domingo, 31 de outubro de 2010

AMANTES - 14 -

- Débora Falabella -
- 14 -
E foi com surpresa que Silas Albuquerque tomou ao chegar ao seu escritório naquela manhã de inicio de ano. A placa havia sido mudada e então estava o seu nome e em baixo: DIRETOR. Ele estremeceu apesar de já ter sido dito por Vera Muniz que havia ele sido promovido a Diretor. A jovem dama ainda não chegara ao seu escritório ou estaria a fazer negócios em outros Departamentos da Organização. E agora, Silas Albuquerque era o novo Diretor. Mesmo assim, ele não saberia dizer a quem teria que dirigir. Se acaso fosse o titulo de Jornalista, assim mesmo não caberia também ser um exemplar Diretor. Ele sorriu por conta do chamado Diretor pois assim seria alguém e não apenas um jornalista. E então, Silas se lembrou de antigos e notáveis jornalistas cuja função era de apenas jornalismo. Algo ascendeu em seu interior ao ver o seu nome acrescido por Diretor. Um instante parou acima de sua mente. E se lembrou de Verinha, a mulher menina, garota, jovem e, com certeza, moça. Ela estaria por trás de tudo o que lhe acontecera no real momento.

Então, Silas Albuquerque passou a ser o novo Diretor de qualquer coisa. Ele era acostumado a dizer que um dia seria também o diretor, um executivo de algum negócio da vida. No instante em que pensava naqueles triviais momentos, chega-se por trás a mulher que lhe era amada. Fez cócega nele e indagou:

--- Que tal? – sorriu amplamente Vera Muniz.

--- OH. (sorriu o homem e disse) – Por trás de um homem sempre está uma grande mulher. – sorriu Silas ao dizer tal costumeira frase.

Vera Muniz sorriu e disse que ao seu tempo ele saberia acreditar no que estava olhando.

--- Ao trabalho moleque. – sorriu Vera passando a mão da barriga mostrando que ali tinha um filho seu e precisava então trabalhar.

Em determinados momentos, Silas Albuquerque foi notificado de uma reunião entre todos os Diretores da Organização. Estaria presente o seu presidente Diogo de La Vega acompanhado da vice-presidente, Vera B. Muniz. Assuntos em pauta: o novo Diretor e as filmagens de Rio das Contas. Era o mês de janeiro, aquele. Data máxima para se fazer as filmagens de locação no interior da Bahia. As equipes de filmagens tinham sido deslocadas para a região da Chapada Diamantina, mesmo sem o acompanhamento do restante do pessoal, inclusive Vera Muniz e Silas Albuquerque. Nesse encontro foi definido o esquema para a produção. O restante do pessoal ficaria no Rio das Contas com os cinegrafistas e quando tudo terminasse, no prazo de quinze dias, já havia outro esquema para ser cumprido. Porém, isso, o presidente La Vega não quis adiantar.

As equipes de filmagens e demais componentes já estavam todas em Rio das Contas. Inclusive Silas e sua amada, Vera Muniz. Os trabalhos andaram rápidos com filmagens in loco do rio, das lagoas e das cachoeiras. Era tudo muito belo e aconchegante se não foram o sol escaldante que fazia capaz de derreter toda e qualquer espécie de vida. Vera se angustiava pelo calor. Não raro deixava de ir para os locais de filmagens para se acomodar em tenda armada para as equipes de filmagens. Silas era quem mais sofria com isso. A toda hora ele estava a procurar pela amante e lhe reservava um copo de água ou de algo parecido com laranja. Ela as vezes não queria. Porém, assustado, Silas fazia dengos a amada e findava com ela a beber um pouco de líquido. Era mesmo um sol causticante aquele a beira do rio. Tinha momentos que não se podia nem filmar com tanto calor abrasador. Temiam-se defeitos nos equipamentos. O diretor das filmagens era um homem de seus cinqüenta anos. Ele não parava de reclamar. Os mosquitos ferroavam a todo tempo, de modo principalmente quando o sol se punha e o frio era igualmente mais temeroso. De dia fazia sol e calor. De noite era a vez da frieza. Nesse tempo as equipes passaram quinze dias até voltar a cidade. Um cinegrafista e seus ajudantes ainda ficaram na região fazendo tomadas. Porém, o restante do pessoal voltou esfogueado de vez para a capital do Estado. De todos, Vera Muniz era a que mais sofria pelo calor, até mesmo em Salvador, a capital.

--- Que horror? Isso é terra de ninguém? – reclamava um dos assistentes.

--- Ora já se viu! Imagine os cangaceiros que viveram nessa parte do Estado. – respondia outro.

O Estado da Bahia era todo um só. Quando chovia – o que não aconteceu durante as filmagens – era só o aguaceiro torrencial. Quando não, era sol terrível. Meninos se podia ver descalço, trajando molambo, à cata de alguma arribação pelo sertão do interior tornado seco. Crianças paupérrimas residindo em casa de barro batido. Em outros instantes, por acaso e entre matas e rochas viam-se moças arranjadas com trajes baratos levando trouxa de roupa por cima das suas cabeças, algumas a cantar toados simples e rudes pelos então velhos cangaceiros. Ou modinhas de sertanejos bem populares no velho sertão. Mulheres de idade média entoavam em seu caminhar os mesmos cantos de sempre e de todos os dias e de todas as horas. Os tropeiros eram homens rudes. Eles caminhavam longas léguas tiranas com foice e outros instrumentos de corte nos ombros e nas mãos. Alguns levavam espingardas de caça. Outros não levavam nada. Os meninos, armados de bodoques, matavam algum bicho para comer a qualquer hora. Eram nambus, cotias ou mesmo rolas do mato. Essa era a sina do sertanejo. Para se bem dizer, a filmagem locou em partes da região onde tinham serras bem altas de um lado a outro. Na depressão, havia planície.

