segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 40 -

- Vivien Leigh -
- 40 -
Atarefada com a demissão de Cléia Alves, pois estava a redigir um rascunho para que Honório apreciasse, Luiza se voltou para a sua nova indicada Nora Velásquez e verificou as perguntas e respostas que estavam feitas ou por fazer. Quando chegou a do Estado Civil, Luiza mostrou aquilo que era mais indicado: solteira. E explicou: se ela não era casada de fato, na verdade era solteira, pois o homem com quem vivia maritalmente aparecia uma vez ou outra e ainda ele era casado com outra mulher. E disse mais:

--- Deixa aquele verme. Tu és solteira. Ou então mande que ele se separe de vez. E se quiser é assim. – falou Luiza muito altiva.

--- Mas eu gosto dele! – choramingou a moça.

--- Gosta nada. Você gosta é de você. Ele que se dane. – fomentou Luiza meio com raiva.

--- Tá bom. Já sei! – falou Nora tomando a decisão mais acertada.

Tendo feita a cópia do pedido de demissão de Cléia Alves, sem tanta pressa Luiza fez a entrega do rascunho para Honório conferir. E então esperou a resposta. Enquanto isso Nora estava sentada em uma cadeira no escritório de reunião esperando a vez para ser atendida. Após ter lido o rascunho, Honório disse a sua secretaria especial.

--- É isso mesmo. Bata o definitivo. Falou o homem e se virou de imediato para Nora a pedir o que ele entregara.

A moça fez a entrega do documento e esperou resposta. Ela já estava acostumada com esse tipo de negócio, uma vez que foi proprietária de um antiquário. Desse modo já estava ciente de qual decisão seria tomada pelo homem de negócios. Quando Honório falou:

---Está admitida. Agora espere para que a outra saia de seu lugar. Parabéns! – falou o homem.

A moça sentiu um alívio. Para quem foi empregadora, era até de pensar como se sentia nesse momento como funcionária. Mesmo assim, era um cargo de tal importância cuja admissão valeria esperar por algum tempo.

Em seguida, Luiza de Campos fez entrega às mãos de Cléia Alves a sua exoneração do cargo de gerente. A funcionária foi pega de surpresa e incontinente falou:

--- Que merda é essa? Você pensa que está falando com quem? – indagou irritadíssima a moça

--- Eu apenas entrego o que me foi dado. Alguma reclamação é com o seu chefe. – respondeu Luiza sem atrevimento e clama.

--- Ele vai ver quem sou eu! – mostrou-se desnorteada a funcionaria da Butique e partiu em frente para falar com Honório Dumaresq.

Em lá chegando, empurrou a porta com força quase atingindo a funcionária novata e foi logo dizendo por cima de pau e pedra.

--- Quem o senhor está pensando quem é? O senhor é um merda! – gritou estabanada a moça.

Honório ouviu aquela afronta de forma acadêmica e falou apenas o que havia para dizer:

--- A senhora está demitida! – falou baixo e com voz ativa para a moça ouvir.

--- O senhor pensa que me demite? – indagou a moça de forma impetuosa.

--- Já assinei a demissão. Miguel! (chamando o porteiro). Retire essa moça de meu escritório! Ordenou a Miguel levar a moça para fora da sala.

Foram gritos terríveis de Cléia Alves proferindo nomes indecorosos que nem a mais estrema e vulgar meretriz tinha a coragem em falar. Miguel segurou Cléia pelo braço enquanto essa se debatia arrogante, descompondo o patrão de a moça Luiza que já vinha chegando do andar de baixo e olhou totalmente aturdida os desaforos de Cléia. O vermelho de sua cor passou a ser desbotado. Gritos histéricos eram ouvidos por toda a rua com pessoas ao passar ficando a olhar o que estava a acontecer naquele prédio. “Por sua vez, Luiza, de forma delicada fez com a mão como quem diz – “Vá embora. Sai daqui. “Terminou o seu reinado” - Cléia não se conformou e partiu para cima de Luiza apesar de está segura pelas mãos de Miguel. Chutes e ponta-pé eram dados a torto e a direita. Luiza se protegeu por trás de uma mesinha enquanto Cléia esbofeteava o vento e cuspia para ver se atingia a moça em seu rosto.

--- Você me paga “rameira”. – gritava Cléia a sua rival.

Luiza se defendia com um sorriso na face. A mulher foi arrastada para baixo do prédio onde ainda ficou esbravejando as mais céleres frases de ameaças. O povo, fora, observava a cena. Cada um que dissesse:

--- Que foi isso? – perguntou alguém.

