quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 49 -

- Angelina Jolie -
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O velho Dumaresq passou em silencio um bom tempo. E ainda pensou de que valeria fazer um negócio em um momento para se decepcionar em outro. O que Luiza dissera calou fundo no coração de Dumaresq. Ele jamais pensou em ter alguém a lhe trair. Uma névoa toldou o seu pensar e o velho não quis falar nada do que estava a supor para a moça Luiza. Se houvesse traição, ele haveria de descobrir muito antes. O seu sobrinho já tomara a parte dos recursos emprestados pelo velho. Disso ele – o velho – veio a tomar conhecimento. Por seu lado, a jovem Luiza não quis dizer coisa alguma do se passou com ela no final de semana. Era uma decisão tomada por Luiza, pois falar naquele instante ou em outro, seria por água no mel. De imediata Luiza se levantou dos braços de Dumaresq e saiu para a sua mesa. Sabia que o velho estaria a pensar em tudo que ela acabou de dizer. De repente o telefone tocou. Ela olhou para Dumaresq e esse lhe disse:

--- Atenda. – sorriu o velho com estando a acordar de profundo sonho.

Ela pegou o telefone e atendeu de pronto. Era a irmã de Ângela quem estava a falar. Era para perguntar apenas pela saúde de Ângela. E disso Luiza respondeu tudo do modo como sabia. Ela estranhou o fato de Adélia ligar para o escritório de Honório quando bem poderia ter feito direto para a Mansão de sua irmã. Mesmo tendo estranhado o ocorrido ela não disse nada a esse respeito e preferiu calar de vez. Com um pouco de tempo a moça ao telefone indagou de Luiza se estava sozinha na firma. Luiza olhou a cara do velho e o viu dar a recomendação em dizer que ele não estava na sala. Luiza assim fez. Ela estava só, naquele momento. Adélia agradeceu o ensejo de ter sido atendida e desligou o telefone. Por sua vez, o velho Dumaresq um pouco desconfiado logo que Luiza desligou o aparelho veio a perguntar.

--- Quem era? – perguntou o velho querendo saber quem falava de verdade.

--- Adélia, irmã de Ângela, mulher de Honório. – sorriu com encantos Luiza e retornou a sua banca de escrever.

O velho ficou há pensar certo tempo para depois decidir o teria a fazer. Nesse momento, Honório entrou na sala onde estava Dumaresq sentado em sua poltrona, sempre calado, a bater com uma caneta nos dentes. O rapaz olhou em volta e viu Luiza a escrever. Logo então perguntou se alguém tinha lhe procurado. A Moça Luiza declinou que só havia recebido ligação de Adélia.

--- Adélia? O que ela queria? – perguntou Honório assustado.

--- Perguntou apenas pela irmã. – sorriu Luiza de modo calmo.

---Pela irmã? – interrogou Honório de forma estranha.

Nesse momento o telefone voltou a tocar e Honório de pronto atendeu. Era Maneco perguntando pelo final de semana e dizendo que o presidente Ernani Salgado havia convocado reunião para a noite de terça feira, a sede do Clube Lagunas. Honório ouviu e disse em seguida que estaria presente. Quando ao fim de semana, ele não quis falar. Disse apenas que estaria em pouco tempo no Porto. O rapaz Maneco agradeceu e se despediu dizendo:

--- Até ao Porto. – sorriu pelo telefone o jovem.

Honório desligou o telefone e em seguida indagou do tio se estava tudo bem com ele. O velho respondeu que sim. E perguntou sobre o telefonema. Honório respondeu que era do Clube Lagunas do qual era o seu diretor de esportes. O velho Dumaresq respondeu que era uma missão difícil e complicada. Honório sorriu ao dizer:

--- Tudo na vida é complicado. – sorriu Honório para o tio.

Em seguida, o velho indagou sobre os quadros que a moça trouxera logo cedo da manhã. Ele respondeu que aquilo tinha que pensar. O velho respondeu:

---Deixe que eu pense. Eu vou cuidar daqueles quadros. – fez cara séria o velho.

--- Mas tio? – indagou meio surpreso Honório.

--- Tio que nada! Você não sabe avaliar nem uma obra de arte!– respondeu o velho sisudo.

--- É verdade! – contemporizou Honório agüentando um sermão que deviria ocorrer.

--- Os quadros eu tomo conta deles. Eu vou marcar os preços. – respondeu o velho

Honório calou profundo diante dos argumentos feitos pelo velho Dumaresq. Na verdade, Honório não sabia precisar o valor de uma obra de arte. Ou cobrava mais ou cobrava menos do valor de venda do objeto. O velho, por ter mais experiência e sabedoria poderia pôr um preço real no valou da obra como a “Transfiguração de Jesus”, reprodução de Carmen do original de Rafael. Ao dizer que se responsabilizava pelos quadros de Carmen, o velho Dumaresq assumia um compromisso irreparável para a loja de artes “A Botija”. Luiza não disse coisa alguma ao ver o velho assumindo a competência dos trabalhos. No entanto, Luiza só observava o que o velho tinha a dizer como foi quando Dumaresq perguntou:

---Qual o endereço da moça? – indagou o velho.

