domingo, 10 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 46 -

- Isabelle Adjani -
- 46 -
Eram oito horas da manhã de segunda-feira quando Honório chegou ao seu escritório. Um rapaz estava na recepção e deu bom dia ao chefe o que esse respondeu prontamente. Com sua pasta cheia de documentos, entrou no escritório propriamente dito e encontrou de imediato a senhoria Luiza eu o cumprimento. Ele perguntou quem era o rapaz que estava na mesa de recepção e Luiza disse ser um empregado da loja de peças antigas. Honório não o reconheceu de imediato. Luiza perguntou como fora a recepção na noite passada por sua mulher, Ângela. Ele respondeu ter sido normal. Ela nem suspeitou de para onde ele fora. Luiza sorriu querendo dizer como as mulheres eram tolas. O homem notou o sorriso e disse em seguida que aquele negócio, nunca mais faria. A moça fez um bochecho como quem dizia:

--- “Espere”!!!. – e sorriu com o seu pensar.

Em seguida, Honório sentou ao seu birô e começou a trabalhar. Ele olhou as horas e voltou a trabalhar organizando toda a papelada. Uns documentos ele passou para Luiza. Outros ficaram com eles. Ele quis saber da moça que trabalharia no sábado no atelier.

--- Tem notícias de Nora? – isso perguntou a Luiza.

--- Não. Mas esteve a trabalhar. – respondeu Luiza batendo à máquina.

--- Como você pode asseverar tal fato? – indagou Honório à moça.

--- Ela telefonou hoje dizendo que sábado foi muito bom e estaria em pouco tempo no atelier. – respondeu Luiza meio desatenta.

--- Bom. Vamos ver se a moça vai dar certo. Pelo menos eu já tenho boas informações a seu respeito. – argumentou Honório.

Luiza se levantou de sua cadeira com uns papeis para ele assinar. Ele verificou se tudo estava certo e assinou a papelada. O tempo voava. Ele perguntou a secretária se alguém telefonara e obteve resposta negativa.

--- Nem Maneco? – indagou Honório vexado pelo atraso de Carmen.

--- Não senhor. – respondeu a moça com um sorriso na face.

--- Sei que ele está no Porto. – resmungou Honório verificando as horas outra vez.

--- Tem na parede. – respondeu Luiza sem dizer o que.

--- O que tem na parede? – indagou Honório preocupado com Carmen.

--- O relógio. O senhor está atento as horas. Tem um relógio bem grande na parede. – sorriu Luiza com sua cara sempre alegre após passar um excelente fim de semana.

--- Ah sei. É a mania de saber que horas. – falou Honório para se despreocupar das horas.

O telefone interno tocou e Luiza atendeu de imediato. A voz do outro lado disse alguma coisa que Honório não conseguiu saber de fato.

--- É para o senhor. – respondeu a moça passando o fone ao patrão.

--- Que é? – indagou assustado Honório.

--- Não sei. O rapaz é quem disse. Parece ser uma cliente. – respondeu Luiza incontinente.

--- Deixa-me ver quem é. – disse Honório com as mãos molhadas de suor.

Na verdade, era Carmen. Ela trazia consigo dois magníficos quadros, pintura original de Rafael Santi. Um deles era a Transfiguração de Jesus. Um belo quadro que ela pintou em forma como o mestre havia feito. O segundo era outro quadro de Rafael retratando “A Sagrada Família”. Foi com esses dois quadros que Carmen entrou no escritório de Honório a perguntar se ele era na verdade o senhor Honório Dumaresq. E ele respondeu disfarçando o sentido de conhecer a moça.

--- Sou eu mesmo. Em que posso servi-la? – indagou Honório de supetão.

--- É porque eu tenho dos quadros a óleo e vim saber se interessa ao senhor. – respondeu Carmen fazendo-se de desconhecida. No mesmo momento ela reconheceu a dama que estava com Honório.

--- Deixa-me olhar de perto. – disse o homem assustado com tanta beleza nos quadros.

