terça-feira, 16 de novembro de 2010

AMANTES - 30 -

- Carolinie Figueiredo -
- 30 -
Na noite de uma terça-feira Diomedes conduzia em seu veículo o seu chefe Silas Albuquerque conversando casos que se passaram no Centro no dia que passou. Um deles era de um cego – deficiente visual – que estava posto sob cuidados especiais de um dos médiuns. O rapaz, toda vez que estava no Centro apresentava um quadro de obsessão por diversos espíritos, cada qual que quisesse atormentá-lo. Diomedes, o velho, temia que tais espíritos tivesse sido seu desalento em tempos passados. Na verdade, o velho teve pelo menos dois espíritos em sua longa existência: Cila, sua noiva e Macedo, seu rival. Cila não era uma obsessão. Era mais uma prisão do velho que não esquecia a noiva. Porém, Macedo, esse se tornou obsessão por queria a todo custo ser o namorado de Cila e não se conformava ter passado para outra vida. Esse era o tom da conversa.

Ao chegar a frente ao edifício onde ambos moravam – e mais Vera Muniz, esposa de Silas – o velho notou um rapaz do lado de fora do edifício, na calçada. Ele olhava com atenção a rua e a movimentação de carros para um lado e para o outro. E as pessoas que passeavam a fazer o seu Cooper ou apenas a caminhar para resolver algo. Um bêbado chamou a atenção do rapaz. O homem ia e vinha para e outro da calçada ao lado oposto onde estava o rapaz. Em determinado instante, o bêbado se escorou em uma parede por não conseguir mais caminhar. O bêbado estava todo envergado, de cima a baixo e conduzia uma pasta 007 com certeza cheia de documentos. O rapaz olhava o homem e procurava não sorrir, pois o caso era somente para se gargalhar, certamente. O bêbado era tão estranho que nem chamou a atenção do rapaz para o automóvel que se aproximava da entrada do edifício.

Porem, nesse instante, o carro parou em frente ao portão magnético a espera do rapaz que tomava conta da entrada e saída de veículos. Porém, o velho Diomedes notou a presença do rapaz a esperar alguém e tão de imediato perguntou ao mesmo.

--- Quem espera? – indagou Diomedes ao rapaz.

E o rapaz por fim notou o velho vestido de túnica, bem diferente do homem que ele vira na construção da sua casa na vila dos Coqueiros. E de repente, o moço se aproximou assustado e indagou se ele era o homem que estava a construir a casa na vila.

--- Sou eu. Por quê? – respondeu Diomedes já um pouco preocupado.

--- É que estamos parados há dois dias porque o mestre não apareceu. – respondeu o rapaz.

--- Ah. Ele deve ter saído para alguma coisa que lhe interessava. E por que ele não veio? – perguntou o velho a toda pressa.

--- Sabe. A mulher dele. – replicou o moço.

--- Que tem ela? – averiguou o velho mais atento.

Um carro estacionou logo atrás do auto que Diomedes dirigia e buzinou. O velho, com pressa disse ao rapaz que ele esperasse enquanto o velho estacionava o carro no local indicado. E saiu dirigir, enquanto o rapaz ficou a esperar. Por seu lado, Silas indagou se aquele era de fato o rapaz da construção. E o velho respondeu afirmativo.

Ao deixar o auto na garagem do interior, o velho mais Silas vieram até a entrada do edifício do apartamento de Vera. E no caminho os dois falavam do Centro, cuja atividade acontecia na quarta-feira. E chegando ao portão eles saíram até ao lado de fora o moderno prédio e o velho Diomedes voltou a perguntar ao rapaz:

--- Então? A mulher? Que aconteceu? – indagou Diomedes ao rapaz.

--- Ela está mal. Se não morreu! – respondeu o rapaz pleno de temor.

--- Morreu? Por que morreu? – indagou o velho assustado.

--- O mestre furou ela. Meteu-lhe a faca na barriga. As tripas caíram. – respondeu o rapaz com real temor.

--- Nossa! Por que você não falou logo, de uma vez? – perguntou alarmado o velho.

--- Pois é. Ele foi preso. Levaram ele para a cadeia. – respondeu o moço alarmado.

--- Essa é boa! Tá feito a história do papagaio. Ele está preso?! – relutou em saber o velho de total pavor.

--- Está. Isso foi no domingo à noite. Ele meteu a faca na mulher. Caso de outra mulher que o mestre tem. – explicou o rapaz.

--- Puta Merda! – respondeu Silas a ouvir o desfecho.

--- Tá vendo! Tá vendo! É isso o que dá! Matou a mulher por causa de outra! – respondeu, com efeito, o velho Diomedes ao seu patrão.

