quarta-feira, 21 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 95

- DESPEDIDA -
- CONTO -
Quando Dino entrou na casa onde trabalhava Francisca, procurou por ela e não a encontrou no seu quarto de dormir. Daí partiu para a cozinha da casa onde a moça estava sentada no chão, entristecida, cabeça pensa para um lado, uma xícara vazia de café que ela ainda segurava. A vassoura estava postada em um canto do lavador de louças. Um balde de se colocar lixo também estava encostado ao lavador. De alegre somente umas plantas de roseiras pequeninas que dormiam como sempre encolhidas nos canteiros. No lavador, apenas algumas panelas vazias. A moça estava calada e calada assim ficou. Não abria a boca para dizer coisa alguma. Aquele era um dia de quarta-feira. Dino estava ali, calado com medo de perguntar o que houvera a bela garota do campo. E assim ficou por alguns minutos, encolhido como sempre fazia, com suas mãos para trás escorado na parede. O homem do pão passara naquela hora oferecendo seus gostosos pães. A moça não de mexeu por conta do homem. Calada estava e calada ficou. Dino foi quem falou:
--- O pão! – alertou Dino de baixa voz.
--- Não vou comprar. – disse a moça com voz arrastada.
--- Você está doente? – inquiriu Dino a moça triste.
--- Não. – respondeu Francisca sem maiores rodeios.
--- O que você tem?. – perguntou o garoto a estranha o comportamento a moça.
---Vou embora. – respondeu Francisca sem maiores explicações.
--- Embora pra onde? – perguntou inquieto o garoto.
Francisca olhou o menino por um tempo e respondeu.
--- Pra lua! – disse ela de forma a não dar maiores explicações.
--- Pra lua? E tem ônibus pra lá? – perguntou o garoto assombrado.
--- Tem. Sai daqui há pouco! - respondeu Francisca com um leve sorriso no rosto.
--- Mentira! – criticou o garoto por demais curioso.
A moça voltou o olhar para Dino e perguntou.
--- Quantas vezes eu te menti? – perguntou Francisca naquela hora de dúvida.
--- Nenhuma. Mas diga a verdade! Pra lua não se vai. – respondeu o garoto esperto com aquela mentira da moça.
Francisca ficou sentada no chão e colocou a face entre as mãos. Não disse a Dino para onde ia. Queria somente ficar ali, sentada, calada sem que ninguém a incomodasse.
--- Vou embora! – disse o garoto.
--- Espere. Fique aqui. Não vá embora. Estou triste, hoje. E amanhã também. – respondeu Francisca começando a chorar lento.
--- Então me diga pra onde você vai? – perguntou Dino mais curioso ainda.
--- Pra casa! – respondeu Francisca enxugando os olhos de lágrimas.
--- Pra casa? Tem gente doente lá? – indagou Dino com espanto.
--- Não. Está tudo bem em casa. Assim eu espero. – relatou a doméstica soluçando de emoção.
--- E por que você vai pra casa? – indagou o garoto tomado de surpresa.
--- Porque é o meu lugar. – respondeu Francisca, olhando para Dino.
--- Eu sei que é. Mas por que você vai agora? – indagou Dino surpreso.
--- Briguei com o velho dono da casa! – respondeu Francisca de modo brando.
--- Brigou com ele por quê? – aventurou Dino a perguntar de repente.
--- Mas você pergunta, não é? – reprovou Francisca o modo do garoto.
--- Só quero saber. Ora. E não se pode perguntar? – respondeu Dino ficando abusado.
A moça olhou o garoto e o abraçou de forma que nunca fizera. Encheu-se de lágrimas e apenas contou o que sucedera.
--- Por um litro de leite. Hoje, eu estava cuidando do café dos dois e, quando vi, o leite estava derramado. Eu penso que foi o gato. Ele fugiu quando me viu. – disse Francisca.
--- Ah. Mas por que você brigou com o velho? – indagou mais uma vez o garoto.
--- Ele veio dizer umas coisas que não gostei. Então eu pedi as contas. Vou embora hoje, de mala e cuia! – respondeu Francisca de forma grosseira.
--- Mas hoje? – indagou o garoto de modo assombrado.
