sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 53 -

- Fernanda Souza -
- 53 -
Ainda naquele dia, Luiza teve uma reunião com o seu Presidente, Jorge Dumaresq, para tratar de assuntos da viagem e de composição da diretoria do atelier. No curto período de tempo em que passou na Europa e Estados Unidos, Luiza de Campos pode observar as diretorias de outros ateliers e assim pode sentir o que estava certo ou errado na diretoria. Suas idéias eram surpreendentes por demais. Desse modo, ela queria fazer algo semelhante com a Europa. Quando Luiza foi conduzida ao cargo de diretora geral com plenos poderes, para ela isso era o máximo. Porém o negocio não funcionava como devia. Consultando outras diretorias é que notou o erro que tinha cometido no A Botija. O primeiro é que se podia chamar o empreendimento por outra sigla, como JHD ou mesmo de outra forma como sendo JDA. Essas siglas tinham um nome embutido: Jorge Honório Dumaresq seria esse. Ou mesmo Jorge Dumaresq e Ângela: seria outro. Mesmo assim, a sugestão era válida porem não combinava com os nomes. Nesse conflito duraram-se horas a fim. Com o desenrolar do tempo chegou-se a uma conclusão: o nome em sigla seria apenas JD. Com essa sigla se tornaria mais fácil quem telefonar ou passar telegrama escrever ou dizer apenas que era da JD, mesmo que utilizasse a língua inglesa. Para um sentido mais formal se utilizares um telegrama com o nome de: Duma. Com isso se podia telegrafar de qualquer parte do mundo para o prefixo DUMA.

Com isso, Luiza e Dumaresq – o velho – selaram o acordo. Ficaria o nome de A Botija para o atelier apenas porque já era por demais conhecidos. Tinha mais um, porém: a diretoria da firma estava insuficiente. Mesmo sendo diretora com plenos poderes, Luiza sentia falta de mais gente nessa direção. Em outro acordo, Luiza apenas com diretora jamais poderia fazer o que muito bem tencionava. Isso ela estava com um sentido pré-determinado. Ao falar com o velho, Luiza relatou apenas que se poderiam aumentar os membros da direção executiva, como presidência, vice, primeira secretaria, segundo secretario, primeiro tesoureiro, segundo tesoureiro, seus respectivos suplentes, e o conselho fiscal. Então ficaria reservado um cargo especial e pomposo para o velho Dumaresq como sendo Presidente de Honra. O velho Dumaresq estava bastante preocupado com a saúde de seu sobrinho e nem notou a diferença da função e pos o acordo em tudo que Luiza determinou a ele, pois a reunião foi a portas fechadas onde só havia o velho e a moça que Dumaresq já mantinha estreita ligação afetuosa.

Dessa relação sem casamento, Luiza de Campos abocanhou uma casa totalmente arranjada e bem feita, um chofer para um carro que estava a sua plena disposição e ouros bens que a jovem moça assumia o controle total. Ao se sagrar Presidente do DUMA, o que significava JD, a moça se tornou mais ainda importante. Com vestuário de seda fina comprado nas butiques de Paris, Roma e Bonn, na Alemanha, Luiza de Campos estabeleceu um horário para atendimento às pessoas e no restante do expediente faria o melhor que lhe agradava. A senhorita Racilva se tornou vice-presidente da organização. Apesar de não fazer coisa alguma, Racilva se espelhou na moderna presidente. Com isso, as duas moças fizeram viagens pelo País à cata de objetos antigos para comprar e no restante de cada dia passeavam pelas cachoeiras, lagoas e em pleno mar onde se banhavam ao sol. Nessas viagens de negócio, às vezes as duas mulheres tinham a presença de dois cicerones que as guardavam contra intrusos e repórteres paparazzi. A vida sorria para Luiza e de quando em quando ela guardava em bancos das Ilhas Caíman uma boa quantia do dinheiro arrecadado em suas animadas viagens. Disso, a sua vice, Racilva, de nada sabia ou suspeitava.

Certa tarde, Luiza de Campos já estava na sua cidade e olhou as horas em seu relógio Mido de ouro e resolveu fazer visita ao doente Honório Dumaresq para quem reservou aposentadoria por invalidez. O homem era totalmente alheio à realidade da vida. Com a cabeça pendida de um lado, sentado em uma cadeira de rodas movida eletricamente, Honório entendia tudo o que se falava, mas não respondia a coisa alguma. Os seus olhos eram penetrantes, mas de sua boca troncha pela paralisia geral não saía nada que por ele havia dito ou pensado. Na verdade, ele era um inútil. A sua mãe estava sob cuidados médicos e pouca vez deixava o quarto onde se enfurnara. A mansão era um verdadeiro velório de almas vivas. A doméstica Catarina era que fazia a maior parte dos serviços de Honório, menos as essenciais que ela levava para o sanitário. Até mesmo para o banho, Catarina era a moça responsável. Certa vez, aos esfregar o rapaz, ele plenamente despido, notou algo que lhe surpreendeu: o pênis de Honório se tornou ereto. Naquele instante, a moça se apavorou. Quase saiu a gritar. Mesmo assim, com as mãos na boca, ela se afastou do homem lhe deixando cair à água do chuveiro. Tremendo de medo, a moça se voltou para perto e ver o membro do homem endurecido. A moça saiu de novo para um canto do banheiro. Na cadeira estava o homem paraplégico. O sinal de vida só estava em seu membro masculino. Passaram-se minutos com a moça inquieta, olhos esbugalhados, boca trancada com as mãos, toda encolhida, querendo gritar por socorro.

