quarta-feira, 30 de julho de 2008

RIBEIRA - 41

O Bonde que passava na esquina da rua Dr. Barata.




Viver a Ribeira de 60 anos passados ou de mais tempo, era ter o sabor da vida como um doce encanto. Ali havia de tudo um pouco. Da tapióca e manguzá - alguém diz munguzá - aos perfumes delicados e inebriantes das moças saideiras que entravam para comprar um corte de fazenda nas Casas Pernambucanas ou no Armazem Potiguar, um disco de vinil na Loja de Carlos Lamas ou mesmo somente para passear recordando os eternos namorados norte-americanos que um dia estiveram por estas paragens e partiram para um destino quiçá sem volta. O Teatro "Carlos Gomes" era o túmulo de velhos romances das mocinhas casadeiras que passavam pelos seus flamejantes jardins perfumadas como pétalas de acassia.

Nas ruas do bairro estavam os homens de negócio com seus charutos havaianos, como costumeiramente faziam, soberbos e galantes, adejavam a cada passo olhando para as lindas pernas da mulher fatal, de sombrinhas e leques com um ar de que não queria nada para os olhos voluptuosos que arrematam em espiar. Nas tardes quentes de verão, as damas da noite saíam mais cedo para fazer a ronda onde as senhoras distintas não se aventuravam em passar. Um passeio de bonde até que não fazia mal, ela e mais duas amigas sorrindo a todo instante entre uma coisa e outra que nem graça fazia, para bem dizer. Porém, andar de bonde era chique, por que não dizer. Bem melhor do que fazer tricô na casa de uma velha senhora e ouvir as suas conversas fiadas.
Assim era a Ribeira do tempo antigo, do tempo de nossos avós e até mesmo dos nossos bisavós. Para as crianças pouco tinha a se oferecer, pois, afinal, o coreto que era armado na Praça Augusto Severo era apenas cheio de dejetos humanos dos ébrios que dormitavam por alí. O Cine Polyteama há muito tempo fechara as suas portas. No seu tempo, lá para os idos de 20, era chique se ir até lá, pois tinha uma sorveteira sempre bastante frequentada antes de começar a projeção do filme do dia. No Polyteama era frequente se ouvir histórias vãs que se contava baixinho para que ninguém ouvisse. No final de tudo, os segredos passavam de boca em boca e todos ficavam sabendo das fruticas que se estava praticando na cidade. Assim, era a Ribeira dos velhos carnavais, e que carnavais. Quem diria, heim?
Ao final da tarde, antes da preguiça chegar e o sono vir de mansinho, a Confeitaria Delícia, de um português - Ovidio - que puxava por uma das pernas, era o ponto de encontro dos doces "bárbaros" que passaram o dia fazendo negócio e, então, era a vez de botar conversa fora em meio da risadagem que lá de fora se ouvia. Quando a Confeitaria já estava cheia de ébrios ou quase isso, Ovidio arranjava um jeito de colocar mesas do lado de fora da calçada onde os homens de negócio perdiam o senso da responsabilidade e tocavam a falar da vida alheia. Um bonde passava ao largo, fazendo a curva, rumando para a Cidade Alta, o bairro chique onde morava a burguesia. O delém-dem-dem, que o motorneiro fazia chamava a atenção dos que viajavam em pé ou sentados no seu orgulhoso bonde colorido.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

RIBEIRA - 40

Cais do Porto de Natal. Nota-se ao fundo um navio atracado.

O Cais do Porto, de Natal (Rn) é e foi o principal meio de atracagem de navios de cabotagem e de transatlânticos. No período de 1955, quando se passou essa história, era o porto de Natal aquilo de maior progresso da cidade, para embarque e desembarque de produtos que os mercadores importavam ou exportavam. Pelo Porto saíam algodão, cera de carnauba e, principalmente couro de gado e caprinos mandados para outros centros, inclusive a Europa e Estados Unidos. Porém, a história do porto vem desde que a cidade foi descoberta, em 1535, quando os primeiros portugueses estiveram por esses lados. De sua história é de se falar depois, pois agora o que importa era os produtos trazidos de navios de Estados do norte e do sul do Brasil, adquiridos pelos empresários e, de modo especial, por José Leandro, Marcos de Souza, Tinoco Fernandes e tantos mais que negociavam com o ramo de madeira.

Foi em 1956 que José Leandro começou a negociar no ramo de madeira e, para isso, alugou a casa de número 241 da Avenida Rio Branco, bem por trás do Teatro Alberto Maranhão, então chamado de Teatro Carlos Gomes. Naquele local, ele instalou não só o armazém, bem como uma carpintaria locada pelo Mestre António dos Santos. Foi logo ali que começa essa parte da história que o garoto contou para os ouvidos de quem ouvia. De inicio, José Leandro contratou o mestre Antonio para fazer um galpão onde poria seu maquinário de trabalho, pois o mestre trazia equipamentos que usavam eletricidade e, por isso, era importante se fazer um galpão bem protegido da chuva e do sol. E foi esse o primeiro serviço feito no final do prédio, ao lado esquerdo, próximo a porta de saída do armazém que dava directo para o quintal. Todo o material usado na construção do galpão, bem como instalação eletrica foi fornecido por José Leandro. Nessa parte de energia eléctrica, que o Mestre Antonio não sabia fazer, lhe foi dada por um electricista que fez o caminho todo por fora da casa, pois José Leandro não confiava no prédio, que era por demais velho, com mais de 50 anos.

