sábado, 2 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 38 -

- Marion Catillard -
- 38 -
Ângela, na Mansão dos Dumaresq, recebia a visita de sua mãe, Almira, que foi ver como estava passando a sua filha depois do acidente sofrido no escritório de trabalho. Ângela teve uma fratura do fêmur e engessou a perna direita por completo, tendo ficado em repouso em seu leito doméstico. Eram três horas da tarde quando Almira chegou a Mansão. Quase que não havia viva alma. Ela bateu palmas e veio o pai de Catarina para abrir o portão de ferro. Almira agradeceu e entrou na Mansão, seguida pelo homem até o quarto onde estava deitada a sua filha Ângela. Almira não era de muita conversa e perguntou a filha como estava passando com o tal problema da perna. A moça apenas disse:

--- Mais ou menos! O negócio coça que nem ele. – choramingou Ângela.

--- É assim. Certa vez engessei o braço e coçava muito. – respondeu Almira, de forma paciente.

--- E eu tenho que ficar sempre deitada. – chorou Ângela aos braços de sua mãe.

--- Calma. Isso é só nos primeiros dias. – sorriu a mulher.

--- E quando eu posso andar? Já estou fedendo! – reclamou a moça.

--- Você pode andar a qualquer hora. Venha que eu te dou banho. Escore-se em mim e vamos para o banheiro. Venha. Força! Isso! – falou resolvida dona Almira.

A jovem mulher abraçou-se a sua mãe e, mancando, começou a andar, apenas com uma perna, pois a engessada só fazia esforço para fixar no chão. Ângela aproveitou para cumprir suas necessidades e, nesse ponto, pediu que a sua mãe ficasse fora. A mulher se zangou e falou com brabeza.

--- Ora! Quem já se viu? E como você vai por a perna para se ajeitar no aparelho? – respondeu Almira com raiva.

--- Espera mãe! Não é assim. Isso é uma bosta! Não sei como fazer! – reclamou Ângela.

---É assim, doida! Põe a perna engessada para cá e pronto! – resolveu Almira.

O gesso foi protegido por um saco e a moça, com uma perna só, se segurando em sua mãe e na parede ligou o chuveiro e assim por diante tomou o seu banho com alegre fantasia. A sua mãe esfregou sabonete em suas costas, bustos e nas partes íntimas. Por todo canto possível. Apenas as nádegas ficaram por conta de Ângela. Após um banho de meia hora, Ângela se compôs com um penhoá de seda e, se agüentando em sua mãe, seguiu sorridente para a sua alcova onde se recompôs nos íntimos detalhes. Foi à melhor ducha de sua vida, como disse logo após se enxugar com sua cara descabida.

--- A senhora é a minha mãe! Por isso eu não tenho vergonha de nada! – sorriu Ângela mostrando os brancos dentes.

--- Amanhã eu estou aqui para te dar outro banho. – falou a mulher se enxugando também.

--- Tomara! Tomara! – sorriu Ângela com seu modo travesso.

No escritório de Dumaresq, naquela tarde, o negocio seguia de forma plenamente normal, apesar da ausência de Honório que seguiu pela manhã tão logo o telefone tocou de parte de sua mãe avisando sobre a esperançosa condição de saúde do velho Dumaresq. Eram ainda dez e meia quando o rapaz largou tudo e foi para o hospital, correndo desenfreado como um louco em meio da tempestade. Às três horas da tarde, Cleia, gerente da loja A BOTIJA de artigos novos e antigos entrou na sala de reuniões do escritório a indagar a Luiza de Campos sobre o estado de saúde de sua diretora, a senhora Ângela. A secretária particular do senhor Honório informou bem pouco do que sabia.

--- Ela está em casa, em repouso. – relatou Luiza sem levantar os olhos da máquina de escrever

--- Ah. Disso eu sei! – respondeu Cleia pouco aborrecida.

--- E por que pergunta? – inquiriu Luiza.

--- Ah bom. Quem está aqui agora? – perguntou Cleia tão abusada como antipática.

--- Pelo visto, só tem uma pessoa. E esta pessoa sou eu. – recitou Luiza abusada também.

--- Eu sei que você está aqui. Eu pergunto uma pessoa de maior porte. – quis saber Cleia.

--- Ah sim. Tem seu Miguel, um homem bem forte. Serve? – indagou Luiza para gozar da cara de Cléia, a antipática.

