quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 42 -

- Ana Alvarez -
- 42

A praia ficava a poucos metros do motel, construído a beira mar. Honório e Luiza descobriram há tempo, ainda no sábado pela manhã. O local era amplo por demais. Seus ocupantes eram todos homens de negócio. O mar batia nas pedras e ressoava para dentro da praia. Não havia ninguém para observar os freqüentadores da praia. Muros altos, muito altos, e alguns pescadores se atreviam em içar a vara de pescada mais para longe daquele local. Havia praia, sim. Isso havia. Porém, a despeito da imprensa falar que era uma praia de nudismo, porque era mesmo, os ocupantes dos chalés não tinham que ligar as ameaças vindas pelos jornais. A Prefeitura, essa não dava a menor importância. O proprietário do motel sempre alegava que ali era uma praia de nudismo. As mulheres corriam para o mar completamente despido, igual aos homens. Havia guardas por toda a redondeza para evitar a ação inconseqüente de alguém ou de um penetra em tirar fotos para negociar com a vítima dessas pilantragens. Algo semelhante já havia sido tomado por uns penetras. Eles, sorrateiros, colheram fotos de homens de negócio completamente despidos e depois quiseram fazer a chantagem de “paga ou divulgo”. Esse era um negocio promissor para os paparazzi. Havia sempre alguém por detrás de um monte a espera de um fulano de alta categoria e a lhe tirar a foto, talvez pelo menos para divulgar em revista de escândalos. Valia muito mais para as matérias a mulher totalmente despida e uma boa angulação que o paparazzo fizesse. Tais fotos eram comuns de se ver. Mesmo assim, os homens de negócios, empresários com suas barrigas ao sol, doutores, e mais e mais já não ligavam muito para o fato. Os homens estavam sempre completamente bêbados e se houvesse uma reclamação por parte da família o negocio era então o divórcio, caso houvesse ou o desquite, se não houvesse divórcio. Era costume se conseguir fotos de homens e suas acompanhantes que fossem estrangeiros. Havia certa temeridade por conta disso, pois o fato envolvia muita soma em dinheiro, principalmente para os marajás. Para as mulheres, nem tanto. Nesse caso a foto era apenas uma foto. Por tal motivo tal ocorrência não mexia muito com Luiza de Campos. E Honório, sempre temeroso, costumava ir ao banho de mar procurando as sombras dos pés de ciprestes. Ao descobrir o mar com suas ondas límpidas atraentes e calmas devido aos quebra-mares que se antecipavam Honório, a certa altura do dia, não teria maior prazer e ousadia, a não ser ver as mulheres encantadoras que ali também estavam. Os homens de negócios, barrigudos antes de tudo, corriam feitos crianças nos pegas as suas mulheres, todo mundo efetivamente desnudado. De inicio, Honório ficou temeroso com aquela astucia dos mulherengos algozes da vida. Mesmo assim, ao sentir-se a vontade vendo Luiza totalmente desnudada correu como lebre para ter encontros de amor e sedução com sua acompanhante. O jogo do seu Clube, já não era mais importante. O negócio naquele instante era apenas vadiar e nada mais.

Quando Honório procurou freqüentar um motel à beira-mar, não pensou em viver climas de aventura com a que estivesse vivendo. Ele buscou um local bucólico onde tudo pudesse se ficar a sombra do total esquecimento. Porém, naquele motel também havia o mar cheio de encantamento e de prazer. Uma ponta de morro havia ao longe e a amplidão do mar era de nostálgica aventura. Luiza sabia bem dessas ocorrências, talvez por ter ficado algum tempo na companhia do seu namorado ou mesmo do seu chefe Jorge Dumaresq. Com efeito, para Luiza era tudo um devaneio viver ao ar livre o que provocava surpresa no seu homem, Honório. Se para um lado tinha morros, para outros tinham ilhas, baías, entradas de mar brando de rara beleza para ele não conhecedor de tais encantos. Honório vivia apenas do trabalho para a Mansão e de quando em quando, uma praia ingênua onde se podiam viver as mil maravilhas da própria vida. Ao se deparar com aquela imensidão de lugar, para ele era de impressionar. No motel havia gente de vários países, pelo que ele pode observar. Luiza, por seu jeito de mulher fascinante conversava com umas e outras amigas feitas naquela ocasião. Quando Honório chegou da praia e entrou em um amplo cassino, ele se cobriu por inteiro com vestes do próprio motel, como toalha e calção de banho. Ele passou a observar, com Luiza, o jogo que se fazia naquele local. Havia mulheres que estavam no local do jogo por longas horas. O rapaz pode notar bem isso pelo rosto alquebrado dessas mulheres, perdendo e ganhando as partidas de bacará. Mesmo assim, Honório não se meteu na partida, levando a sua amante até a alcova onde ele por completo se refez com um magnífico e reconfortante banho de ducha feito a dois para em seguida comer algo da cozinha do motel.

--- Menina! Eu não sabia que havia tudo isso em nossa cidade! – reclamou Honório.

