segunda-feira, 1 de novembro de 2010

AMANTES - 15 -

- Júlia Almeida -
- 15 -

Após a cansativa reunião de empossar Vera B. Muniz da presidência da organização para o Brasil, ainda assim a moça teve que participar de outras duas reuniões para poder ter o aval definitivo que era mesmo a Presidente da Agencia Pomar um conglomerado universal. Enquanto a jovem moça participava das severas reuniões a portas fechadas, o seu amante passeava entre muitos locais de abstração para ele. E assim poder ver locais paradisíacos, monumentos históricos que foram preservados, charretes puxadas a cavalos. Umas totalmente abertas. Outras amplamente fechadas oferecendo dois lugares aclimatados cabendo seis passageiros. Jardins em frente a residências medievais. Palácios de nobres na capital do País. Ruas bem largas e arborizadas. Em outros pontos, becos estreitos que daria para apenas uma charrete. Cafés e bares nas calçadas. Hotéis de quatro pavimentos. Em outros pontos também hotéis que espraiavam bandeiras de diversos Países. Igrejas antigas onde o pessoal penetrava para fazer suas orações. Prédios de arquitetura medieval. Parques de diversão de dia e de noite. Lojas de guloseimas. Feira de frutas. Festas com bandas de música. Em outros locais, em um subsolo um rapaz a tocar flauta. Arte moderna, casas de músicas onde cada um podia ouvir a sua melodia preferida posta em disco long play. Bondes elétricos de quatro portas, um puxando o outro. Poucos veículos e diversas propagandas em cada frente de casas comerciais. Nas ruas, um homem a tocar o seu violão a carecer de uma recompensa de alguém que porventura estivesse a ouvi-lo. Um barco de passeio no Danúbio. Um bar repleto de gente. Um garçom a servir a todos os presentes. Teatro e trens elétricos que uniam Viena ao restante da Europa. As estações subterrâneas. Casal de noivos com a moça de véu e grinalda. Essa era a Viena de todos os recantos.

Entre méis de gente de boa índole Silas caminhava para ver de perto os que estavam expostos em todos os locais de um verdadeiro paraíso apenas ouvido falar pelos estrangeiros do outro lado do mundo. Seria necessário se ir a Viena para se ter uma noção do que era aquela capital de um império do mundo moderno. Após perambular por todos esses caminhos, Silas regressou ao ponto combinado com Vera, a catedral de Santo Estevam. Naquele local de absoluto silêncio ele podia ver de perto a majestosa Viena que em tempos passados tivera ocasião de estudar.

--- Que mundo! Que universo! – dizia o homem para si apenas.

Logo após chegou ao seu local jovem vera. Ela fez ver que ainda era provável de ficar por mais um dia em Viena e Silas deveria estar presente também. Ela era então a Presidente do Complexo Pomar, mas era a vez de indicar um novo vice-presidente para ocupar o seu lugar. Por uma questão de ética, ela descartou a indicação de seu amante, Silas Albuquerque. Contudo pediu a Silas a sugestão de outro nome para ser o vice. No templo religioso, Silas não teve sequer uma idéia. E fez questão de sair do local para ver se o aroma vindo da rua lhe daria melhor oportunidade para poder pensar. Vera sorriu. E os dois saíram do amplo e maravilhoso templo religioso passando a caminhar pelas ruas da capital. E foram ver de perto o parque de diversões onde trafegaram por sobre a imensa roda gigante. A brisa sobrava-lhe a face e o homem soltou uma nobre gargalhada a se ver tão alto a descortinar toda a Viena.

--- Isto não é somente altura, querido. É cultura também. – disse-lhe Verinha ao pé do ouvido.

--- A doce cultura dos velhos medievais. – respondeu Silas ao beijar a amante.

--- Foi aqui que nasceu Mozart. E foi também a metrópole da valsa, do gótico e do barroco. Viena é a Capital Européia da Cultura. E são os mais fascinantes centros urbanos da Europa. – relatou Vera a seu amado quando já descia da roda gigante.

Ao beijar a sua eterna namorada, Silas rumou para o hotel onde eles estavam hospedados, o Grande Hotel de La Poste, histórico, do século XVIII, antiga estalagem, situada no centro de Viena. O Hotel La Poste, 2 Estrelas era rodeado de restaurantes, lojas, museus, monumentos históricos, estações de comboios de autocarros. A uma quadra se contemplava o Danúbio e ali havia um boulevard. Em quarto duplo, eles se animaram ao bel prazer enquanto era à noite, após jantar em uma praça ao som de violinos. Ainda foram eles passear junto ao Danúbio após a refeição. No dia seguinte os dois estariam reunidos com a lata cúpula da organização.

