domingo, 31 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 12

- NARA -
CONTO
No sábado à noite, depois das 7 horas, Vandilo acabara o seu serviço e, com o dinheiro no bolso caminhou até a pensão de dona Lola onde havia mulheres de todos e variados tipos. Quase sempre Vandilo procurava àquela pensão que era em uma casa sem sobrado, esquina com a rua principal do bairro, elegante bairro comercial da cidade onde se podia encontrar de tudo o que se nescecitasse para se montar um lar, um bar e mesmo até uma pensão ou randevú como se chamavam as elegantes casas das damas da noite ou damas de oficio. Muitas daquelas mulheres faziam serviços em hoteis de terceira categoria ou mesmo de segunda para, com isso, ganharem um pouco mais para se sustentar e sustentar os seus pais que viviam no interior do Estado e até a um filho que morava com seus avós maternos, pois seu pai - o pai do menino - da há muito havia sumido.
Quando era a noite do sábado, aquelas damas estavam todas na pensão de dona Lola, bem trajadas, com roupas de cetim, perfumes com sabor das alcovas, bocas enfeitadas de carmim, rostos cheios de ardentes e perfumados enfeites fazendo da mulher uma deusa. Dentre tantas damas, havia uma que era um encanto de uma flor, tão fugaz e passageira. Seu nome era Nara, apogeu de todos quantos a cobiçavam. No seu vestir, Nara deslumbrava por seu lirismo pela sua ingenuidade e beleza. Quando Nara dançava no salão de um grandioso espaço ao embalo de uma musica orquestral todos paravam para ver. Era um bolero, um tango ou um samba pois Nara enfeitiçava qualquer um com seu jeito de menina em nuances de mulher. Na ocasião noturna os ébrios, ao som a música, no ambiente bem trajado pela luz quase turva, ofereciam um brinde a mulher amada diante dos beijos sôfregos que ela debutara aos seus amados. Aos namorados da noite, Nara oferecia uma rosa, ao dançar um tango com suas vestes deslumbrantes e belas que enfeitavam aquele ambiente nostalgico onde as estrelas eram as luzes ao arrebol de um certo amor vivido. Na nostalgia das noturnas flores que se abriam eram iguais ao presente que Nara recebia em troca, de um cavalheiro incendiado de fulgoroso amor. No instante de ternura, Vandilo tomou por encanto os braços da mulher a qual ele estava apaixonado e começou a bailar pelos cantos remotos do salão naquela melodia sombria cheia de raro explendor no momento de uma verdadeira e cruel mentira de amor. As quimeras de encanto levavam em acordes que aquele bailar desjava aos dois um compasso suave e eternizado encanto. Em plena solidão do encanto, Vandilo pedia um pouco de amor cantado pelos dois corações apaixonados mesmo que viesse ao fim com um leve despertar pela lembrança de alguém. Nas horas de um solilóquio de amor, os dois alcançavam o magistral êxtase do sonambular eterno, em rodiilhas, rodopiando sem incomodar aos ébrios da ilusão. Uma valsa tocou o salão e os dois eternos amantes da solidão tomaram em seus braços aquele augusto ardor que a melodia ensaiava. Ao passar em torno às mesas do bar, Nara sacudia um pouco do perfume que arrebatava para os notígaos senhores, querendo abraçar aos dois, se pendiam para todo o encanto da mulher e que despejava apenas um sorriso para os seus desejosos pretendentes. Nos seus braços, estava Vandilo, a dançar como alguém que, suavemente, dançava uma valsa, aquela melodia eternizada de explendor.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 11

- DALILA -

CONTO

Dalila chegou naquela pensão havia alguns meses. Mulher esbelta, cabelos lisos e castanhos, busto proeminente, pernas de coxas torneadas. Era o encanto do salão nas noites da semana e, principalmente aos sábados. Logo que Dalila chegou à capital, foi um murmúrio por parte dos assiduos frequentadores do bordel, algo em torno de muito luxo. Todos queriam dormir com Dalila, porém nem todos teriam esse direito. Coberta de jóias e roupa de cetim, tecido de seda macio e brilhante, era ela o êxtase de quantos frequentavam o bordel. Com o seu jeito próprio de ser, olhos de amêndoas, largos e brilhantes, nariz afilado e boca extensa como uma tâmara madura, Dalila tinha em todo o seu porte o prazer natural das divas do além. Braços longos e bem toneados, mãos cujos dedos eram um feitiço de prazer. tudo isso tornava a dama na mulher inebriante para quem a que pudesse ver. Entre as mulheres, Dalila era a mais bonita. Entre as formosas, Dalila era a favorita. E todos os frequentadores do bordel diziam a uma só voz que aquela ninfa era de fazer o comércio fechar. Quando Dalila falava ao ouvido do seu parceiro, ele se punha a sorrir incontinente. E se falasse de amor, era o simbolo da inocência virginal. Tudo enfim que Dalila pedisse era um prazer em satisfazê-la, mesmo que o ilustre homem de negócio tivesse que buscar nos horizontes do encantamento. A seiva amor no saber da meiga, pura e extasiante Dalila era algo divino e incontido. As meigas ilusões da qual Dalila era fatal eram para deixar os augustos ébrios enlouquecidos de eternos devaneios. A ilusão dos falsos carinhos que brotavam da dama era uma seta mortal que acertava em cheio o coração do ser apaixonado. Na frigidez dos encantos da dama, mal sentia o homem a imortal falta de um calor desejado. Por momentos fulgurantes e profanos o homem não sabia que alí havia falta de ternura e ausência de desejo. Contudo, era assim o fortuito prazer que lhe oferecia a eterna mulher dos sonhos do ardor. Mesmo assim, enloquecido pelos incontidos desejos, o magistral senhor estava preso aqueles encantos e sedução da senhora dama. Entre as novas mentiras soltas no falar sorrateiro da mulher amada, o enigmático ser lhe daria toda a atenção sem se impotar com a contradição das palavras cheirando a rosas. E a saudade, aquele que teria a ventura de amar por instantes aquela dama dos eternos sonhos não buscava esquecer, pois não faria para não empobrecer o seu temido coração lancetado. Assim, a mulher era capaz de iludir os amargos corações abstratos por não encontrar em outro lar o seu verdadeiro aconchego. Dalila, deslumbrante de bela tecia a teia das quimeras e ilusões incontidas como que o prazer lanceado ficasse no eterno dom de amar. Buscando o sofisma de que o amar era sempre nos lábios trazer, baixando as quimeras perdidas, ela conduzia o seu amante para o feitiço da inoportuna vida. A rosea cruz pregada entre sombrios desejos, não se fazia divina ou magestosa aquela dama que ao discerrar a cortina de sua vida como era a sua ilusão verdadeira cheia de amargor e travo. Do fundo do peito de Dalila vinha um sonho desfeito como herança de amor. Ela estava ali obrigada pelo oficio a amar dentro do vício aquele pobre amado das desilusões perdidas. Um dia, ela era apenas um amargo fim. Tudo fora ilusão de um sonho que obrigava a dama, baixinho, começar a chorar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 10

- ELISA -
CONTO
O Bonde passara por volta das dez horas da noite, marcando sua última viagem, recolhendo os ébrios que ainda faziam questão em dormitar nos bares, bordeis e cabarés. Mesmo assim, a vida profana continuava célere nos salões dos augustos lupanares enfeitados com luzes vermelhas, doces e cálidas onde as damas da noite enfeitiçavam com as suas malícias os homens de grande posse e poder onde os pobres não eram mais que pobres. A cada qual, tinha um homem bastante ébrio a lhe deixar cordões de pérolas enfeitados de rubis para poder lhe agradar ao máximo. Naquele agrado de sensual prazer e emoções, as damas de bordeis cobriam os seus embriagados amantes de uma noite, cheios de efêmeros carinhos de amor noturno. Naquela ternura de alcova o homem sentia que a sua dama era total e diferente das que já haviam passado pelos seus prazeres absolutos. Estava alí uma amiga, amante e confidente capaz de ser sua cúmplice nos segredos da notívaga ilusão passageira. Com sua pele cor de sonho, aquela deusa de boca de camim tinha de tudo para lhe guardar segredos. Sua nudez era por demais elegante, própria de uma mulher enfeitada de doce e pacaminoso carinho. Já não sabia o homem que mágico fascinio tinha aquela senhora dos embriagados sonhos em plena luz da noite com cheiro da manhã. O seu corpo era a cor de uma desfrutada e macia saborosa fruta. Em seus gestos de mulher plena e delicada, ela embebia o homem com seu deslumbre a mordiscar de leve os lábios entreabertos como de uma boneca a sorrir. No seu falar era uma duende do silencio onde nada se podia ouvir como quem está no sepulcro virginal. O que a dama obrigava era apenas a que o homem sonhasse as suas ternas ilusões. No seu sorrir, a provocação de uma cova sempre linda em seu sensual rostinho de menina. Nos seios, ela embebia o seu amado com estígma carícia. Em seus braços meigos, ela sufocava o amado por eternos afagos e dormências. De corpo e alma ele se entregava na paixão. Para o homem era renascer de um grande amor, o qual estasiava de pleno todo. Aquele amor contido era o resurgir de uma saudade de eterno e fugaz prazer que a fantasia das quimeras latejavam o seu ser. Já não importava que estonteante mulher era aquela pois para o homem era o seu rafúgio derradeiro da paixão. E nem acreditava o homem que era aquele o sonho mais belo que até então vivera. Pois estava alí a razão do seu pleno existir. Então, o homem sentia a paz a invadir-lhe seu verdadeiro e meigo coração. No acordar de um sonho, o ébrio homem se viu em um mar cuja revolução estava na sempre bela e doce mulher de alcova. O sonho findou ao acaso quando as andorinhas beliscavam cedinho da manhã o doce mel das ilusões. Tudo acabou, foi um sonho. Baixinho, o homem começou a chorar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 9

