domingo, 3 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 39 -

- Catherine Deneuve -
- 39 -
Quando Honório saiu com Luiza, no final da tarde daquele dia, uma sensação estranha lhe tomou o corpo em ânsia de sedução. Ao dobrar a esquina com o seu veículo, ele perguntou a Luiza se teria condições de ir até ao LAMPEJO, um motel de classe presumivelmente alta onde passaria parte da noite, se fosse o seu desejo. A moça olhou para Honório e sorriu franco para lhe despertar efêmeras emoções. O homem entendeu aquilo que a moça despertara, pois só Luiza tinha esse prazer de atormentar tais sentimentos. Não tardou ele em seguir mais que depressa para o motel com Luiza se acomodando em seu ombro abrasador e volúvel de terno aconchego. No motel tinha de tudo. Não precisava nem pedir, pois o serviço de quarto era feito de antemão mesmo antes de ser ocupado. Tudo era um encanto em nada havia de se por defeito. Aquele era um sonho de luz que Luiza jamais tinha visto um dia. O sorriso de santa da moça embriagava em todo o homem apaixonado de encanto. Esbelta, pura, cheia de amor para dar, a moça deixava se esvaziar de um perfume incandescente de mulher amada. No seu canto, no leito, com as mãos para traz postadas sobre a cabeça, Honório olhava a mulher cheia de encantos que o trouxe a pura realidade das ilusões indecentes. A lua branca cheia de fulgor e de encanto pairava no céu pleno de solitário afago para compor a aquarela dos amores. Em derradeiros instantes a cobiça veio queimante pelo que Honório vislumbrava no pleno seio da mulher amada. Foram horas de loucuras e de ternuras de ambos amantes por entre lençóis e cobertas que enfeitavam o ambiente desejado. E o tempo não tinha tempo de provocar de certo a ânsia de afeto nos dois enamorados. No seu peito, Luiza adornava com a lua nova da emoção o apelo da afeição incontida do amado. Aquele jardim de afetos era tão somente a meiguice de humilde teto dos pecadores.

--- Você é a doce candura de afetos. – aludiu Honório ao final do ato de amor.

--- Bobo! (a moça Luiza sorriu) – Agora, eu tenho uma proposta a te fazer? – comentou Luiza a sorrir.

--- Faça! Sou todo ouvido. Diga o que é que você quer! – sorriu Honório.

--- É o seguinte. Veja bem. Eu tenho uma amiga – não bem uma amiga, mas é uma pessoa honesta. – E ela já teve um atelier do moveis antigos. Desistiu da empreitada. Recursos. Eu faço a proposta. Você aceita ou não: Ela, a minha amiga, vem para o lugar de dona Cléia Alves e essa tal gerente você manda para o lugar que era meu. Buscar cartas, bater oficio. Essa coisa. Sim ou não? – perguntou Luiza de Campos sorrindo.

--- Assim é de lascar. Não dá nem para pensar. E tenho que ouvir Ângela. Não consigo dar uma resposta em cima da bucha. – falou exasperado o homem.

--- Está bem. Fale com Ângela. Mas não esqueça de que Cléia quase quebrou a porta. Foi um barulho estrondoso. Você pode alegar que tem a testemunha de Miguel. Ou se não, dê as contas que ela merece. Tenho você aqui, ó! – e apontou para o seu sexo.

--- Você me pegou de jeito. Eu faço isso amanhã. Nem preciso falar com Ângela. Ela vai ficar braba comigo. Mas é o jeito. Quebrar uma porta? Isso é serio! Não tem nem contemplação. – reprovou Honório cheio de raiva.

--- Isso é “sim”? – indagou Luiza com paciência.

--- Traga a moça. Estamos certos! – respondeu o homem cheio de furor.

Já eram mais de 9 horas da noite quando o casal saiu do motel “Lampejo”. Após deixar Luiza em sua casa, Honório rumou para o Hospital do Coração onde foi saber do progresso de saúde do seu velho tio, Jorge Dumaresq.

Eram dez horas da noite quando Honório chegou à mansão de seus pais. Por sinal, Honório não tinha mais o pai. Somente a mãe. No entanto se costumava chamar por tradição de a Mansão dos Dumaresq, pois foram sempre os Dumaresq que ali moraram. O seu tio, Jorge Dumaresq habitava com a sua esposa Anita Colares em outra espécie também de Mansão, uma casa ampla e bem cuidada. Na noite em que passou no Hospital do Coração, dona Anita não estava mais e o Hospital se encontrava fechado permitindo acesso aos familiares dos pacientes de primeira classe. Como o velho Jorge Dumaresq estava a dormir, tendo a companhia de uma enfermeira, Honório pouco sobe a seu respeito, a não ser de que estava bem. Ao chegar a sua Mansão encontrou Ângela desperta e a perguntar:

--- AGORA? – foi o que disse a esposa de Honório assustada.

