terça-feira, 12 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 48 -

Anita Eckberg
- 48 -

A luz do sol penetrava na sala do escritório de Dumaresq, com um tênue reflexo apenas iluminando a escrivaninha da jovem Luiza e ditando que já dia bem avançado. O velho indagou de Luiza como estavam os negócios no atelier, pois não sabia o mínimo detalhe a respeito do assunto. A moça disse o que sabia. E de uma reunião havia dias atrás onde Honório foi eleito diretor do órgão. Dessa reunião participaram Ângela e a gerente do atelier, senhorita Cléia Alves, cujo destino foi o de ser posta para fora por causa de um mau querer com o senhor Honório. No seu lugar assumiu a senhorita Nora Velásquez, moça ativa e que mostrou seu desempenho naquele final de semana com uma renda suprema em dividendos. Era tudo o que sabia Luiza para responder ao seu Dumaresq.

--- Muito bem. E você? Por que Honório te transferiu para esse lugar? – perguntou Dumaresq.

--- Por causa do serviço. Tem coisas que não se deve escrever de modo que todos vejam. – sorriu Luiza

--- Ah. Isso é bom. Ficar em um local mais tranqüilo e sossegado. – respondeu Dumaresq com o pensamento a vagar.

--- Creio que sim. – sorriu Luiza mais tranqüila com os enredos.

--- Eu estive a dormir por vários dias. Parece que os médicos me doparam. Quando acordei, não sabia de nada o que acontecera. – falou Dumaresq.

--- O senhor esteve passando mal, pelo que disse o seu sobrinho. Os médicos chegaram até a desenganá-lo. Eu ouvi dizer por Honório que o senhor tinha de um a seis meses de vida. – exclamou a jovem Luiza a se notar a fraqueza com o que dizia.

O velho sorriu. Quando a música terminou de tocar em um rádio distante, ele também parou de dançar alegando que já estava cansado, indo sentar na sua poltrona e dali pegando em um lápis a bater devagar em cima da escrivaninha com um olhar distante. Talvez ele pensasse que estaria para morrer e o sobrinho assumira a direção da empresa. Seu semblante denunciava tal fato. Depois de um longo tempo a sentar, olhando vago para algo que não se podia vê, Dumaresq voltou a falar com Luiza. Ela estava sentada na mesinha onde estava a máquina de escrever. E de certo modo se assustou quando o velho perguntou:

--- E você? – quis saber o velho D.

--- Eu? Que tenho eu? – sorriu Luiza se recompondo do susto.

--- O que fez nesse final de semana? – indagou Dumaresq.

--- Ah. Bem. Fui ao teatro da sexta feira, dormi no sábado e fui com umas amigas à praia no domingo. – sorriu Luiza. Sabia que tudo que havia dito, em parte era mentira. Mas foi o jeito.

--- Com aquele vestido? – indagou o velho Dumaresq.

--- Ah sim. Um preto. E o perfume. – sorriu a moça.

--- Perfume? Que perfume? E eu te dei perfume? – caçoou o velho para ouvir a resposta.

--- E não deu? Um elegante. Suave! – sorriu a moça ao se lembrar do perfume.

--- É. Devo ter dado mesmo. – sorriu o velho.

Luiza olhou em direção ao velho e gargalhou pelo modo como ele havia se esquecido do tal perfume. Uma eloqüente Água de Toalete de suave encanto, cuja essência era oriental. Quando a jovem moça queria atrair um homem, usava desse delirante perfume. E Honório era uma presa daquelas de se usar um perfume tão original. O velho se endireitou no alcochoado no qual se sentara, coçara as costas esfregando na própria poltrona, fazendo uma cara amarga e sorriu em troca. Ele pensou um tanto antes de falar a Luiza.

--- Você quer ter uma casa somente tua? – indagou Dumaresq a jovem Luiza.

--- Quem? Eu? Bem que gostaria de ter. Mas com esse salário... – sorriu à jovem.

--- Quer? – tornou a indagar Dumaresq.

--- Querer, eu quero. Mas com esse dinheiro, não dá para o sustento. – relatou à jovem.

--- Eu te dou a casa! – falou o velho de forma arrasadora.