O trabalho foi árduo com toda a fiação pregada na parede do casarão pelo lado externo e quando terminava o expediente, as cinco horas da tarde, a chave de luz era desligada. No entanto, condicionou-se em fazer uma ligação antes do medidor de luz para que o mestre Antonio pudesse trabalhar de noite ou mesmo nas tardes dos sabados, quando não havia expediente no Comercio da Ribeira. Esta era a faina do carpinteiro que tinha como auxiliar um seu irmão, Temístocles e, não raro, um outro carpinteiro que por certo tempo trabalhou com ele na montagem de peças de portas, portais, esquadrias e coisas do ramo que chegavam aos montes atendendo a pedidos dos consumidores. Eram ali feitas portas de imbuía, cedro, canela, entre os mais variados modelos que ainda hoje se pode ver nas casas construídas naquele tempo. A quantidade era tamanha que José Leandro passou a fazer pedidos de portas prensadas vindas do Paraná e Rio Grande do Sul. No armazém se entulhavam peças de tacos para assoalho, ripas, peças de cobertura, forros, lambris pranchas, tábuas dos mais variados tipos, desde o pinho ao feijó, canela além de compensados de pinho, imbuía, cedro. e tudo que o comprador precisasse. Não havia nada que se precisasse adquirir e que faltasse no Armazém Santa Teresa.

O tempo passava e os estoques seguiam aumentando no pátio do armazém, especialmente pranchas de peroba, ypê, marfim, massaranduba, cupiuba, andiroba, gonçalo alves, sucupira e de tantas outras madeiras vindas do Norte do Brasil, como o Amazonas. Quando alguem procurava por uma madeira que no Amazem não tinha, logo José Leandro anotava o nome para fazer o pedido. E, assim, foi fazendo um maior estoque de mercadorias que em um armazém podia ter. Certa vez, chegou ao Porto de Natal um carregamento de madeiras de massaranduba, algumas peças medindo 17 metros de comprimento. Era incrível o tamanho de uma peça de massaranduba. Além do tamanho descomunal, tinha a resistência do madeiro que, não raro, quebrava uma serra de fita de uma serraria de Joaquim Victor de Holanda ou da Cotilda, para onde José Leandro mandava a peça para serrar conforme o pedido era feito.

O nome de José Leandro que ja era bastante conhecido por fazer construções de casas e venda terrenos, em Natal, ganhou espaço como sendo o maior fornecedor de madeiras e fabricante de carpintaria no Estado do Rio Grande do Norte. De um simples vendedor de casas e terreno passou a ser um rico Senhor importador de madeiras que Natal um dia chegou a ter. Sua figura era de um homem simples. Gostava de beber cerveja, conhaque e vinhos importados da firma gaucha "Luis Antunes", da qual, um dia foi o seu representante em todo o Brasil. Certa vez, em uma viagem pelo centro do Brasil, o avião no qual viajava, veio a cair, amparando-se numa cerca de madeira. Nenhum dos passageiros veio a sofrer ferimentos. O avião ficou imprestável. Talvez esse foi o mais grave acidente por ele sofrido quando ainda era representante da firma de vinhos "Luis Antunes", pelo que se tem noticia. Homem de risadas francas, era a seu modo, um Senhor de cara fechada quando estava trabalhando. Sua norma de trabalho era a de fechar o caixa as 16,30 horas do dia e quem precisasse de dinheiro, ele atendia até aquela hora, pois do contrario ele respondia que o caixa estava fechado, se o empregado ou outra pessoa viesse receber o pedir um adiantamento após aquele tempo. Nas festa de sua casa, como nos aniversários da filhas e do filho, ou mesmo nas festas do Natal, na casa de José Leandro tinha de tudo de se comer de beber para toda a gente que sempre era convidada. Assim foi um dos filhos de Miguel Santino Leandro e de Dona Estefânia Leandro.


