quarta-feira, 16 de julho de 2008

RIBEIRA - XXXVIII - (38)


Era o fim de 1955 quando Zé Leandro chamou o seu sobrinho e entregou-lhe umas chaves de um chalé situado a av. Rio Branco, 241, para o rapaz abrir o prédio e conferir o tinha para ser feito no velho casarão. O chalé fora construído nos idos de 1890 para servir de casa residencial. Há tempos estava fechado. Quando o rapaz, acompanhado de Antônio Patricio (Rapa-Coco) chegou ao prédio, abriu a porta e empurrou com força para poder escancarar de modo a que ele pudesse entrar, acompanhado do fiel Rapa-Coco.
Lixo muito foi o que se deparou o jovem. Nos lados esquerdo e direito havia um plantio de enormes pés de Sapoti e um pé de Abil, fruta doce, de miolo mole e que se escondia por entre a folhagem do pé de pau. Isso, o rapaz foi descobrir com o passar do tempo. Ao lado esquerdo do chalé, na rua Sachet, havia umas oficinas de conserto de carros que o rapaz já conhecia, pois por várias vezes ele teve que ir ali ver como estava o trabalho de conserto de um automóvel de seu tio. Havia também uma casa que fazia cachaça, pois, no seu interior, tinha uns alambiques enormes feitos de madeira de carvalho.
O jovem rapaz inspeccionou todo o prédio, ajuntando as folhas que se esparramavam no chão, caídas dos pés de sapotí e de sapota, também. Há uma diferença muito forte entre sapotas e sapotís. As sapotas são maiores que os sapotis apesar de terem o mesmo gosto que os frutos menores. O prédio tinha na frente seis janelões e uma porta. Janelões encobertos por umas outras janelas feitas em madeira nobre de pinho Riga. As que davam para fora, eram feitas em esquadrais muito bem acabadas. Pelo que demonstravam, eram um serviço de mestre em obras de carpintaria. Nas partes laterais do prédio, outras janelas se abriam. Era um total de seis janelões iguais aos da frente. Além disso, tinha uma parte menor que, com certeza, um dia fora a cosinha da casa. Alí, na cosinha, tinha duas janelas um tanto pobres e uma porta de saída para o quintal. No prédio, ali existia uma porta de madeira fornida que também dava para o quintal. No fim da casa, três banheiros e aparelhos sanitários um tanto sujos. Os aparelhos eram imundos, se não falta a palavra. Do lado esquerdo da casa - direito de quem olha - existia um quarto um tanto pequeno com seus banheiros e sanitários. Pelo que deixava notar, um encanamento fora feito anos depois da casa ser construída, pois em 1890 ou 1895 não passava saneamento naquela rua. Na verdade, nem rua era ali. Um começo de rua que, mais tarde se chamou de avenida Rio Branco, quando a Prefeitura desapropriou parte de um terreno do Colégio Salesiano para dar comprimento à Rua Nova que se passou chamar Rio Branco.
No beco do lado esquerdo da casa havia uma calçada estreita que rodeava a frente do prédio. Também desse lado, no começo do chalé, tinha uma porta imensa, de madeira nobre, igual a que existia do lado direito. No chalé, eram três salas enormes e seis quartos, sendo três de um lado e três do outro. Todos os cómodos tinham ligações através de uma porta que, no alto, havia uma esquadria muito bem ornamentada. O rapaz anotou tudo que pode observar, da porta dos fundo para além, até chegar a um barreiro onde o terreno findava. Por alí, tudo era mato, sem fruteiras. Pelo que o rapaz notou, há muito tempo não pisava viva alma naquele chalé.
Coberto de telhas coloniais, o casarão tinha forrada a sua sala que se podia chamar de visitas. Para dentro, uma outra sala de jantar e, por fim, uma sala para a criadagem fazer seus quitutes. Almoço, janta, bolo e muitas outras coisas mais. O rapaz ficou intrigado como foi que o seu tio foi descobrir um chalé daqueles. Com o tempo, ele ficou sabendo que naquela data o chalé pertencia a Escola Domestica. Antes, porém, o chalé foi construído por Afonso Riqque. onde residiu algum tempo. Depois que o homem morreu, os herdeiros venderam o casarão ao domínio da Escola Domestica que, ao que parece, nada fez por lá. E foi ali que José Leandro instalou o seu armazém: Armazém de Madeiras Santa Teresa, que marcou história na vida da velha Ribeira.

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