--- Quem? – sorriu Luiza a contemplar o velho enquanto punha papel na máquina.

--- Você não acredita? Você pode escolher. E eu dou os recursos necessários. – respondeu o velho como se pusesse um fim na negociação.

A moça Luiza ficou a pensar por uns instantes e voltou a sorrir ao indagar do velho se aquilo era uma brincadeira.

--- Eu não estou brincando. – falou o velho com a voz de quem exprime verdade.

--- Mas veja. Eu tenho o meu trabalho. E o que será feito dele? – quis saber a moça.

--- Mande as favas. Você merece tudo o que eu posso te dar. – rompeu Dumaresq cheio de orgulho e destemor.

--- O senhor vai me dar uma casa? – perguntou Luiza de forma estranha.

--- Isso. Com roupa, comida e o que mais houver para a sua necessidade. – desafogou o velho no instante de magia.

--- O senhor está brincando comigo. – levantou a moça de sua cadeira e veio na direção de Dumaresq.

Uma casa para a moça era tudo e até demais. No entanto ela precisava saber o que lhe restaria em troca, pois a oferta era grande demais. Se ela aceitasse, se veria fora do trabalho e levaria vida tranqüila. Mesmo assim, ainda pensaria em seus pais e irmãos, pois, com certeza, o homem não teria o avivamento de querer uma mulher e uma casa cheia de gente para morar. Era em tal fato que a moça pensava naquele instante.

--- Veja bem: eu tenho pai, mãe e irmãos. ..- pronunciou a jovem Luiza.

--- Eu sei disso. Mas você podendo ir morar em uma casa somente sua e de mais ninguém, é bem melhor. Seus pais, você visitaria. Daria a eles uma feira. Certo? – perguntou o velho.

--- Certo. E eu o que faço? – indagou a moça sobressaltada.

--- Você faz o que quiser. – sorriu o velho cheio de si.

--- E o senhor? – perguntou Luiza para se certificar do que ouvira.

--- Eu? Colho amêndoas maduras. – gargalhou o velho cheio de encanto.

--- Só isso? Todo dia? – indagou a moça ao velho.

--- Só. Só. É o bastante. – relatou o velho Dumaresq.

--- É o bastante. Mas veja bem. O senhor tem uma mulher. ...- disse Luiza a pensar.

--- Veja bem, menina. Eu estou casado. Isso não quer dizer que eu vou ser casado. Eu posso muito bem conseguir um desquite, uma vez que no País na há divorcio. E posso casar com você além da fronteira, onde já tem divorcio ou mesmo casamento. Entendeu agora? – perguntou o velho Dumaresq.

--- Por que o senhor deixaria a tua mulher? – indagou Luiza de Campos a pesquisar a intenção do velho.

--- Isso é outra história. Quer ou não? – quis saber Dumaresq.

--- Onde o senhor vai morar? – perguntou Luiza de forma inquieta.

--- Em tua casa! – gargalhou o homem.

Então, Luiza sorriu. Um sorriso intenso como um passarinho solto a cantar. Viver ou morar era a questão. E disso ela só podia delirar. Se o velho estivesse falando a verdade, era um sonho a desvendar mistérios da vida. Em sua alma palpitou algo de esperança, pois nem tudo na vida teria fim por completo. Morar com o velho era para Luiza algo de sublime apesar da diferença de idades. Ela bem sabia que isso não seria para sempre, pois o velho já não teria mais forças para conduzir a vida. Uma alegria extremada contagiou o coração da jovem moça e, ela, de imediato caiu aos braços de Dumaresq como uma criança travessa e barulhenta. O que dia era só algo de modo indecifrável talvez por sua beleza e pura simplicidade. Era algo como que diria o seu afeto total por ter alguém em confiança. Lagrimas rolaram no seu resto embriagando sobremaneira o apego do velho Dumaresq. Porem, em certo instante, Luiza recobrou a razão, saindo do sonho a realidade lembra talvez se estivesse fora não mais lhe serviria como uma observadora dos reais acontecimentos que toldavam toda aquela empresa. Ela, como empregada seria mais servidora para saber do que havia nas mentes poluídas dos que estavam por trás de tudo.

--- Que achas? – indagou a sutil moça ao seu pretendente amado.

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