RIBEIRA - 39

A RIBEIRA antiga era bem diferente da atual (2008). Em carros, transportes de massa e gente mesmo O garoto, já quase rapaz, certa vez disse que a Ribeira Antiga era cheia de vida. Vibrava, por assim dizer. Tudo o que se fazia começava pela Ribeira. Salvo o mercado público da Cidade Alta, os demais negócios eram na Ribeira que as pessoas tinham que procurar. Certa vez, o garoto falando ainda sobre a casa 241 da Av. Rio Branco que o seu tio havia alugado para instalar o seu Armazém de Madeira, disse que a casa ficava um pouco recuada do muro que existia na frente do prédio, cerca de 8 metros. O garoto lembrou de que no muro da frente havia três portões. Um, largo, que dava entrada a um caminhão carregado de madeiras: outro, no meio, que dava acesso aos moradores que naquela época eram fregueses, indo por um caminho feito de tijolos com cerca de dois metros e meio de largura e por fim, um portão estreito feito para uma pessoa, de cerca de 70 centímetros que dava acesso ao beco da casa, por seu lado esquerdo. Quem estivesse na casa, era do lado esquerdo olhando para a rua.
Esse terceiro (ou segundo) portão nunca se abria, pois o ferrugem já havia danificado a sua capacidade de abrir e fechar. Então, o portão só vivia fechado. Como era todo de grade, podia-se ver através dele, sem sombras de duvida. Na calçada que dava acesso ao prédio tinha uma parte que findava em outra, circulando pela frente do prédio, da direita para a esquerda. Essa calçada, talvez de um metro de largura, entrava pelo beco do lado esquerdo da casa. No lado direito não tinha calçada. Era um beco de cerca de três metros de largura onde se plantou três pés de sapotis e um de abil.. Do lado esquerdo, como já foi dito pelo garoto, tinha outros dois pés, mas de sapotas. Era disso que o rapaz se lembrava muito bem.
Quando o Armazém começou a funcionar, em janeiro de 1956, ainda não tinha nada para vender. O tio do garoto se ocupava em fazer contas, adquirir no Recife mercadorias de madeiras e compensados, arrumar a casa, contratar um carpinteiro que, certa vez, ainda no escritório da Rua Dr. Barata foi levar um recado para o mestre (António dos Santos que nasceu no dia 1º de Novembro, dia de Todos os Santos e, mesmo assim era protestante) para ele ocupar o posto de Mestre em Carpintaria, no Armazém, quando abrisse em janeiro de 1956. Nesse tempo. o Mestre António trabalhava na fundação do prédio do Ipase, no bairro da Ribeira. No dia que ele foi chamado ao escritório, por certo aceitou o convite, pois o garoto disse ter visto, quando o Armazém começou a funcionar, uma carroça puxada a burro carregando um imenso banco feito de uma madeira rústica que, com o tempo o garoto ficou sabendo ser sucupira. Além do banco desmontado que chegou ao armazém, uma outra carroça entrava conduzindo um caixão enorme que o Mestre António guardava seu material de trabalho.
Nesse transporte o garoto se lembrava de uma peça por nome de "sargento" que servia para unir duas peças quando se estava colando - como placas de cola feitas de tripas de boi -. Não raro, uma peça desse tipo levava um dia prensada para poder colar, de vez. Com relação ao emprego, o garoto ficou sabendo que, daquele mês em diante, ía trabalhar dois expedientes, ganharia um pouco mais e teria pela primeira vez sua Carteira de Trabalho assinada pelo seu tio. A Carteira de Trabalho era um documento que serviria para todo o sempre como forma de apresentar em qualquer lugar em que o portador fosse trabalhar ou não. Essa carteira foi criada do Governo Getúlio Vargas, em 1938 quando foi instituída a Consolidação da Lei do Trabalho. Com isso, o trabalhador tinha uma esperança de um dia se aposentar condignamente. A Lei do Trabalho facultava ao operário receber um salário capaz de se sustentar e à sua família, com filhos e tudo. Essa Lei, depois do Governo de Getúlio Vargas, jamais foi respeitada. Hoje, o operário não ganha o suficiente para sobreviver, quanto mais se tiver uma mulher. Em 1956, o operário recebia uma salário mínimo, férias, salário-família, salário-maternidade, salário-doença em caso de adoecer em trabalho ou a caminho do trabalho entre outros benefícios.
Com o passar dos meses, o armazém se encheu de madeiras de todos os tipos sendo obrigado José Leandro fazer um galpão enorme, de mais de 15 metros de comprimento por 6 de largura, todo feito de madeira maciça, com separações entre uma e outra tábua de 3 polegadas por 1 polegada de grossura. Nesse galpão tinham duas portas de 70 centímetros cada uma, todas feitas em madeira de pinho comum vindos do Paraná, onde era comprada e trazida para Natal em navios mercantes que desembarcavam no Cais do Porto da rua Chile, no seu começo. Então, era nesse casarão que o garoto começava a aprender a trabalhar. No escritório, estava José Leandro com o seu inseparável cofre de ferro de porta grossa dois birôs, três cadeiras para os fregueses e amigos, uma cadeira e um birô para o garoto que respondia por tirar as notas de compra e venda além de serviços de Banco e atendimento a quem aparecesse para comprar alguma peça em madeira ou compensado. No segundo quarto eram guardadas peças de ferro que José Leandro usava em suas construções, galões de tinta também usadas com o mesmo fim, um balcão onde se guardava talões de notas usadas ou novas,papéis de carta, carbono e para cumprir uma necessidade, havia também um filtro de água que era enchido todos os dias pelo garoto direto da torneira da rua que ficava no beco a esquerda da casa.Foi assim que tudo começou.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXVIII - (38)