- OLGA -
CONTO
O trem fazia sua viagem com os seus passageiros de primeira e segunda classes, além de um vagão cheio de mudanças e outros com uma porção de gado a mugir no silêncio da noite. Em um dos vagões de segunda classe vinha Olga, passageira que embarcara no municipio de Capim e cujo destino era a capital do Estado. Por orientação de uma amiga de bordel, Olga deveria procurar uma pensão no bairro do Cruzeiro conhecida por ser a pensão mais autêntica para as damas da noite. A sua proprietária era dona Ritinha, mulher por demais conhecida de parte da população nobre da cidade. O trem tinha o seu terminal na estação de Varandas, uma terminal por demais conhecido. Da estação, Olga podia seguir em frente que, no final da rua principal ela encontraria a pensão de dona Ritinha. A viagem foi por demais cansativa, onde tudo era mal arrumado, uns caíndo por cima dos outros. O certo é que Olga fez a viagem e, com muito cansaço pegou no sono no meio do caminho. Então, a dama sonhou com algo que acontecera há tempos passados, quando era uma menina dos seus doze anos. No sonho ela via o seu irmão, Joca, indo a caminhar sorrateiro em companhia de sua prima, Mercedes procurando um matagal que existia no fundo do terreno onde Olga morava. Ela notou o caminhar de Joca e Mercedes, os dois juntinhos, entrando em uma moita de mato e se perdendo de vista. Nesse instante, Olga também seguiu o casal, dos seus 14 anos cada um. Olga entrando mata a dentro e se escondendo dos dois no meio de uns arbustos de média altura, onde poderia ver os dois sem ser notada. Quando Joca começou a bolinar sua prima, Olga ficou mais atenta pelo que os dois faziam. Ela notou o calção de Joca caído até a metade das suas pernas e Mercedes com a saia levantada até à cintura, deixando as suas calcinhas cair até metade de suas pernas. Nesse ponto, Olga começou a sorrir, porém baixinho, com a sua mão tapando a boca. Já por esse tempo Joca não perdia a vez, com Mercedes, sua prima, escorada em uma mangueira e ele a sacudir o corpo para frente e para trás. A menina olhava a tudo sem parrar de sorrir. Foi então, que Olga caiu na risada ao ver as nádegas de Joca a sacolejar como uma sanfona, pra frente e pra traz. E foi uma risada só que, neste ponto, o seu irmão virou e perguntou:
--- Quem está aí. - gritou Joca.
com cara de brabo e, deixando Mercedes de lado correu para a touceira de mato de onde alguém sorrira. Nesse mesmo instante, Mercedes arriou o vestido e subiu as suas calcinhas procurando sair por outro caminho e seguindo na carreira em direção oposta ao que chegara. Do seu lugar, Olga se levantou e também correu em direção a sua casa, com Joca que sabia quem era ela, a correr para pegara menina de qualquer jeito e sacudí-la com uns tabefes. Mas a menina foi mais ágil e chegou em casa primeiro, abrindo a porta de baixo com um chute, assustanto a sua própria mãe:
--- Oxente!!! Que é isso? Tá doida? - disse a sua mãe, espantada.
Em seguida, entrou o irmão como querendo agarrá a irmã qualquer preço para sacudir no chão de bofetes. E a mãe de ambos tornou a perguntar:
--- Tão doidos? Não se ajeitam? - falou a mãe dos dois.
A menina já estava escondida no seu quarto muito pobre até, deitada em cima da cama, encolhida, com os olhos esbugalhados, tremendo de medo, com as penas curvadas em forma de "U" e nem sabendo o que dizer. O seu irmão, Joca, entrou no quarto suado, com a cara de quem queria esfolá-la e pegou a menina pelo vestido simples, feito de algodãozinho, e estava para meter a mão quando sua mãe a deteve, num gesto impaciente de quem queria saber o por que daquilo que estava acontecendo.
--- É essa merda!!! - disse Joca.
--- Foi ele, mãe!!! - retrucou a menina.
--- Foi ele o que? - perguntou a mulher, alvoroçada.
--- Foi ele que estava fazendo coisa feia com Mercedes. - dissea menina.
--- Ah Foi você cachorro sem vergonha? - pergunto muito braba a sua mãe.
--- É mentira dela, mãe. A gente estava caçando camboim na mata! - respondeu Joca.
--- É mentira, mãe! Pergunte a ela! - disse Olga.
Nesse ponto o sonho de Olga terminou. Na verdade, Mercedes estava fazendo sexo com seu primo Joca de há muito. Quando o pai de Mercedes ficou sabendo veio de faca em punho para matar Joca e quem quisesse defendè-lo. O fatou foi de imediato conhecido, pois Olga contou tudo a sua mãe, pai e irmã. Quando o seu tiu chegou na beirada do portão, de faca em punho, o pai de Olga traquilizou o seu cunhado pois os dois teriam que casar na Igreja. Foi um bate-boca terrivel até que o pai de Mercedes disse:
--- Vamos ver!!! Vamos ver!! - disse o pai de Mercedes.
Todo o povo da rua ficou sabendo que Mercedes não era mais moça. Foi comentário geral. E houve gente que dissesse:
--- Teve outros! Teve outros! - dizia alguém.
Se teve ou se não teve, isso ninguém veio provar. Um dia, Joca casou com Mercedes à ponta de faca na Igreja do lugar. Nesse dia, até o padre ficou assustado de ver um casamento feito à ponta de faca. Quando o trem chegou ao seu destino final, os pobres e mais ou menos se levataram para sair, num quebrar de ossos, pois todos estavam cansados da viagem. Do seu lado. Olga saltou do carro do trem e procurou a pensão de dona Ritinha, àquelas horas da noite, pois teria que dormir.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 8