Ele teve a paciência de olhar um e outro para poder definir o seu pensar. Estava ele com as mãos sobre duas peças gigantescas de um pintor do quilate de Da Vinci e Michelangelo que a mulher Carmen conseguira traduzir para as suas verdadeiras simplicidades: quadros da “Transfiguração” de Jesus e da “Sagrada Família”, ambos de autoria de Rafael Santi Sanzio mestre da pintura italiano. O homem ficou extasiado com a criação da jovem com o cuidado de repintar dois quadros de Rafael como se o próprio autor das obras. A cada passo que Honório traçava as pinturas mais ainda estava abismado com todo aquele esplendor. De momento o homem se inquietou e se a moça teria quadros de Da Vinci ou de Michelangelo para efeitos de reprodução. Ela respondeu: positivo. Contudo, Da Vinci era um quadro muito difícil de expor por causa do seu tamanho. Honório ficou perplexo com toda aquela maravilha divina no trabalho da “Transfiguração”. Aquele sinal traduzia um trabalho da imortalidade de alma, como o homem chegou a explanar. Tudo era perfeito e feito com arte e perfeição. Esta foi à obra final do artista, morto em 1520. O próprio Nietzsche interpretou o trabalho de Rafael como a noção de “aparência da aparência”. O rosto de Jesus resplandece como o sol. Suas vestes tornam-se puramente brancas e ao seu lado surgem os profetas Elias e Moises, homens que viveram muito tempo antes. O trabalho da suntuosa moça deixou Honório apaixonado e de imediato ele proferiu:

--- É fantástico. Pena que foi feito por alguém quase que desconhecido. Você merece o louvor dos Deuses. – proferiu Honório ao ter em suas mãos uma réplica da obra de Rafael.

A moça sorriu encabulada por tanto exagero do homem com relação a sua obra imperfeita, pois era apenas uma reprodução de uma grande e majestosa lembrança de um soberbo pintor o qual a jovem jamais teria o alcance que o mestre renascentista assumiu.

--- Eu tenho um outro quadro do mestre. – recordou a dama.

--- Um outro? Um outro? – se enfeitiçou o homem de negócios completamente deslumbrado.

--- Sim. Um de pouca divulgação. – replicou a dama da tarde.

--- Qual é esse “um”! – indagou perturbado o homem.

--- É a “Ressurreição de Cristo”, feito em 1502. – argumentou a dama.

--- Não o conheço. Porém vale a pena vê-lo. Vale à pena! – respondeu Honório inquieto.

--- Você não conhece a obra de a “Ressurreição de Cristo” meu amado jovem? – indagou uma voz de alguém que vinha entrando no escritório.

--- Meu tio? O que o senhor faz aqui? – indagou alarmado o jovem Honório.

--- Ora, ora! Meu sobrinho dileto não conhece a obra de Rafael. Bom dia mui encantante senhora. Prazer em tê-la conhecido. - falou o velho Dumaresq.

--- Mas meu tio? O que é que o senhor faz aqui? – perguntou alarmado Honório.

--- Ora, ora! É o meu escritório. Tenho que vir pelo menos ver tão bela senhora! – sorriu o velho Dumaresq.

--- Senhorita, se bem lhe serve. – recomendou a moça Carmen a sorrir.

--- Mas é claro. É um magnífico prazer! – aproximou-se o velho da mulher ao lhe beijar a mão.

--- O prazer é todo meu. – respondeu a dama a flexionar um joelho e curvar-se então.

--- Ora! Deixemos de lamúrias. Vamos ao que interessa. Onde está o quadro da “Ressurreição” – indagou o velho Dumaresq.

--- Bem. Eu não o trouxe. Apenas estes dois que estão aqui ao lado. – sorriu a dama.

O homem, com esmero e de forma empertigada apanhou o quadro da “Transfiguração” e pôs-se a olhá-lo com admiração e quietude. O silêncio se fez no alegre ambiente do escritório de negócios. Foi um tempo curto, porém que se tinha a sensação de durar uma eternidade. A dama Luiza, que estava de pé, em pé ficou se alegrando ainda mais por ver o chefe àquela hora do dia já em plena forma depois de um leve acidente que o acometeu. Delirante, ela pensava em um passado remoto e delirante entre ela e o chefe Dumaresq quando estiveram em um local amplo como o mesmo, ou melhor, que o mesmo onde esteve nesse final de semana com Honório, o seu sobrinho. Luiza delirou ao ver de novo o velho Dumaresq. Sentiu-se de repente na vontade de agarrá-lo e apalpá-lo para ter certa de que não era um sonho o que se estava a acontecer. Porém se conteve. Apenas o sorriso na face não pode esconder.

--- Magnífico! Brilhante! Ele está exposto à venda? – indagou o velho Dumaresq.

--- Isso é o a que venho tratar com o senhor. ...Honório. Desculpe-me por esquecer o nome. – relatou a dama da tarde.

--- Muito bem! Discutam! Eu fico sentado na minha poltrona a ouvir. – sorriu o velho ao falar.

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