Era o fim de 1955 quando Zé Leandro chamou o seu sobrinho e entregou-lhe umas chaves de um chalé situado a av. Rio Branco, 241, para o rapaz abrir o prédio e conferir o tinha para ser feito no velho casarão. O chalé fora construído nos idos de 1890 para servir de casa residencial. Há tempos estava fechado. Quando o rapaz, acompanhado de Antônio Patricio (Rapa-Coco) chegou ao prédio, abriu a porta e empurrou com força para poder escancarar de modo a que ele pudesse entrar, acompanhado do fiel Rapa-Coco.
Lixo muito foi o que se deparou o jovem. Nos lados esquerdo e direito havia um plantio de enormes pés de Sapoti e um pé de Abil, fruta doce, de miolo mole e que se escondia por entre a folhagem do pé de pau. Isso, o rapaz foi descobrir com o passar do tempo. Ao lado esquerdo do chalé, na rua Sachet, havia umas oficinas de conserto de carros que o rapaz já conhecia, pois por várias vezes ele teve que ir ali ver como estava o trabalho de conserto de um automóvel de seu tio. Havia também uma casa que fazia cachaça, pois, no seu interior, tinha uns alambiques enormes feitos de madeira de carvalho.
O jovem rapaz inspeccionou todo o prédio, ajuntando as folhas que se esparramavam no chão, caídas dos pés de sapotí e de sapota, também. Há uma diferença muito forte entre sapotas e sapotís. As sapotas são maiores que os sapotis apesar de terem o mesmo gosto que os frutos menores. O prédio tinha na frente seis janelões e uma porta. Janelões encobertos por umas outras janelas feitas em madeira nobre de pinho Riga. As que davam para fora, eram feitas em esquadrais muito bem acabadas. Pelo que demonstravam, eram um serviço de mestre em obras de carpintaria. Nas partes laterais do prédio, outras janelas se abriam. Era um total de seis janelões iguais aos da frente. Além disso, tinha uma parte menor que, com certeza, um dia fora a cosinha da casa. Alí, na cosinha, tinha duas janelas um tanto pobres e uma porta de saída para o quintal. No prédio, ali existia uma porta de madeira fornida que também dava para o quintal. No fim da casa, três banheiros e aparelhos sanitários um tanto sujos. Os aparelhos eram imundos, se não falta a palavra. Do lado esquerdo da casa - direito de quem olha - existia um quarto um tanto pequeno com seus banheiros e sanitários. Pelo que deixava notar, um encanamento fora feito anos depois da casa ser construída, pois em 1890 ou 1895 não passava saneamento naquela rua. Na verdade, nem rua era ali. Um começo de rua que, mais tarde se chamou de avenida Rio Branco, quando a Prefeitura desapropriou parte de um terreno do Colégio Salesiano para dar comprimento à Rua Nova que se passou chamar Rio Branco.
No beco do lado esquerdo da casa havia uma calçada estreita que rodeava a frente do prédio. Também desse lado, no começo do chalé, tinha uma porta imensa, de madeira nobre, igual a que existia do lado direito. No chalé, eram três salas enormes e seis quartos, sendo três de um lado e três do outro. Todos os cómodos tinham ligações através de uma porta que, no alto, havia uma esquadria muito bem ornamentada. O rapaz anotou tudo que pode observar, da porta dos fundo para além, até chegar a um barreiro onde o terreno findava. Por alí, tudo era mato, sem fruteiras. Pelo que o rapaz notou, há muito tempo não pisava viva alma naquele chalé.
Coberto de telhas coloniais, o casarão tinha forrada a sua sala que se podia chamar de visitas. Para dentro, uma outra sala de jantar e, por fim, uma sala para a criadagem fazer seus quitutes. Almoço, janta, bolo e muitas outras coisas mais. O rapaz ficou intrigado como foi que o seu tio foi descobrir um chalé daqueles. Com o tempo, ele ficou sabendo que naquela data o chalé pertencia a Escola Domestica. Antes, porém, o chalé foi construído por Afonso Riqque. onde residiu algum tempo. Depois que o homem morreu, os herdeiros venderam o casarão ao domínio da Escola Domestica que, ao que parece, nada fez por lá. E foi ali que José Leandro instalou o seu armazém: Armazém de Madeiras Santa Teresa, que marcou história na vida da velha Ribeira.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

RIBEIRA XXXVII - (37)

O HOMEM MORCEGO, O TERROR DA NOITE




Em um dia de segunda-feira, o garoto estava na Agência Pernambucana, uma espécie de livraria, porém o seu principal objectivo era o de vender jornais do Rio de Janeiro além de revistas da EBAL - Editora Brasil América Ltda -. O nome Agência Pernambucana era porque uma de suas principais atividades era a de divulgação de noticias do Brasil e do Mundo através de um serviço que a Agência fazia acoplando seu sistema às transmissões da BBC de Londres, em português, diariamente. Esse serviço rendeu muito ao natalense, nos anos de 1939 a 1945 quando se ter um rádio em casa era coisa do outro mundo. Por isso, a Agência divulgava o que estava acontecendo no front, diariamente, às 7 horas da noite. Muita gente se juntava próximo aos auto-falantes instalados em diversas partes da cidade, como Alecrim, Cidade Alta, Tirol, Petropolis e Rocas. O serviço era explorado por um particular que veio morar em Natal e fez também a primeira ligação por lanchas entre a Ribeira e a Redinha. Seu nome era Luis Romão, pernambucano de nascimento.

Além do serviço de rádio, Luis Romão também explorava o de representante das editoras do Rio de Janeiro e por aqui ele distribuia livros, jornais e revistas das mais variadas espécies, onde todos os leitores podiam adquirir a preço de capa. E foi lá na Agência que o garoto encontrou um álbum maravilhoso da EBAL. De folhas em papel comum, capa dura, grossa como se fosse cartão, e era um cartão mesmo, páginas coloridas, trazendo as aventuras do Capitão Marvel, Batman e Robin, Tarzan, Família Busca-Pé, Homem-Morcego e outros tantos heróis e super-herois. Seu preço era de 20 cruzeiros, pois se tratava de um Álbum da EBAL que saía todos os anos. Foi o último Álbum que saiu nesse estilo. Era de um tamanho nobre: 70 cm x 45 cm.Um álbum gigante, mesmo. O garoto não soube dizer quantas revistas daquela a Agência importou. Apenas, ele sabia que era o dono de um exemplar.

