sábado, 9 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 45 -

- Jane Fonda -
- 45 -
No salão das refeições estava Honório e Luiza ambos degustando um pouco de mungunzá, tapioca, bolos e café. Ao lado, uma porção de gentes. Alguns ainda molhados. Eles foram a praia logo cedo da manhã. Em uma mesa estava Carmen, a moça que Honório conhecera no dia que passou. De onde a moça estava, deu para olhar para Honório. Ela fez um piscar de olhos uma vez que a sua amante, Luiza, estava sentada de costas para Carmen. O homem recebeu o cumprimento e nada fez em troca. Apenas a olhou com firmeza. Carmen entendeu tudo o se passava. Momentos seguintes, Carmen se levantou da cadeira posta à mesa e caminhou direto para o local em que estava sentado Honório. Esse sabia que a moça não teria disposição de atrapalhar o seu romance. Aproveito para dizer a Luiza algo como às horas, se dirigindo a Carmen de modo a que Luiza não viesse a suspeitar.

--- Dez horas? – indagou Honório para Luiza.

--- Quase! – respondeu Luiza sem suspeitar de coisa alguma. Porém a jovem Carmen compreendeu e de passagem sorriu para Honório. Ele se conteve. Mesmo assim ainda disse:

--- Mais tarde. – falou Honório displicente.

--- Mais tarde o que? – indagou Luiza sem entender o sinal do homem feito para Carmen.

--- A gente vai. – respondeu Honório para apagar a fogueira da cisma.

--- Ah bom. Você já disse isso. – sorriu Luiza procurando olhar em sua volta se alguém passava.

A música que saia do sistema de som do salão de refeições era cândida, doce e edificante. Para Honório, nos seus aconchegos, era uma melodia terna e compassiva, humana e sentimental. Ele apenas dedilhou, olhando para um lado e para o outro com vagar como quem procurasse alguém. Mesmo assim, somente havia mulheres e os seus companheiros. A jovem moça olhou fixo para Honório e então perguntou:

--- Quem tu procuras? – indagou Luiza um pouco cismada.

--- Ninguém. Quer dançar? – inquiriu o homem a mulher amada.

A moça se soergueu e se dispôs a bailar sob a música delirante envolvendo todos os corações enamorados. Os dois então a dançar nem teceram juras de amor. Eles esperariam para bem depois no aconchego da alcova. E a música terna dizia apenas juras de afeição para aqueles que estariam sempre apaixonados. Casos de apego envolvente para os que estavam apenas a amar para todo o sempre, igual à devolução dos corações sangrantes de candura apaixonada. Amores de intensa procura e de sorrisos afoitos como para todo o sempre. Um carinho para dois era tudo que a melodia pedia para os débeis enlevados, a esquecer que o café já estava frio e nada mais tinha o que fazer de repente e afinal. Terna e extraordinária, a música apenas chamava os amantes ao seu apaixonado conforto à luz de um candelabro. Uma saudade imensa se afogou no peito de Honório ao toque de uma melodia. O homem não perdia a noção do tempo e teceu a lacrimar de uma eterna nostalgia de seu amor. Como a cabeça voltada para trás de Luiza não a deixava a ver os seus sonhos embriagadores naquele momento de sedução dado através da encantante e débil harmonia.

Após o almoço servido às duas horas da tarde, Honório e Luiza se recolheram a sua alcova para repousar, conversar e jogar cartas. Honório só sabia pif-paf. A moça era mais esperta. Sabia quase tudo no baralho. Ele jogava cartas por jogar. E estava fazendo o seu jogo para ver quanto tempo Luiza suportava ficar atenta sem dormir. E assim, Honório foi indo até certa hora quando a moça abriu a boca um sinal de que necessitava dormir. Ele olhou o semblante de Luiza e ficou atento da vez que a moça confundia a jogada. Quando isso o ocorreu ouviu da jovem donzela o desejo de querer dormir. Então Honório recolheu as cartas e seguiu para o sanitário. A moça caiu no leito pronto para dormir apenas dizendo:

--- Não se esqueça de me acordar antes das seis. – falou Luiza já morrendo de sono.

O homem disse sim do banheiro onde estava. Dentro do banheiro Honório demorou um bom pedaço fazendo serão para dar a oportunidade de Luiza conciliar o sono. Ao sair ainda observou a moça para sentir se a mesma estava fielmente adormecida. Honório se lembrou da bebida que Luiza tomara durante o almoço no salão: vinho tinto seco o que forneceria maior tranqüilidade para o homem. De imediato, ele saiu devagar, pisando em ovos. Da porta ainda observou para a moça e ver que exatamente dormia.

--- Muito bem! É agora! – esfregou a duas mãos e partiu para o abraço.