- OTOMAR -
Eu conheci Otomar bem antes de ser inaugurada a Emissora de Educação Rural, de Natal. A emissora foi inaugurada em 1958 e nós já estavamos unidos em movimentos católicos na cidade. Otomar era presidente da JEC - Juventude Estudantil Católica -e eu, juntamente com Arlindo Freire, João Batista de Oliveira, Alda Leda Freire, Aline, Déusa e outros mais, intregavamos a JOC - Juventude Operária Católica. Nesse tempo Otomar Lopes Cardoso era magrinho assim como eu e Arlindo. Ele era um entusiasta da JEC, junto com Jardelino e outros jovens estudantis da época. Nós trabalhavamos no Jornal A ORDEM que funcionava no prédio do que seria a Nova Catedral. Nós viviamos fazendo artigos de jornal, onde era o chefe de redação Manoel Chaparro, um jovem português, além de outros redatores também ligados a JEC, como Marcos Guerra e Ney Lopes. Eu lembro que no ano de 1956, o ano que eu entrei na JOC, Otomar, Arlindo e vários outros membros da JEC e da JOC, inclusive eu, fomos com o Dom Eugênio Sales para um encontro de jovens na praia de Ponta Negra, em uma pousada mantida pela Igreja naquele lugar. Foi uma festa e tanto entre horas de estudos, com participação das moças dos dois movimento e também do movimento JIC e JUC. A JAC - Juventude Agraria Católica - não tinha ainda nascido por esse tempo. A JIC era dos moços Independentes e a Juc era dos moços universitários. - moços e moças, para bem dizer. Otomar e Arlindo eram os presidentes da JEC e da JOC. Passado o tempo, veio a inauguração da Emissora de Educação Rural, em 1958. O seu diretor era então Otomar Lopes Cardoso. Com ele, Arlindo Freire, Nadja Lopes, prima de Otomar, e mais Ney Lopes, Marcos Guerra e Manoel Chaparro inaugurou-se o primeiro jornal que havia no Estado: o Mesa Redonda. Esse jornal radiofônico era o máximo dos jornais. Cada um trazia a sua materia para ler, dabater, discutir, coisa que hoje se faz em canal de televisão. Porém, Otomar e seus amigos já faziam esse jornalismo em 1958 e durante mais tempo.
Eu ingressei na Emissora em 1960. Otomar era o seu diretor. Como de costume, tudo era festa. Sem a participação de Otomar eu estreiava um programa de cinema que muito tempo depois eu soube que um outro apresentador estava começando a fazer da Tv Clube de Pernambuco. Isso, já nos idos de 1970, muito tempo depois. Todos os dias eu estava reunido com Otomar e outros dirigentes da Radio Rural. A emissora guardava seus rádios cativos em uma sala vizinha a nossa, no prédio da Igreja onde mais tarde se construiu a Catedral. Era uma sala até bem espaçosa e cheia de rádios cativos. Esses rádios só pegavam o sinal da Radio Rural e eram distribuidos pelo interior do Estado onde a Igreja desenvolvia o ensino do primeiro grau: as chamadas "Escolas Radiofônicas" e que depois foi encampada pelo Governo Federal através do MOBRAL. Em Natal e no interior do Estado, Dom Eugênio, o mentor do programa, então Arcebispo de Natal, continuaria por mais tempo com Escolas Radiofônicas. Era por isso que a Radio era Emissora de Educação Rural, destinada ao homem do campo no seu ensino. Tendo à frente Otomar Lopes Cardoso, a estação continuava em seu ritmo sempre voltado para o camponês. Praticamente, a Rádio não fazia programas patrocinados. Quando Otomar teve que deixar a direção da emissora, por conseguir emprego mais promissor, a Rádio Rural continuou a sua marcha. Esse tempo foi mais ou menos o mesmo que eu saía da emissora. Como jovem destemido ele foi assesssor da presidencia da Petrobras, no Rio de Janeiro, e presidente da Álcalis - Companhia Nacional de Álcalis onde esteve até se aposentar há quatro anos passados. Em Natal, ele, quando era jovem, morava na rua Afonso Pena, perto da esquina da Rua Jundiaí. Seu pai, Omar, não era tão rico como demonstrava ser. Otomar estudou no Colégio Marista de Natal. O seu falecimento ocorreu no domingo passado, dia 24/01/2010 após ter sido internado durante 117 dias devido a uma enfermidade no sistema neurológico. Otomar era casado com Déa Lopes Cardoso e deixou quatro filhos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 7

- DALVA -
CONTO
Fernando era o Tabelião Substituto do Cartório de seu pai. Com a morte do seu pai, ele passou a ser Tabelião Titular do Cartório. Com a idade de 35 anos, Fernando era solteiro. É bem sabido que, durante a sua vida, ele teve inúmeras namoradas e chegou até a noivar com uma das moças pretendentes. Mesmo assim, o noivado foi por água a baixo. Um certo tempo da vida, Fernando cursou medicina. Ele fez até o quarto ano, porém não terminou. Por vezes esteve a viajar para o Rio de Janeiro apenas e tão somente para cumprir o desejo de viajar. Olhares furtivos não o impressionavam. Mesmo assim, vez ou outra, ele se aproximava de alguma moça e passava a conversar demoradamente. No final, ele vira que tal caso não dera em nada. Assim, Fernando se despedia a moça para nunca mais voltar. Isso aconteceu no Rio de Janeiro. Porém, na sua cidade, ele, certa vez, estava no seu escritório, quando entrou uma certa jovem para consultar sobre uma herança que tinha lucrado do seu pai. Foi uma conversa sem grande significado. Logo depois, a moça, cujo nome era Dalva, partiu e nunca mais apareceu. Não se sabe o por que daquela conversa, Fernando ficou a meditar sempre na moça ou mulher, ele não sabia ao acerto. A verdade foi que certa vez, quando se dirigia em seu veículo da Cidade Baixa para o centro, Fernando percebeu que, em sentido inverso, estava a caminha a moça que ele não esquecera. Mesmo assim, Fernando não deu importãncia e continuou seu caminhar no veículo, Porém um estalo na sua cabeça fez com que ele parasse o carro logo após e desse marcha-ré, voltando para mais perto de Dalva. Na verdade, ele nem se lembrava do seu nome e fez um aceno para que a moça parasse. Mesmo com o aceno, a moça continuou o seu caminhar. No entanto, logo após se lembrou daquele homem que a chamava e Dalva voltou meio assustada para saber o que se passara. Ele não relutou em falar com ela, vez que a conversa anterior tinha parado pelo meio e não mais a moça o procurara. Entre um cumprimento e outro, Fernando buscou perguntar que fim levou aquele assunto. Então, Dalva se recordou do jovem como sendo o Tabelião e fez uma certa alegria, pois não mais pensara em entrar naquele tema. Com isso, lhe disse que não dera importancia até porque seus irmãos tomaram conta do fato da herança e o caso corria pela Justiça. Foi uma conversa breve, aquela, entre o homem e a mulher. Em seguida, Fernando lhe perguntou para onde se destinava e ela respondeu que estava a caminhar até a Secretaria de Segurança onde deixara uns documentos. Nesse passo, o homem se inquietou e quis saber um pouco mais, o que a moça respondeu:
--- Não é de herança. É um caso extra. Da repartição. - disse Dalva.
--- Ah sim. Mesmo assim eu pergunto se não quer que eu a leve até a repartição? - perguntou Fernando com o pensamento um tanto mais longe.
--- Não precisa. É logo ali. - disse a jovem.
--- Muito bem. Então, desejo-te boa sorte e o convite está de pé. - falou o homem.
--- Convite? Que convite? - perguntou a moça levemente assustada e um pouco sorrido.
--- Convite de você aparecer no Cartório. Não precisa ter assunto. É só aparecer e pronto. - falou o homem.
--- Ah bom. Eu sei. Qualquer dia. Agora estou a serviço. E o senhor também - disse Dalva.
Nesse ponto, o homem se despediu desejando bons negócio para Dalva e o seu noivo. Foi quando a jovem tomou de surpresa e disse:
--- Não tenho noivo. Nem namorado. E também não sou casada. - agradeceu Dalva com um alegre sorriso.
--- Tá bom. Então, para você é tudo que desejo. - falou Fernando.
--- Muito obrigada. Para o senhor também. - disse Dalva.
--- Não me chame de "senhor". Apenas "você". -falou o homem.
--- Está bem. Então "você", se deseja desse modo. - falou Dalva.
--- Assim está bem. - sorriu Fernando.
E os dois se despediram efusivamente como se conhecessem há longos tempos. A jovem partiu a pé o Fernando teve outro pensamento. Fez o carro se deslocar por uma rua e deu meia volta retornando para as imediações da Secretaria de Segurança. Parou o carro alí perto e desceu para ver se, de fato, Dalva estava naquela repartição. Procurou se encobrir entre os pilares e viu a jovem sair de um escritório e se encaminhar para a rua. Ele a deixou sair e em seguida saiu também, olhando sempre os passos da jovem sem perdê-la de vista. Por fim, chegou até o seu carro e caminhou devagar pelo local onde ao lado tinha a calçada da Praça Henrique I e viu a jovem embarcar em um ônibus da linha e seguir o seu destino. O homem seguiu o ônibus até um certo trecho e depois perdeu de vista por causa do trânsito de veículos no local.
Foi um tempo imenso aquele que viu a moça pela última vez. Na certeza que não a encontraria jamais e embarcou no seu serviço do dia-a-dia com a cabeça sem pensar mais em mulher ou moça. O tempo passou depressa e certa vez um documento chegou às suas mãos. Era de uma herança. E entre os nomes citados estava o de Dalva Aquino Tavares. Ele olhou o documento e, de imediato, pensou no nome de Dalva. Por não saber dos sobrenomes da moça, ele deixou de vez na mesa do birô. Porém tinha um dado que ele resolveu a procurar: o nome do pai da jovem. Da primeira vez que ela esteve em seu escritório falou de um nome por demais estranho: Hermenegildo. E era esse o nome do documento. Porém, não alterava em coisa alguma, pois o nome da moça não dizia onde a podia ser encontrada. Tudo em vão.
Em dias da semana, Dalva apareceu eu seu escritório querendo saber do trânsito de um processo que os seus irmãos e ela tinham feitos. Pelo parecer da Justiça, o documento fora enviado para aquele Cartório. Era por isso que a jovem o estava procurando. O homem, nesse instante, saudou Dalva com entusiasmo e de imediato perguntou em que Secretaria ela trabalhava. Apenas para citar no processo e nada mais. Ela então lhe disse:
--- Fazenda. Secretaria da Fazenda. - falou Dalva.
--- Muito bem. Fazenda. Era o que faltava. - disse Fernando.
A moça não entendeu coisa alguma.Ela não perguntara por que não sabia dizer que havia com o seu trabalho em vistas do processo. O homem tentou explicar a jovem.
--- Porque sabendo-se o lugar onde trabalhar um dos que moveram a ação,então é mais simples se desenvolver o processo. Só isso. - disse Fernando.
--- Ah bom. Não sabia. O advogado foi encomendado por meus irmãos. Ele é que sabe de tudo. - disse Dalva.
--- Eu sei. Sei bem. Mas agora posso dar andamento ao processo. - falou o homem.
--- Estava parado? - perguntou Dalva.
--- Não. Parece que..Deixa-me ver...Bom. Aqui está. Hermenegildo. É esse o nome? - perguntou Fernando.
--- Exato. É esse. - respondeu Dalva.
--- Seu nome é Dalva? - falou o tabelião.
--- Dalva Aquino Tavares. - disse a moça.
--- É isso. Vou dar despacho agora mesmo e mandar para a Justiça. Para ver. A falta de um endereço atravanca um processo. - disse Fernando sorrindo.
--- Está bem. Posso ir? - perguntou Dalva.
--- Espere. Um café. Por favor. Faça-me companhia. - disse Fernando.
A moça sorriu. Daquele instante em diante eles se encontraram mais vezes e um dia, Dalva de Fernando se casaram ao som da marcha nupcial, na Catedral. Tudo começou por causa de um processo e hoje eles vivem, já velhos em suas idades, olhando para o mar, ao fim da tarde e brincando com os netinhos no entra-e-sai de sua casa. Os dois se amaram como ainda se amam para todo o eterno de suas longas vidas. No terreno em frente ao casarão, as orquideas, alpineas, anemonas, bouvardias, chuva de prata em outras mais enfeitam o local com um elegante toque de amor.