Algum tempo depois, uns vinte e poucos anos, o rapaz foi procurado por um outro colega para lhe ceder a revista. Ele não cedeu. Sabe-se que guardou muito bem guardada a sua preciosa dádiva que era, então, uma revista de museu, algo que se definia como preciosidade. O garoto levou a sua tão preciosa revista para a sua casa e de tempos em tempos passava a lê-la como uma saudosa recordação de sua mocidade. As histórias em quadrinho de hoje, não se compara com as de 1955, para aquele velho senhor de cabelos brancos. Ele comprava normalmente o Almanaque do Super-X, o Xuxá, o Capitão Kid, Nioka, O Homem-Aranha, Mulher Gato e, mais adiante teve a mania de adquirir as revistas de Ri-Tin-Tin. Asterix, Tin-Tin, Salamino e Mortadelo e outros mais. Porém, nenhuma delas se comparou ao Almanaque da Ebal, com suas histórias de fantasia.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXVI - (36)


Tão logo perdeu o seu emprego na agência dos Correios onde fora contratado como estafeta para a entrega de telegramas chegados nas casas domésticas, nas Repartições Publicas e até mesmo em locais tão menos próprios, como nos cabarés, o garoto já com seus 15 anos de idade, voltou ao trabalho que se havia iniciado, no escritório do seu tio, José Leandro. A mesma ladaínha era o que ele recebera para fazer. Certa vez, o seu tio inventou do comprar cal para uma construção de uma casa que estava fazendo na Av. Deodoro, perto ou em frente ao Colégio Marista, com mais certeza de dizer. O homem mandou o garoto na olaria comprar cal. O local ficava pelo lado da Estação Ferroviária, onde havia um muro entre a estação e a rua. Nessa rua tinham poucas casas. Ele lembrou de uma que fazia sabão, outra de não sei o que e depois a primeira casa ou galpão que vendia de tudo um pouco: cal, estroncas, tijolos entre outras coisas.

Era de manhã e lá estava ele para comprar o material trazido por um carroceiro que o garoto chamou no pátio das carroças, na Praça Augusto Severo, onde tinham para alem de 35 carroças puxadas a burro, pois naquele tempo ainda não havia serviço de entrega a domicílio através de carros menores. Esse serviço só aconteceu por volta de 1960, quando no Brasil começou a se fabricar as modernas Kombis, uma das quais virou no cruzamento da Av. Tavares de Lyra com a rua Duque de Caxias. A Kombi era um carro leve e quem não soubesse dirigir, virava o veículo, não tinha nem conversa. Quando terminou a compra, o carroceiro colocou tudo em cima da carroça, pois o frete era para apenas se pagar com uma viagem.

Acontece, porém, que a carroça não suportou tamanho peso. A carroça até que aguentava. Mas o burro refugou a carga. Nesse caso, o carroceiro teve que fazer duas viagens para por a carga na construção. Isso demorou horas. Antes de seguir viagem, o carroceiro teve que ir ao escritório de dr. José Leandro para dizer que seu burro não podia com a carga. Sendo assim, ele teria que fazer o frete de duas vezes. Isso representava mais dinheiro. O dobro. A essa altura Zé Leandro se apoquentou e disse que o trato era trato e o carroceiro sabia muito bem o que tinha que levar. Conversa vai, conversa vem, e Zé Leandro não aceitou qualquer alteração no valor do frete. iria pagar a quantia X que representava uma viagem.

Depois de muito conversar e de ouvir severas reclamações do dono da cal, o carroceiro murchou as orelhas, como o seu burro e findou por fazer em duas carradas com todo aquele frete. O garoto viu bem que o carroceiro era quem tinha razão. Mesmo assim, calou e não disse coisa alguma. Que brigassem eles, pois não tinha ele - o garoto - nada com isso. Essa discussão levou uma meia hora com o burro esperando, paciente, que os dois homens resolvessem a questão, pois, de sua parte, o problema já tinha sido resolvido: carregar aquela carga imensa era coisa para elefante. E ele, era apenas um burro. "Tamos coversados", pensou o jegue.
E lá se foi o carroceiro rogando as tremendas pragas em Zé Leandro para depois se vingar no burro que não queria levar aquela carga toda,por uma questão de principio. Se houvesse, naquele tempo o Sindicato dos Burros de Carga, na certa o caso ia parar na Justiça dos Burros, com a decisão do juiz - um burro velho - dando ganho de causa ao seu associado, o burro jovem. Porém, isso levaria muito tempo, um mês ou dois, até que fosse lavrada a ata. O dono da carga ainda podia recorrer, com o caso indo parar na Justiça Federal dos Burros, demorando mais tempo ainda. Mesmo havendo um "habeas corpus", ao novo burro caberia um recurso da decisão. Isso era coisa muita para um Sindicato dos Burros que sócio não tinha, por assim dizer. Ainda precisaria que o burro soubesse falar e também escrever..

quinta-feira, 3 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXV

URUBU-REI. UMA ESPECIE JÁ QUASE EXTINTA


Nos anos 50 ou antes dessa época, o urubu tinha o seu habitat nos morros de Petropolis e Tirol quando saia em bandos para fazer o repasto diário logo cedo da manhã na Salgadeira, um local assim chamado, pois alí funcionava o matadouro da cidade, também chamado de matança, onde se abatia o gado para vender a carne no Mercado Público da Cidade Alta, bem como da Ribeira e Alecrim, bairros que atendiam a população da Cidade do Natal. Também ali próximo era onde se depositava o lixo da cidade, trazido principalmente em carroças ou burros-jumentos tangidos por seus donos ou empregados. Por seu aspecto asqueroso, a ave metia medo nas crianças e, mesmo assim, era protegido pela Policia que prendia quem abatesse uma ave de rapina daquele tipo. O Urubu-de-cabeça-preta é uma ave pertencente ao grupo dos abutres do Novo Mundo. É uma das espécies do grupo mais frequentemente observada, devido ao fato de realizarem vôos planados a grandes alturas, por serem consumidores de carcaças de animais, e por possuirem atividade durante todo o dia.

