quinta-feira, 7 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 43 -

- Deborah Kerr -
- 43 -

Nada mais havia de singular naquela alcova adornada pelos candelabros quase acessos pelo brilho de âmbar dolente. Um criado-mudo era encimado por uma estatueta de Buda. Brilhos reluzentes por todos os recantos. O leito era feito de ferro polido de cor de ouro com peças também de ferro em cor de ouro. Os colchões eram completados de um esmero incomum. Eram dois os colchões para dar mais suavidade aos encontros de puro amor. O jovem Honório apreciava ao redor para perceber algo de novo. Nada havia enfim. Um tocador enfeitava o ambiente onde as damas da tarde ou da noite teciam seus arranjos ornamentais. Um armário embutido era tudo o que havia para enfeitar o cômodo. A dama da tarde apenas apreciava Honório que nem sabia o nome. Um telefone próximo a cabeceira da cama era tudo de mais moderno a existir. Se Honório quisesse, faria ligação a distancia de plena alcova de cetim. Isso deu a idéia do homem falar com a sua esposa, a contar onde deveria estar. Porém não faria tal audácia de qualquer jeito.

Honório sentado no leito tinha em seu dorso a linda e extasiante mulher a afagar com as suas mãos os cabelos do jovem homem, de joelhos como estava e acostumada com os devaneios dos Diomedes da vida. Honório, quase a cochilar, apenas dizia como se sentia tão meigo com aquele afago. A mulher sorriu compreensiva. Carmen sabia muito bem, apesar de sua pouca e tenra idade, os afagos dos homens quando caíam em suas almofadas feitas de veludo. Ela era o termômetro a enxergar o mais intimo segredo do ser amado e mesmo que não fosse amado ou amante. Seu divinal corpo deixava apaixonado a qualquer homem ou rapaz. Ela não dava a menor importância para esse fato. Queria Carmen afagar o cansado mártir de outras mãos já mesmo tão cansada em afagar carinho.

--- Teu nome? Não precisa dizer a verdade. Só um nome. – falou Honório.

--- Carmen, querido. Eu sou Carmen. – sorriu a mulher dona da tarde.

--- Belo nome. Se não for esse, bem poderia ser. – argumentou o homem com a cabeça baixa por força das mãos da mulher.

--- Mas eu sou Carmen. – sorriu a dama da tarde.

--- Que você faz além de estar aqui? – perguntou Honório meio sem jeito de saber.

--- Nos dias comuns, eu levo a vida somente a pintar. Aquarelas. Reproduzir pinturas clássicas. – respondeu a mulher sem querer fazer algo do que dizia ao homem.

--- Você pinta mesmo? Reproduz telas? – indagou alarmado e se virando inteiro para Carmen o que ela de acabara de dizer.

-- É isso. Esses quadros são meus. – sorriu a meiga dama da tarde.

--- Incrível! Não tem quem diga que não é original! – teceu eufórico de entusiasmo o homem.

A moça sorriu de encanto com as bravuras do homem que nem sequer o conhecia. Para não dizer que não ouvira falar da “Botija”, isso era fora até a galeria apreciar os quadros à mostra. Porém, ela desconhecia Honório e foi então que indagou.

--- Você conhece “A BOTIJA”. – perguntou Carmen sorrindo.

--- Não me vá dizer que tem quadro seu na Botija! – precaveu-se Honório assustado.

--- Não. Não tem! Você conhece? – indagou Carmen já sentando bem ao lado do rapaz, muito embora toda nua.

--- A BOTIJA? Eu sou o dono! – alegrou-se de vez Honório cheio de entusiasmo.

--- Serio? – investigou Carmen temerosa.

--- Mas é claro. Eu negocio com peças raras. Xícaras de porcelana, pratos, pianos e mesmo quadros como esses que diz você que faz. – sorriu Honório de prazer.

--- Eu faço. E tenho melhores que esses que tem aqui. Dali, Monet, outros, sem falar nas aquarelas de minha autoria. – sorriu a moça.

--- Menino! Onde fui amarrar minha burra! – sorriu Honório ao se referir aos quadros.

--- Como? – indagou a moça dama da tarde ao ouvir tal citação que não entendeu.

--- Nada não. Você quer mostrar seus quadros? – perguntou Honório entusiasmado.

--- Quem sabe. Eu estou expondo em uma galeria de outro Estado. – sorriu a dama.

--- Ora, ora! De outro Estado! E no meu Estado nem se fala? – indagou o homem com bastante decepção.

