quinta-feira, 8 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 79

- VANUSA -
- CONTO -
Vanusa entrou no salão quando toda a gente grã-fina estava se enchendo de vodka, uísque, cerveja, Rum e outras bebidas bem ao gosto de cada um. Eram 8 horas da noite e as deusas-da-noite também estavam acompanhadas de seus pares, como sempre elas faziam. No seu aspecto de deusa, Vanusa trazia dentro de si o amargor dos instantes nostálgicos de uma tarde mal dormida, pois a noite do dia anterior foi terminar por volta das 11 horas da manhã do dia seguinte. A ressaca era imperdoável para as damas que faziam salão no randevu ao som de orquestras sempre em discos de vinil. E para Vanusa também não fora diferente. Apesar da sua cabeça não está mais girando, no entanto a deusa já havia vomitado o que pensava nunca ter comido ou bebido. Já estava no oitavo mês que Vanusa freqüentava a boate “Sândalo” onde as outras deusas ficavam apenas cinco meses, no mais tardar. A sua presença já se tornara um vicio para os mesmos freqüentadores de todas as semanas. Parceiro, ela jamais queria alguém, pois bem sabia que esse tipo de gente apenas prometia e não fazia coisa alguma. O dinheiro que Vanusa tinha guardado, ela usara em uma conta em um Banco da cidade, negocio mais seguro para a jovem dama. Ela usava um talão de cheque para as compras de maior valor. As despesas miúdas, ela mesmo comprava ou mandava comprar por uma servente do randevu. Vanusa vivia uma vida de louca com aqueles cavalheiros sempre ébrios. De quando em quando, Vanusa tecia um sorriso na boca para disfarçar a lágrima que estava a correr na face. Por vezes, a deusa fingia poder ser uma bailarina para satisfazer ao seu cliente ou amante, talvez mesmo amado
Bela e cheia de doçura, cabelos longos e escuros, face em forma redonda, olhos negros e tentadores, pois com eles seduzia aos seus amados com um meigo encanto, boca firme e nariz afilado, Vanusa tinha tudo de ser a mulher inevitável. Quando Vanusa sorria era um encanto de esplendor. Corpo todo alvo, pernas longas e sensuais. Peitos nem tão pequenos e nem tão grandes ela era a deusa do asfalto daquele lupanar a ocupar o terceiro andar do prédio, sendo o ultimo andar, na verdade daquele prédio que se mostrava decaído ao sabor do tempo. Por ali passavam todas as sortes de freqüentadores, desde ricos e opulentos empresários até mesmo os marujos de uma embarcação estrangeira quando aportava no cais bem próximo ao bordel.
Quando havia gente demais, as deusas eram chamadas para trazer mulheres de outros locais de modo a não faltar gente para atender aos freqüentadores. Algumas aceitavam, outras, não.
--- Está falido o palácio da perdição? – era comum se ouvir dizer às gargalhadas por parte das mulheres que já estiveram por poucos meses por lá.
--- Quem sabe. Quem sabe? – agouravam outras.
--- Procurando mulher aqui. – respondia alguém em eternas gargalhadas.
--- Deixa disso. São os marujos que estão lá. – adiantava-se com ímpeto um garçom.
E tudo voltava ao normal naquelas pocilgas de mulheres que antes foram sedutoras, pois no salão de baile do bordel apenas freqüentava mulheres formosas.
Seus trajes eram deslumbrantes, todos feitos de renda pura e importada do Japão ou do Oriente Médio. As vestes eram multicoloridas para bem ornar a deusa da noite. Com o passar dos meses, se alguma das belas mulheres não satisfizer aos fregueses, elas eram mandadas embora e toda sua veste ficasse para outra deusa que a gerencia tinha a missão de procurar de pronto por ambientes distantes e não conhecidos dos seus freqüentadores. Era um comercio ambulante esse que se faziam nos bordeis da cidade. As deusas não tinham permissão de sair com um cliente para fazer amor fora do recinto onde trabalhavam sem parar. No período de carnaval, a ordem era ainda mais pesada. Vigias o bordel tinha por todo o lado para conferir de uma deusa daquele local estava cumprindo as normas estabelecidas.
--- A gente não pode nem fazer xixi, pois o gerente não deixa. – falava uma deusa a outra deusa em voz baixa.
--- Eu vou embora daqui, que é muito melhor. – respondia a outra.
--- Pra onde? – perguntava a primeira dama.
--- Pra qualquer lugar. Longe daqui. Isso tá se acabando. Você sabe disso? - indagou a deusa sem alarmar.
--- É. Os motéis. Estão de ruma espalhados por aí. – respondia a outra deusa.
--- Mas lá, eles não empregam. Você dá o seu telefone e o gerente te chama. – concluiu a deusa.
--- Assim é pior. Ou não? – inquiriu a mais jovem.
No salão, a bailar sobe os acordes de instrumentos de corda as deusas faziam o seu rodopio em torno do seu amado que saltitava de alegria. Vanusa, já pouco alegre, pois a carraspana havia passado com umas doses de uísque, dançava ao léu para também seu amante de alcova cuja barriga imensa não lhe permitia dançar e só observar a sua parceira com seu corpo sensual estando à mostra. Com tais prazeres, o homem gordo, já um tanto ébrio gracejava com os seus companheiros de mesa para conter o afago que Vanusa fazia a ele.
--- Isso é que é mulher. Não a desgraça que tenho em casa. – gargalhava o gordo.
E a dança no salão sob acordes de anjos divinos, continuava com eterna maestria sem modos de terminar. Eram tão brilhantes e acalentastes aqueles acordes que nem os bardos trovadores saberiam dizer predizer quem fizera tal êxito. Os instrumentos de sopro, de madeira, de cordas e de metais acudiam por vezes os mais distantes e méritos instintos onde o acaso não podia acariciar. Em meio de tudo estava Vanusa para todo sempre com o seu amado delirante gracejando a cada instante as suaves contas do amor que o destino escreveu.

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