terça-feira, 26 de outubro de 2010

AMANTES - 9 -

- Alice Braga -
- 9 -

E os dois fizeram o acordo de se encontrar às duas horas da tarde do dia seguinte. Após o telefonema, Silas ficou a tremer e a suar por ter encontrado a sua doce e querida amada de velhos carnavais. A sua mente delirava de tanta emoção. Ele avistara Vera na sessão de cinema de um domingo. Ela estava de braços com o noivo ou namorado. E então pensou Silas em tudo isso que lhe afetara sobremaneira o espírito de jovem. Os colegas de redação estavam a trabalhar freneticamente. O Chefe de Redação estava a buscar as matérias policiais do dia. E Silas ainda não tinha posto em ordem todo o seu material que recebera da reportagem. Nesse espaço de tempo, ele procurou reaver o que se perdera em tal momento, colhendo as matérias mais preciosas do dia para dar ao Chefe de Redação. Silas ainda tinha aula no período noturno e tudo que fazia era pensar em Vera, a doce e inigualável amada.

Quando o relógio da Matriz marcava às duas horas da tarde, Silas entrava na Agencia Pomar em busca da vice-diretora da entidade. Ele tinha que preencher um catatau de documentos, deixar a sua Identidade para reaver depois e tudo isso e tudo a mais não fora a presença da vice-diretora a lhe chamar orientando a portaria que estava um seu amigo. O porteiro então deixou seguir o rapaz. Ela era deslumbrante e luxuosa. Silas olhou bem os seus dedos para investigar se tinha aliança de noivado ou não. E depois de apertar-lhe a mão direita notou que Vera não tinha aliança. Com certeza, aquele rapaz era só um namorado ou coisa assim. Ao entrar no gabinete da vice-presidente Vera, foi aí que notou o seu sobrenome, coisa que nunca tinha observado: Muniz. O seu nome era Vera B. Muniz. Muito embora tivesse visto um “B”, Silas não teceu maiores comentários. Então, os dois começaram a conversar sobre o passado de ambos e até chegar a pretensão de Vera Muniz.

--- Bem. Você termina o curso este ano. Dois meses faltam. E eu quero você aqui, comigo. Eu sou, no momento, a vice-presidente da organização. Essa agencia é um império. Rica até demais. Tem agencias por boa parte do mundo. Hoje, eu estou aqui. Amanhã poderei estar em outro local. E quero ter você comigo! – sorriu Vera com a sua suave tez aveludada e untada de carmim.

--- É danado. E eu vou fazer o que? – sorriu Silas com a conversa de Vera.

--- Aceita? – indagou Vera para sentir a reação do rapaz.

--- Pelo salário nem se fala. Mas tem um, porém: eu sou amador. Foca. Ainda falta muito para aprender. E isso só se aprende fazendo. Eu assumo um cargo nessa organização. Agora; faço o que? – averiguou Silas cheio de duvidas.

--- Bem. Boa questão. Fazer o que? Você já ouviu falar em Capadócia? - perguntou Vera Muniz

--- Ca o que? – estremeceu o rapaz com o nome dito pela jovem moça.

--- Não faz mal. Capadócia é uma região da Turquia. Bem longe daqui. Só tem pedras. E balões também. Balões. Sabe? (sorriu Vera) Desses que o povo faz. Mas, é o seguinte. Se você aceitar a tarefa, tem uma região no coração desse país – o Brasil – que é semelhante à região de Capadócia. Eu tenho a missão de fazer uma excursão para trazer gente de fora. De fora mesmo e deixar esse povo “navegar” por essa região. E o que você faz? Viaja comigo para a nossa Capadócia. – sorriu a moça encantada com a presença de Silas.

O rapaz ficou pensativo como a cobrar de si os anos dourados que passaram os dois em pleno amor sem saber o que faziam. Ele olhava para a face de Vera e sorria sem parar. Apenas sorria para o encanto de Vera Muniz àquela hora da tarde. Não sabia ele porque sorria. Se de alegria ou de emoção. Sorria apenas. Horas de recordar a praia distante que certo dia eles foram para tomar banho e fazer casos indecentes. Naquela hora eles não sentiam o prazer ou o dizer de indecentes. Apenas eles brincavam na praia deserta de amor sem atração. Amor porque queria fazer sem emoção ou desvario. Na praia vazia de gente, eles chegaram a torno das oito horas de um domingo qualquer e de um ano qualquer. O sol brilhava no firmamento em um mês de novembro, talvez dezembro. Eles, inteiramente despidos, nem timidez sentiam um do outro. Era apenas os amantes desnudos a brincar de correr, fazer amor, tomar banho, namorar sem prestar atenção às horas e ao tempo. Era um verdadeiro frenesi o que os dois faziam. E disso ele lembrou em todos os detalhes. Das ostras, das pérolas marinhas, dos peixinhos brilhantes, pequeninos, porém ágeis em escapar das mãos arteiras da garota, dos sargaços de cores diversas, amontoados uns sobre os outros, das caravelas reluzentes e queimantes iguais brasa, águas salgadas, espumas alvejadas a se desmanchar na areia da praia. De tudo isso Silas se lembrava, como notava igualmente dos rochedos entre o mar e a areia do mar. Gigantes tais rochedos como se fossem tragar para sempre os dois infantes. Bocas abertas entre a terra e o oceano tais rochas negras, talvez marrons. Entremeios de um para outro lado como fossem horrendas cavidades abertas ao céu marinho. E de tudo isso Silas não esquecera.

