quinta-feira, 18 de novembro de 2010

AMANTES - 32 -

- Juliette Binoche -
- 32 -
Completava o sétimo de gravidez para Vera Muniz. Naquele dia, ela estava no seu escritório quando sentiu vontade de ir ao banheiro para urinar. Ao sair do escritório ela fez um aceno para a sua vice-presidente de que estava a precisar urgente do material. Vera não disse qual, porém Racilva entendeu e respondeu o aceno levantando a folha do papel a dizer que já estava pronto, com certeza. Com isso, Vera sorriu e caminhou depressa para o sanitário existente no edifício da Agencia Pomar. Os demais funcionários estavam ocupados com seus afazeres. O Diretor Executivo, Silas Albuquerque também tinha o que fazer e nem chegou a notar a saída de Vera, a sua esposa, para o sanitário. Era comum se ir ao gabinete por parte dos funcionários da Agência. Na Agência tinha dois gabinetes: para homens e para mulheres indicando apenas com um “Aviso” com os dos homens uma plaquinha com a figura de um homem e o das mulheres com outra plaquinha com um desenho de uma mulher. Alem desses gabinetes sanitários havia dois outros para o pessoal que fazia serviços na Agencia Pomar. Isso em cada edifício do prédio. Na parte dos escritórios da presidente, a sua vice, e dos diretores havia uma divisão de madeira e vidro. Em alguns, essa divisão era fosca, como o da presidente Vera Muniz.

A presidente do órgão entrou no sanitário para cumprir suas obrigações necessárias. Isso foi bem rápido. Logo após, Vera acionou a descarga, daquelas baixas por dentro da parede e olhou sem querer ou querendo ver a urina desaparecer e deixar o sanitário limpo. Foi então que a mulher se assombrou. O aparelho estava sujo por uma cor vermelha. Era sangue o que havia no sanitário. Os olhos da mulher se abriram com um ato de horror, medo e pânico. Ao desespero, a mulher tentou gritar para alguém.

--- Acudam-me! Pelo amor de Deus! Socorro! Socorro! – gritava a mulher, porém com sua voz falhando não deixado se ouvir quase nada.

Nesse ponto Vera Muniz veio ao desmaio. Com a porta meio aberta da entrada do sanitário, a mulher caiu desacordada. No escritório ninguém ouviu coisa alguma. Apenas a mulher que fazia faxina do salão, ao entrar no local em que estavam os sanitários encontrou Vera Muniz plenamente desacordada e caída ao solo. A mulher da faxina gritou:

--- Ai meu Deus. Acudam aqui! – gritou a mulher da faxina para os funcionários que estava por perto.

E um punhado de gente acorreu em socorro de Vera Muniz. O caso tomou conta de imediato do andar do edifício fazendo com que os funcionários mais graduados acorressem em socorro também. E dentre eles estavam Racilva e Silas, o marido de Vera. Cada um que mais quisesse soerguer a sua chefa e patroa. Foi um pleno alvoroço. As pessoas gritavam, chamavam por Deus, punham a mão na boca e faziam qualquer fato para melhor socorrer Vera Muniz. Foi um verdadeiro tumulto naquela parte do edifício. O marido ao chegar e notar a mulher Vera Muniz caiu em cima para ver se ela estava desacordada mesmo. Batia-lhe no rosto e dizia ao mesmo tempo.

--- Desperta Vera! Desperta! Quem viu o que aconteceu? – perguntava ao desespero o senhor Silas Albuquerque continuando a sacolejar a mulher com toda a força possível.

Ninguém sabia ao certo. Apenas alguém respondeu:

--- Ela está grávida! Ai meu Deus! – comentou lacrimosa uma funcionaria.

O seu Diomedes também chegou ao local e foi quem disse:

---Melhor é levar para o Hospital! – argumentou Diomedes cismado com o desmaio da mulher

O esposo de Vera nem escutou ao certo o que dissera Diomedes. Mesmo assim, ordenou que se buscasse um auto. Nesse ponto Diomedes já estava a caminho com a preocupação de ver a mulher desmaiada. Ele nem pensava ou pensava tudo a um só instante: desmaio, gestante. Por isso ele, certa vez, leu um artigo médico no qual dizia que a tonteira e o desmaio eram sintomas comuns durante a gestação. Mesmo assim, ele pensava ser um caso mais agudo o de Vera Muniz e por isso mesmo seria melhor levá-la ao Hospital Pró- Matre onde o médico que a atendia prestava expediente. O velho já estava no veículo quando Silas desceu com a mulher já um pouco recuperada do desmaio. Mesmo assim. O marido a conduzia nos braços auxiliado por duas moças. Diomedes abriu a porta de trás do veículo onde as três pessoas – inclusive Vera – conseguiram entrar. A outra moça ficou de fora do veiculo. E a porção de funcionários também ficou de fora. Alguns na porta do edifício.

