quarta-feira, 21 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 94

- VOLTA ÀS AULAS -
- CONTO -
Na segunda-feira Dino já estava no Grupo onde estudava em companhia de toda a turma de estudantes anarquistas e barulhentos. Ele procurou ver se Dalva estava ali e a encontrou de certo. Uma coisa estranha acontecera com Dalva, à jovem moça. Ela virou a cara para outro lado como quem não quisesse falar com Dino. O garoto não importou. Porém, na hora do recreio Dalva já ia passando para pegar o lanche quando Dino a encontrou e quis saber o que estava acontecendo. E ela virou a cara para o outro lado sem falar com Dino. Apenas apontou os dos dedos indicadores como forma de Dino cortar ao meio significando que eles, os dois, estavam de mal para sempre. Dino não cortou os dedos. Ele perguntou o que estava havendo. Ela respondeu:
--- Não fale mais comigo. Estou de mal com você. E pronto. – disse a jovem com a cara rude e enfezada.
--- Mas por quê? – perguntou Dino assombrado e sem saber o que levara a jovem a cometer tal ato.
Ela não respondeu. Dino insistiu. A moça procurou a professora e disse que estava sendo molestada pelo garoto. A mulher e nada falou. Dalva saiu em outra direção. Dino a procurou e viu que a jovem moça tinha saído da escola para algum lugar. Com isso ele se refez do que pode talvez porque a moça estivesse enciumada pela viagem que ele deu no final de semana. Quando foi a tarde, depois das três horas, ele ficou a vigiar a casa de Dalva do fundo do quintal, sempre a observar a porta de saída para o quintal. Aliás, na casa só tinha uma porta, pois não havia janela para lado nenhum. Passou-se o tempo e aparece Dalva da porta olhando para um lado e para outro. Não vendo ninguém por perto, ela entrou no beco existente entre as duas casas e foi ali urinar, como era o seu costume. Nesse ponto, Dino saltou de cima do forno que seu pai um dia fizera, e foi para um lado onde só tinha carrapateira e pôs a ver a moça a urinar, como sempre, olhando para baixo do vestido. Ao terminar, levantou a calcinha e já vinha saindo quando se deparou com a figura de Dino.
--- Ai que susto terrível. O que você vai querer seu bosta? – indagou a moça surpresa.
O garoto sorriu e disse com toda a franqueza:
--- Nada. Só queria ver o que vi. – e achou graça até demais.
--- Seu merda. Você sabe que você é um merda? – replicou com muita raiva a moça.
--- Não – respondeu Dino.
--- Pois é. Não fale mais comigo. Tá ouvindo? – replicou Dalva enfezada.
O garoto parecia nem ser com ele. Portanto, perguntou a seguir.
--- E o quarto? – falou Dino sorrindo.
--- Vá pra merda. Sente aqui!!! – e estirou o dedo maio para Dino.
--- Vem cá sinhá puta. Eu quero você. É isso. E só. – falou embrutecido o garoto.
--- Me solta, seu corno! – voltou a falar a moça procurando se desatar do puxão que o garoto lhe dera agarrando pelo braço.
--- Solto não. Vamos pra cama. É lá o seu ninho. – respondeu o garoto com raiva.
--- Vá pra merda. Me solte. Eu grito. – respondeu a mocinha querendo soltar o braço.
--- Grite! Grite! Até que é bom. Grite agora sua vaca! – gritou o garoto.
A mocinha se pos a chorar diante da agressividade do garoto e com um soco soltou o seu braço correndo para dentro de sua casa. E o garoto foi atrás. Quando ela entrou no quarto, Dino entrou também. Ali foi sufoco. Cada um que mordesse o outro. Foi tanta dentada que no fim, a moça caiu de costa sobre a cama e o garoto, em cima dela mostrando enfim que ele era o homem e que mandava também. Após breves minutos o garoto saiu de cima da mocinha, todo ardendo de dentadas e já sem forças também dizendo apenas:
--- Tá vendo quem manda? Sou eu. Pode ficar com ela que não quero mais. – respondeu enfezado e de forma cruel o garoto Dino. Cuspia na cara de Dalva e saiu.
A mocinha limpou o rosto e chorando aos cântaros apenas disse:
--- Bruto! Cruel! Sacana! – gritou Dalva. De qualquer jeito ali havia amor.
Dino saiu pela cozinha e foi para a sua casa. Quando entrou, se encontrou com a sua mãe que vinha saindo da cozinha. Ele nada falou procurando esconder as mordidas no braço que Dalva lhe dera. A sua mãe seguiu em frente quando, de repente, alguém bateu à porta.
--- Quem é? – indagou de forma baixa a mulher. Ela esticou o pescoço e abriu bem os olhos para saber se enxergava de pronto.