Tão logo retornaram ao Brasil, Silas e Vera trataram de fazer a celebração de seu casamento no civil, pois, afinal a moça estava grávida. E Silas sendo o pai trataria com maior rigor o nascimento da criança. Não que fosse um austero pai. Porém um delicado genitor onde não falaria nenhum cuidado a sua mulher. E casados, ela poderia se sentir mais confiante no seu futuro e da inocente criança por nascer. No seu País, o casamento é uma instituição por demais freqüente para um nobre senhor e sua mulher. Sendo ela a senhora presidente de uma organização, nada mais salutar do que ser casada. O casamento se deu sem maiores pompas. Apenas as famílias dos noivos e alguns convidados. A questão do vice-presidente ficou a cargo de Silas Albuquerque. Após apresentar nomes caiu o de Racilva Pontes. Ela era uma antiga colega de colégio da senhora Vera B. Muniz. Então ficou sendo chamada a entidade de “organização das mulheres” para o deleite de Silas Albuquerque que permanecia Diretor Geral da organização.

Em meio dos seus afazeres Silas procurou rever um assunto que deixara para depois: o caso do velho Molambo. Certo domingo, ele e a sua mulher, Vera, tiveram a oportunidade de viajar até a Vila de Coqueiros para ter novas conversas com o velho Diomedes, conhecido pelos dois como sendo Molambo. Era uma conversa simples. Silas não entraria em detalhes de filmagens até porque não saberia do render da estória. Ao chegarem à casa de Diomedes eles puderam encontrar uma meninada sambuda, vestindo apenas calção normalmente de banho. Os menores estavam plenamente despidos. As meninas de maior idade vestiam trajes simples. E as pequenas trajavam calcinhas. O casebre de Diomedes era de duas águas. Mas o chão era de barro batido. A porta era cerrada ao meio. A parte de baixo estava a cair. É tanto que para se abrir ou fechar, a velha porta fazia um rangido. Uma velha mulher deitada em uma rede era a senhora da casa. A segunda mulher da casa tinha seus setenta anos. Ao chegarem na residência de Diomedes, Silas e Vera foram recebidos com pouca confiança.

--- Quer falar com quem se mal pergunto? – falou a mulher mais moça.

--- Seu Diomedes. Ele está? – indagou Silas acompanhado da sua esposa.

--- Ah. Bom. Está de cama. Serve outra? – perguntou espantada a mulher.

--- Não. Não. Nós estamos aqui apenas para fazer uma visita a ele. – sorriu sem querer Silas.

--- Ah bom. Assim eu acho que ele pode. Ele está deitado naquele catre. – cuspiu a mulher para um lado e foi sacudir Diomedes no catre.

Depois de algum tempo, a mulher voltou e disse a Silas que o homem estava a dormir a sono solto, pois tomara uns comprimidos para pegar no sono.

--- Ele é assim. Só dorme se tomar comprimidos. Eu não sei nem qual é. O médico que passou para ele. – respondeu novamente a mulher a cuspir de lado.

Com isso, Silas olhou para a sua esposa e ela muito bem decifrou o que ele queria dizer. Molambo estava a dormir naquela hora. O monte de meninos não era daquela casa ou se era a sua mãe não estava presente no momento. Ele preferia conversar com a mulher que devia ser irmã de Molambo. A velha deitada na rede seria a mãe de Molambo, com certeza. Da última vez que Silas esteve com Diomedes ele falou que estava a morar com uma irmã. Porém não falou na existência de sua mãe. Contudo, a anciã estava naquela rede. Silas não sabia se a anciã era lúcida ou não. E aproveitou o instante para puxar mais conversa:

--- A senhora é casada? – quis saber Silas da mulher.

--- Eu ainda sou. Ele vive bêbado, nos botecos da vila. – respondeu a mulher.

--- Ah bom. E esses meninos? Quem é a mãe deles? – indagou Silas para despreocupar um pouco a mulher.

--- Essa miunçada é filha de um montão de filhas que eu tenho e vivem trabalhando nas casas. – respondeu a mulher cuspindo de lado.

--- Uma linda criançada! – sorriu Vera ao contemplar os netos da mulher.

--- É. Mas dão trabalho que só “bêia”. – respondeu a mulher instigando os pequenos.

--- Isso é normal. - sorriu Vera contemplando os netos da mulher.

--- E a senhora o que é dele? – inquiriu a mulher direta para Vera.

--- Esposa. Ele é meu marido. – sorriu Vera ao dizer tal fato.

--- Ah bom. Meu nome é Luiza. Irmã daquele homem. Filha de dona Maria. Ela está lá dentro. – cuspiu a mulher de lado a responder a inquieta preocupação dos forasteiros.

--- Muito prazer. Eu sou Silas conhecido de Diomedes. – confirmou Silas a Luiza.

--- O senhor é da capital? – indagou Luiza.

--- Eu e minha mulher. Nós conhecemos Diomedes desde que éramos crianças. – sorriu Silas ao falar do seu tempo de menino.

--- Vocês conhecem ele? – sorriu meio amarga Luiza.

--- Conhecemos. – respondeu Vera a sorrir de vagar.

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