--- Mas não é assim. Puta merda! Puta merda! Puta merda! – falou alarmado Silas vendo a morte de perto.

Depois de todo o caso explicado, Silas chamou o rapaz para entrar em seu apartamento e por certo o rapaz teria mais o que falar. Meio espantado com o prédio de mais de dez andares o moço foi com os dois homens a seguir até o apartamento de Silas e Vera. E por certo, o rapaz contou tudo o que houve da forma com ele sabia. Um automóvel de aluguel que estava em uma bodega da praia foi quem fez o traslado da mulher mortalmente ferida para o hospital do município e de lá uma ambulância a trouxe para a capital. O mestre tinha sido preso por três homens que bebericavam na praia. Era gente humilde moradora da mesma praia. No local não havia telefone, pois o único aparelho que havia, tinha sido depredado por vândalos da capital há certo tempo e até aquela data não se havia feito a reposição. Quem precisava fazer ligação caminhava a pé desde o vilarejo até a sede do município. A caminhada durava dez minutos para quem podia andar. A mulher estava internada no Hospital da capital e parecia estar passado bem pelo que disse o enfermeiro de plantão ao ser indagado por Silas pelo telefone de seu apartamento. Tão logo Silas soube do caso telefonou de imediato para o hospital. Por isso mesmo estava com o resultado em mãos. O velho conversava com o moço e este não teria muito a acrescentar. Tudo era briga de casal. O mestre continuava detido sem advogado para cuidar do caso. E Silas, de imediato telefonou para o advogado de sua repartição, doutor Duarte para conduzir do tema. O rapaz ajudante da obra reclamava por não ter onde ficar.

--- Isso se arranja! – declarou o velho Diomedes.

--- Tem outro mestre por perto? – indagou Silas ao rapaz.

--- Acho que não. Tem o velho José. Mas esse não trabalha mais. Está velho. E tem também um pescador. Esse é quem faz algum serviço. Os outros vieram para a cidade. Só aparecem por Coqueiros de semana sim, semana não. – falou meio precavido o moço.

--- Deixa pra depois esse caso. Vamos ver o caso do mestre. Amanhã eu vou com o advogado até a sede do município para ver o que se pode fazer. – relatou Silas desesperado.

--- Estou em suas mãos. Amanhã se põe o caso pra frente. – respondeu o velho Diomedes a Silas, o patrão.

---Deixa comigo! Deixa comigo! – respondeu então Silas.

No dia seguinte, depois de algumas horas, doutor Duarte procurou Silas no seu escritório. Os quatro homens – Duarte, Silas, o motorista Diomedes e o rapaz ajudante – estavam a caminho do município onde devia estar detido o mestre de obras. O rapaz passou pouco tempo no local, pois tinha que voltar a sua casa. Então ficaram apenas os três senhores: Silas, Diomedes e o advogado Duarte. Após conversar com o detento, o advogado procurou o Juiz de Paz que atuava na região para poder liberar o homem apresado. Isso demorou o dia todo. Com espera e tudo. O advogado ia e vinha de uma sala a outra do prédio onde funcionava o Fórum. Para fazer refeição do meio dia, os homens procuraram um restaurante onde conversaram sobre o caso e outros fatos que diziam interesse de Silas Albuquerque.

Ao final da tarde o Juiz deu seu parecer para a soltura do preso de forma condicional. Ele não podia sair do município até se resolver a questão. Com relação a mulher do mestre, se essa viesse a óbito, a suspensão do condicionamento perdia efeito e o mestre voltaria à prisão. Com toda essa documentação, o advogado chegou ao delegado e entregou a petição de soltura do homem. O caso foi examinado e o delegado mandou liberar o preso. Após tudo resolvido, o mestre seguiu para casa agradecendo a deferência dos três senhores. De repente um homem se acercou do preso e com uma punhalada o matou sem dó nem piedade. Após isso, escapuliu por entre a feira do Mercado da Cidade e desapareceu de vez. O velho tentou estancar o sangue bem pouco por entre o ferimento e ouviu do moribundo apenas um sutil falar de quem havia feito a agressão.

--- Lindô! Lindô! Lindô! – respondeu baixinho o moribundo e então morreu.

--- Lindô? Quem é Lindô?! – indagou alarmado o velho Diomedes.

Não houve resposta de imediato para se ter uma definição do algoz. Ele – Lindô – era bem conhecido do mestre. Porém ninguém sabia dizer ou não queria se envolver no caso. O corpo do mestre pedreiro foi levado para o hospital supondo-se que o mesmo ainda estivesse com vida. Mesmo assim, o médico de plantão só teve que dizer.

--- Ele está morto! Levem daqui! – resmungou o médico.




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