Quando as filmagens foram concluídas nova reunião foi de certo convocada pelo presidente da corporação. Nessa ocasião era para tratar de outros temas. E ficou decidido que a vice-presidente da organização Vera Muniz, devia ir a Viena para ser empossada como Presidente em definitivo, pois La Vega seria transferido para outro País. Com dois meses de gravidez, a moça foi pego de surpresa. E todos os diretores presentes também ficaram surpresos. Silas, o amante de Verinha, teve a maior surpresa de sua vida. De um modo ou de outro, a questão foi encerrada e a viagem de Vera Muniz fora definitivamente marcada. Houve um, porém:

--- Eu solicito de todos os diretores a permissão para levar comigo o Diretor da organização, senhor Silas Albuquerque. – declarou a nova Presidente em exercício.

Houve silencio total. E foi quebrado apenas pelo antigo presidente da organização, Diogo de La Vega ao se referir naquela ocasião:

--- Permitido. – declarou o presidente demissionário, De La Vega.

E os demais diretores aplaudiram a decisão.

Vera Muniz e Silas Albuquerque partiram do Rio de Janeiro em avião de carreira com terminal em Paris, na França. Eles aproveitaram a viagem para visitar Museus, praças, Igrejas, cafés entre outros aspectos que, por ventura, Silas não conhecia. Foi um dia inteiro de visitas até que os dois pegaram um trem para Viena, na Áustria. A moça estava grávida e, dado esse motivo, ela necessitou ir ao banheiro do trem por mais de uma vez. O terno amante de Verinha sempre estava preocupado por seu estado por tal motivo. E sempre que Vera Muniz voltava do gabinete, Silas olhava para Vera e então perguntava:

--- Tudo bem? – perguntava Silas do modo preocupado.

--- Tudo. – sorria Vera ao modo.

E assim seguiu a viagem. Silas, delirante com a paisagem e a cada instante chamava a atenção de fazendas, gado, homens a trabalhar e também o transito de carros, caminhões, tratores entre todos os casos onde se podia ver na estrada. Vera, ao lado da janela do trem, apenas vislumbrava aquilo que já avistara em outras ocasiões. O sono adormeceu a mulher. Por longos momentos ela estava a dormir. Enquanto isso, Silas olhava todo o esmerado panorama até então desconhecido para o rapaz. E ele se lembrou de trágicas ocorrências que por ali se deu em tempos remotos. A II Guerra era tudo o que lhe vinha à memória. Os soldados em seus carros a trafegar pelo mesmo local que então não mais se notava. Jipes, motos, carros tanques e outros recursos da Guerra. Onda de medo. Terror. Ele igualmente trazia em sua memória o passado de um povo tão resistente.

Outras pessoas no trem conversavam em línguas estranhas. Talvez alemão, provavelmente. Ele apenas escutava os sorrisos de algumas pessoas alheias ao que se passara naquela modesta província em meio do ano de 1940. Veio-lhe a vontade de fazer um inominável alarde terrível para o pessoal entre vaias e apupos. E ele nada fez. A cidade de Viena havia chegado. Avenidas largas e arborizadas. Esse era o panorama que Silas descortinava. Prédios imponentes. Palácios, museus e calçadas repletas de elegantes cafés e restaurantes. Gente bem vestida. Silas ouvia sempre dizer que Viena era a décima maior capital da Europa, episódio que ele não acreditava. E tinha o terceiro nível de padrão de vida. Os majestosos prédios impressionaram Silas a todo instante. Feiras ao ar livre era algo que impressionava o rapaz. A cada passo Silas sentia-se maravilhado ao lado de sua querida Vera Muniz que naquela cidade assumiria a condição de Presidente da Organização Pomar. Entre risos e lágrimas, o homem fez os mais amplos idealismos a Viena. Doces, bolos e tortas enchiam os olhos e a boca do rapaz sem ver qual seria o costume do povo vienense. E a Catedral Católica dedicada a Santo Estevam era um monumento colossal. O Danúbio era sem sombras de dúvidas o braço que envolvia a cidade a todo custo. Silas retomou ao que teria que fazer da cidade imperial e decidiu ficar por longos tempos a percorrer as ruas e então reportou a Vera que seria melhor os dois se encontrarem na Catedral de Santo Estevam após Vera ter a reunião para qual foi convidada no Palácio das Nações. E Silas aproveitaria para ver de perto o cemitério dos desconhecidos, um parque existente em um dos lados da cidade onde eram sepultados os pobres ou pessoas cujo nome não se sabia. Ele andaria de charrete e veria o Museu de Bonecas além de ver o mais famoso relógio da Cidade. Esse era o relógio de Anker. No centro da cidade podia-se comprar alguns locais de artigos domésticos, entre frutas e legumes.



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