quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 51 -

- Kassandra Marr -
- 51 -
O Carro-Tanque, objeto nauseoso, todo negro, dois faróis da frente parecendo olhos malignos, pára-choque mais semelhante a uma boca de animal negro de silvestre, o feitio da frente do motor onde tinha o radiador, parecia a de um famigerado dragão ou de abutre à caça de outro animal acanhado, os pára-lamas eram bochechas de um monstro famigerado e untuoso. Na sua cabine não se podia observar mais nenhuma pessoa a conduzir pela força da fumaça que o carro-tanque soltava. O tanque de óleo cru era tão negro quanto o sujo que lhe encobria. O caminhão tanque a tocar uma buzina alarmante veio com toda impetuosidade para cima do acanhado Lincoln conduzido por Honório. O homem, atormentado pelo pavor de uma colisão iminente, rodopiou o seu aprimorado veiculo em sentido da esquerda deixando a traseira para ser abalroada no iminente instante. A buzina do carro grande não parava de soar quando o impacto dos dois autos aconteceu. O carro de Honório não suportou tal colisão do caminhão tanque que rodou no mesmo canto em duas voltas. Honório foi lançado ao solo e a sua esposa Ângela teve imprensado no banco em que estava sentado o seu corpo franzino e fraco. O carro tanque pulou sobre a traseira do veículo Lincoln então vergou igualmente para a esquerda, despencando a sua arrogância em umas pilastras que protegiam a rua por onde rumava Honório. Dali em diante, o colossal monstro enfurecido desceu pela rampa gigante de um morro onde existia apenas o matagal. O carro tanque quebrou arvores em seu arrogante furor de animal estúpido e selvagem. Óleo derramou-se pelo matagal provocando um assombroso incêndio sem precedentes por ampla extensão da conservada mata. Sem poder escapar, o caminhão tanque, de rodas para cima vomitou o seu derradeiro lamento no estertor da morte. Na rua da arrepiadora ocorrência, os carros cujos motoristas conduziam paravam para seus ocupantes resgatarem as vitimas do letal acidente. Eram dezenas de autos parados em todos os sentidos. O povo que trafegava pela mesma rua admirou sobremaneira o impacto dos dois monstros de ferro. Eram rumores que se falavam a todo instante.

--- Ave Maria!!! – dizia um.

--- Cuidado! – outro afirmava.

--- É fogo muito. – falava alguém que vira o caminhão emborcar pelo despenhadeiro.

--- Socorro! Urgente! Pega o homem! – argumentavam quatros homens que procuravam dar socorro a Honório.

--- Tem uma mulher aqui dentro!!! – gritava um que se estendia para dentro do Lincoln.

E as buzinas prosseguiam por parte de outros automóveis que estava no fim do amontoado de veículos. Foi total gritaria com gente correndo para ver de perto os feridos ou mortos. Um homem que pareceu ser médico se acercou a mulher que estava presa no banco dianteiro do Lincoln e se apressou em soltar o seu corpo do meio da ferragem. Ele argumentava.

--- Eu sou médico. Dá licença. – dizia isso com tamanha pressa.

Outras pessoas que estavam no mesmo lugar e afastaram então. Do outro lado do carro, o corpo inerte de Honório era conduzido para dento de outro veículo. Em seguida, depois de muita pressa, o homem saiu do local do impressionante desastre queimando pista em seu carro, levando o gravemente ferido para o hospital. Dois outros homens foram com o homem que prestava socorro à vítima sem perguntar quem era. Um pacto de solidariedade se firmou naquela ocasião. Ninguém queria saber quem era a vítima. Um policial que se encontrava no local do arrepiador desastre, agarrou um rapaz que tentava escapulir de muito rápido levando a bolsa de cédula de Honório. O policial agarrou o rapaz pelo colarinho e cortou o seu cinturão o levando para algum distrito próximo. O delinqüente apenas gritava:

--- Eu não sou ladrão! Eu não sou ladrão! Eu não sou ladrão! – gritava o meliante.

Mesmo assim foi levado para o distrito policial.

Em seguida, foi retirada a mulher do automóvel com o medico temendo pela a vida da mesma ao dizer, com certeza.

--- Sua pressão está caindo. – após retirar o aparelho de auscultar as batida cardíacas.

De imediato, quatro homens se juntaram e pegaram a mulher totalmente ensangüentada com fraturas impostas nas pernas e nos braços, sem sentidos, em pleno coma e partiram a gritar como uns homens destemidos para socorrer. Eles entraram de imediato no primeiro carro que encontraram e gritaram para o motorista:

--- Depressa! Depressa! A mulher está viva! – gritou um deles. E se arranjaram no interior do Buick que estava próximo. O veiculo prosseguiu em desabalada viagem buzinando para o pessoal sair da frente. Era gente demais que se formava em torno do Lincoln sinistrado. Cada um que contasse a sua versão para o fato ocorrido às onze horas da manhã daquele dia.