O urubu-de-cabeça-preta como as outras espécies de urubus, possuem a cabeça depenada, sendo um pouco rugosa. Essa espécie possui uma boa visão e um olfato apurado, mas não tanto como o seu parente mais próximo: o urubu-de-cabeça-vermelha, que localiza a carcaça três vezes mais rápido que essa espécie. Isto se deve ao fato de que a parte do seu cérebro que se encarrega do instinto oftático é cerca de três vezes maior do que a dos urubus-de cabeça-preta. Tais urubus (que não são reis, como se identifica os urubus-de-cabeça-vermelha) nidificam em terrenos longe da presença humana, junto do solo e nunca são feitos a mais de 50 cm. Todavia, conforme o costume, esses urubus convivem com seres humanos e outros animais, como os porcos, em cidades onde se deposita o lixo domestico. Os ovos, de cor cinza ou verde-pálida, são incubados por ambos os genitores durante 32 a 40 dias. Os juvenis eclodem com plumagem branca e são alimentados por regurgitação. Com o passar dos dias, os juvenis ganham uma cor branco-rosada e penas um pouco azuladas. O primeiro voo ocorre por volta das 10 a 11 semanas e com cerca de tres meses já tem a plumagem de adulto. O urubu se alimenta de carniças e frutas em decomposiçao. Este modo de alimentação necrófago confere-lhes importancia ecologica, pois ajudam a eliminar carcaças do ecosistema.

Por seu lado, o Urubu-rei habita zonas tropicais a semitropicais, vivendo desde o México a Argentina. Tem plumagem branca e negra, com a cabeça vermelha, pesado cerca de 5 quilos. Na natureza tem poucos predadores naturais mas, devido a baixa reprodutividade da espécie e à degradação do seu habitat, é espécie cada vez mais rara de se observar. Em Natal não é visto o urubu-rei, porém, em 1950 eles ainda existiam, mesmo em pouca quantidade. Com a relocalização do forno do lixo para um sítio mais distante do centro urbano, só é visto do urubu de cabeça preta. Este, ainda sobrevoa os locais onde se recolhem no bairro do Tirol. Porem, em sua grande maioria, eles vivem recolhidos nas imediações do forno do lixo, em Nova Cidade, nos confins de Natal

RIBEIRA - XXXIV

O burro serve, ainda, para muitas coisas.


Em Natal morou no bairro da Ribeira, o Dr. Januário Cicco, em um sobrado na rua Duque de Caxias, próximo com a av.Tavares de Lyra, em frente a Associação Comercial. O dr. Januário Cicco era Médico Obstetra e, certa vez ele falou que se o natalense não adotasse novas providencias com o lixo de suas casas, esse povo, um dia, teria que queimar esse lixo, o que representaria graves consequências para o seu futuro. O Dr. Januário fez tal comentário no anp de 1920 quando a cidade não tinha forno de lixo. Todo o resíduo recolhido na Cidade Alta e na Ribeira era levado em carroças ou burros para ser jogado em um local próximo a curva do trem, onde hoje tem o Horto Municipal. Bem próximo do local havia, também, a "matança", local onde se abatia o gado para ser vendido no Mercado Publico da Cidade Alta, isso sem a menor proteção de asseio.As mulheres que por lá viviam, eram para fazer a limpeza de tripas e fatos retirados do gado abatido. Toda a sujeira do gado escorria para o riacho do Baldo e dalí, para o rio Potengi onde se encontrava com o lixo que as carroças recolhiam da cidade.

No inicio dos tempos, os primeiros homens eram nômades. Moravam em caverna, sobreviviam da caça e pesca, vestiam-se de peles e formavam uma população minoritária sobre a terra. Quando a comida começava a ficar escassa, eles se mudavam para outra região e os seus lixos deixados sobre o meio ambiente, eram logo decompostos pela a ação do tempo. À medida que foi "civilizando-se" o homem passou a produzir peças para promover seu conforto: vasilhames de cerâmicas, instrumento para o plantio, roupas mais apropriadas. Começou tambem a desenvolver hábitos como construção de moradias, criação de animais, cultivo de alimentos, além de se fixar de forma permanente em um local. A produção de lixo consequentemente foi aumentando, mas ainda não havia se constituido em um problema mundial.

Naturalmente, esse desenvolvimento foi se acentuando com o passar dos anos.. A população humana foi aumentando e, com o advento da revolução industrial - que possibilitou um salto na produção em série de bens de consumo - a problemática da geração de descarte de lixo teve um grande impulso. Porém, esse fato não causou nenhuma preocupação maior: o que estava em alta era o desenvolvimentoe não suas consequências. Entretantoa partir da metade do século XX iniciou-se uma reviravolta. A humanidade passou e preocupar-se com o planeta onde vive. Mas não foi por acaso: fatos como o buraco na camada de ozônio e o aquecimento global da Terra despertaram a população mundial sobre o que estava acontecendo com o meio ambiente. Nesse "despertar", a questão da geração e destinação final do lixo foi percebida mas, infelizmente, até hoje não vem sendo encarada com a urgência necessaria.