No instante que Vera Muniz falou mais forte, Silas de imediato ouviu. Estava atônito em seu pensar, recordar as melhores fazes de sua vida infante que nem mesmo ouvira a sua amante a dedilhar o que ele havia a fazer. De repente, sem tirar os olhos atentos do crepuscular ornato de esmeralda a descer pelo aberto decote da moça ele sentiu o que estava a delirar naqueles momentos de desafios e de distração:

--- Estás a ouvir rapaz? – indagou a moça a Silas tão meio tonto a cismar a doce candura.

--- Estou. Certo! Capadócia. – sorriu Silas procurando decifrar o que Vera Muniz havia dito.

--- É. Capadócia. Mas não foi isso que eu falei. Você aceita em ir comigo? – indagou a jovem.

--- Mas é claro. Mas eu tenho que pedir demissão do meu emprego. Assim, eu venho para onde você quiser que eu esteja – falou de modo amoroso o rapaz.

A jovem Vera Muniz sorriu de encanto, pois sentia ali a doce primavera de um antigo e eterno amor. O pavimento onde estava Silas no edifício onde funcionava a Agencia Pomar, era bem amplo e a agencia ocupava o trigésimo terceiro ou trigésimo quarto andares do edifício. Tal hipótese fora levantada por Silas naquele instante, vez que a jovem moça lhe avisara estar na vice-presidência da Agencia Pomar e sendo assim, ela estaria no trigésimo andar junto com o presidente da organização. Acima, no trigésimo quarto andar devia ser para reuniões a portas fechadas onde se tomaria decisões ou para fazer conferências. De tal forma era que Silas já estava a um passo do sucesso. Isso dependeria apenas de sua decisão em aceitar a oferta de operar ao lado de Vera Muniz. Uma vez a decisão fosse aceita, era o progresso para a fama. Quase a concluir o curso de Jornalismo e já estando com a sua ocupação garantida, Silas estava então a ser visto por outra forma aos olhos de sua amada companheira. Ao sentir o delicado afago da doce Vera Muniz ele foi a fundo a tomar tal decisão.

--- Está bem. Você me aguarde, pois estou já a pedir demissão do meu atual trabalho. – ressaltou Silas. À embriagues do sucesso.

--- E hoje â noite? – indagou Vera com um sorriso na face.

--- Tenho aula. – sorriu também o rapaz.

--- Ah bom. Mas, de qualquer forma esse é o meu telefone. – disse a moça lhe entregando o cartão com o número do telefone celular.

A noite veio depois que Silas voltou ao trabalho de copy-desc no seu primeiro emprego. Ao chegar ao seu balcão ele redigiu um pedido de demissão argüindo motivos superiores. Nada fez para completar a sua derradeira missão de ajudante de jornalismo. O jovem moço tinha o progresso pela frente. Era tamanha a alegria que o atentava, pois nada mais havia de lhe acomodar daquele instante para frente. Ele seria no dia seguinte um auxiliar da vice-diretoria da Agencia Pomar. Por tudo isso, ao se despedir dos companheiros de redação nem disse que estava seguindo para uma nova e longa missão de estafante progresso. A certo tempo ao finar a aula, ele ligou para a jovem Vera Muniz para dizer-lhe apenas um olá. A moça o atendeu, do seu apartamento e lhe chamou para então celebrar a decisão em comum apenas os dois. Silas esfregou as mãos e partiu para o apartamento de Vera Muniz. Foi uma noite de plena orgia e acertos de tempos passados.

Silas e Vera eram dois em um amplo aconchego. A noite era calma onde a moça residia. Do alto do seu Edifício Lego, onde a nobreza habitava e de onde coisa alguma se podia ouvir, eram os dois amantes em um só delírio. A lua enchia o céu moreno com afago e esplendor. Na avenida, viam-se as luminárias dos veículos a transitar. Eram fios de luz de variadas formas e cores. Violetas, azuis, vermelhas, amarelas e de tonalidades quase ofuscantes para os ébrios notívagos a percorrer as calçadas dos hotéis de luxo como era o apartamento de Vera Muniz àquela hora da madrugada. Na sala ampla do complexo notavam-se quadros de famosos artistas de tempos medievais como também estatuetas de porcelana e bronze das figuras distintas de um passado distante e bem remoto. A luz que iluminava o restante do complexo eram tênue e quase fosca. Um gato de porcelana dormia o seu sono sem alvoroço e mudo. Um bêbado caído ao solo encostado em torno de uma parede estava a dormitar embaixo de todos aqueles contornos de ferro e massa. O mar espraiava-se ao destemor de todos os cantos da divina Cibele ao encanto da Frigia. A luz do cabaré enfeitava-se de plumas como a noite de eternos lampejos.

--- Oito horas amor. Estas a dormir? – indagou Vera Muniz ainda sonolenta.

--- Que? Oito horas? Mas que vamos fazer? - inquiriu Silas a um só tempo.

--- Vamos ao trabalho. Você está em um novo emprego. – sorriu a moça toda despida.

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