--- Isso é uma merda! Agora deu! – reclamava Molambo das paredes caídas.

O caso foi levado ao conhecimento de Silas. Esse ficou bastante indignado com o que estava a acontecer. Era dia de segunda-feira. Diomedes já estava de cabeça quente por tanto alterar com as obras que havia desfeito no dia anterior. O dinheiro estava se acabado e nada de obra feita. Nesse instante o telefone tocou. Era Vera. Falou com Silas algo cauteloso. A jovem senhora estava sabendo de tudo porque o que acontecia na casa ou no apartamento, ela imediatamente tomava conhecimento. Silas de repente pediu licença a Diomedes e saiu às pressas. E logo em seguida entrou na sala de Vera e a ouviu dizer:

--- Faça o seguinte. Consulte Câmara e veja se ele interessa em fazer a obra. Não diga nada a Diomedes até receber resposta. – foi o que disse a mulher já com sete meses de gravidez.

--- Está bom. Eu faço isso. E telefono até daqui mesmo. Marco um encontro com Câmara para logo mais. – falou serio o rapaz.

Quando foi a tarde, Silas Albuquerque chegou ao escritório da Construtora Câmara e fez um relato do que acontecera nos últimos dias. De Câmara ouviu a palavra de que a sua empresa tomaria para si o cuidado de construção da casa de Diomedes. Com relação ao custo, esse seria contabilizado da fatura da Agencia Pomar, fosse o que fosse. Ademais, a construção seria toda refeita porque a empresa sabia muito bem que uma casa de praia era uma construção singular para todos os efeitos. No dia seguinte, um engenheiro da firma tomaria nota do que precisava ser feito para dar inicio a obra propriamente dita. Câmara aconselhou a que o velho Diomedes mandasse suspender o trabalho que havia sido feito, pois nova obra seria começada dentro de breves dias. A equipe de engenharia deveria estar no local em vinte e quatro horas para tomar todos os assentamentos necessários. Era tudo que Câmara recomendava a Silas Albuquerque no final daquela tarde chuvosa.

Tendo dispensado seu carro para tratar de assuntos outros, Silas, ao voltar a Agencia teve uma breve conversa com Vera Muniz e logo após chamou Diomedes para tratar do assunto. Ao tomar conhecimento do que pretendia fazer o seu patrão, o velho Diomedes pôs a mão na cabeça ao dizer que essa obra sairia cara demais para quem não tinha quase nada. Silas sossegou Diomedes ao dizer que o valor da residência seria pago pela Agencia Pomar, para qual o velho trabalhava.

--- E quanto vai ser? – indagou triste o velho.

--- Tenha calma! Tenha calma! Quem paga a conta é a firma para qual você trabalha. Entendes agora? – perguntou Silas ao velho

--- Eu entendo. Eu entendo! Agora, e eu quanto vou pagar? – indagou Diomedes.

--- Já ti desse que você deve ter calma! Eu nem sei quanto vai ficar a construção. Por isso, não tenha pressa. – concluiu Silas Albuquerque.

No dia seguinte o velho teve que ir à remota praia e mesmo paradisíaca dos Coqueiros para mandar parar toda a construção, pois não queria ver mais nenhum tijolo pregado nas paredes da moradia em obras depois do que houve no domingo com a chuva torrencial. O dia estava nublado, porém não mais chovia naquele instante. E ele pagou os dias de trabalho ao pedreiro e teve que voltar com pressa a capital no veículo da repartição. No meio do caminho notou uma aglomeração. Gente muita para uma rodovia estadual. O velho foi obrigado a diminuir a marcha e chegou até parar de vez. Outros veículos vinham da capital para o interior e também foram obrigados a parar. Na verdade, tudo o mais pela curiosidade dos motoristas. O aglomerado de gente não deixava igualmente o transito seguir normal como devia. No meio do caminho, um corpo estendido. A vítima estava deitada de bruços caída no chão. Molambo olhou com atenção para ver sem perguntar de inicio. Mesmo assim, diante do tumulto dos que estavam a olhar o corpo do aparente morto ele, Molambo, concluiu ser outra vítima ou de acidente ou de morte matada. Por fim, Molambo indagou de um menino quem era a vítima:

--- Lindô! Mataram ele! – respondeu o garoto a sorrir.

--- Lindô? – indagou preocupado o velho ao recordar que Lindô era o mesmo que matou o preso Sargento.

--- É. Mataram! – sorriu o garoto como se aquilo fosse à coisa mais normal do mundo.

E então o garoto saiu em debandada e outras pessoas se acercavam do morto para verificar se estava de fato morto, com certeza. Uns dialogavam quem matou Lindô outros perguntava quem deveria ter sido. Alguns diziam que o Sargento tinha sido solto e na hora Lindô metera-lhe o punhal no peito. Eram todas conversas sem nexo, porém de verdade. De repente um rapaz falou quem tinha sido.

--- Foi Telmo! Foi Telmo! Eu vi quando ele estava a esperar o morto. Tinha até um revolver! – declarou um rapaz da redondeza.

E o assunto tomou conta de meio mundo. Nesse ponto, dez minutos depois da morte, o velho Diomedes conseguiu passar com o seu veículo e trafegar de volta à cidade apenas a pensar no que estava a se verificar no meio da estrada da praia dos Coqueiros.

No restante do dia Molambo só estava a pensar no caso de Lindô e até assim perguntou a Silas como estaria a passar a mulher do Sargento. Silas, preocupado com seus afazeres, apenas disse que nas últimas horas não tinha telefonado para o Hospital para saber de alguma notícia. E o homem então ficou a refletir que ninguém de fato se importava com a mulher. Em determinado horário ao sair para fazer algumas compras para a firma, o velho tomou a atitude de passar no Hospital e procurar saber do estado de saúde da mulher que foi furada. Na ocasião o atendente procurou saber que nome era o dá mulher.

--- Não me lembro. Sei apenas que ela deu entrada no domingo com ferimento nas tripas. – respondeu Molambo.

--- Momento. Vou saber da enfermeira. – respondeu o atendente.

E saiu um poço gritando pelo corredor do hospital o nome da provável enfermeira.

--- Catarina! Catarina! – saiu o homem com seu jeito de homossexual.

Molambo achou desprezível o jeito do rapaz. E chegou a perceber por mais uma vez voltando-se em seguida para ver a pouca gente que estava a esperar por atendimento ou mesmo por uma resposta para uma consulta com algum médico que estaria de plantão naquele horário. Carros chegavam e partiam no mesmo instante deixando uma enfermeira trazendo um pacote de medicamentos com certeza. Ele olhava a mulher. Essa rompia o vão da sala e se metia de porta a fora com uma pressa brutal. Uma ambulância chegou e encostou para ser retirado um paciente com ferimento de bala, provavelmente. O motorista, muito calmo, abria a porta de trás da ambulância e por ela desciam dois ou três ajudantes de enfermagem. Eles estavam no socorro da vítima. E Diomedes apenas olhava aquele momento de inquietação que vivia um pronto-socorro o dia todo. Era um vai-e-vem eterno. Naquele momento, o atendente apareceu para o sossego de Diomedes. E disse:

--- Ela morreu! – e cuidou de outras tarefas que tinha de se ocupar.

--- Morreu? – indagou o velho ao atendente.

--- Está no necrotério esperando alguém da família. – respondeu o auxiliar.


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