quinta-feira, 1 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 72

- THELMA -
- CONTO -
Na manhã de quinta-feira, céu intenso, calor mortal, Thelma já havia saído para os estúdios da TV onde trabalhava. Para ela, era um trabalho comum o de ser atriz. Não raro alguém lhe pedia um autógrafo e Thelma não fazia questão. Com um lápis ou caneta esferográfica ela rabiscava o seu nome com todo o prazer. De outras, ela nem dava por ouvir e seguia caminho. Igual eram as fotos que tirava ao lado de alguém. Se fosse de sua vontade, ela tirava. Se não fosse, passava a frente. E assim caminhava à sombra do sucesso. Certa vez, um jornalista cuja entrevista tinha marcado dias antes, lhe perguntou:
--- E o sucesso? – perguntou o repórter.
--- É efêmero. – respondeu Thelma.
O repórter então calou. Casos de tal preço são efêmero, passageiro, provisório.
Deslumbrante e bela, Thelma tinha o pendor das mais ardentes estrelas da televisão nos seus tempos de anseios populares. Pele clara, cabelos cacheados e longos, rosto quadrado, olhar desejoso, boca de quem pede mais, Thelma era a diva do encanto mavioso onde todos os fãs depunham o olhar cheio de ânsias e deslumbramento. Em seu veículo particular dirigido por um motorista especial, de fraque e chapéu preto, camisa branca, colarinho e gravata além de sapatos e meias pretas, ela era a vampe do mistério onde o glamour parou ali. Otto era o nome do seu motorista. Ele era um exímio condutor de carros particulares. Para a satisfação de Thelma, o homem não lhe dizia coisa alguma a não ser perguntar o destino a tomar, quando Thelma se dirigia a outro local. Não fora isso, era tido de uma forma única.
Naquela manhã de quinta-feira, Thelma, sempre bela e insinuante, tomou o seu carro tendo o motorista lhe aberto a porta e depois seguir para os estúdios da TV e viu de repente um jovem em outro veiculo lhe acenar. Ela não se fez de rogada. Ordenou ao motorista:
--- Siga! – ordenou Thelma.
O motorista, fazendo que não notara o outro rapaz, tomou a direção do estúdio. Com certeza, Thelma nada queria com o seu novo amor, se fosse o caso. Alguns minutos depois, o rapaz estava emparelhado com o auto de Thelma. Ela, no banco traseiro e ele, no dianteiro do seu veiculo. O rapaz fez menção novamente para a moça que, afinal, ela pediu ao motorista que suspense o vidro da porta.
--- Suspenda o vidro e ligue o ar. – proferiu Thelma.
O motorista obedeceu. Em seguida, a moça ordenou que o seu motorista entrasse à esquerda na primeira rua que houvesse e assim despistaria o rapaz que havia seguido o seu veículo.
--- Sim senhora. – respondeu o motorista.
Ele então fez uma curva excepcional livrando-se de vez do seu perseguidor. Mas a frente tinha outra rua a direita onde o motorista sugeriu entrar para livrar de vez do rapaz que estava a perseguir a dama, apesar de seu sorriso franco mostrar que o jovem queria apenas ser gentil.
--- Podemos entrar aqui. – disse Otto.
--- Faça isso. – respondeu a moça.
--- Ele está lá à frente. Podemos seguir em caminho contrario o dele. – falou Otto.
--- Sujeito chato. Desvie dele. – replicou Thelma.
O motorista então fez o caminho inverso deixando o rapaz sem saber o que fazer. O carro de Thelma seguia veloz percorrendo por diversas ruas, obedecendo ao desejo de Otto em caminhar por onde fosse de maior tranqüilidade. Então, tudo ficou normal até a entrada do estúdio. Ao chegar à frente do estúdio da TV, Otto viu o seu rival em direção, parado bem na frente do seu carro causando embaraço para Otto fazer a manobra e seguir em frente ao estúdio.
--- Faça algo. – disse Thelma.
--- Sim senhora. – respondeu Otto.
Então, o motorista de Thelma deixou o seu carro e se dirigiu ao do rapaz. De posse de um estilete, Otto secou dos pneus do veiculo do rapaz e voltou para o seu carro enquanto ouvia o rapaz gritar.
--- Hei! Safado! Energúmeno! – bradou o rapaz com tudo o arrojo.
Então, Otto seguiu o seu carro em direção ao estúdio onde Thelma teria trabalho deixando o rapaz para traz enfurecido, bradando, escachando, falando os maiores impropérios, rasgando a roupa, pulado em cima dos pés, sacudindo algo em direção ao chão e propriamente berrando como se estivesse louco.
--- Que você fez? – perguntou Thelma, sorrindo entre os dentes com o seu rosto de menina.
--- Sequei os dois pneus do carro dele. – respondeu Otto.
A moça caiu na gargalhada com se o fato não tivesse ocorrido com o rapaz.
--- Você é louco. – replicou Thelma.
--- Era o jeito que tinha de parar o carro dele. – respondeu Otto a seu bel prazer.
--- Louco. – disse Thelma a sorrir desbravadamente ao descer do carro e se dirigir aos estúdios.
Nesse instante, ela beijou o motorista com suavidade deixando o homem sem saber o que fazer. Otto disse apenas isso.
--- Obrigado senhora. – falou de forma tímida o motorista.

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