Com o passar dos minutos Catarina tornou a voltar e tocar no pênis do homem para sentir com exatidão se era mesmo verdadeiro aquele sintoma. Da cadeira, o homem não fazia nada. Apenas a moça notou em seus olhos um gesto de como quem diz:

--- “Pegue”. - foi o que Catarina pode observar.

A moça não fez nada e voltou com a cadeira de rodas levando Honório para o seu quarto da mansão e pondo-o na cama coberta com lençóis de seda. Ela o deixou ali, e saiu do quarto em ampla carreira ficando sob uma mangueira, assombrada, a pensar como fora possível ter tal noção de vida de Honório. O homem era um objeto em todo o seu corpo. Apenas o pênis dava sinal de vida. E os olhos do homem pediam que ela tocasse na parte endurecida do corpo.

Quando Luiza de Campos chegou à mansão dos Dumaresq quem abriu o portão foi Catarina e logo pediu que ela entrasse, pois o doente estava em seu quarto. O fato de está doente deu assombro em Luiza, uma vez que se lembrava do homem sadio e cheio de vida. Os dias e as noites que passaram juntos foi o que motivou Luiza mais uma vez fazer-lhe a visita. No caminhar para o centro da casa, Luiza indagou a Catarina se era ela que tomava conta de Honório. A moça respondeu que sim. Mas, a noite sempre estava à dona Adélia, moça irmã de Ângela, esposa falecida de Honório.

--- Eu sei quem é. – respondeu Luiza em trajes magníficos da última moda das butiques do País

--- Ele está aqui dentro do seu quarto. – orientou Catarina se esquivando para fora.

--- Pode deixar. Eu me arrumo. – sorriu sem querer a dama Luiza.

Após breve tempo na companhia de seu ex-amante Honório, abraçando-o de leve, Luiza se despediu escondendo a lágrima que caía em seu rosto. Era tudo inconcebível que um homem tão moço ficasse daquele jeito, inutilizado para o restante da vida, conjecturou para si apenas a jovem moça e dama de todos os instantes. O homem ficou calado, pois nada podia dizer. Contudo, em seu íntimo lágrimas jorravam no ímpeto da incompreensão da natureza fazer-lha algo tão iníquo. Sem poder chorar por fora, Honório chorou por dentro igual a uma criança. Ela era uma bela e estonteante mulher que se paga qualquer preço por uma plena noite de prazer e emoção incontrolável. De um momento feliz para recordar o passado, a mulher se esgueirou pelo corredor da mansão em companhia da jovem Catarina que explicou o dia-a-dia da família com ela sempre a cuidar de Honório desde o banho ao café. Passear na calçadinha da mansão para ter um momento de prazer e despertar, era ela que fazia com Honório em busca de coisa alguma. Via-se Luiza a chorar lágrimas incontidas enxugando com um lenço pequeno e fino os derradeiros encantos de suas emoções.

Após Luiza de Campos partir, Catarina voltou ao quarto para ver como estava a suportar o seu paciente. Logo que entrou, observou que ele havia chorado apesar de nenhuma lágrima brotar em sua face. Catarina abrandou o coração sofrido de Honório afagando-lhe a cabeça tão vaga e inerte. Como se fazia a uma criança, a moça agasalhou a cabeça de Honório em seu seio e fez como se estivesse a dormir. Os seus aconchegos tornaram Honório sentimental, apesar de não poder dizer ou falar. O acalanto a moça era um doce encanto para o coração do enfermo. Foi um tempo de acalanto que viveu o enfermo nos braços de Catarina. Após recostar a sua cabeça no travesseiro, Catarina saiu para um pouco distante do quarto, onde se abaixou para apanhar uns pequenos envelopes que estavam perdidos ao solo. Quanto faz tal movimento, a calcinha da moça apareceu mostrando as suas belas e primorosas coxas. Naquele instante o prazer despertou dentro de Honório e o pênis voltou a se soerguer. A moça Catarina estava de costas para Honório e não teve a observação do caso. Ao se soerguer, viu então, que Honório estava a sentir um lampejo de sensação por ela. Com paciência, a moça procurou ajeitá-lo em sua cama de modo a não aparecer de novo aquele volume protuberante.

Mesmo assim, os olhos de Honório estavam a dizer algo como que ela pegasse. A moça falou devagar para o paciente:

--- Tenho medo! – sorriu Catarina com doce ternura.

Os olhos de Honório insistiam em que ela bulisse o seu pênis, pois era tudo o que ele podia fazer naquele instante de incontrolável amor.

A moça, com todo o jeito, apalpou o homem, olhando sempre para os olhos dele. Era uma dor terrível a que Catarina sentia ao fazer aquele ato de ternura e encantamento a bolinar o homem com suave afeição e carinho. As caricias sexuais provocantes deixou com plenitude a mulher se encolher sobre o terno homem e roçar os seus seios por sobre a ciência do bem e a sabedoria da alma. Era uma ciência oculta e obscura a força que a impelia no espírito de total conhecimento da carne. Saberia Catarina que a qualquer instante o esclarecimento chegaria de modo espontâneo. Gorjeavam os pássaros nos mangueirais buscando em seu canto um pouco de prazer e de afeição. Voavam as andorinhas, os colibris, os pintassilgos, as araras azuis em busca de um novo pouso. Longe daquele local, um gato a dormir sonolento cheio de anseios e de emoções. Crianças brincavam de corda do outro lado da rua em ritmo diurno de que estavam todos eles a par das ocorrências sucedâneas. Manhã de alegria para todos os que estavam a sorrir. No meio da via o carteiro chamava pelo dono da correspondência.

--- Carteiro! – dizia o homem.



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