--- Para você vê. Tem cada um mais atraente que outros. – respondeu Luiza a sorrir.

--- Como você sabe dessas coisas? – indagou Honório surpreso com a mulher.

--- Conversando, oras! – sorriu Luiza ao se enxugar.

--- Conversando! – observou o homem desconfiado.

--- É. Conversando. – sorriu a dama.

--- Mas você já esteve nesse local? – averiguou Honório com pouco de ciúmes.

--- Nesse, não. Fui a outros bem mais atraentes. – respondeu Luiza sorrindo.

--- E como não me disse? – indagou Honório com um pouco de ciúmes.

--- Você não me perguntou. Eu fiz a minha parte. – sorriu Luiza.

Foi então que Honório começou a julgar a moça que o acompanhava de forma bem mais sutil e condescendente. Para ele, Luiza de Campos era uma moça não mais virgem e vulgar, porém que não fazia programas com qualquer um. Teria ela os seus costumeiros amantes. E Honório lembrou de repente do soarê que ela vestiu na noite da sexta-feira. Roupa enobrecida a qual nem todas as moças e mulheres teriam o direito de possuí-la. Era um caso a pensar, se por efeito ele tivesse a intenção de se amasiar com a sensual e glamorosa mulher a qualquer dia e tempo. Ele sabia de um caso até então insolúvel da morte por suicídio do jovem que ela era a namorada. Mesmo assim, foi um caso. E nesse ponto, ele não merecia perguntar algo a respeito até porque foi um episódio já há muito deveras esquecido. Mesmo assim, e se não tivesse sido algo normal, Honório atribuía o poder de encanto que a meiga jovem garota trazia consigo para atrair alguém igual à serpente fazia para cercar a sua preza. Esse pensar foi de momento e Honório logo esqueceu. Contudo teria a passagem onde a augusta moça lhe disse que conhecia outros locais bem mais suntuosos e diferentes do local onde se hospedara. “Eu fiz a minha parte”, era o que Luiza havia pronunciado. Nesse ponto, Honório se inquietou.

Pouco mais tarde, Honório foi ao bar do motel onde servia bebidas. Ele só queria apenas conversar com alguém que estivesse assim tão amargurado. A moça, Luiza, nesse momento, dormia tranqüila em sua alcova, exausta pelo exercício do banho de mar da manhã. Na carência de uma nova amizade, ele sussurrou ao barman se havia alguém no salão que enfim pudesse conversar. O barman então, perguntou-lhe:

--- Homem ou mulher? – indagou o barman.

--- Tanto faz. Qualquer um. – respondeu Honório com a face inquieta.

--- Espere um instante. – argumentou o barman.

Honório não tinha pressa. Afinal estava confinado em um ambiente até a tarde do domingo. E então, só pensava em que ou como haveria de falar a sua bela mulher. O certo era dizer que pego de surpresa para acompanhar o seu time em uma excursão. Veria ele se com essa conversa haveria de colher um maior conhecimento de Ângela, em sua inocência de mulher. Seria tentar para ver se dava certo. Ele estava de cabeça abaixada quando o barman chegou e lhe disse em voz baixa.

--- Alcova 12 – e piscou o olho. O homem sorriu e se afastou para outro local.

De imediato, Honório se afastou para a alcova dita pelo barman e ao chegar ao número 12, a porta estava aberta, porém encostada. O homem se aproximou e bateu de leve na porta. Abriu e deparou com uma mulher linderrima demais. Talvez tivesse uns vinte anos. Ele ficou suspenso de tanta formosura encontrada toda despida, enrolada apenas com uma toalha de banho. Seria uma visão, pensaria o homem ao se defrontar com a ninfa de alcova. Ele observou bem. Podia ser um homem em trajes de mulher. A alcova era suntuosa. Quadros de Rafael e de Renoir espalhados pelas paredes da alcova. Um espelho gigante denunciava a sua presença. Cristais por todo o recanto. E uma penteadeira de valor inestimável. Tudo era plenamente rico naquela alcova. Tapetes de veludo, toalhas penduradas nos cabides, luz amena em plena tarde. Honório sentiu-se em outro mundo. Uma vitrola tocada um tango muito suave e lento, quase imperceptível.

--- Boa tarde. Entre amor. – falou a mulher de forma divinal e meiga.

--- Você é fêmea? – indagou Honório um tanto desconfiado.

--- E por que não? – sorriu a mulher abrindo a coberta que lhe envolvia e fechando em seguida.

--- Eu estou para conversar. Sinto-me um prisioneiro da sorte. Eu tenho uma parceira que nesse momento dorme. Todos quase dormem. Alguns estão à beira-mar. Poucos. Mulheres divinas. Cada qual com o seu companheiro. E eu estou sozinho neste oceano de luz e de largos sorrisos como o teu. – proferiu Honório numa conquista invulgar.

A dama da tarde sorriu e abraçou o homem querendo chamá-lo a deitar em um leito coberto por toalhados macios e quentes pela forma como eram depositados.

--- Sente-se. Converse! Fale o que sente! – recitou a dama da tarde.

 

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