Ele estava querendo encontrar novamente Carmen, a mulher sensual e abstrata. Da ultima vez ele não quis fazer coisa alguma. Naquele dia seria a segunda. E tão logo seguiu ao bar, foi de pronto perguntar se a chave doze estava livre. O barman olhou para o quatro das chaves e voltou a dizer para Honório:

--- Ela foi embora, mas deixou recado para o senhor. – respondeu o barman.

--- Qual foi, qual foi? – indagou Honório apressado.

--- Ela mandou dizer ao senhor que tinha entendido. – foi o que disse o barman.

--- Isso é uma bosta! E ela foi para onde? – perguntou angustiado o homem.

--- Partiu. Foi embora. Hoje, mais cedo. – dialogou o barman.

--- Ora porras! Estou lascado! – revidou Honório não querendo assim acreditar na resposta do barman.

O barman sorriu e não disse mais nada. Nem mesmo o decifrar do pensamento de que Carmen poderia estar com outro em uma alcova qualquer. Honório vergou a cabeça para o texto do balcão do bar e se escorou nos braços. Foi um momento apenas. De repente se soergueu e se levantou preparando-se para sair, olhando em todas as direções para ver se ainda estava por algum canto a mulher dos seus delírios. Honório se escorou por instantes no balcão do bar com os cotovelos, mas de nada adiantou a sua esperança. O homem batia alguma bebida em um sacolejar intermitente o seu conteúdo em um objeto de alumínio. O barman não tirava o olho de Honório enquanto ouro garçom passava por detrás dizendo apenas;

--- Saindo! – disse o garçom que estava levando uma bebida para alguma mesa.

O barman olhou ao redor e não disse nada. Aquele era como um aviso de que estava saindo para servir alguma mesa do salão. Honório se desencostou do balcão e saiu a caminhar para fora do local onde estava a pensar quanto tempo perdido por causa de uma mulher. E assim, Honório divagou para um lado de outrora quando a sua mãe lhe falava dos casarões que havia na rua onde morava no tempo em que era menina. E depois começou a se lembrar da viagem que fez com a sua atual mulher, Ângela e a vez que ela lhe forçou a fazer amor. Coisas simples que aconteceram durante a sua vida. Com um pouco ele estava sentado em uma cadeira forrada de veludo a contemplar o oceano. Sua cabeça doía talvez por conta da bebida que havia ingerido horas antes. O homem se espreguiçou na cadeira de veludo e ali adormeceu. Uma mulher com vestido de cor de goiaba madura vinha se chegando a passos mais ou menos rápidos, em meio a um turbilhão de gente parada em uma calçada a espera que a casa bancaria abrisse. Honório havia saído do meio da multidão. Ele viu a moça e logo correu para o encontro no meio da rua. A moça respondeu que estava vexada, pois morrera uma parenta sua. Ele ficou sem ação. De repente, o homem viu quando a moça se entremeou por entre a multidão e desapareceu. Ele acordou de repente. Tudo não passaria de um sonho.

Naquele instante Honório viu chegando ao local onde estava à companheira Luiza, vestida com um indumento cor de rosa, do motel, com certeza. Ele esfregou os olhos para dizer:

---Estava sonhando com você. – e sorriu sem graça.

--- Mentira! Mentiroso! – respondeu Luiza a sorrir.

--- Que horas? – perguntou Honório se esquecendo de olhar no que estava em seu pulso.

A moça olhou o seu relógio e disse em seguida:

--- Cinco horas. – disse Luiza olhando a praia distante.

Honório se levantou da cadeira e seguiu para o banheiro do motel, uma casa grande, imensa até demais, parecendo mais com um casarão do tempo antigo. A cor do prédio era amarela, de apenas um andar. Mas havia ali todo tipo de jogos de azar com as pessoas acordadas a noite inteira e segundo por o resto do dia e emendando com o outro. O casarão tinha uma suíte na parte do meio que fazia uma espécie de divisão do terraço. Havia um estacionamento de carros na parte da entrada deixando a impressão de que era uma varanda confrontando com o chalé de cima. Tudo era requinte de prazer que o motel proporcionava. Ao parar o veículo no local de entrada a pessoa sempre deixava a chave para que o funcionário guardasse o carro em outro ponto. Tudo em si era de uma admiração impar. À noite, tudo era iluminado, por dentro do lugar e por fora com as lâmpadas pregadas na parede. Em cada suíte havia um largo pelo lado de fora para proteger o casal. As portas do motel, nas suítes, ficavam abertas noite e dia. Os jardins eram cultivados com plantas exóticas e flores deslumbrantes e belas. O anoitecer no motel era como se fosse o amanhecer de uma linda primavera. O nome do motel era visível em um canto solitário. Eram ali aonde poucas pessoas chegavam e admiravam de verdade. O rapaz arrumou-se de pronto e passou na recepção onde efetuou o pagamento das despesas feitas. O seu automóvel já estava à espera. Ele ouviu da recepcionista o;

--- Volte sempre! – disse a moça com um sorriso largo na face.

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