domingo, 24 de janeiro de 2010

LUZ DO SOL - 7

- DALVA -
CONTO
Fernando era o Tabelião Substituto do Cartório de seu pai. Com a morte do seu pai, ele passou a ser Tabelião Titular do Cartório. Com a idade de 35 anos, Fernando era solteiro. É bem sabido que, durante a sua vida, ele teve inúmeras namoradas e chegou até a noivar com uma das moças pretendentes. Mesmo assim, o noivado foi por água a baixo. Um certo tempo da vida, Fernando cursou medicina. Ele fez até o quarto ano, porém não terminou. Por vezes esteve a viajar para o Rio de Janeiro apenas e tão somente para cumprir o desejo de viajar. Olhares furtivos não o impressionavam. Mesmo assim, vez ou outra, ele se aproximava de alguma moça e passava a conversar demoradamente. No final, ele vira que tal caso não dera em nada. Assim, Fernando se despedia a moça para nunca mais voltar. Isso aconteceu no Rio de Janeiro. Porém, na sua cidade, ele, certa vez, estava no seu escritório, quando entrou uma certa jovem para consultar sobre uma herança que tinha lucrado do seu pai. Foi uma conversa sem grande significado. Logo depois, a moça, cujo nome era Dalva, partiu e nunca mais apareceu. Não se sabe o por que daquela conversa, Fernando ficou a meditar sempre na moça ou mulher, ele não sabia ao acerto. A verdade foi que certa vez, quando se dirigia em seu veículo da Cidade Baixa para o centro, Fernando percebeu que, em sentido inverso, estava a caminha a moça que ele não esquecera. Mesmo assim, Fernando não deu importãncia e continuou seu caminhar no veículo, Porém um estalo na sua cabeça fez com que ele parasse o carro logo após e desse marcha-ré, voltando para mais perto de Dalva. Na verdade, ele nem se lembrava do seu nome e fez um aceno para que a moça parasse. Mesmo com o aceno, a moça continuou o seu caminhar. No entanto, logo após se lembrou daquele homem que a chamava e Dalva voltou meio assustada para saber o que se passara. Ele não relutou em falar com ela, vez que a conversa anterior tinha parado pelo meio e não mais a moça o procurara. Entre um cumprimento e outro, Fernando buscou perguntar que fim levou aquele assunto. Então, Dalva se recordou do jovem como sendo o Tabelião e fez uma certa alegria, pois não mais pensara em entrar naquele tema. Com isso, lhe disse que não dera importancia até porque seus irmãos tomaram conta do fato da herança e o caso corria pela Justiça. Foi uma conversa breve, aquela, entre o homem e a mulher. Em seguida, Fernando lhe perguntou para onde se destinava e ela respondeu que estava a caminhar até a Secretaria de Segurança onde deixara uns documentos. Nesse passo, o homem se inquietou e quis saber um pouco mais, o que a moça respondeu:
--- Não é de herança. É um caso extra. Da repartição. - disse Dalva.
--- Ah sim. Mesmo assim eu pergunto se não quer que eu a leve até a repartição? - perguntou Fernando com o pensamento um tanto mais longe.
--- Não precisa. É logo ali. - disse a jovem.
--- Muito bem. Então, desejo-te boa sorte e o convite está de pé. - falou o homem.
--- Convite? Que convite? - perguntou a moça levemente assustada e um pouco sorrido.
--- Convite de você aparecer no Cartório. Não precisa ter assunto. É só aparecer e pronto. - falou o homem.
--- Ah bom. Eu sei. Qualquer dia. Agora estou a serviço. E o senhor também - disse Dalva.
Nesse ponto, o homem se despediu desejando bons negócio para Dalva e o seu noivo. Foi quando a jovem tomou de surpresa e disse:
--- Não tenho noivo. Nem namorado. E também não sou casada. - agradeceu Dalva com um alegre sorriso.
--- Tá bom. Então, para você é tudo que desejo. - falou Fernando.
--- Muito obrigada. Para o senhor também. - disse Dalva.
--- Não me chame de "senhor". Apenas "você". -falou o homem.
--- Está bem. Então "você", se deseja desse modo. - falou Dalva.
