sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 44 -

- Julia Roberts -
- 44 -
O domingo chegou ainda tumultuoso para Honório. Ele pensava bastante em Ângela e no seu tio Dumaresq. Ele podia fazer uma ligação para o Hospital e saber de como estava passando o enfermo Jorge Dumaresq. Com bastante cisma na resposta, Honório desistiu da fazer a ligação logo cedo da manhã. Esperaria para com um pouco mais. De onde estava, no leito, viu a jovem Luiza a dormir abraçada a um travesseiro. Pensaria ela que o travesseiro fosse Honório. Por isso mesmo, o moço sorriu. O homem se soerguera no leito e mesmo de onde estava ligou o televisor pelo controle remoto. Estava a passar um filme cujo tema era de um rapaz que havia sido morto e mesmo assim, o jovem morto vinha ter com sua noiva à procura do homem que o matou. O tema era simples. Porém foi bem conduzido e a história melodramática deixava no espectador uma tensão cuja noção era a de se emocionar e até mesmo chorar. Já no seu final, o homem morto beijaria a sua noiva e desaparecia em uma luz do eterno. Honório chorou por causa da atriz, muito linda, talvez exuberante no seu estilo simples do vestir. Algo lhe fez lembrar o passado. Historias de sua mãe a contar fase de sua vida de menina. Casos como as mocinhas de vestidos longos e de cores brancas a saltitar em frente de suas residências todas bem apanhadas. Porém de uma firmeza estrutural do qual não seria um casebre de taipa. Eram nobres essas casas. Para a sua mãe, casas belas e enigmáticas com canteiros e roseirais pelo lado de entrada. Para Honório aquele talvez fosse um tempo feliz, onde não se andava de ônibus, pois havia os Bondes a tração animal. Maravilhosas casas nobres de antanho.

Ao soar às oito horas da manhã, o café era servido no restaurante do motel, podendo ser acordado nos próprios leitos do casal de amantes fugidios. Tal refeição dependia do conforto de cada um. O telefone tocou e Luiza atendeu sem sobressalto. Alguém do outro lado da linha apenas perguntou:

--- Seu Honório, ele está dormindo? – perguntou a voz do outro lado do ramal.

--- Quem fala, por favor? – indagou Luiza de forma normal.

--- São oito horas. Ele pediu essa ligação. Estou apenas informando que está feita. – declarou a voz ao telefone.

A moça Luiza passou o telefone para Honório dizendo:

--- A ligação que você pediu. – respondeu Luiza ao entregar o telefone nas mãos de Honório.

--- Fique aqui. É rápido. – falou baixo o homem.

A moça se aquietou não saindo mais da alcova de veludo onde passara a noite a dormir. Nesse momento Honório falou ao telefone ao se referir ao seu tio. Apenas gostaria de saber como estava passando o velho Dumaresq. Uma voz no outro extremo do fio pediu licença para de vez confirmar o que o homem estava, a saber. Demorou uns minutos e a voz voltou a falar:

--- O senhor Jorge Dumaresq já teve alta e com certeza está em sua casa. – respondeu a voz.

Era aquilo que Honório não esperava: o seu tio estar na sua mansão. Agradeceu e desligou o telefone. De imediato pediu para que se fizesse uma imediata ligação para a mansão do seu tio fornecendo o número específico. A pessoa atendente pediu alguns minutos de espera.

--- Isso é uma merda! O velho está na sua mansão! – fez ver Honório a moça assombrado.

--- E o que tem isso? – indagou a moça ao seu amante.

--- Nada. Nada, Mas eu não estava com eles. Isso é uma verdadeira merda! – falou patente e desesperado o homem para a sua companheira de alcova.

--- Ainda bem. O pior era uma notícia negativa. – sorriu Luiza a contemplar Honório.

O rapaz cravou os seus na mulher a olhando fixo com o pensamento distante. Apenas a olhava igual a uma escultura que se vê, porém não fala. Luiza por igual olhou o rapaz ao terminar por sorrir e indagar o que de tão interessante Honório estava a admirar na sua pessoa. Foi um caso por demais interessante o de Luiza, pois nem o próprio homem tinha algo a lhe responder, pois nem sabia para quem estava a olhar. O seu tio era o único pensamento que lhe afetava naquele instante. E ao saber que o velho Dumaresq já estava em sua mansão isso lhe deixava sensibilizado. Honório não sabia e nem ouvia Luiza naquele momento de preocupação total. Ele apenas olhava a moça igual se investiga uma gema de diamante a lapidar. E ele pensava na verdadeira jóia a qual seria aquela que estava sendo lapidada: o bazar de antigos objetos.