sábado, 23 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 6

- TÂMARA -
CONTO
Noite de sábado. Forte calor apesar de tudo. Luz suave das lâmpadas dos postes que caia sobre a rua não deixava um alívio para os transeuntes, pois todos sentiam igualmente o calor do tempo. Caminhando só, Euclides procurava chegar o mais depressa possível ao recanto da Palhoça, um bar ao lado de um cinema na cidade. Alí, ele encontraria seus velhos e novos amigos que para ele sempre era um momento de satisfação e bem estar. De camisa aberta ao peito, enfiada nas calças de brim segura por um cinturão de couro, sapatos pretos e meias da mesma cor, Euclides entrou no bar olhando para um lado e para o outro a procura dos amigos. Foi então que topou com uma moça jovem ainda que, por toda embaraçada, queria sair para um lado e para o outro sem conseguir. De cor morena, cabelos estirados, rosto redondo, boca um tanto larga porém bela, olhos da cor de pêssegos, miúdos até, a jovem se esquivou para o lado esquerdo quando Euclides se aprumou permitindo a passagem daquela senhorita. Ela levantou a face e lhe deu um leve sorriso como quem pedisse desculpas.
--- Ora. Não sei se vou , nao sei se fico. - disse a moça.
--- Nesse caso, fique. - respondeu Euclides cheio de graça procurando ver se algum amigo estava alí e sentira o que acontecera.
--- Assim, eu vou. - voltou a dizer a moça.
--- Pois assim eu fico. - respondeu Euclides.
A jovem sorriu e procurou se encaminhar para a saída da Palhoça quando, então, voltou a perguntar ao jovem rapaz.
--- Tem cigarros? O meu acabou! Droga! - fez a moça a contragosto.
--- Tenho, sim. Só tenho desse! - mostrou a moça em seguida um cigarro de marca estrangeira.
--- Ótimo. Desses, é dificil de se encontrar. - sorriu a jovem.
--- Sempre os tenho. Adquiro em um Hotel da Ribeira. - disse Euclides.
--- Que bom! - declarou a moça, sorrindo.
--- Teu nome? - perguntou Euclides.
--- Tâmara. - respondeu a jovem.
--- Euclides, o meu. - disse o rapaz.
A moça sorriu. E, naquele instante, eles notaram que a amizade entre os dois ja era consagrada. Nem valia ela continuar a sua saída pois alguém que ela esperava não veio. Daquele ponto em diante, a jovem se fez de perguntas.
--- Namorada? - perguntou Tâmara.
--- Somente uma. - respondeu Euclides.
--- Ah bom. Ela está aqui? - voltou a perguntar Tâmara.
--- Creio que sim - respondeu o rapaz.
--- Droga! É sempre assim. - fez a moça como quem estava desiludida.
--- Por que? - perguntou o jovem.
--- Sempre tem outra! - respondeu Tâmara
--- E não era para ter? - perguntou Euclides.
--- Bem. Era. Eu é que fico. - disse Tâmara.
--- E se for você? - perguntou o rapaz.
--- Eu, somente eu. - reclamou Tâmara.
--- Você é bela, elegante e nobre. Quem me dera ser um dos tais! - disse Euclides.
A moça ficou a mirar por certo tempo os olhos do rapaz e, em pleno meio do caminho da saída da Palhoça, ela nem presentia os que estavam chegando e procurando se albergar em uma tenda discreta. Por fim, Tâmara indagou.
--- Verdade? - perguntou Tâmara.
--- Verdade o que? - re-perguntou Euclides.
--- Que não tens outra? - disse a moça.
--- Como diz a canção: "Eu queria ser um lírio para ouvir teu respirar à noite inteira" - respondeu Euclides sabendo que a frase não era de qualquer canção.
Em sequência, ele a convidou para ir a uma tenda da Palhoça onde os dois teriam mais apego e a oportunidade de se conhecer melhor. Dalí em diante, foram horas de deslumbre e afeto. Eles procuraram falar de sonhos de amor o que tão momente ambos apenas queriam ouvir para distrair seus sentimentos. As horas passavam e os dois enamorados só então queriam falar de seus sonhos e quimeras que dominavam os seus corações. Um ponto eterno de chamas que se clareavam para um eterno sentido de suas vidas. Um aceite de amor prometendo ficar tão juntos para todo o sempre. Euclides não parecia querer saber de onde Tâmara chegara e nem para onde se destinava, pois o seu terno encanto era maior de que o sentir do próprio amor. Para ele, que ficara apenas só, sem ter mais ninguém era aquele o ponto derradeiro de sua vida. Para a doce jovem mulher, bem parecia ser para alguém que estava em busca da semente do seu verdadeiro amor. Eram juras de afeição que não se podia ouvir de um jovem par de namorados há muito tempo. Um amor guardado de longas datas que se espalhava naquela mesa de alcova. E os dois partiam para poder ver a cada dia um grande amor a renascer. Apenas os dois juravam querer sentir o renascer a cada dia do seu verdadeiro e eterno sentimento. Já nas horas da madrugada, quando os ébrios enchiam o bar de eternas canções, eram os dois apaixonados que embebiam suas lágrimas de afeto, ternura e prazer como que faziam os notívagos aconchegados namorados, sem preconceito, sem saber o direito e a razão. Aquele era o nasceu de uma rosa no caminho das ilusões perdidas e tortuosos passos quando se tem um verdadeiro bem.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 5