"O lado trágico dessa história é que o lixo é um indicador curioso de desenvolvimento de uma nação. Quanto mais pujante for a economia, mais sujeira o país irá produzir. É o sinal de que o país está crescendo, de que as pessoas estão consumindo mais". De 1920 para cá, Natal veio crescendo também e em 1935 a Prefeitura olhou com um maior carinho para o lixo produzido na cidade, criando melhores condições de coletagem e de destinção desse residuo. De 1935 até 1960 o lixo ainda não tinha um local destinado e o gado era abatido no mesmo local, a rua da Salgadeira, proximo a linha férrea que passa logo abaixo. O lixo posto no Horto era vizinho a dois capinzais, de um lado e do outro, onde seus donos tiravam o capim para vender ao Quartel de Policia para alimentar os cavalos do Esquadrão da Cavalaria, cuja a sede ficava em um local chamado de "Solidão", hoje a sede da Escola Domestica, em frente ao III Distrito Naval.

A partir de então, o abate do gado passou a ser feito no Bairro das Quinta, em local bem mais adequado e o lixo foi sendo depositado no alto das Quintas e depois em um aterro sanitário que fica nos confins da cidade por sinal, ainda pequena para armazenar tanto residuo organico. Então, assim, fica a história do dr. Januario Cicco, que falou de um caso no ano de 1920.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXIII



Em todas as épocas se venerou o sexo.




A prostituição, no mundo, se perde nas eras do tempo. Em Natal, tem que se falar do ano de 1950 em diante, apesar de que já existia a prostituição desde o inicio da fundação da Cidade, em 1599 e bem antes desse tempo. Os donos de terras tinham em suas escravas uma mulher que lhe serviçe para fazer amor em troca de nada ou de apenas simpatia dele. Asim como o dono da escrava, também era o filho do dono e também dos homens livres que cuidavam das escravas e da fazenda. A prostituição chegou aqui com nasceu, muito anos antes, na Grecia, no Egito, em Roma e em outros paises do extremo oriente, como a China, Japão, Camboja. Viet Nam, Laos e tantos outros mais como a India. Prostitura é a mulher que vive em um prostibulo, em um quarto, por assim dizer. Na verdade, essas mulheres que vendem ou vendiam o corpo nem sempre era em troco de dinheiro. Em Natal, nos anos 50, notava-se mulheres que "viviam" com os seus parceiros e mantinham relações sexuais com outros homens, mesmo que o seu parceiro soubesse ou não. Isso era a prostituiçao. A mulher de prostibulo.

A prostituição pode ser definida como a troca consciente de favores sexuais por interesses não sentimentais ou afetivo. Apesar de comumente a prostituição consistir numa relação entre sexo e dinheiro, esta nao é uma regra. Pode-se trocar relações sexuais por favorecimento profissional, por bens materiais, por informação. A protituição caracteriza-se também pela venda do corpo. A sensibilidade sobre o que se considera prostituição pode variar dependendo da sociedade, das circunstâncias onde se dá e do nível moral do meio em questão.

Para se falar em Natal, nos anos passados de 1950 e mesmo antes, tinha-se verdadeiros bordeis para abrigar as mulheres de vida livre, como se deu, por exemplo, no bairro da Ribeira onde existiam ali, os tradicionais cabarés da Rua 15 de Novembro, Rua Chile, Rua Almino Afonso. Rua Ferreira Chaves e o tradicional Beco da Quarentena, hoje em escombros. Em tais locais viviama as mulheres e em seus quartos abrigavam por uma hora o seu fregues. O homem de maior poder, frequentava os lupanares que ficavam da Rua Chile, inclusive um que em tempos passados foi a Casa do Governador e outro, no primeiro andar da Tipografia Galhardo. Esses eram os mais notaveis da capital. Para a blebe, podia-se ir para os Coqueiros, no largo do campo de futebol que ficava no bairro onde havia uns quartinhos que abrigavam as prostitutas pobres. Nos finais de semana sempre havia um baile no salão que existia no local.

Quem quisesse ficar mais protegido dos olhares indiscretos, sendo rico, podia procurar um cabaré - na verdade, uma casa fincada no centro de um terreno, na Av. Dois, em frente a Vila dos Sargentos da Policia - ou um outro, que ficava na esquina da Av, Dois com a rua São José, no bairro de Lagoa Seca. Nesse bairro tinha outro cabaré com um salão de danças, em um predio feito para isso, vizinho ao hoje Midd Way. Esse era o cabaré de Francisquinha. Na Cidade Alta, próximo ao predio onde hoje funciona a Cosern, tinha a Pensão de Maria Boa que se tornou conhecida internacionalmente. Maria Boa, cujo nome era Maria Barros, foi uma mulher que chegou a Natal, com seus 20 anos, na época da II Guerra Mundial e, entre olhares e beijos no Salão de Baile do Grande Hotel, teve o impulso de fazer uma casa de "recurso" para as "meninas" que ela conseguia trazer do interior da Paraiba. Maria Barros veio para Natal da cidade de Campina Grande, na Paraíba, e teve a idéia de fazer o seu próprio negócio com as palavras que ouvia dizer de que ela podia conseguir coisa melhor na vida. Ela conseguiu com o seu cabaré, na Cidade. Um outro cabaré importante ficacava na rua Getulio Vargas, em uma casa de esquina, já na descida para a praia do Meio.

Foi assim que se espalhou a prostituição, em Natal, e hoje se tem locais mais traquilos oferecendo refeição de graça no bairro de Mae Luiza, onde homens de negócio passam as manhãs com suas amantes de aluguel. Na antiguidade, em muitas civilizações, a prostituição era praticada por meninas como uma espécie de ritual de iniciação quando atingiam a puberdade. No Egito antigo, na região da Mesopotâmia e na Grecia, via-se que a prática tinha uma ritualização. As prostitutas, consideradas grandes sacerdotisas, (portanto, sagradas), recebiam honras de verdadeiras divindades e presente em troca de favores sexuais.

