quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 52 -

- Audrey Tautou -
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No dia seguinte ao sepultamento de Ângela não houve expediente externo no atelier de A Botija em sinal de pesar e luto. No hospital, se informou que Honório permanecia em coma total. Houve fraturas nos braços e em uma das pernas, sangramento do baço e profundo corte na bexiga. Outras informações somente seriam dadas depois das dezenove horas. No hospital permanecia a mãe do rapaz, Do Carmo e outra assistente para cuidar de qualquer necessidade urgente da mulher. Além dessas pessoas ainda visitou o hospital a senhorita Adélia antes mesmo de ir ao trabalho. A comida de Do Carmo era servida de mando da sua cozinheira. Mesmo assim, a mulher não provou em nada apesar da insistência da acompanhante. Todos os apelos foram em vão. A mulher só queria chorar e chamar pelo filho. Honório permanecia internado sob os cuidados da UTI não era permitida a presença de estranhos, mesmo sendo familiar. Apesar de não ter expediente externo, o velho Dumaresq convocou reunião para o dia seguinte, uma quarta feira. Estariam presentes a moça Luiza de Campos, a gerente Nora e um representante da loja nos Estados Unidos, uma vez que nenhum representante da Europa pode vir. Notadamente, na quarta feira, com o estado de saúde de Honório ainda grave, foi realizada a reunião. O encontro era para definir quem ficaria com a direção da empresa durante os dias em que houvesse a necessidade de Honório ficar hospitalizado. Do encontro ficou decidido de que a Diretoria Geral caberia a senhorita Luiza de Campos ficando a gerencia com Nora Velásquez. A Presidência caberia ao senhor Jorge Dumaresq. Foi uma reunião rápida e Luiza de Campos foi investida em suas novas e nobres funções com autoridade de assinar documentos, retirar e por numerários, demitir ou contratar qualquer auxiliar desde que não mexessem nos contratos já existentes assinados por Honório e avalizados por Jorge Dumaresq.

No dia seguinte, a Doutora Luiza de Campos – ela adotou esse título – mandou a publicação nos jornais uma convocação de que: Precisa-se de uma Secretaria. – Na seqüência ao anuncio apareceram diversas candidatas pretendentes ao cargo ou função. Cada qual foi ouvida por Nora Velásquez sob os olhares de Luiza de Campos. Foram ouvidas diversas candidatas. Uma, porém, despertou a atenção maior da senhorita De Campos. Essa senhorita ela chamou quase de imediato para uma conversa. A linda jovem era magra, um pouco alta, trajando um vestido simples, porém godê de cor branca e todo frisado. Luiza olhou bem a moça e perguntou:

--- Nome! – quis saber Luiza falando a olhar nos olhos da candidata.

--- Racilva. – disse a jovem senhorita ligeiramente tímida.

--- Nome completo! – dialogou Luiza a olhar a moça.

--- Racilva de Mileto. - respondeu a moça timidamente.

--- Hum. Nome pomposo. – teceu Luiza.

--- Meu avô é grego. – respondeu a moça fazendo um sorriso com o canto da boca.

--- Isso não importa. Casada? – indagou Luiza.

--- Não. Solteira. – disse a candidata a emprego.

--- Sabe bater máquina? – quis saber Luiza olhando a moça de frente.

--- Sim. Tenho diploma. – sorriu Racilva a esta pergunta.

--- Por que sorriu? – indagou Luiza surpresa.

--- Por nada. Apenas sorri. Mas sem querer. – corou Racilva.

--- Escolaridade? – perguntou Luiza olhando bem Racilva.

--- Segundo Grau. Completo. Penso em fazer Vestibular. – respondeu Racilva.

--- Certo. Você está admitida. Preencha esse formulário e é só isso. Começa hoje mesmo. – respondeu Luiza saindo da poltrona para mandar suspender os inquéritos.

A moça quase desmaio de tanta alegria. Racilva não esperava ser admitida assim de forma tão rápida. Com o papel na mão, olhou Luiza e ainda perguntou:

--- Jura? – indagou Racilva inebriada com a decisão tão de repente.

--- Bata o formulário. Está empregada. – falou Luiza saindo do escritório.

O velho Dumaresq que estava presente ouvindo todo o interrogatório, não teve jeito: sorriu e respondeu a jovem senhorita.

--- A sorte vem quando a gente não espera. – disse Dumaresq se ajeitando na poltrona onde se sentava no decorrer dos dias.

Ele ainda perguntou se Racilva tinha alguma ligação com o filósofo grego. E a linda jovem respondeu que talvez tivesse. Porém, o homem viveu há muitos anos, talvez quinhentos anos antes de Cristo. Ela não estava bem certa da data. Mesmo assim disse que Mileto era província da Grécia. Os seus avôs migraram quando o filho ainda pequeno para o País em que ela estava. Ela não sabia dizer mais. Disse apenas que Mileto é uma antiga colônia grega na Ásia Menor, no sul da Jônia, situada as margens do rio Meandro. Foi apenas isso o que declarou a senhorita Racilva de Mileto. O velho Dumaresq sabia muito bem do que a senhorita Racilva queria dizer, afinal Mileto era de fato uma colônia grega no tempo em que viveu Tales de Mileto há 550 anos antes de Cristo mais ou menos. A mocinha, talvez, tenha trazido o nome por herança ou ser bem conhecida Mileto.