--- É que eu fui a uma reunião da sede do Clube Lagunas agora à noite. – explicou Honório com a cara mais deslambida do mundo.

---Jura? – indagou a esposa com a cara de quem não acreditava no que ouvira.

--- É verdade. Vou ter que escalar o time para os próximos jogos. – respondeu Honório para não ser molestado ainda mais.

--- E nós? – perguntou Ângela com a tara que sempre teve.

--- Espere. Deixa eu me banhar. Volto logo. E a perna? – indagou Honório cismado.

--- Está aqui. Ela não incomoda. – sorriu Ângela beliscando na coxa o seu marido.

Na manhã seguinte, Honório acordou cedo, tomou café, pão, bolachas, queijo e muitas frutas para logo sair com destino ao Hospital. Ângela ainda dormia. A sua mãe, Do Carmo, estava acordada e disse ao rapaz estar se preparando para ir ao hospital. De qualquer forma, o rapaz não se ateve a promessa de sua mãe e disse que depois veria se podia dar alguma informação ao caso de Dumaresq. E assim fez. E assim foi. Quando Honório chegou ao Hospital encontrou todos os servidores fazendo limpeza geral nos quartos e corredores. Entre uma lagoa e outra, Honório foi pulando até chegar à suíte de Dumaresq. O pessoal da limpeza também estava no local, varrendo e espanando o cômodo. Dumaresq estava desperto, porém deitado. Ao ver o sobrinho se pôs a chorar. Honório reclamou da atitude o tiú e perguntou se tudo estava bem. A enfermeira fez um sinal afirmando. O velho foi logo a perguntar:

--- E a loja? – inquiriu o velho Dumaresq ainda chorando.

---Está uma beleza. – sorriu Honório para satisfazer o seu tio.

--- Aquela BOTIJA será o futuro de Ângela. – respondeu o velho a lacrimejar.

Tão logo se despediu do tio Honório rumou para o escritório da empresa de Despachantes, conduzindo sua pasta cheia de documentos, cheques e canetas além de anotações. Ele estacionou o seu veículo dentro do cercado que havia no prédio e então subiu os degraus para o andar de cima, vendo de repente o atelier ainda fechado. Ele fez algo inexpressivo com o rosto e caminhou quase que correndo para o seu escritório. De passagem pela entrada viu a silhueta de uma moça bem esmerada e linda a quem cumprimento sem maiores afagos. Bom dia também para Miguel, o porteiro, que estava ainda limpando o chão. Ao entrar no escritório viu em face de moça Luiza de Campos, a sua secretária particular a quem perguntou:

--- Dormiu bem? – perguntou Honório a Luiza.

A moça sorriu e quase não responde de emoção. Em seguida ela chamou a atenção de Honório para a presença na sala de espera de uma moça que Luiza falara na noite passada. Ela era uma linda mulher, vestindo um robe todo branco, transparente e cheio de adornos.

--- O nome dela! – inquiriu Honório um pouco desatento.

---Há quem a chame de Nora. Mas, o seu nome é Norma. – sorriu Luiza bem próxima a Honório

--- Nora? – indagou surpreso o rapaz.

--- Sim. – sorriu a moça.

--- Nora Velásquez? – indagou surpreso o homem.

--- O sobrenome eu não sei ao certo. Mas, ao que parece é esse mesmo. – sorriu Luiza.

--- Ora vivas!. Nora Velásquez! Mande-a entrar. Que sorte! – enfatizou Honório.

--- Eu mando entrar? – perguntou Luiza sorrindo.

--- Mas é claro. A filha de Diana Velásquez! – enfatizou Honório com muito apreço.

--- E a outra? – falou Luiza se referindo a Cléia Alves.

--- Rua! – determinou Honório com a cara trancada.

--- Como? – indagou Luiza sem entender ao certo.

--- Rua! Demita! Agora! Não quero ver nem a sua cara! – reclamou Honório

A moça sorriu de contentamento e foi a procura da novata Nora Velásquez que estava esperando em uma sala vizinha. Luiza chamou a moça e disse que ela tivesse cuidado com a fera, pois não tinha quem passasse por perto que a fera não a tragasse. A moça sorriu e se conteve nos seus princípios. Ao entrar da sala nobre de reuniões, foi recebida com amplo orgulho da parte de Honório. Conversas de quem não sabia muito das artes, mas entrara em um ramo para o que desse e viesse. Ao entregar a ficha para preenchimento, a moça olhou uma passagem que estava para preencher. Estado Civil. Nora foi para junto de Luiza e indagou:

--- O que ponho aqui? – perguntou Nora meio atrapalhada.

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