RIBEIRA - XXXII

ROSA

Tu és, divina e graciosa

Estátua majestosa do amor

Por Deus esculturada

E formada com ardor

Da alma da mais linda flor

De mais ativo olor

Que na vida é preferida pelo beija-flor

Se Deus me fora tão clemente

Aqui nesse ambiente de luz

Formada numa tela deslumbrante e bela

Teu coração junto ao meu lanceado

Pregado e crucificado sobre a rósea cruz

Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal

Estatua magistral oh alma perenal

Do meu primeiro amor, sublime amor

Tu és de Deus a soberana flor

Tu és de Deus a criação

Que em todo coração sepultas o amor

O riso, a fé, a dor

Em sândalos olentes cheios de sabor

Em vozes tão dolentes como um sonho em flor

És lactea estrela

És mãe da realeza

És tudo enfim que tem de belo

Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te

Eu hei de sempre amar-te

Oh flor meu peito não resiste

Oh meu Deus o quanto é triste

A incerteza de um amor

Que mais me faz penar em esperar

Em conduzir-te um dia

Ao pé do altar

Jurar, aos pés do onipotente

Em preces comoventes de dor

E receber a unção da tua gratidão

Depois de remir meus desejos

Em núvens de beijos

Hei de envolver-te até meu padecer

De todo fenecer.

Composição: Pixinguinha e Otávio de Souza.


terça-feira, 1 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXI

Carnaval dos anos 30 no Brasil




O Carnaval é um período de festas regidas pelo ano lunar no Cristianismo da Idade Média. O período do Carnaval era marcado pelo "adeus à carne" ou "carne vale" dando origem ao termo "Carnaval". Durante o período do Carnaval havia uma grande concentração de festejos populares. Cada cidade brincava a seu modo, de acordo com os seus costumes. O Carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias é produto da sociedade vitoriana do século XIX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam no Carnaval francês para implantar suas novas festas carnavalescas.

Atualmente o Carnaval do Rio de Janeiro é considerado o mais importante do mundo. Em Portugal, existe uma grande tradição carnavalesca, nomeadamente os Carnavais da Ilha da Madeira, de onde saíram os imigrantes que haveriam de levar a tradição do Carnaval para o Brasil. Por consequência tem-se ainda os carnavais das cidades de Ovar, Podence, Rio Maior e Sines, destacando-se o de Torres Verdes, Carnaval de Torres, por possuir o Carnaval mais antigo e dito o mais português de Portugal, que se mantêm popular e fiel à tradição rejeitando o samba e outros estrangeirismos. Juntamente com o Carnaval de Canas de Senhorim com perto de 400 anos e tradições únicas como os Pizões, as Paneladas, Queima do Entrudo, Despique entre outras.

A festa carnavalesca surge a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias do jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades, como as da Grécia e de Roma, que introduziram nas comemorações sexo e bebidas para festejar os deuses da fartura e da procriação. Com a vinda da Quarta-Feira de Cinzas, veio então o primeiro dia da Quaresma. A palavra "carnaval" está desse modo, relacionada com a ideia de "afastamento" dos prazeres da carne marcado pela expressão "carne vale" que acabou por formar a palavra "carnaval". No período do Renascimento as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram bailes de máscaras, com suas ricas fantasias e os carros alegóricos. Ao carater de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemorações e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.

Com o passar dos anos, o Brasil se tornou o Pais onde melhor se "pula" o Carnaval. Por assim dizer, tem-se o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador (Ba), Olinda e Recife (Pe). Fortaleza (Ce), Natal (Rn) entre outras cidades do norte ao sul brasileiro. Em Natal, a festa do Carnaval começou em fins do século XIX, com a festa do Entrudo. O costume de se brincar o período do carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses com o nome de Entrudo. Por essas terras, essa forma de brincar - que consistia num folguedo alegre mais violento - já pode ser notada em meados do século XVI, persistindo com esse nome, até as primeiras décadas do século XX. A denominação genérica do Entrudo, entretanto, engloba toda uma variedade de brincadeiras dispersas no tempo e no espaço. Aquilo que a maioria das obras descreve como Entrudo, é apenas a forma que essas brincadeiras adquiriram a partir dos finais do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo aí, a brincadeira não se resumia a uma única forma. Havia. na verdade vários tipos de diversões que se modificavam de acordo com o local e com os grupos sociais envolvidos. Atualmente, entende-se que existiam no século XIX duas grandes categorias de Entrudo. O Entrudo Familiar e o Entrudo Popular.

O Entrudo Familiar acontecia dentro das casas senhoriais - lembra-se aqui, entre outras residências, a de Dr Claudionor de Andrade, José Leandro, Plínio Saraiva, entre outros, onde se fazia "assaltos" nas festas do Entrudo - Esses Entrudos eram caracterizados pelo caráter delicado e convivial e pela presença dos confetes, serpentinas, bebidas que se jogava entre com o intuito de estabelecer laços sociais mais intensos entre as famílias. Por seu lado, o Entrudo Popular era a brincadeira violenta e grosseira que ocorria nas ruas das cidades. Sua principal característica era o lançamento mútuo de todo tipo de líquidos ou pós que estivessem disponíveis.