Com poucos instantes chegou um carro de bombeiros. Apenas tinha que apagar o incêndio que se alastro mata adentra provocado pelo carro tanque repleto de óleo cru que se projetou para a sua derradeira viagem. Era fogo demais e os bombeiros não podiam nem chegar perto para tentar apagar. O caminhão tanque ardia em chamas. A fumaça subia ao céu. As árvores se desmanchavam em chamas. Vasta porção de terra e selva era consumida pela veemência do fogo abrasador. Por mais que tentassem chegar, para os bombeiros era impossível. De longe só ouviam o gemer do caminhão tanque como se fosse pantera agonizante e quase morta. Era bem certo que o fogo teria que demorar algo em terno de oito horas ou mais. Só então os bombeiros poderiam vasculhar o local para retirar o corpo do motorista. Com o correr do tempo, mais quatro viaturas chegaram ao local da calamidade. Outros carros de reboque retiraram o Lincoln esfalfado do ponto onde estava e arrastaram para o cemitério de carros imprestáveis, pois o veículo estava todo retorcido. A carteira da moça Ângela foi encontrada no interior do veiculo. Com isso a polícia pode saber a identificação da mulher. O investigador de policia que deteve o marginal, também colheu informações de quem era o homem do Lincoln. Diante disso a polícia teve condições de avisar aos seus parentes. Fotos foram tiradas de todos os ângulos do automóvel e, depois, do caminhão tanque.

No acidente daquela manhã, a vítima fatal foi à senhora Ângela Dumaresq. Ela não suportar as fraturas que sofrera, mas a causa mortis foi dada como sendo hemorragia interna. A mulher viveu ainda algumas horas. Ela faleceu a pouco antes das cinco horas da tarde. O homem estava em coma profunda. O hospital onde ele fora internado já estava com seus devidos documentos e nome. Honório Dumaresq. Mesmo assim, apesar do inchaço em sua fisionomia, teve médico que logo o identificou por ser uma pessoa queria da sociedade. A família de Honório foi avisada. A mãe do rapaz caiu em desespero. Seu coro angustiante era a suplica de todas as mães que chegam a fazer num instante como esse. A nora ainda não tinha morrido. Mesmo assim a família de Ângela foi igualmente avisada. Com poucos instantes todos estavam presentes no saguão do hospital. Era a uma só voz a pergunta em saber pela vida de Ângela e de Honório. Choros e convulsões a cada momento era a maior causa presente. A moça Adélia também estava liturgicamente no seu local a comoção da família naquele momento de dor.

O tempo passou até que veio às cinco horas da tarde. Nesse horário se anunciou aos familiares que Ângela não sobrevivera. Nessa hora toda a família chorou. O velho Dumaresq que estava presente pediu alma, pois essa era a vida de todas as pessoas. Porem ninguém jamais queria saber dessa determinação de Deus, pois ele fora cruel com todos da família. Mesmo assim, o velho, diante da comoção esperada, disse que não se pode contra a Lei de Deus. Ele é justo. Muito pior foi o caminhoneiro que morreu carbonizado, alegavam o velho. Mesmo assim, aquelas palavras aflitivas só aumentavam a dor dos parentes de Ângela.

--- Isso não é justo. – dizia a mãe de Ângela.

--- Ela sofreu ferimentos graves na perna nesses dias e estava voltando para a mansão, depois de curada. – respondeu a irmã Adélia.

O sepultamento de Ângela foi feito no dia seguinte com a participação de parentes, vizinhos, pessoas amigas e gente a alta classe social em manifestação de uma condolência geral para toda a família pranteada. Mesmo os sinos das igrejas repicaram por uma hora em sinal de luto. A urna mortuária foi posta no tumulo da Família Dumaresq onde estavam sepultadas pessoas da mais antiga geração. Entre todos os que acompanharam o cortejo fúnebre estavam à dona Almira, mãe de Ângela, a sua devotada irmã, Adélia, parentes da família Dumaresq, incluindo dona Do Carmo e o tio de Honório, o velho Dumaresq e esposa Anita além das mais superiores personalidades da Cidade. Flores enfeitavam a urna mortuária. Além do mais as estavam no cortejo grinaldas e adornos de várias personalidades e familiares bem como de representação das empresas no exterior da loja de arte A Botija, da qual Ângela era uma das altas executivas. O sacerdote da Igreja Católica fez breve leitura do Evangelho da Bíblia benzendo por fim com água benta a sepultura onde foi posta a urna mortuária com o corpo de Ângela. Prantos e dores eram ouvidos por ampla gama dos que fizeram a companhia do ataúde até o cemitério público. Fotógrafos de jornais estavam presentes igualmente como repórteres de rádio e jornais da cidade. O expediente não houve nesse dia no atelier como também na tarde do dia anterior. Uma faixa negra em tamanho gigante foi posta na entrada do atelier com dizeres alusivos a nobre executiva que tão depressa partiu desse mundo. No interior de A Botija foi posto um retrato em tamanho gigante de Ângela Emerenciano Dumaresq. Várias faixas eram pregadas na loja com dizeres “Estamos de Luto”, “Viva Ângela”, “Deus de Guie, Ângela” entre outros bem sugestivos. Uma chuva brusca caiu sobre a cidade, principalmente o cemitério na hora do enterro da pranteada e dileta diretora do atelier. Para muitos, era a natureza que chorava àquela hora por conta da solene procissão dos aflitos familiares da jovem pranteada Ângela Dumaresq. E o sacerdote cristão disse muito bem tal frase emblemática: “Aqueles que amamos nunca morrem”. Houve prantos eternos por tal dizer.

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