--- Só tendo paciência para agüentar um verme desse. – respondeu a gerente se postando a sair do local.

---Ô moça ou seja lá o que for. Verme não senhora. A senhora perguntou e eu disse o que sabia. Quanto ao verme ele está bem debaixo de sua saia. – disse então de modo atrevido a secretaria Luiza de Campos.

A gerente Cléia se arrebitou e puxou a porta com toda força chega estremeceu o prédio. O homem que tomava conta das chaves, senhor Miguel, estremeceu também e, tão alarmado ficou chega correu para junto a portar do escritório de reuniões, balançando a porta para ver se alguma dobradiça estava a cair. Ao chegar ao local, olhou para dentro, viu a senhorita Luiza, fez uma careta de quem não sabia o que se passara. Em seguia, deu duas voltas na porta e fechou de vez, de forma vagarosa. E assim seguiu o dia sem maiores problemas. Quando Honório chegou ao final da tarde, Luiza indagou sobre a saúde do velho Dumaresq. Honório sorriu e imediatamente disse:

--- Já está bom para outra! – sorriu o rapaz delirando de satisfação.

--- Verdade? – indagou a moça alegre e cheia de felicidade.

--- Sim. Verdade. Oras! O velho é duro na queda! Derruba um enquanto o outro está caído no chão. – delirou o rapaz cheio de regozijo.

--- Já volta amanhã? – indagou Luíza repleta de emoção.

--- Não. Ele ainda fica uns dias no hospital. – relatou Honório exercitando os braços para trás.

Quando Honório desceu até o local onde era instalado o atelier A BOTIJA para saber como estavam andando os negócios feitos nas últimas horas, encontrou Cléia com uma cara horrível de dá medo. Mesmo assim ele nada perguntou sobre a cara da mulher. Honório apanhou o livro de apontamentos e passou a ler o que já fora vendido e o que estava chegando. Entre os móveis de sala e de prateleiras, um era notado: um piano de parede. Era o segundo piano daquele estilo que A BOTIJA vendia num curto espaço de tempo. Isso alarmou o homem temendo que a classe alta estivesse se desvencilhando de instrumentos musicais de elevada categoria. Honório olhou bem esse pormenor, porém não disse nada a não ser;

--- Muito bem. O preço deve ser afixado no móvel. – falou Honório.

--- Sim, senhor! Algo mais? – indagou a gerente Cléia Alves.

--- Por enquanto é isso. Vou sair e volto mais tarde. E. ...A propósito: quando é o seu casamento? – indagou Honório despercebido das coisas da vida.

--- Na próxima sexta-feira. O senhor vai estar presente. – sorriu a moça ao dizer tal fato.

--- Ah sim. Estarei. – falou meio forte o diretor da firma Dumaresq.

--- Ah. A propósito! A sua secretaria é uma pessoa muito chata. Hoje, eu estive a perguntar sobre a saúde de Ângela e ela veio com desaforos. – comentou Cléia Alves.

--- Ah bom. Eu vejo isso. Boa tarde. – e assim saiu Honório do birô onde estava rumando para o seu escritório.

O rapaz subiu de um pulo para o escritório onde devia encerrar o expediente. Ao chegar, já encontrou Luiza de Campos se preparando para ir embora. O rapaz se admirou com a rapidez da moça em se esmerar como uma diva. Nesse instante, Honório indagou a Luiza o que houve à tarde no escritório.

--- Nada. Tudo normal. – explicou Luiza.

--- A gerente de A BOTIJA contou que se zangou com você. – disse Honório.

--- A foi. Ela quase quebrou a porta ao sair. Deu um puxavante que estremeceu o prédio todo. Ela é estúpida. Não merece nem varrer a sala. Seu Miguel foi quem endireitou a porta. – respondeu Luiza aproveitando para envenenar ainda mais o caso.

--- Ora! Não sabia disso! Deve ser conseqüência do TPM que ela sofre. – relutou Honório.

--- Eu não sofro isso. Meus negócios vêm e somem com três dias. É inveja dela por ter me encontrado aqui dentro. A sujeitazinha besta! – enfatizou Luiza ao seu chefe.

O homem sorriu e perguntou de imediato.

--- Vai sair? – indagou Honório sorrindo.

--- Vou para casa. – falou será a moça.

--- Vamos? – inquiriu Honório com duplo sentido.

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