- LINHA DE FOGO -
Hoje, eu tive um sonho com o meu antigo chefe: Luís Maria Alves, diretor-superintendente dos Diários Associados no Rio Grande do Norte. "O velho Alves" era como todos o chamavam na redação do Diário de Natal ou da Rádio Poty, emissora associada do Rio Grande do Norte. Seu jeito era de um homem de porte médio, apesar de ter menos de 1,70 mts de altura, forte, mas não gordo, olhar baixo, poucas palavras, mãos na cintura com os dedos para frente. Às vezes calçava sapatos. De outras vezes, chinelos ou alpergatas. Trajava sempre uma roupa caqui - calça de camisa sempre usada por fora das calças - e em outras ocasiões, ele estava de roupa branca. Quando vestia uniforme - calça, camisa, gravata e paleto, calçando sapatos - era reparado por todos os que trabalhavam na redação do jornal e da rádio. Era um homem cizudo, porém de certa forma, cortez. Tinha gente que lhe dizia o que estava acontecendo na redação. Isso, ele não precisava perguntar. Era apenas esticar a cabeça para ouvir e o alguém já sabia o que era para dizer;
--- Flataram dois. Estavam fazendo Vestibular. - dizia o informante.
Ele, então fazia um gesto de que podia dispensá-los de vez. Tudo isso ele fazia por gestos. E, muitos dos funcionários temiam a presença do "velho". Todos o cumprimentavam para não receber resposta de agradecimento. O "velho" saía de cabeça baixa para algum lugar do diário. Certa vez, ele me pegou no corredor da Radio Poty e perguntou:
--- Para onde vai? - disse o velho.
E eu respondi.
--- Para a direção. - respondi eu.
Ele respondeu em troca:
--- Ah Bom. Você trabalha aqui? - perguntou o velho.
Eu respondí.
--- Na redação. - disse eu.
Ele se conteve e continuou seu caminhar em direção ao bar da Radio, onde servia café, bolo, sucos de frutas, pasteis dentre outras. Ao que parece, ele nem sabia que trabalhava na Rádio, apesar de estar alí a uns cinco anos. O mesmo aconteceu com outros repórteres. Pelo seu gosto, nenhum funcionário teria um outro emprego. Mesmo assim, tinham os que trabalhavam no Estado, Prefeitura, INPS (hoje INSS), Câmara Municipal e em outros locais de atividade.
Luís Maria Alves chegou à Natal sem emprego, no ano de 1946. Aquí fez um teste para operador de Morse na Western, empresa americana, a cabo que dominava o mundo inteiro. Se alguém - um usuário - precisasse se comunicar com um navio em alto mar, era só passar um telegrama para esse navio e podia esperar resposta. Em poucos minutos tinha a menságem de volta. A Western era o progresso das comunicações naqueles anos.
Quando na Western, ele fez amizade com outros operadores e ficou sabendo que poderia encontrar um emprego de repórter no Diário de Natal, no tempo, o maior jornal do Estado. O DN tinha sido adquirido por Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, natural do Estado da Paraíba, nascido no sítio Umbuzeiro, no dia 4 de outubro de 1892. Assis Chateaubriand era um homem de visão e dominou o império de jornais, revistas, emissoras de rádio e, a partir de 1950, também implantou no Brasil, a televisão.
Ainda moço, Luís Maria Alves conseguiu um emprego de repórter policial. E assim, continuou em sua faina. Algum tempo depois ele era repórter de notícias gerais. Quando uma autoridade do Governo Federal ou autoridade militar desembarcava em Natal, no Campo de Parnamirim, lá estava Luis Maria Alves. Instruindo o fotógrafo, ele se fazia presente, postando-se entra as autoridades e, com o sinal combinado, o fotógrafo dava o clique e ele saía descretamente do meio das personalidades. No dia seguinte era divulgada a matéria feita por ele onde dizia "que entre os passageiros encontravá-se Luis Maria Alves, repórter do Diário de Natal". E a vida continuou por todo o tempo que lhe proporcionava um meio de viver. Por volta do ano de 1960, o DN vivia a sua mais grave crise. A falta de dinheiro para pagar aos funcionários era alarmante. Contudo, deste fato ninguém - o povo da rua - sabia. O que interessava era ler o DN e ouvir a Radio Poty, apesar de, nesse tempo, existirem outras emissoras em Natal, como a Rádio Nordeste, Rádio Cabugi, Radio Trairy (hoje Tropical) e Radio Rural. Qualquer notícia que se ouvisse, era conferida na Rádio Poty, pois era alí que a noticia dava fé. E, por esses anos, assumiu a direção do DN e Rádio Poty o senhor Luis Maria Alves, comandando o império da informação no Estado. A ordem dada pela a direção da rádio era de que nenhum locutor pudesse fazer divulgação de produtos em outras emissoras de rádio, salvo se o anunciante pagasse para sair, também, na Rádio Poty. Em poucos tempos, sob a direção do "competente" Luis Maria Alves, o DN e Radio Poty normalizaram o pagamento de seus funcionários. E se pensar em trabalhar no DN era um sonho de muitos.
O sonho notrido por seu Alves, era ter conhecido - de perto - Francklin Delado Roosevelt, dos Estados Unidos; Winston Churchill, da Inglaterra; Charles De Gaule, da França: Josef Stalim, da União Soviética; Benito Mussolini, da Itália; Imperador Hirohito, do Japão; Chiag Kay-shek, da China e Adolf Hitler, da Alemanha. Japão, Itália de Alemanha formaram o Eixo que desencadeou a II Guerra Mundial que terminou com a captulaçao do Japão, em 1945, depois da explosão de duas bombas atômicas em Hyroshima de Nagasaky. A Alemanha ja havia se rendido com a morte do seu ditador Adolf Hitler poucos meses antes deixando uma cidade - Berlim - destruida por vários anos. Na Italia, Mussolini foi morto por enforcamento. Isso tudo, seu Alves sabia. E era o que conversava com os repórteres do jornal para o deleite de alguém que achava graça até demais dos feitos havidos durante a guerra. O homem lia tudo o que se escrevia sobre a II Guerra e da história vivida por outros, ele contava baixinho para os ouvidos atentos dos repórteres. Um personagem não citado àcima, foi Getulio Vargas. Isso, por que seu Alves teve oportunidade de vê-lo. Porém Getulio Vargas teve uma posição decisiva na guerra, cedendo o seu território para o tráfego de aviões norte-americanos que faziam escala no aeroporto de Parnamirim, Rn. Nessa mesma linha de fogo tremiam os alemãs que aqui ainda tiveram um homem que operava via Morse, dando a posição de embarcações navais e aéreas, e da situação geográfica de Natal e de Parnamirim. Esse homem foi preso quando operava de dentro do cemitério do Alecrim, durante a noite com o seu transmissor.
Agora, tempos depois da morte do "velho Alves", eu sonhei com ele dizendo que estava no DN e que os "outros" sairam de lá. Os outros eram o superintendente do DN e mais 100 funcionários que foram despejados sem dó nem piedade. "Seu Alves" foi um dos primeiros a sair do DN e ainda assim montou um jornal que tirou apenas dois exemplares. Ele não era tão astuto nesse ponto pois queria fazer frente ao DN que dirigiu com tanto empenho. A questão foi que o jornal que ele montara tinha o seu menor número de adesão e todos sorriram dele por tal iniciativa. Quando o "velho" morreu, poucos foram os que estiveram no seu velório. Em dias de dezembro do ano passado, um rapaz contou que "viu" seu Alves, todo de branco, de pé, no palco da Radio Poty. O rapaz estava só e ainda chamou, com espanto, pelo seu nome. E o vulto desapareceu.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 4

- CLARA -
CONTO
Clara estava no balcão despachando uma carteira de cigarros e uma dose de cachaça ruim a um freguês de perto do barraco. Trouxe-lhe os cigarros e despejava então um gole de cana. Já tinha posto a medida que era tirada pelo olho quando o homem pediu que pusesse mais. Ela obedeceu e pingou um pouco mais olhando para a cara do mecânico. E ele fez com a mão que pusesse mais ainda, ficando o copo quase pela metade. Daí, o mecânico disse que já chegava. Pegou a cachaça e entornou goela a baixo, fazendo a tradicional careta, para quem bebia. Se não fizesse a careta e não cuspisse de banda, a cana não prestava. Em seguida pegou a carteira de cigarros e colocou no bolso, caminhando para sair, descendo o batente e caíndo na lama que enxarcava a rua pela chuva que caíra na madrugada passada. Quando saia, a dama lhe chamou:
--- Hei. O dinheiro!! - disse Clara.
O homem voltou com a cara deslambida de sempre fazendo de conta que esquecera ou que já tinha feito o pagamento. E perguntou o mecânico.
--- Quanto foi? - disse por sua vez o mecânico.
--- Quanto foi, não! Quanto é! Você não pagou! Depois que pagar é que diz quanto foi! - disse a dama com um sorriso no rosto.
--- Ah bom. Quanto é?. - dizia o mecânico enquanto revirava o dinheiro que trazia no bolso da calsa.
--- Dez cruzeiros. - disse a dama.
--- Dez? - perguntou assustado o mecânico.
--- Sete do cigarro e três da cana. - explicou a dama.
--- Sete? - perguntou apavorado o mecânico.
--- É. Tá aqui. Sete cruzeiros. - mostrou a dama o selo da marca do cigarro.
--- Mas, aí, tem seis e sessenta! - replicou o mecânico com voz altiva.
--- É. Mas a gente vende por sete. - disse a dama com um sorriso na face.
--- E a cana? - perguntou o mecânico.
--- Três cruzeiros. - respondeu a dama.
--- Três? Tá danado. É um roubo! - respondeu o mecânico.
--- Bebe quem pode! - disse Clara.
O mecânico pôs a nota de dez no balcâo, ajeitou as outras notas, guardou bem guardadas e se esquipou por entre a lama que estava na rua. A dama, de cor morena, cabelos lisos e castanhos, boca suave, carnuda e pequena, olhos de quase noite guardou o dinheiro e rumou para o salão do barraco passando por Élia, a companheira do bar e resmungando qualquer coisa por conta do mecânico que se fazia de besta para não pagar a conta. A outra dama achou graça e disse mais:
--- São todos assim! Muquiranas! Pé de vaca! - relatou Élia.
No salão do barraco, a dama notou que outras duas damas estavam sentadas a conversar animadas com os fregueses que alí engoliam cerveja e algum tipo mais forte de bebidas. Clara também notou os pratinhos feitos de picado que punham a se servir e alguns deles estavam vazios. Ela chamou a dama que estava mais o homem que pagava a conta e disse se não era aceitavel de se pôr mais um pratinho na mesa. O homem nem notou o que Clara dissera e a dama que estava com ele aceitou a oferta. Em instantes chegava o pratinho de picado. O homem era todo solícito com os prazeres do servir daquele barraco. No mais tardar, Clara calculava que o homem teria mais uma hora para beber e depois cair no sono. E como quem dizia:
--- Cuidado! - voz de Clara.
ela deixou o local e foi verificar as outras mesas onde os cervejadores bebiam contumazes. De relance trouxe um pratinho de picado para servir aos beberrões. Nesse instante um deles gritou:
--- Manda galinha! - gritava o beberrão.
--- É pra já! - dizia Clara.
E as mesas continuavam cheias de rapazes e homens, comendo e bebendo o que lhe serviam ao som da música de um toca-disco que animava a festa daquele dia ou mesmo tarde. Um outro rapaz se agarrava com uma outra dama, puxando-lhe para cima e ela se fazendo de seu eterno travesseiro. A dama bem acertada no ofício, deleitava-se com os aconchegos do rapaz. O dia era frio e o prenúncio de chuva se fazia sentir . Havia gente que entrava enquanto outros saiam já um tanto triscados, talvez para continuar com sua farra em outros bares da cidade-baixa pois era asssim que se conhecia o lugar. Enquanto isso Clara dizia a Élia que já era hora de se diminuir o picado nas bandejas porque os famintos já não pressentiam o que era muito ou pouco. Isso foi feito. Quando alguém reclamava:
--- Só isso? - dizia o bebedor.
Ela respondia:
--- O picado acabou. Só tinha esse. Eu faço a diferença na conta. - dizia Clara.
A esta altura a festa continuava com tudo o que tinha de prazer carnal. Damas, rapazes e homens não tinham a noção do tempo que havia de parar. Era tudo a seu enigmático e fugaz belprazer na consciência distrata.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 3

