quarta-feira, 14 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 86

- CENÁRIO -
- CONTO -
Quando foi quinta-feira, Dino tinha ido com Dalva para o Grupo Escolar onde ambos estudavam. Daquele dia em diante, eles se acostumaram ir para a escola de comum acordo, pois enfim, os dois eram então “noivos”. A hora já estava bastante adiantada para a aula começar às sete horas da manhã. Por isso, Dalva nada falou a Dino do que tinha para dizer deixando para depois, como Dalva mesmo disse.
--- Depois eu conto uma história para você. – falou Dalva ao entrar no Grupo.
--- Que história é? – perguntou inquieto o garoto.
--- Depois. – respondeu Dalva.
O garoto ficou com aquela dúvida insistente latejando em sua cabeça. Não imaginava nem de sombra o que a mocinha queria lhe dizer.
A aula teve o seu começo e a professora delicada chamando os nomes dos alunos para ver se todos estavam presentes. Se alguém faltara, ela deixava anotada para depois ver se de fato aquele aluno não estaria na aula durante todo o seu transcurso. Não raro um aluno residia um pouco longe e desse modo se atrasava para entrar ao Grupo. Isso era bastante normal. Durante a aula, que foi aula de geografia, a professora disse algo que os alunos nada sabiam. A questão da lua e das marés. Falando na classe, a mestra disse que as marés tinham a influencia da lua. Quando a maré era de lua queria dizer que aquilo era a força da lua. E explicou que as pessoas também sofriam a força da gravidade da Lua. Em certas ocasiões, alguém era acometido de loucura. Não se sabia o porquê, mas, assim mesmo era pela força da lua.
--- Vocês entenderam o que eu disse? – perguntou a Dona Magnólia, mestra.
E a turma gritou:
--- Siiiiim! – voz da turma de alunos do primeiro ano.
Era um verdadeiro cenário aquele que os alunos pintavam. Diziam “sim” quando era para dizer “não” e vice versa. De modo, que aula teve prosseguimento com ordem para uns estudiosos e outros não. Cada aluno que fizesse cara feia quando caía uma sentença mais complicada. Outros garotos se espreguiçavam como podiam quando a aula estava “chata”. É que o aluno não entedia bem o que dizia a professora. Alguém perguntava a outro:
--- O que foi que ela disse? – falava baixinho aquele que perguntava.
--- Silêncio! – chamava atenção à professora de forma ríspida.
E tudo voltava ao normal, mesmo sem alguns alunos entenderem o que a professora, Dona Magnólia, estava a ensinar naquela ocasião. Para a mestra aquela era uma turma de “bárbaros”, pois não se dava conta a tudo o que se estava ensinando por que alguns deles sempre vinham com a dúvida.
--- São uns bárbaros. – dizia a professora em seu solilóquio.
Quando deu a hora do recreio a turma saiu apresada, uns empurrando os outros. O chiado dos sapatos no chão era comum. Os garotos que desorganizavam as carteiras dos outros também. Capilés era o que não faltava na cabeça de alguém. E o troco era uma bofetada que o outro garoto dava no seu algoz. Uma azáfama perfeita. A gargalhada comia no centro. Na verdade, todos queriam ir pegar o seu lanche: um copo de leite com café e um pão com manteiga. Esse era o lanche que muitos alunos tinham como o seu café principal da manhã e até mesmo o almoço. Havia aluno que não tinha almoço em sua casa e para se refestelar, chupava manga do pé caída durante aquela aula de dona Magnólia, a mestra, ou mesmo de outra professora nas salas vizinhas. No Grupo tinham umas mangueiras que brotavam mangas pequenas, mas de sabor maravilhoso. E eram dessas mangueiras que alguns alunos subiam no pé para colher em cima as melhores mangas, ainda verdes, para chupar ao sabor do vento que fazia a açoitar as árvores.
Nesse instante, Dalva chamou Dino para ir mais a fora, em um lugar sossegado dos demais colegas de classe ou mesmo de Grupo. O tempo era de sol quente e só a brisa que fazia trazida do morro amornava mais o calor tépido. E então a mocinha começou a conversa com o seu “noivo” de forma delicada. Ela estava de olhos bem abertos ao começar a sua dissertação.
--- Você conhece aquela moça que trabalha na casa vizinha, do outro lado da sua? – perguntou de forma sutil a mocinha.
Dino ficou na dúvida em responder. Se disser “não”, a sua “noiva” podia perguntar coisas que ele não saberia responder. E teve a vez que ele e Francisca saíram juntos para o Mercado, à noite. E mais. Eles foram para Missa e depois, foram à praia. Por tudo isso era melhor confirma e esperar o desaforo que seguia.
--- Sim, Francisca. É ela? – confirmou Dino amedrontado.
--- Não sei seu nome. Mas parece que é Francisca. Mesmo assim, o que eu vi ontem, foi algo sem sentido. - - falou Dalva na seqüência.
Sempre amedrontado, Dino perguntou:
--- Que foi? – perguntou Dino procurando terra.
--- Eu estava engomando na sua casa. Eram mais de oito horas. Você estava dormindo. Eu coloquei carvão no ferro de engomar e pus para pegar fogo. O ferro estava aberto naquela janela que você pulou. Então eu vi a mulher quando entrou no seu quarto. Eu, devagar, fui ver o que ela queria fazer com você. E abri a porta devagar. Vi a mulher fazendo negocio com você. – disse Dalva precavida dos ouvidos alheios.
--- Que negócio? – perguntou Dino atônito.
--- Ela estava fazendo negócio com a boca com seus “troços”! – disse a mocinha um tanto, ofendida.
--- Chupando? – perguntou Dino já meio a sorrir.
--- Eca. Nojento. Safado. Cachorro. Inda ri. Covarde. – rezingou Dalva envergonhada, ao desespero dizendo tudo o que podia dizer.
--- Foi isso? – voltou a perguntar o garoto cheio de sorriso.
--- Sei não! Vocês não prestam mesmo! – reclamou Dalva querendo ir embora.
E o menino caiu na risada. Dalva nesse tempo foi embora, cuspindo para todo o lado, passando a mão na boca como se estivesse a limpar de alguma coisa. E ainda disse de volta ao garoto:
--- Bruto! Cascavel! – falou Dalva partindo para a sala de aula, pois a sineta acabara de soar.
O garoto se pôs a gargalhar.


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