sexta-feira, 4 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXVI - (36)


Tão logo perdeu o seu emprego na agência dos Correios onde fora contratado como estafeta para a entrega de telegramas chegados nas casas domésticas, nas Repartições Publicas e até mesmo em locais tão menos próprios, como nos cabarés, o garoto já com seus 15 anos de idade, voltou ao trabalho que se havia iniciado, no escritório do seu tio, José Leandro. A mesma ladaínha era o que ele recebera para fazer. Certa vez, o seu tio inventou do comprar cal para uma construção de uma casa que estava fazendo na Av. Deodoro, perto ou em frente ao Colégio Marista, com mais certeza de dizer. O homem mandou o garoto na olaria comprar cal. O local ficava pelo lado da Estação Ferroviária, onde havia um muro entre a estação e a rua. Nessa rua tinham poucas casas. Ele lembrou de uma que fazia sabão, outra de não sei o que e depois a primeira casa ou galpão que vendia de tudo um pouco: cal, estroncas, tijolos entre outras coisas.

Era de manhã e lá estava ele para comprar o material trazido por um carroceiro que o garoto chamou no pátio das carroças, na Praça Augusto Severo, onde tinham para alem de 35 carroças puxadas a burro, pois naquele tempo ainda não havia serviço de entrega a domicílio através de carros menores. Esse serviço só aconteceu por volta de 1960, quando no Brasil começou a se fabricar as modernas Kombis, uma das quais virou no cruzamento da Av. Tavares de Lyra com a rua Duque de Caxias. A Kombi era um carro leve e quem não soubesse dirigir, virava o veículo, não tinha nem conversa. Quando terminou a compra, o carroceiro colocou tudo em cima da carroça, pois o frete era para apenas se pagar com uma viagem.

Acontece, porém, que a carroça não suportou tamanho peso. A carroça até que aguentava. Mas o burro refugou a carga. Nesse caso, o carroceiro teve que fazer duas viagens para por a carga na construção. Isso demorou horas. Antes de seguir viagem, o carroceiro teve que ir ao escritório de dr. José Leandro para dizer que seu burro não podia com a carga. Sendo assim, ele teria que fazer o frete de duas vezes. Isso representava mais dinheiro. O dobro. A essa altura Zé Leandro se apoquentou e disse que o trato era trato e o carroceiro sabia muito bem o que tinha que levar. Conversa vai, conversa vem, e Zé Leandro não aceitou qualquer alteração no valor do frete. iria pagar a quantia X que representava uma viagem.

Depois de muito conversar e de ouvir severas reclamações do dono da cal, o carroceiro murchou as orelhas, como o seu burro e findou por fazer em duas carradas com todo aquele frete. O garoto viu bem que o carroceiro era quem tinha razão. Mesmo assim, calou e não disse coisa alguma. Que brigassem eles, pois não tinha ele - o garoto - nada com isso. Essa discussão levou uma meia hora com o burro esperando, paciente, que os dois homens resolvessem a questão, pois, de sua parte, o problema já tinha sido resolvido: carregar aquela carga imensa era coisa para elefante. E ele, era apenas um burro. "Tamos coversados", pensou o jegue.
E lá se foi o carroceiro rogando as tremendas pragas em Zé Leandro para depois se vingar no burro que não queria levar aquela carga toda,por uma questão de principio. Se houvesse, naquele tempo o Sindicato dos Burros de Carga, na certa o caso ia parar na Justiça dos Burros, com a decisão do juiz - um burro velho - dando ganho de causa ao seu associado, o burro jovem. Porém, isso levaria muito tempo, um mês ou dois, até que fosse lavrada a ata. O dono da carga ainda podia recorrer, com o caso indo parar na Justiça Federal dos Burros, demorando mais tempo ainda. Mesmo havendo um "habeas corpus", ao novo burro caberia um recurso da decisão. Isso era coisa muita para um Sindicato dos Burros que sócio não tinha, por assim dizer. Ainda precisaria que o burro soubesse falar e também escrever..

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