O telefone voltou a tocar e Luiza atendeu como sempre fazia. Logo em seguida forneceu o aparelho ao cavalheiro Honório lhe adiantando ser da mansão do velho Dumaresq. O homem agradeceu e falou em seguida. Após os cumprimentos habituais, Honório indagou do estado de saúde do velho D. Quem atendera ao telefone fora uma empregada doméstica do casarão. Disse à moça que o velho Dumaresq estava muito bem e nem por sombra parecia aquele que fora mandado ao hospital. A continuação, a doméstica informou que naquela hora o casal estava a dormir, uma vez que havia recomendação médica nesse sentido. Honório falou que estava em outra localidade e por isso não pode estar presente a sua alta no hospital. Ele mandou um abraço e que o tio o abençoasse. Após esse dialogo se despediu e largou o fone na almofada da alcova.

--- Parece que o velho está bem de saúde. – relatou o homem à Luiza ainda temeroso.

Em seguida, Honório pediu nova ligação recomendado a telefonista que dissesse ser de outro Estado e era Honório que estava a chamar. A telefonista manifestou seu acordo ao que o homem lhe dissera. E pediu a telefonista a espera de um breve momento. Com isso, Honório desligou o telefone e passou a esperar.

--- O que eu vou dizer? – indagou Honório a Luiza tremendo de medo.

--- Diz que estás em outro Estado e agora foi que conseguiu ligação. – sorriu Luiza deitada na alcova acetinada de veludo.

--- Isso é uma merda. Sabe o que é uma merda? É isso. – declarou Honório tremendo de medo.

Luiza apenas sorriu deitada de bruços, inteiramente despida. O homem a olhou e não disse nada. Ele estava incomodado com a demora da ligação. Com um pouco de tempo o telefone tocou. Dessa vez quem atendeu foi o próprio Honório. Do outro lado da linha quem recebeu foi Catarina. Quando a moça falou, logo foi reconhecida por Honório. Ele falou indagando sobre Ângela. Catarina respondeu:

--- Ainda dorme. Ontem foi muita coisa aqui. Ela dormiu tarde. – falou Catarina.

--- Ah bom. Eu estou em outro Estado com o time. Diga-lhe, por favor, que volto ainda hoje. Eu liguei duas vezes e não se atendeu. Não sei o que deu. Viajei de surpresa com a equipe. Estou um molambo. Roupa suja. Imunda. Mas não tem importância. Minha mãe foi para a missa? – perguntou Honório.

--- Foi. Ainda não voltou. – respondeu Catarina.

--- Está bem. Deixo um beijo para todos. Obrigado. – e desligou o telefone.

--- Eita mentira danada. – sorriu Luiza logo após o telefonema.

--- Mas estou aliviado. Essa foi por pouco! – suou o rapaz ao comentar a informação de que tudo estava em paz em sua mansão.

--- Vocês fazem um bicho de sete cabeças quando o assunto é tão simples. – respondeu Luiza.

--- Porque não é com você. – contrapôs Honório com raiva pelo comentário de Luiza.

--- Comigo, eu não dou a mínima. Você acha que não tenho o que dizer em casa? Pois sim! – explanou a moça de um modo até difícil.

--- Ah, Mas você é mulher! – respondeu Honório ainda de cabeça sem sentido.

--- E você é homem, seu. ....- respondeu Luiza ao rapaz.

--- Seu o que? Diga! Seu o que! – indagou o homem a Luiza.

--- Bosta. Pronto. Não queria ouvir? Pois ouça! – emendou a moça já com raiva e saindo da alcova para se recompor.

--- Ora bosta! Bosta é você, sinhá rameira. – respondeu Honório cheio de raiva.

--- Quer saber de uma coisa? Vou embora! – relatou chorando pela alcunha de rameira que o homem acabara de dizer.

--- Vá. Eu quero vê. Pode ir. Eu vou em seguida. Pelo menos estou livre de você!!! – falou Honório com imensa raiva.

A moça se voltou para Honório e chorou demais por ter dito o que não devia dizer. Afinal, ele não teve culpa alguma. Ela entrou no banho para poder chorar demais. Não podia perder aquele trabalho de forma alguma. E ele sabia muito bem disso. Como secretária particular, Luiza tinha maior penetração nos assuntos da firma e até mesmo da família de Honório. Seria melhor a moça calar e voltar para pedir desculpas do que deixar a situação tensa demais. Ela sabia da culpa que tivera em deixá-lo dormir a madrugada toda. Enfim, foi isso o que se deu. Luiza voltou, com os olhos marejando e se desculpou ao homem. E então, abraçados voltaram a alcova de cetim. Almofadas de veludo foram postas ao leu. Os amantes se eternizaram de carinhos por momentos indecifráveis. O sol já brilhando conclama a todos para o banho de mar.

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