- AMANDA -
CONTO
A mulher era deslumbrante e bela, capaz de fazer qualquer homem enlouquecer de amor. Nas noites sombrias de verão, quando a luz da lua não era capaz de iluminar por momentos o ambiente de prazer e emoções, os olhos de Amanda, então, faziam o mesmo que a luz do sol cálido e sereno. Aos que ambicionavam a mulher fatal, tinham em seu prazer a mesma ventura de amar sem perder seus ideais notívagos. Nada além de um pouco de meiga ternura Amanda emprestava ao ambiente somado de cortinas vermelhas de veludo e almofadas de cetim. No quarto de alcova se podia notar no seu brilhante toalete o cheiro cativante dos perfumes que lhe ambientavam o prazer. Um abajur lilás fazia a festa do seu modo ambiental. Uma vitrola pequena e de modesto som, era o compasso de uma saudade estranha a todo aquele que se ambientava ao prazer sensual. Ilusões quiméricas faziam de cada amante o toque universal de letargia incontida. Em tudo o que se deleitava, tinha o afeto da mulher amada na verdadeira ânsia do aconchego fulgaz. Ternura de instante de um grandioso amor fascinava o amante a todo instante de prazer e de gozo. Em sua simplicidade de uma mulher meiga e encantadora, Amanda deleitava um gradioso sonho de amor fatal. Fascinante como alguém que chegara dos ninhos das vírgens de Salem. Para os amantes de alcova está com a núbia amante era o sentido do prazer inclemente e puro. Seu nome era pequenino e maravilhoso mais que a beleza ímpar e vulgar. Para quem seguia os seus passos, sempre haveria de saber que Amanda, quando não estava o seu coração palpitava a perguntar se ela estaria no colo de algum romântico amor. O sonho delirante vivia aos meigos de prazer ao dizer que naqueles braços aquecidos não tinha um senão e a promessa de fazer de tudo para que a mulher não pedisse nada além do seu legítimo amor. A pretendida ninfa de alcova sossegada tinha tudo o que ela desejava ter. Se acaso alguém chegasse ao seu ambiente de prazer insondado, estaria além de um horizonte belo que não caberia mais alguém no aconchego de viver em paz. A felicidade era então uma quimera para o amante verdadeiramente amado. E desejando amor eterno, o delirante fulgaz amante só pedia que a dama ficasse apenas com ele aos encantos de um efeitiçado ardor. O renascer desse amor era o encanto derradeiro da volúpia da qual o amante sentia o prazer total. Por fim, era Amanda o derradeiro feitio desse amado amor, muitas vezes que ao pranto lhe socorria um pouco de ternura sentida. E o amante queria apenas seu coração juntinho ao da senhora dos seus sonhos por apenas um sonho de um eterno sono. Aquele amor guardado era somente o da mulher amada. Frazes lindas e velhas de amor eram ditas pelos senhores dessas quimeras que norteavam a vida. O destino se abria ao sonhador o poder de escrever nos lábios da mulher as notas surdas de seus diletos encantos. No afan da desilusão, o nobre senhor apenas queria sentir o renascer de algo que há muito não sentia. As carícias naufragadas no afeto escondido fazia do nobre senhor cavalheiro um ser de volúpia e puro encanto. Era o êxtase do seu sentir ao seu final. E quem podia ser a dona daquele prazer contido era a divina senhora dos seus enigmaticos sortilégios de amor privado quando o jovem senhor imperfeito se tornou tão mais ardente e perfeito que os deuses. Então Amanda se sentia mulher. Ela viveria do renascer do amor que há tempos o amado nao sentia tal sublime prazer.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 2

- LUIZA -
CONTO
Eram 6 horas da tarde. O expediente para Luiza encerrara. Alguns papeis se acumulavam do birô e ela, tão somente, juntou tudo e pôs uma pedra em cima. O que sobrara ficava para o outro dia. Do birô, ela foi até o toalete onde se arrumou com pressa, passando o pente no cabelo, pois Armando a estava esperando fazia um bom tempo. Ela se ajeitou, tirando os fios de cabelos que, por ventura, caíram na blusa e se compôs por completo. Ao sair da toalete passou pela sala onde trabalhava e se despediu dos demais funcionarios que ainda ficaram cuidando de suas obrigações. Para Armando, apenas disse um - "Vamos!" - e seguiu firme. Ao descer do elevador e pegar a rua cheia de outros funcionários que vinham dos seus trabalhos ou iam para algum lugar deu de cara com um vendedor de churrasco que estava fazendo alí na calçada do edificio onde a moça trabalhava, os seus espetos de carne cheirando a fogo. Ela pediu a Armando, seu namorado que comprasse um daqueles espetos para ela.
--- Compra um pra mim! - disse Luiza.
Armando foi até o carrinho de churrasco e pediu ao vendedor que lhe fizesse um magro espeto daqueles. O vendedor já tinha um e mais diversos prontos. Deu a Armando que a seu modo agradeceu.
--- Só um? - perguntou Luíza.
--- Quer mais? - voltou a perguntar o rapaz.
--- Pra você. - disse ela sorrindo, com o espeto já entre os dentes.
--- Não quero. Carne de gato! - relembrou Armando.
--- Eca! Mentira! De gado! - disse a moça.
O rapaz sorriu e se encaminhou para um bar proximo dizendo o que preferia.
--- Prefiro suco de abacate! - disse Aramando.
--- É bom. - disse Luiza.
--- Melhor do que gato. - falou Armando achando graça.
--- Eca! Você é um desprazer! - censurou Luiza.
Então, Armando voltou a sorrir. Os dois foram até o bar onde o jovem pediu ao garçon um suco de abacate, ficando a esperar sentado num banco alto e redondo encostado ao balcão. Ao seu lado estava Luiza a degustar o conteúdo espeto de churrasco. De repente, Armando sorriu ao olhar para a sua namorada agarrada ao espeto, comendo com desenvoltura.
--- Que é? Vergonha? - perguntou Luiza com olhos espertos.
--- Nada não. - comentou Armando.
Nesse ponto o garçon trouxe o suco de abacate e ainda perguntou:
--- Mais alguma coisa? - perguntou o garçon.
Armando olhou para a namorada e perguntou-lhe se queria algo.
--- Água. - disse a moça.
--- Água. - recomendou Armando ao garçon.
E os dois ficaram alí a namorar. Armando com o seu abacate e Luiza com seu espeto. Ao passar do tempo, a moça voltou falar, perguntando:
--- Você vai? - perguntou Luiza.
--- Prá onde? - re-perguntou Armando.
--- Voce sabe! - disse Luiza.
--- Até que é bom! - respondeu Armando.
Do bar, eles saíram prazeirosos para o local dos amantes, reduto inesquecível para os dois e para muitos que frequentavam motel. Ela, Luiza, estava em uma ânsia sublime de extasiante candura capaz de alçar voos supremos ao anoitecer daquele dia. Por seu lado, Armando também fazia valer tudo o que Luiza pedia nos encantos do amor sublime. Segredos de uma apaixonada jura de íntimas loucuras. O amor superior não se aquietava entre os delitantes e ternos amantes em deslumbrantes e sublimes pensamentos de alcova. Para os dois aquele era um idílio santo. Vendo a face da mulher amada Armando recordava um reino das fascinações de um sonho multicolorido que apenas Luiza traduzia. Com toda aquela quimera de amor, na ansia de fazer bem mais, ela brotava em seus lábios entreabertos o extremecer de uma deusa do amor e da volúpia. Sedução de paixões destoantes e rubras igual as ninfas com seus símbolos carmenos onde a felicidade se encantava. Essa era Luiza do eterno amor em tudo que ela traduzia. Cabelos de cores irradiantes como que tocado por um sol primaveril com seus ráios de lascívias paixões. O leito sem mácula era o venerado de tantas juras antigas em uma intimidade sensual. Por fim, depois de um vazio do prazer total, o homem e a mulher tornaram uma só carne.