Ao final da tarde do mesmo dia Dumaresq, o velho, esteve no Hospital para saber notícia do estado de saúde do seu sobrinho Honório. O médico que o atendeu informou que ele estava inconsciente e sob fortes doses de medicamentos. Afinal, não se poderia diagnosticar o seu quadro até aquele ponto. A mãe do rapaz Honório, saíra logo cedo para a sua mansão apos ter sofrido uma crise de hipertensão. O medico que a atendeu recomendou descanso absoluto. Ainda naquela noite apareceu no Hospital à senhorita Adélia e se topou com Dumaresq. Ao indagar a respeito do estado de saúde de Honório, teve a mesma resposta. O retorno de Honório talvez demorasse pelo menos cerca de quinze dias pelo que se deixou ouvir pelos corredores do hospital. Os médicos esperavam que ele recobrasse os sentidos.

Luiza era outra. Quem vira a moça dias passado não diria que era a mesma. Seu guarda-roupa mudou por completo após ter sido promovida a Diretora Geral. As etiquetas mudaram por completo a fama de Luiza de Campos, então chamada de Doutora para dar mais charme ao seu invejável posto. Tendo uma secretaria particular da figura de Racilva de Mileto, a Doutora Luiza de Campos seria então a quase dona do império Dumaresq. Afinal, de boas relações com o velho, ela não tardava a conseguir tudo o que desejava. Ainda preocupado com o estado de saúde do seu sobrinho, Dumaresq abriu as guardas para Luiza. Esnobe, prepotente, Luiza tomou severas decisões ao termo de A Botija. Tendo o apoio de sua gerente de vendas, Nora Velásquez a jovem e polêmica Diretora atuou em todos os cantos. Arrumação geral de todo o escritório, contratar um rapaz para fazer os serviços do Porto, mão-de-ferro em tudo o dizia importância numeraria, Luiza de Campos assumiu o encargo com toda soberania possível. Em importantes meios da comunicação locais ela apareceu como à senhora de mando de toda a estrutura. A cada momento ela estava a combinar uma mostra de obras de artes buscando o apoio de Carmen Azucena. Na verdade, Carmen tolerava as ordens que recebia, pois suas pinturas estavam valendo cada vez mais. Com a continuação, Carmen resolveu mudar de estilo em vez de copiar as obras de arte de consagrados aristas. Ela fez ver que podia fazer peças tão significavas como as existentes no mudo. E foi então que se sagrou maga absoluta ao fazer as obras de Jesus, Maria, Moises, O Pecado, uma obra que retratava Adão e Eva, Magdalena, a Sagrada, Os Apóstolos, e varias versões sobre as artes sacras. Houve um rompimento com a Igreja Católica pelo exibicionismo de suas obras. Nesse ponto, o velho Dumaresq abriu guerra contra o Clero, pois ele dizia que as “putarias” estavam guardadas nos sacros colégios de Roma onde se podiam notar as extravagantes obras de arte. Com esse respaldo, Luiza tomou tento e provocou a Igreja com exposições de “Nus” dos mais sagrados santos. E um dos mais fortes momentos concebidos teve o quadro O Parto, obra de Carmen Azucena. A moça mostrava Maria Santíssima tendo o filho. O quadro varou a Europa em todos os Museus, e teve um que comprou os direitos do trabalho como sendo Renascentista com U$ 500.000,00 elevando Luiza das alturas aclamando a sua autora Carmen como a maior pintora viva desse País.

--- Essa é a resposta dos deuses. – clamou Luiza de Campos em última instancia.

Nesse dia e noite houve verdadeira festa nos salões abertos da Cidade comemorando a exemplar vitória suprema de Carmen. Convites chegaram de várias partes da Europa e Estados Unidos para Carmen e Luiza. Dessa vez, as doces moças obedeceram ao destino e foi as duas para os principais museus de Londres, França, Alemanha, Itália dentre outros mais, como Portugal e Espanha além dos Estados Unidos. Elas estavam ricas e eufóricas, a despeito da pouca idade que permaneciam a viver. Os melhores hotéis visitaram Carmen e Luiza, os mais requintados pratos, agentes de artes entre todos os merchandaisin que cobriam de vez as estrelas. Carmen teve que ficar na Alemanha para estudar um pouco mais sobre artes. Luiza de Campos retornou ao País após dois meses de excursão para tomar o seu assento na cadeira de Diretora Geral do salão A Botija, então cheias de idéias modernas para implantar no atelier.

Quando Luiza de Campos retornou de viagem procurou saber o estado de saúde de Honório. E soube que ele havia se curado dos ferimentos, mas em contrapartida, não falava e nem se movia. Ele precisava sempre de alguém para auxiliar na cadeira de rodas movida a motor.

--- Triste isso. – argumentou a moça.

--- Quem está com ele é a sua cunhada. – proferiu a secretária Racilva com lágrimas na face.

--- Tenho que ir vê-lo. – raciocinou depressa a Diretora Luiza de Campos.

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