Dona Vera Muniz ficou quase deitada no banco de trás segura pelo marido e por Racilva, que também surgiu de imediato dispensando a outra servidora. O carro seguiu para o Hospital e tão depressa chegou os maqueiros colocaram a mulher em cima da maca numa precisão incrível. No meio do caminho, Silas acionou o seu celular para o médico dizendo o ocorrido. O médico talvez tenha dito que a levassem para o Hospital Pró-Matre, pois ele estaria seguindo para o setor.

Na metade do caminho Silas ainda conversou com à esposa:

--- Acorda amor. Não durma. Vamos já chegar. – dizia Silas à mulher.

--- Ai meu Deus. O sangue! – respondeu Vera Muniz.

--- É normal. É normal. Vai passar. – respondia o marido choroso e com voz baixa.

Ao chegar ao Hospital os maqueiros de imediato acudiram a mulher e uma enfermeira aplicou soro na veia. Silas procurou a atendente deixando o seu cartão de previdência particular e correndo atrás dos maqueiros que já haviam desaparecido no edifício.

--- Onde estão os homens? Onde estão os homens? – perguntava aflito Silas à moça Racilva que estava ao seu lado na companhia do velho Diomedes.

--- Eles subiram pelo elevador – respondeu com calma Racilva.

--- E nem me esperaram? – reclamou atônito o homem marido de Vera.

--- Não precisa. Eles sabem o que fazer. – respondeu Racilva ao atônito Silas.

--- Vou esperar o médico. Tenho que esperar! – conjecturou Silas malcriado.

As horas foram passando e nada de médico. Nem mesmo que andar a mulher tinha sido posta. Os maqueiros apareceram com a sua maca e foram para a entrada do hospital. Silas perguntou a um deles o que fizeram com sua mulher. Ele respondeu:

--- Está com o médico. – disse o maqueiro com expressão trancada.

--- Ah bom. Mas o medico qual é? – indagou Silas ao desespero.

--- O de plantão. Só tem ele. – respondeu o maqueiro.

--- Ah meu Deus! Mas é o doutor Dimas! É ele que cuia de Vera. - - declarou desesperado Silas.

O homem não disse mais coisa alguma e foi para a porta do hospital a espera de outro paciente que porventura chegasse. E na entrada do edifício ficou a conversar com o outro maqueiro sobre o jogo na noite e quem devia ganhar. Por mais que quisessem Silas continuava ao desassossego. E Racilva procurava lhe acalmar.

--- Tenha calma. Tenha calma. Tudo vai se ajeitar. – rogava Racilva a Silas.

A moça que atendia o pessoal perguntara a ele se tinha alguma identidade. Silas prontamente a entregou. O velho Diomedes ficou no balcão à espera para entregar ao seu patrão enquanto esse tremia de medo pelo que estaria a ocorrer lá em cima ou cá em baixo. Racilva olhava para o Diretor da empresa com ternura enquanto esse se debruçou em seu ombro a tão somente chorar e angustia e emoção. A sua mulher estaria passando bem ou mal? Era tudo o que mais preocupava Silas Albuquerque. A jovem moça acalentava Silas com afeto igual a uma mãe que mima o filho amado. Racilva tinha um afeto profundo por Vera e Silas como se eles fossem um casal de eternos namorados. Em outras ocasiões ela ficou sabendo a estória dos cajus que Vera lhe havia contado quando ainda era estudante do Grupo Escolar. Elas sorriram para valer do enxame de abelhas a atormentar Vera. A menina Vera ficou toda arrepiada com os cabelos desorganizados. Parecia a ninfa até mesmo um assombro do outro mundo. Ao se lembrar dessa estória, Racilva sorriu por dentro com as travessuras dos dois infantes.

--- Que loucura! – recitou Racilva.

--- O que foi? – indagou Silas procurando adormecer.

--- Nada não. – sorriu Racilva afagando os cabelos da cabeça de Silas.

Pouco tempo depois o velho Diomedes voltou do balcão com todos os documentos de Silas e depositou no bolso do seu paletó apenas pondo os apontamentos e batendo no ombro do homem como se fôra um dileto amigo e como fora afinal. Amigos para sempre.

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