domingo, 17 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 1

- CASAL -

Não sei qual sentido tinha Racquel, mulher fatal para os meus devanêios sensuais. Amavamos com intenso ardor da juventude como dois pássaros que acolhem-se em suas meigas e carinhosas asas multicoloridas afáveis e aquecidas. Seu beijar era como se fosse símbolos carmenos feitos de alegres gamas de emoções e sentimentos eternos. As nossas horas eram passadas no incomum e abistrato cristal onde pairavam as doces e ternas bonecas de vestes acetinadas e lábios de carmim. Qual seria os nossos casuais encontros nuturnos já não sei mais dizer. Eramos dois começos de existir na primavera em flor dos encontros furtivos do bem querer. Algo sucedeu para que ficassemos divididos e separados por tempos afins. Acabaram-se aqueles momentos de felicidade por um motivo qualquer. Dos tempos de nossa aurora, restava apenas o descolorir de algo ameno e suave. Dos encontros e encantos nada mais restava. Um dia, porém, algo de novo aconteceu. Ao caminhar como em um bazar das ilusões, eu encontrei a diva eterna dos meus enigmáticos sonhos. Carinhosa e meiga, Racquel somente olhava o meu rosto entorpecido pelas agruras do tempo e não seguia a perguntar nada além das minhas quimeras. Eu, do meu modo, a vislumbrei em um instante de amor eterno e coisa alguma falei. Eramos dois amantes que antes foram apaixonados e naquela hora já não tinhamos mais nada para falar ou dizer. Apenas nos vimos e nada mais nós tinhamos para dizer ou perguntar. Os sonhos multicoloridos e cheios de amor, eram ilusões dos tempos de outrora. Eu podia ver tão somente os seus lábios entreabertos a sorrir com a luz do sol em uma boca rubra a seduzir, bem parecendo verdade. Aquela sedução de momento já não fazia efeito para mim. Como se fossem dois rubis, apenas eu detive a tal felicidade que eles emoduravam o ser do seu semblante. De momento, me veio à lembraça quando nós, eternos namorados, passeavamos nos jardins emoldurados das praças enfeitadas de hortências, margaridas e bem-me-quer. Aquela quimera sucedeu de imediato tudo que havia em seu resplandecer de desiludidas ilusões. Com o tempo que passou, àquela hora tudo era cinzas e nada mais. Só o que me restava era a saudade de outrora das madrugadas quentes de verão. Mesmo assim, cheio de saudades incontidas e caladas, eu nada lhe perguntei qual a razão por que me desprezara. Racquel continuava a ser deslumbrante e bela apesar do tempo passado. Teus cabelos longos tinham a cor de um sol a irradiar com fulgor de tão penetrantes que eram. Os romances azuis de um lago pairavam ainda em seu olhar como no tempo de sua inocente juventude. E tal quimera fazia lembrar o quanto eu os amava então. Eram dois começos de vida. Nós dois e uma longa história de amor, naqueles idos tempos da nossa juventude acalentadora. Tal transparência macia foi-lhe dada com rendas de cetim em um presente divinal da natureza como as cores das rosas brotejantes e tranquilas. Dos traços divinais de seu rosto, veia então um olá que muito me entristeceu de verdade. A venus de outrora não mais me seduzia. Cansado de esperar foi um imenso tempo que passei sem poder ver o seu olhar. Ficava-me o sinal das tardes vazias por onde andava igual a um homem sem seu destino. Da mulher de então, garota de outrora, vinha apenas a recordação e a saudade do seu sorriso de menina.

sábado, 16 de janeiro de 2010

RIBEIRA - 566

- SABRINA -
CONTO
Seu nome tinha gosto de mel. Tão doce e puro que todos a procuravam chamar: Sabrina era o seu nome. Moça do interior vinda alheia para a capital sem conhecer nada ou alguma coisa, ela procurou os locais que mais podiam lhe sustentar. Foi assim que Sabrina chegou até ao bar Mar Azul, um canto escondido num bairro boêmio da capital. Alí ela se fez igual as demais Sabrinas que se escondiam por aquele antro de perdição, mistura de amor bandido, cheio de ilusões e de quimeras mil. Sabrina era de uma elegância fina por sua cor morena, quase alva, cabelos ondulados feitos em tranças marcando uma ternura antiga onde todos a procuravam por sentir naqueles abraços algo que não encontrariam em suas próprias mansões. Se alguém procurasse outra mulher, mudaria de idéia ao ver Sabrina passar. E foi assim que a deusa do amor perfeito conseguiu a alegria dos ébrios de amor em seus locais de tristeza e dor. Sedutora e terna de uma afeição incomum ela era capaz de fazer aqueles que a amavam por instantes um celebre rei da humilde saudade que o destino desfolhava. Nos sublimes templos das ilusões perdidas via-se no olhar de Sabrina um sorriso que prendia e enfeitiçava alguém que sonhava com um passado de quimeras ilusões desfeitas.
E foi assim que Sabrina desfolhou as doces abistratas e eternas ilusões entre felicidade suprema em perfume da saudade. Um certo dia, depois de amor banal e intenso, sua quietude interna fora quebrada por alguém, um jovem frequentador do bar que após tanto ardor contido e quieto lhe fez perguntas nunca antes não reveladas. O jovem senhor lhe perguntou coisas de outrora, de sua infância, meninice enfim. Sabrina demorou a responder e quando falou foi para saber o que tinha de tão importante aquelas questões tão eternas e singular. O rapaz lhe disse, então, que nada de mais lhe perguntava. Apenas o seu passado. Silêncio profundo e imenso se fez notar nas palavras de Sabrina. Quando falou foi para recordar o seu tempo de menina imberbe e inocente, quando tinha apenas oito anos. Foi um tempo de mais angústia para a menina. Sabrina nem desejava recordar o que se passara, por vezes a chorar. O jovem homem se conteve em saber até ver que a angustia terminara no coração da mulher. Ela então falou que aqueles tempos foram os mais infelizes de sua infância. Sua mãe recomendara a menina a fazer o que um homem lhe seduzia. Era um homem pequeno, magro e feio, dizia Sabrina. E a moça temia quando criança por fazer o que a mãe lhe mandara ser feito. Certa vez, a menina for total depida pelo o minusculo homem que lhe tirou toda a veste. As vestes da menina eram um vestido de algodão tendo por baixo a calcinha puída de pano fino e escasso. O homem a arrancou de vez, deixando a criança nua, sem roupa. Alí, coberta de lágrimas, sentindo um imenso frio por ver sua nudez desnudada, a criança se encolheu toda, agarrada a uma árvore, talvez de frutas silvestres para que o minúsculo homem lhe acariciasse e, enfim, fizesse os agrados indecentes para uma menina. Essa foi a primeira vez. Outras mais se seguiram com avidez e a menina servindo de ima para a sevícia do desregrado homem de uma altivez sepulcral. Teve uma vez que o monstro mandou que ela urinasse na sua boca. Ela, tremendo de medo, nem sabia o que fazer. Sabia que por um momento se urinou toda, de medo incontido. Com o decorrer dos meses, a menina sempre nua quando se fazia presente do homem, sentiu a coragem de não ser mais a sua menina. Então, correu como uma fera quase morta foge do animal algoz. O minúsculo homem nada fez. Ela se escondeu por entre as folhas das bananeiras deixando que o tempo passasse, ainda temendo as garras afiadas do monstro para alcançá-la. Para Sabrina, foram dias e noites fora de casa. Depois disso tudo, ela se embrulhou entre palhas de bananeira e saiu mato a dentro, sem destino até alcançar uma vertente onde pode melhor se recompor em suas vestes. Da casa, nunca mais soube. Nem de sua mãe também. Do difícil tempo de menina veio a mocidade. Ela então passou noites a fio sem dormir, quase que sonhando com o minusculo homem feio.
Essa era a história da vida de Sabrina, mulher sensual e fértil, então com as suas garras afiadas para não temer mais aos homens que se passavam por vítimas. Os mistérios que as sombras vaporosas dormiam em seu sentir eram horizontes de um passado que se fez presente. De amor, Sabrina nada pensava, pois sabia que tal amor não tinha gema que lhe enfeitiçasse, nem milagres nem enfeites. Ela era então apenas Sabrina e nada mais. Não mais esperava no sublime amor a estrada de sonhos de um sonhador do mundo. Nada além de que uma frenética ilusão para se dar e pôr no ímpeto de um frenesi. Essa caricatura amor era tudo o que podia dar a alguém que a procurasse para acalmar as suas estranhas emoções.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

