quinta-feira, 24 de julho de 2008

RIBEIRA - 40

Cais do Porto de Natal. Nota-se ao fundo um navio atracado.

O Cais do Porto, de Natal (Rn) é e foi o principal meio de atracagem de navios de cabotagem e de transatlânticos. No período de 1955, quando se passou essa história, era o porto de Natal aquilo de maior progresso da cidade, para embarque e desembarque de produtos que os mercadores importavam ou exportavam. Pelo Porto saíam algodão, cera de carnauba e, principalmente couro de gado e caprinos mandados para outros centros, inclusive a Europa e Estados Unidos. Porém, a história do porto vem desde que a cidade foi descoberta, em 1535, quando os primeiros portugueses estiveram por esses lados. De sua história é de se falar depois, pois agora o que importa era os produtos trazidos de navios de Estados do norte e do sul do Brasil, adquiridos pelos empresários e, de modo especial, por José Leandro, Marcos de Souza, Tinoco Fernandes e tantos mais que negociavam com o ramo de madeira.

Foi em 1956 que José Leandro começou a negociar no ramo de madeira e, para isso, alugou a casa de número 241 da Avenida Rio Branco, bem por trás do Teatro Alberto Maranhão, então chamado de Teatro Carlos Gomes. Naquele local, ele instalou não só o armazém, bem como uma carpintaria locada pelo Mestre António dos Santos. Foi logo ali que começa essa parte da história que o garoto contou para os ouvidos de quem ouvia. De inicio, José Leandro contratou o mestre Antonio para fazer um galpão onde poria seu maquinário de trabalho, pois o mestre trazia equipamentos que usavam eletricidade e, por isso, era importante se fazer um galpão bem protegido da chuva e do sol. E foi esse o primeiro serviço feito no final do prédio, ao lado esquerdo, próximo a porta de saída do armazém que dava directo para o quintal. Todo o material usado na construção do galpão, bem como instalação eletrica foi fornecido por José Leandro. Nessa parte de energia eléctrica, que o Mestre Antonio não sabia fazer, lhe foi dada por um electricista que fez o caminho todo por fora da casa, pois José Leandro não confiava no prédio, que era por demais velho, com mais de 50 anos.

O trabalho foi árduo com toda a fiação pregada na parede do casarão pelo lado externo e quando terminava o expediente, as cinco horas da tarde, a chave de luz era desligada. No entanto, condicionou-se em fazer uma ligação antes do medidor de luz para que o mestre Antonio pudesse trabalhar de noite ou mesmo nas tardes dos sabados, quando não havia expediente no Comercio da Ribeira. Esta era a faina do carpinteiro que tinha como auxiliar um seu irmão, Temístocles e, não raro, um outro carpinteiro que por certo tempo trabalhou com ele na montagem de peças de portas, portais, esquadrias e coisas do ramo que chegavam aos montes atendendo a pedidos dos consumidores. Eram ali feitas portas de imbuía, cedro, canela, entre os mais variados modelos que ainda hoje se pode ver nas casas construídas naquele tempo. A quantidade era tamanha que José Leandro passou a fazer pedidos de portas prensadas vindas do Paraná e Rio Grande do Sul. No armazém se entulhavam peças de tacos para assoalho, ripas, peças de cobertura, forros, lambris pranchas, tábuas dos mais variados tipos, desde o pinho ao feijó, canela além de compensados de pinho, imbuía, cedro. e tudo que o comprador precisasse. Não havia nada que se precisasse adquirir e que faltasse no Armazém Santa Teresa.

O tempo passava e os estoques seguiam aumentando no pátio do armazém, especialmente pranchas de peroba, ypê, marfim, massaranduba, cupiuba, andiroba, gonçalo alves, sucupira e de tantas outras madeiras vindas do Norte do Brasil, como o Amazonas. Quando alguem procurava por uma madeira que no Amazem não tinha, logo José Leandro anotava o nome para fazer o pedido. E, assim, foi fazendo um maior estoque de mercadorias que em um armazém podia ter. Certa vez, chegou ao Porto de Natal um carregamento de madeiras de massaranduba, algumas peças medindo 17 metros de comprimento. Era incrível o tamanho de uma peça de massaranduba. Além do tamanho descomunal, tinha a resistência do madeiro que, não raro, quebrava uma serra de fita de uma serraria de Joaquim Victor de Holanda ou da Cotilda, para onde José Leandro mandava a peça para serrar conforme o pedido era feito.

O nome de José Leandro que ja era bastante conhecido por fazer construções de casas e venda terrenos, em Natal, ganhou espaço como sendo o maior fornecedor de madeiras e fabricante de carpintaria no Estado do Rio Grande do Norte. De um simples vendedor de casas e terreno passou a ser um rico Senhor importador de madeiras que Natal um dia chegou a ter. Sua figura era de um homem simples. Gostava de beber cerveja, conhaque e vinhos importados da firma gaucha "Luis Antunes", da qual, um dia foi o seu representante em todo o Brasil. Certa vez, em uma viagem pelo centro do Brasil, o avião no qual viajava, veio a cair, amparando-se numa cerca de madeira. Nenhum dos passageiros veio a sofrer ferimentos. O avião ficou imprestável. Talvez esse foi o mais grave acidente por ele sofrido quando ainda era representante da firma de vinhos "Luis Antunes", pelo que se tem noticia. Homem de risadas francas, era a seu modo, um Senhor de cara fechada quando estava trabalhando. Sua norma de trabalho era a de fechar o caixa as 16,30 horas do dia e quem precisasse de dinheiro, ele atendia até aquela hora, pois do contrario ele respondia que o caixa estava fechado, se o empregado ou outra pessoa viesse receber o pedir um adiantamento após aquele tempo. Nas festa de sua casa, como nos aniversários da filhas e do filho, ou mesmo nas festas do Natal, na casa de José Leandro tinha de tudo de se comer de beber para toda a gente que sempre era convidada. Assim foi um dos filhos de Miguel Santino Leandro e de Dona Estefânia Leandro.


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