--- Não é isso querido. Foi um convite feito por um marchant. – argumentou a dama.

--- Eu logo percebi que tinha um corno no meio. – sorriu Honório decepcionado.

--- Não bem assim. E mas o coitado é homossexual. Ele me formulou o convite e eu aceitei. Pronto. Foi assim. – relatou a dama a sorrir.

--- Eu sei. Eu sei. O corno sou eu então. – respondeu Honório entristecido.

--- Mas podemos fazer um acordo. Eu apareço em seu escritório para nós conversar. - -sorriu a dama da tarde.

--- Apareça! Apareça! Leve os quadros. Qualquer um. Nus são melhores. Eu até mesmo posso comprar dependendo do valor monetário. – sorriu o homem se aconchegado as pernas da doce mulher.

Aconchegado ao colo amado, Honório sentiu o imenso e terno carinho que naquele momento lhe faltava tanto. Naquele imenso amor ele estaria prestes a dormir com as mãos da dama da tarde a lhe afagar os cabelos da sua cabeça. Nobres sentimentos os quais lhe faltavam desde o tempo de menino quando a sua mãe lhe afagava os negros, longos e belos cabelos que lhe encimava a sublime e afetuosa testa. No instante como esse, ele adormeceu cansado. Porém passado o tempo Honório despertou assombrado com o toque do telefone da alcova.

--- Quem era? – ele indagou a dama completamente assustado.

--- A tua companheira está no bar. – sorriu Carmen ao dizer tal fato.

--- Porras! E agora? – indagou o homem sobressaltado.

--- Você agora vai sair por esta porta que lhe leva a entrada do cassino. – respondeu a mulher docemente e cheia de encantos.

--- Por aqui mesmo? – perguntou o homem um tanto cismado em encontra sua amada Luiza.

--- Sim – sorriu Carmen se ajeitando para se levantar de vez da cama e procurar um hobe decente para vestir.

O homem saiu quase que desabalado do quarto onde estava para entrar no cassino. Ele saiu mesmo pela cozinha do cassino e entrou em lugar soberbo, cheio de jogos os mais diversos. Então se sentiu seguro não precisando mais ficar assustado como ocorreu nos momentos passados. O cassino era um verdadeiro paraíso onde quase todos os clientes jogavam nas roletas, no bacará, nas apostas e em tudo mais que pudesse se pensar. Em um cartaz bem amplo tinha o nome gravado – CASSINO – com luzes em pisca-pisca. Por trás da palavra existia uma roleta de jogos. Pessoas se aglomeravam em torno desse cassino. Outros apostavam na sorte a qual dificilmente acontecia. Mesas de jogos havia por todo o recinto do local de apostas. Jogos de dama eram tão comuns como as maquinas existentes do lugar. Tudo era luxo no local das apostas onde as damas da tarde e da noite viviam com lentidão acolhendo os seus parceiros para uma partida mais ousada.

Aquele conforto dos homens e mulheres não fazia a vez de Honório, pois sabia muito bem que por trás de tudo aquilo havia quem gerisse a maquina. Para o rapaz, ver as sisudas caras dos homens e das mulheres a jogar já lhe bastava demais. Por isso, o rapaz rodou por todos os locais do cassino vendo em cada olhar a vertiginosa roleta a correr para dar o numero da sorte ou mesmo os jogos de dados para se tentar adivinhar a combinação para marcar pontos. Naquele dia, dezenas de jogadores tentavam a sorte. Quando alguém tinha a melhor sorte, de repente se ouvia o gritar:

--- Ganhei! – gritava alguém no meio do salão do Cassino.

Era assim a vida dos viciados em jogos. Com pouco mais de tempo ele saiu do Cassino para o lado de fora onde encontrou a sua amada Luiza e ela nem desconfiou do modo do rapaz em dizer que estava no Cassino do motel onde tudo eram esmero e qualidade. Os dois saíram, abraçados, ao longo da praia para o encanto de primavera onde todos podiam estar. Um rapaz se aproximou do casal para dizer:

--- Por favor, dispam-se, pois aqui é praia de nudismo. – falou com gentileza o moço.

Honório olhou para Luiza e sorriu. Em um só tempo os dois se perguntaram.

--- Vai tirar? – e caíram na gargalhada.

Com a aproximação do fim da tarde os dois preferiram regressar para a sua aconchegante Alcova até que se fizesse à hora do jantar. E seria a qualquer hora da noite.

 

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