--- Sei lá! – dizia outro suspendendo os ombros.

--- Briga de mulher da vida! – argumentava outro.

--- Arrocha! – proferia um homem a sorrir.

Quando a calma reinou no ambiente, Luiza entrou no escritório de Honório, meio assombrada ainda com uns papéis na mão. Os papeis eram ingressos para o teatro que um rapaz deixou às mãos de Luiza de Campos. A moça nem teve tempo em olhar, pois a sua atenção era somente para a gritaria que estava ouvindo do escritório de cima da Sala de Artes “A Botija”. Luiza entregou os ingressos a Honório e ainda teve tempo de falar:

--- Que confusão! – respondeu a moça para o seu chefe.

--- Ela agora vai embora mesmo! – replicou Honório se ajeitando para poder começar os despachos dos documentos que estavam em cima de sua mesa.

Na rua, o povo ainda procurava saber o que houve de tão esquisito. A moça, Cléia Alves, se recompôs e arrumou os seus eventos ainda espalhados por sobre o birô e de arrancada saiu da Sala de Artes ainda assim descompondo uns e outros:

--- Que é? Nunca me viu não? – indagava esbaforida Cléia ao povo que começou a vaiar.

Os ingressos que foram entregues na portaria e então recebidos por Luiza de Campos eram para a apresentação da Orquestra Filarmônica acompanhada por um tenor e uma soprano tendo ainda a participação de um grupo de balé. O rapaz fez a entrega de dois convites oficiais, bem comum para governantes, autoridades e convidados especiais. Outros ingressos eram vendidos na portaria do Teatro Municipal. No entanto, os afazeres da empresa tiraram de vista de Honório os ingressos doados para uma apresentação de gala. Na hora ele recomendou que Luiza batesse o contrato da nova gerente, Nora Velásquez, pois assumiria de imediato a sua função em gerir o atelier. Após esse assunto, Honório disse ter de sair para o Porto, pois já estava tarde para ver os despachos atrasados. E assim ele fez. No Porto, um navio estava encalhado com sua proa enfiada no cais, por um retardo de marcha. O navio já estava daquele jeito desde cedo da manhã quando a maré encheu, pois o Porto ficava em um rio. Quando entrava, as águas do mar favoreciam a atracagem. Quando não havia maré alta ou enchente, os navios ficavam a esperar ou no meio do rio ou em mar aberto. Com o impacto do navio no cais, houve uma quebra de trocos de madeiras, tarugos e pedaços de cimento onde havia a possibilidade do navio atracar. Todo o Porto estava paralisado por conta do acidente, pois o impacto foi violento e todos os dispositivos foram empregados para retirar o cargueiro, onde havia boa quantidade de peças de madeira para deixar do Porto. O caso devia durar o dia todo, pois dentro de momentos haveria nova baixa das águas e assim o trabalho de desencalhe seria suspenso. Os homens do Porto, todos sujos de graxa e suor era um vai e vem de modo terrível procurando ajudar o pessoal de embarque de dois barcos rebocadores lutando para arrastar o navio do trapiche onde estava encalhado com a popa para o interior do rio. Honório juntou-se a outros despachantes, tendo ficado a olhar o manuseio da embarcação.

--- É danado! Mais um dia perdido! – gesticulava um dos despachantes.

--- É isso mesmo. Pior é para o prático que fez esse acidente. – destacou outro.

--- É bem pior mesmo. – emendou Honório com a cabeça latejando de dor pela raiva que teve da moça Cléia ainda horas antes.

Um rapaz que estava manuseando o rebocador para tirar o navio do Porto gritou bem alto:

--- Agora! Agora! Dessa vez a gente arrasta essa embarcação!!! – gritou o rapaz.

Os rebocadores, uma para a esquerda e outro para a direita, fizeram a manobra de uma vez e puseram o navio ao desencalhe liberando o cais. O navio bateu com a quilha em cima do cais, criando vários problemas para outros navios e o mesmo atracarem de vez. A luta dos barcos rebocadores pelo desencalhe do gigante dos mares demorou cerca de três horas. Adernando para um lado, o colosso de nau demorou a se livrar das amarras e retornar a posição original.

--- Felizmente. Já não agüentada mais! – declarou um despachante.

--- Que merda! O que foi que deu na cabeça desse prático que abalroou no Porto? - perguntou outro ainda suado do vexame que passou e viu passar a tripulação do imenso barco.

--- Sei lá! Eu vou tomar é café! – respondeu Honório após um longo assobio.

Os homens do cais apressaram em soltar as amarras e deixar o navio flutuar.

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