--- Boa tarde dona Olindina. – falou a moça de modo a se identificar melhor.
--- Boa tarde. Ah. É a amiga de Francisca – respondeu a mulher já grande desencanto.
Nesse momento Dino estava presente, procurando abrir a porta. Tal porta era de três bandas. Duas que se abria e uma inteira, que ficava fechada. Dino abriu a porta e deu um longo abraço em Deodora segurando a moça pela cintura e se chegando mais para cima de Deodora quase como quisesse chorar.
--- Te ajeita menino. Deixa a moça! – repreendeu Olindina de certo modo brava.
Porém o garoto não se importava com os carões que levava. Ali estava a moça que ele aprendera a amar depois que soube o que ela sofrera e, talvez antes, por seu modo encantador. Deodora olhou bem para o garoto Dino e quase o abraçou com fez da vez anterior quanto o levou para passear no alpendre da casa de Nazareno. De qualquer forma, a moça de nada fez. Apenas saudou a mãe de Dino e lhe entregou dois pacotes bem arrumados lhe dizendo.
--- Tome aqui para a senhora. São pinhas. Frutas do Conde. Está neste embrulho quase ameaçado. E este outro é de sapoti. Eu mesmo os fiz. – respondeu Deodora sorrindo e com o garoto já se desprendendo para abarcar os pacotes de frutas.
--- É pra mim, mãe? – perguntou o garoto cheio de entusiasmo.
--- Sim. É para todos nós. Muito obrigada. – respondeu agradecida ao seu modo a mulher Olindina.
--- Deodora, mãe. É o nome dela! – sorriu o garoto.
Com o correr do tempo Deodora já estava sentada na cadeira de vime que havia na sala com o garoto por perto, em cima do braço da cadeira. A mãe o repreendeu por aquela sua atitude.
--- Sai daí menino. A moça está cansada. – falou Olindina com certo ciúme.
--- Tá cansada não. Ela é forte. – respondeu Dino a sorrir. No entanto, o garoto meio encabulado preferiu sair do braço da cadeira e foi se alojar do colo de sua mãe. Nesse tempo, as duas mulheres conversavam assuntos triviais que Dino não entendia muito bem ou não queria saber. Mesmo assim, ali ficou a olhar fixo para Deodora, moça bela que ele fazia de conta ser uma santa. Por algumas vezes ele tentou recordar o caso do amor perdido que Deodora foi vítima há alguns anos. Mesmo assim, ele calou. Tinha prometido a Francisca nada dizer. E assim, para ele, era melhor não falar coisa alguma para não levantar preocupações a sua mãe. Com alguns minutos de conversa, a moça chamou a atenção do garoto.
--- Sabe dona Olindina. Eu vou trabalhar aqui perto num posto de saúde. Quando precisar, estou as suas ordens. – disse a moça Deodora.
--- Um posto? É o do doutor Mesquita? – perguntou apressado o garoto cheio de idéias
--- Não sei bem. Deve ser. – sorriu a moça de forma delicada.
---Eu ouvi falar que tem um posto aqui. – respondeu Olindina meio sem forma
--- Tem mãe. Tem um posto, sim. – falou de forma surpreendente o garoto Dino.
--- E vai ficar aonde? – inquiriu a mulher quase sem graça.
--- Em uma república de moças. No centro. Perto da Secretaria. Fico nessa república e venho todos os dias. – respondeu Deodora de forma alegre olhando bem o garoto.
--- Assim é mulher. Já ouvi falar na república das moças. É coisa nova. É uma casa encostada a Secretaria.
--- É sim. Por lá eu me ajeito. – disse Deodora olhando demais para Dino.
--- É melhor. Só tem moças por lá. Assim é melhor. – respondeu Olindina de forma sem jeito.
Após um breve descanso, a moça pediu um pouco de água, pois estava com sede. O garoto foi buscar água para Deodora e veio num instante com um copo na mão e uma jarra de vidro com água. Ela tomou um pouco de água e quase sem pressa, se despediu de Olindina dizendo que depois voltaria para visitá-la. A mulher Olindina agradeceu pelos presentes dados e respondeu que a casa estava aberta para quando ela quisesse vir. O garoto, então, correu a porta e se encostou fechado a banda que se abria.
--- Você não me vai deixareu sair? – indagou a moça de forma carinhosa.
--- Não! – respondeu o garoto com a cara cínica.
--- Deixa a moça passar. – repreendeu a sua mãe.
O garoto saiu da porta e recebeu um beijo na testa por conta de sua obediência. Em seguida a moça se despediu e foi até a casa de Francisca, sua amiga que ficava perto da casa de Dino. O garoto foi em seguida com Deodora para ver a sua namorada da cidade, Francisca, que ainda não vira naquele dia.

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