--- A moça? Que moça? – perguntou o jovem Honório sem saber qual a moça.

Luiza ouviu o entrevero entre os dois, tio e sobrinho, e não se metendo na briga, relatou que a moça Carmen tinha lhe dado um telefone para qualquer reclamação ou chamado a qualquer hora, menos nas que não estivesse em sua própria casa. E Honório pediu depressa o bilhete escrito a mão puxando das mãos de Luiza com total brutalidade. Foi algo terrível e malcriado o modo como o homem arremessou-se contra Luiza para ter o papel do telefone. O arroubo foi tão violento que obrigou a o velho Dumaresq se intrometer.

--- Que é isso rapaz? Respeite a moça! – falou Dumaresq assombrado com a arrogância de Honório.

O rapaz se conteve apesar de manter o olhar violento para Luiza como se a moça tivesse toda culpa do mundo por conta de um telefone. O velho pediu com delicadeza a Honório o papel e disse por fim:

--- Vou discar para saber se esse é o telefone da moça. ... Como é o nome dela meu Deus. ...Ah. Está aqui. ... Carmen. .... Ninguém sabe aqui quem era Carmen? – sorriu o velho olhando para os dois que há pouco estiveram em contenda. Principalmente Honório.

Ninguém entre os dois, homem e mulher, respondera, apesar de Honório, por certo saber quem era a Carmen, tão comentada nos meios radiofônicos e televisivos. Carmen de Bizet. Na verdade, Carmen era uma ópera em quatro atos feita por Georges Bizet, baseada na novela de igual nome escrita por Prosper Mérimée. A ópera estreou em 1875, em Paris. Carmen era uma cigana que usava seus talentos de dança e canto para enfeitiçar e seduzir vários homens.

O telefone chamou e ninguém atendeu. Com certeza ela, a mulher ou moça, ninguém sabia ao certo, apesar de Honório ter o seu conhecimento a respeito de Carmen. Desse modo, o velho desligou o telefone e recomendou a Luiza que depois fizesse nova ligação convidando Carmen para a tarde daquele mesmo dia a comparecer ao seu escritório. A moça recebeu o papel com o numero do telefone e guardou em sua pequena bolsa agradecendo e dizendo que voltava a ligar para a moça ainda pela manhã daquele dia. Se não fosse deveras atendida pela manhã, telefonaria logo depois, no segundo expediente. O caso se encerrou daquela maneira. O rapaz Honório puxou sua bolsa com ímpeto e saiu porta a fora alegando que estava atrasado para ir ao Porto. O velho sorriu por causa da raiva que despertara em Honório e olhou para Luiza que também sorriu, arqueando os ombros vendo o rapaz com sua tirania e arrogância.

--- É um meninão. – fez ver o velho Dumaresq.

--- Ele ficou irado porque o senhor disse que ele não entendia de artes. – comentou Luiza se ajeitando e sentando à sua banca de escrever.

O velho Dumaresq caiu na gargalhada com a lembrança de Luiza a esse respeito. Depois de alguns instantes o velho voltou a falar no assunto que tratara bem antes, pela manhã. El observou a atitude do sobrinho e era bem provável de, com o tempo, se perder com todos os recursos depositados em seu nome. O velho sentiu uma lucidez extrema no enfoque de Luiza a despertar que seria de máxima prudência ela ficar em seu escritório, pois assim, teria mais ampla condição de saber o que estava a ocorrer, de fato. Algo que Dumaresq não levara em tal importância. Porém, o apego aos valores monetários das artes deixou Honório à descoberta para alguma outra façanha. Seja lá qual fosse. Com isso, Dumaresq retrocedeu em sua atitude de deixar Luiza sozinha em uma casa que ele nem sabia se valia à pena. Ele não quis comentar o mérito da questão. Porém, apenas relembrou que a moça tinha plena razão em ficar onde estava por mera desculpa de precisar ganhar o seu salário.

--- Eu pensei melhor. Sinto que você tem toda a razão. – argumentou o velho.

--- Da casa? – perguntou Luiza.

--- Não. Dos acontecimentos daqui. Houve apenas uma briguinha. Mas. ... – argüiu o velho.

--- É. Pelo visto é bom o senhor fazer uma reunião com os dois e definir quem manda aqui. – sorriu Luiza de modo disfarçado.

--- Mas eu mando aqui! – argumentou o velho Dumaresq atormentado.



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