RIBEIRA - 565

- SONHOS -
CONTO
Gloria estava a sós em seu apartamento naquela tarde de verão. Um forte calor abrazador lhe sufocava todo o seu ser. Tomara ducha e não se contentava. O sol das 3 horas da tarde era mais que um sol queimante. Ela não vislumbrava um pouco de certeza em que César não estivesse no trabalho, porque e, pricipalmente, quando o homem saíra não deixara qualquer confirmação de onde iria naquela tarde. Relutante, ela deixou tudo o que tinha para fazer e preferiu assistir um filme na sua televisão enquanto o calor passava. Olhando a TV, Gloria findou por adormecer. No sonho, ela teve uma quimera como se fosse verdadeira. Gl0ria amava a um rapaz que não sabia qual e estavam em uma cama de casal se enrolando e rolando como dois verdadeiros amantes. Era uma aventura inebriante ondo homem e mulher se enroscavam numa eterna profusão de atormentos. Um amor que aumentava a cada instante em uma ânsia incontida. Algo ternal que não se explicava tão somente. Ela esquecia do tempo pois aquele homem era sem limites e para ela, tornado todo o seu ser. Punhados de tremores faziam que Gloria não pensava em nada e em coisa alguma. Naquele momento ele era tudo em sua vida. Quanto mais o tempo passava, mais amor se destinava para mil alucinações que em ansia a deixavam incomum. Até mesmo um toque de telefone ela rejeitava atender pois era um amor intenso aquele vivido entre os dois amantes. Um momento e ela viu escorrer por entre as pedras de um mar rosas como se fosse água a penetrar no oceano escuro e enigmático. Ela só olhava com ternura a face do amado amante forçando-lhe por mais tempo ficar na mesma posição em que os dois sempre estiveram naquela manhã ou tarde. Uma primavera alucinante que deixava Gloria em extase a rebuscar nos lençois da cama algo que se fazia concreto. Deitados em tenras almofadas ela apenas pensava no que havia para dizer e buscava não falar. Aquele amor era tão inteso que qualquer palavra buscaria o despertar entre brumas os efeitos da razão. Flores do campo olhavam o casal e bendiziam entre as outras flores do jardim que aquele amor não precisava ser interrompido. O vento cálido soprava de leve e reluzente para conduzir Glória ao seu apogeu do esquecimento. Uma fala de amor era tudo que ela ainda suportava no naufragiu do resurgir. Saudades eram tudo o que Glória sentia no seu adormecer. Ilusão preferida tinha todo o seu intimo ser. Quando Glória se refez viu que tudo não passara de um sonho. Seu corpo ardia como se estivesse em febre ao ver as suas roupas molhadas de prazer.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

RIBEIRA - 418

- GIVALDO -
Hoje, eu tive um sonho com Givaldo. Creio que bem poucos sabem quem foi Givaldo. Eu e ele trabalhamos juntos em uma emissora de rádio de Natal - Rn - e depois estavamos juntos em redações de jornais e tvs lutando pela vida. Givaldo Batista de Moura foi da Marinha do Brasil onde entrou na marra. No seu tempo era assim. Pegava-se o menino que não estava fazendo nada e se punha na Marinha. Lá, o menino se fazia rapaz e continuava a vida de Marinheiro por um tempo imenso. Com Givaldo foi assim. Porém, a vida lhe reservava surpresas. E em uma delas, Givaldo deixou a farda. Ele voltou para Natal sem eira nem beira. E então me procurou em uma rádio onde eu trabalhava. Depois dos choros, lá estava Givaldo comigo, a trabalhar. No Rio de Janeiro, ele experimento fazer também cinema. Em um dos filmes, - um filme de Tarzan, ele era um chefe indígena. Para saber falar ingles, isso nem importava. Apenas ele trabalhava como um nativo e tudo bem. Givaldo trabalhou, quando ainda estava no Rio, na redação da Radio Globo. Mas, as agruras da vida fizeram com que ele voltasse para Natal. Um fato que ocorreu quando ele era repórter na rádio que eu trabalhava deu o maior escândalo que já se viu.Foi em um incendio em uma sapataria. Givaldo estava escalado para cobrir o fato. Foi então que o Delegado falou que havia dois suspeitos: Pepe dos Santos e Paulo Saulo. Givaldo pegou a entrevista gravada de que esses dois - repórteres do Diário de Natal - eram os princiais suspeitos. E divulgou a informação. Pra que!!!! Foi um tumulto. Lá estava João Neto, chefe de redação, vindo mordendo os bofes e exigindo que Givaldo desmentisse o que foi dito. Eu, com chefe de redação da rádio, disse a João Neto que não desmentia o reporter, pois a matéria foi gravada. Então, depois de muita arenga, eu coloquei uma resalva do Diário de Natal onde dizia que seus dois funcionários não eram suspeitos. E lá se foi o caso. O Coronel da PM se zangou e ordenou que a rádio fizesse uma nova matéria pois Pepe e Paulo eram os dois responsáveis pelo fogo da sapataria. Lá foi Givaldo para a Polícia pegar a entrevista - gravada - do Coronel. Mas, conversa vai, conversa vem e tudo acabou em pizza. Quando nós estavamos em um jornal da cidade, veio outra matéria.Um médico foi assassinado a mando de sua mulher. Matéria "quente", de primeira mão, com exclusividade. Givaldo era do novo o repórter. Mas, a matéria não saiu porque a mulher que teve seu nome envolvido era a irmã de outro redator desse mesmo jornal. Foi um balde dágua na cabeça de Givaldo. Matéria "quente" que não pode ser divulgada. Então, ele mudou de endereço; Rádio Poti. Eu estava lá. Novamente Givaldo e eu. Nós fizemos um chafurdo e tanto. A Rádio Poti era a mais famosa da cidade. E assim ficamos nós na mesma casa. Em 1990, Givaldo foi para a TV Ponta Negra. Eu estava lá, também. Fizemos um estardalhao com matérias envolvendo casos terriveis de se divulgar. Fizemos de tudo em matéras policiais. Eu era o chefe de redação e Givaldo era o repórter. Chega 1995. Givaldo, ao meio dia, se despede e vai para a sua casa. Um sábado. Givaldo no almoço. Foi então que o coração de velho repórter parou. Comoção total na cidade. Morre Givaldo de Moura. Assim é a vida. Givaldo se foi para sempre mas ficou a sua memória. Hoje, eu sonhei com ele: revólver na cintura e o bolso da camisa cheio de umas plantas de cheiro suave como era a vida de alguém que um dia se mostrou competente para ser reporter.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

RIBEIRA - 417

- COVEIRO -
Essa é pra doer. No mês de dezembro, dia 11, cinquenta e nove (59) candidatos se submeteram a exames para o cargo de COVEIRO. É mesmo: Coveiro. Esses candidatos pagaram 40 reais para disputar um das duas vagas que a Prefeitura de Currais Novos está disposta a contratar. Se são DUAS vagas, quer dizer que 57 candidatos já estão reprovados. E da inscrição, a Prefeitura teve um lucro de 2.360 reais. O futuro coveiro teve que responder em cima da buxa questões concernentes ao ensino fundamental. A Prefeitura de Currais Novos não quis nem saber se era homem ou mulher, se era forte ou magricela, se tinha dentes ou não. Pagou: faz a prova. Agora, para se ser coveiro precisa tão somente cavar um buraco no chão de 7 palmos de fundura por 2.30 mts de comprimento. Isso, a Prefeitura nem procurou saber. Ela queria apenas que o candidato respondesse ao questionário. Podia ser até doutor. Esses alfabetizados estão de acordo com as necessidades do cemitério. Eles terão condições de disputar as tão sonhadas DUAS vagas. E o caso não ficou somente nessas disputadas vagas. Tem outras Prefeituras do interior do Estado (Rn) abrindo concorrencia para COVEIRO. Assim, vamos ter concurso nas Prefeituras de Santa Cruz (do Inharé), Caicó e Florânia. Por enquanto. Os Municípios estão atrás de coveiros para sepultar e desenterrar os defuntos. Em Santa Cruz, são 4 vagas e nas outras Prefeituras estão sendo oferecidas apenas duas vagas em cada uma delas: Caicó e Florânia. O negócio de saber cavar buraco no chão nem passa pela idéia dos promotores a coveiros. Pode ser aleijado, cegos, anão, grandalhões. Qualquer tipo. Só tem um detalhe: responder as questões do Vestibular de Coveiro. Sendo em Currais Novos, passou, tá contratado. Apenas dois. O resto, tá dispensado para o próximo Vestibular. Coisa de louco. Cinquenta e nove vestibulandos a coveiros e somente duas vagas. É o fim. Dinheiro? Ah. Foram recolhidos 2.360 reais.