--- Hoje e estamos conversados. Não tenho nem onde dormir. Mas vou assim mesmo! – reclamou a moça por todas essas coisas.
--- Durma lá em casa! – ressaltou o garoto se alegrando.
--- Pode ser. Mas aqui não fico. Gente estúpida. Ele veio dizer por conta de leite que não se podia confiar nessa gente. E eu perguntei a ele: “Isso é comigo?” Ele calou. Eu disse que então ele me desse o pagamento dos dias que trabalhei que ia embora. E agora vou mesmo. Deixo a chave no canteiro onde sei que ele acha. Vou embora mesmo. – concluiu a moça.
--- É danado. Quando tudo estava se ajeitando veio o velho para entornar. – reclamou o garoto cheio de mágoa.
A moça então se levantou do lugar onde estava e passou a mão na cabeça de Dino seguindo para o seu quarto. Não tinha mais o que fazer ali. Arrumou a mala e todos os seus pertences e saiu de casa acompanhada do menino. Ela seguiu até a casa de Dino e pediu para a mulher, Olindina, agüentar até o dia seguinte, pois ela partiria de vez para a casa dos pais.
A dona da casa aceitou o pedido e disse mais que uma pessoa que ela conhecia estava precisando de uma domestica para cuidar da casa, pois essa mulher trabalhava fora e só havia na casa uma mocinha que era estudante. Francisca pensou que nessa casa podia ficar. Na mesma hora, em companhia de Olindina e de Dino, as três pessoas foram até a casa da mulher. Neusa era o seu nome. A mulher não tinha chegado até àquela hora da repartição onde trabalhava. A filha da dona da casa estava ali, com um monte de livros a estudar. A moça mandou que elas entrassem. Brincou com Dino, pois ambos eram conhecidos. Quando deram cinco horas da tarde, chegou dona Neusa. Foi feita as apresentações e acertado o ordenado e dias de folga e Francisca já estava colocada em novo lar. A moça só pediu licença para ir buscar suas coisas na casa de Dino, pois logo estaria de volta.
--- Gostou garoto? – perguntou Francisca sorrindo.
--- Foi melhor assim no lugar de você ir para a lua. – sorriu o garoto.
Para a moça, tudo estava normalizado. Para o menino, não. Ele teria que andar um bocado para ver Francisca onde ela estava empregada. Contudo, ainda lhe tinha Deodora, certamente. Uma vez que não desse certo com Deodora, lhe restava Dalva, mocinha briguenta e cheia de manhas. Naquele instante eles – Dalva e Dino – estavam brigados. Porém, com certo afago, ela voltaria a ser a Dalva que ele sempre quis. Se não desse certo, para Dino era apenas ele poder admirar a mocinha quando ela saia para urinar no beco e olhar para baixo da saia. Nisso tudo o garoto meditou enquanto Francisca, em sua casa, arrumava a mala para ir de vez. Em breve instante alguém bateu a porta. Era Deodora que já deixara o trabalho naquele dia. Ela estava apenas de passagem. Porém, ao saber da reviravolta com Francisca aproveito para entrar, sentar e saber melhor o que acontecera. As três mulheres conversaram por um bom tempo. Em seguida, Francisca, após tomar café com cuscuz, pegou a reta da direção da casa de dona Neusa. Deodora também estava na casa do garoto e quando Francisca saiu, ela também arranjou um jeito de dizer adeus. O pai de Dino estava estudando um livro em Latim, pois prestaria exames no dia seguinte. As moças se despediram e Nestor, como sem jeito disse as duas moças aquele adeus de sempre.

2 comentários:

Paulo Tamburro disse...

ALDERICO,

DESCULPE FUGIR AO TEMA PROPOSTO.

PORÉM TENHO UM CONVITE. LEIA:

"O COMPORTAMENTO SEXUAL DO POVO BRASILEIRO",

QUE É A CRÔNICA/PESQUISA DO BLOG DE HUMOR:

"HUMOR EM TEXTO", DESTA SEMANA.

SAIBA A VERDADE, COMPROVADA SOCIOLOGICAMENTE, E

TIRE SUAS CONCLUSÕES.

VOCÊ PODERÁ NÃO ACREDITAR.

SÓ CONFERINDO.

UM ABRAÇÃO CARIOCA.

Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto. disse...

Alderico,
Os contos publicados no LUZ DO SOL merecem um destaque e divulgação maior para que outros tenham oportunidade de os acessar.
Parabéns.