--- Assim está bem. - sorriu Fernando.
E os dois se despediram efusivamente como se conhecessem há longos tempos. A jovem partiu a pé o Fernando teve outro pensamento. Fez o carro se deslocar por uma rua e deu meia volta retornando para as imediações da Secretaria de Segurança. Parou o carro alí perto e desceu para ver se, de fato, Dalva estava naquela repartição. Procurou se encobrir entre os pilares e viu a jovem sair de um escritório e se encaminhar para a rua. Ele a deixou sair e em seguida saiu também, olhando sempre os passos da jovem sem perdê-la de vista. Por fim, chegou até o seu carro e caminhou devagar pelo local onde ao lado tinha a calçada da Praça Henrique I e viu a jovem embarcar em um ônibus da linha e seguir o seu destino. O homem seguiu o ônibus até um certo trecho e depois perdeu de vista por causa do trânsito de veículos no local.
Foi um tempo imenso aquele que viu a moça pela última vez. Na certeza que não a encontraria jamais e embarcou no seu serviço do dia-a-dia com a cabeça sem pensar mais em mulher ou moça. O tempo passou depressa e certa vez um documento chegou às suas mãos. Era de uma herança. E entre os nomes citados estava o de Dalva Aquino Tavares. Ele olhou o documento e, de imediato, pensou no nome de Dalva. Por não saber dos sobrenomes da moça, ele deixou de vez na mesa do birô. Porém tinha um dado que ele resolveu a procurar: o nome do pai da jovem. Da primeira vez que ela esteve em seu escritório falou de um nome por demais estranho: Hermenegildo. E era esse o nome do documento. Porém, não alterava em coisa alguma, pois o nome da moça não dizia onde a podia ser encontrada. Tudo em vão.
Em dias da semana, Dalva apareceu eu seu escritório querendo saber do trânsito de um processo que os seus irmãos e ela tinham feitos. Pelo parecer da Justiça, o documento fora enviado para aquele Cartório. Era por isso que a jovem o estava procurando. O homem, nesse instante, saudou Dalva com entusiasmo e de imediato perguntou em que Secretaria ela trabalhava. Apenas para citar no processo e nada mais. Ela então lhe disse:
--- Fazenda. Secretaria da Fazenda. - falou Dalva.
--- Muito bem. Fazenda. Era o que faltava. - disse Fernando.
A moça não entendeu coisa alguma.Ela não perguntara por que não sabia dizer que havia com o seu trabalho em vistas do processo. O homem tentou explicar a jovem.
--- Porque sabendo-se o lugar onde trabalhar um dos que moveram a ação,então é mais simples se desenvolver o processo. Só isso. - disse Fernando.
--- Ah bom. Não sabia. O advogado foi encomendado por meus irmãos. Ele é que sabe de tudo. - disse Dalva.
--- Eu sei. Sei bem. Mas agora posso dar andamento ao processo. - falou o homem.
--- Estava parado? - perguntou Dalva.
--- Não. Parece que..Deixa-me ver...Bom. Aqui está. Hermenegildo. É esse o nome? - perguntou Fernando.
--- Exato. É esse. - respondeu Dalva.
--- Seu nome é Dalva? - falou o tabelião.
--- Dalva Aquino Tavares. - disse a moça.
--- É isso. Vou dar despacho agora mesmo e mandar para a Justiça. Para ver. A falta de um endereço atravanca um processo. - disse Fernando sorrindo.
--- Está bem. Posso ir? - perguntou Dalva.
--- Espere. Um café. Por favor. Faça-me companhia. - disse Fernando.
A moça sorriu. Daquele instante em diante eles se encontraram mais vezes e um dia, Dalva de Fernando se casaram ao som da marcha nupcial, na Catedral. Tudo começou por causa de um processo e hoje eles vivem, já velhos em suas idades, olhando para o mar, ao fim da tarde e brincando com os netinhos no entra-e-sai de sua casa. Os dois se amaram como ainda se amam para todo o eterno de suas longas vidas. No terreno em frente ao casarão, as orquideas, alpineas, anemonas, bouvardias, chuva de prata em outras mais enfeitam o local com um elegante toque de amor.

Nenhum comentário: