terça-feira, 20 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 92

- PENSAMENTO -
- CONTO -
Na noite daquele sábado, Dino tomou café com cuscuz, pamonha, bolo que nem se lembrou que o pão não estava presente. Além disso, ele comeu também um pedaço de queijo de manteiga dispensando o leite misturado com café. Daquele instante em diante ele podia dizer muito bem que estava de bucho cheio. O velho Nazareno era contente com o garoto e sempre dizia:
--- Coma mais! – falava Nazareno a sorrir.
--- Quero não. – respondia o garoto já um tanto pesado na barriga.
Após o jantar, Francisca e Deodora foram lavar os pratos dispensando a ajuda de dona Maria, mãe de Francisca. O garoto Dino saiu com Nazareno para passear pela varanda. Noite ainda de lua já em plena altura, ele viu as cabras a chocalhar por perto, além de algumas reses que ainda estavam por perto. O menino perguntou a Nazareno por ampla curiosidade:
--- É grande aqui? – perguntou Dino nem tanto preocupado.
--- Ave Maria. É o fim do mundo. Vai daqui até lá longe. Muito grande, sim. – falou o velho para satisfazer a curiosidade do garoto.
--- É tudo do senhor? – perguntou o garoto.
--- Meu? Quem me dera. É do Coronel Bevenuto. Ele que é o dono de toda essa gleba. – respondeu Nazareno puxando o seu cachimbo para baforar.
--- Toda essa o que? – perguntou o garoto estranhando o que disse o homem.
O homem sorriu para poder responder.
--- Terra. Essa terra. É dele. Gado, tudo. Eu só tomo conta. Ele mora lá nos confins do Judas. -respondeu Nazareno poço mais seria a olhar o rebanho que pastava no campo.
--- Quem é esse outro homem? – indagou o garoto cismado com a conversa.
--- Que homem? O coronel? Ele é o coronel. Herdou tudo isso do seu avô – explicou Nazareno se curvando para encostar-se à mureta de madeira do alpendre.
--- Não. Esse Judas! – perguntou Dino um pouco azedo.
--- Ah Sim. Judas? Judas é uma historia antiga. Quando se diz que ele mora nos confins do Judas, quer dizer muito longe. – explicou Nazareno dessa vez todo escorado na mureta do alpendre.
--- Ah sim. Agora entendi. – respondeu o garoto.
E Dino ficou também escorado na mureta do alpendre como fazia Nazareno. O tempo passou Nazareno olhou a lua, seu cachorro estava por perto a se coçar a vida toda, e, por fim, o velho chamou o garoto para os dois irem para frente da casa, onde o homem se sentaria na cadeira de balanço a pontilhar o violão sem ter nada para tocar. Era só bater nas cordas e ele com o rosto pra cima, cabeça vaga a escutar apenas o som daquele violão plangente.
Após as 9 horas da noite, todos foram se deitar. Era o fim do inicio de uma jornada que continuaria, com certeza, no domingo, dia seguinte. Os empregados do cercado estavam ainda acordados e ficariam assim por quase a noite toda. Eles tinham o dever de tirar o leite das vacas e das cabras. Alguns daqueles homens colhiam o leite para fermentar e fazer o coalho. O garoto, apesar da hora, não tinha sono. E disse a Francisca que não podia dormir com o chocalhar das cabras perto da janela.
--- Não se importe com elas. Durma. – falou Francisca de forma dolente.
Após a janta, Deodora arranjou as roupas que ela trazia da capital e rumou para a sua casa bem distante, morando quase na cidade. Ela mesma foi quem disse ao garoto enquanto faziam a janta. Após lavar e enxugar a louça, Deodora se despediu de todos e de sua amiga Francisca saindo para a sua casa sob as vistas de Dino que a olhava com certa ternura e afeição.
Quando o galo cantou bem próximo a janela, era à hora de acordar. E foi o que Dino fez apesar de todos já estarem acordados, trabalhando a cozinha, fazendo tapiocas, bolos e beijus. Ele procurou o pinico no quarto, mas não o encontrou. Fez carreira para o banheiro onde urinou a vontade. Era como se o céu tivesse sido aberto. Naquele momento ele se lembrou de Deodora que fora embora para a sua casa na noite anterior. E perguntou a si mesmo:
--- Será que ela vai com a gente? – indagou mentalmente o garoto Dino.
Depois que ele saiu notou, de imediato, Francisca fazendo pamonha e tapioca. Ele ficou a observar o que a moça fazia postado de longe do fogão em um local da sala. De repente, a moça olhou para trás e notou a presença de Dino. Nesse instante ela falou:
--- Já está ai menino? - falou Francisca com um sorriso na face.
O garoto, escorado na parede, com as mãos para trás respondeu com um sorriso, apenas. E voltou para a varanda procurando seu Nazareno, pai de Francisca, que, com certeza, provavelmente estaria na entrada da casa. O garoto foi até a entrada e não o encontrou. Tinha apenas um vaqueiro puxando uma vaca em direção ao fundo do terreno que era verdadeiramente imenso. O garoto ficou desapontado e sentou na beira da calçada pegando um pedaço de pau e ficou a desenhar no chão algo que vinha a sua cabeça. Coisa sem importância. Ele continuou assim de cabeça abaixada por um breve espaço de tempo. Somente se levantou, quando Francisca chegou e convidou para tomar café. Ele, um tanto acabrunhado por ter passado por tal decepção de não encontra Nazareno, se levantou, bateu nas próprias nádegas para tirar alguma sujeira e ajeitar a calça que vestia e entrou acompanhado da moça. De imediato, Francisca deu uma tapa nas nádegas do garoto. Ele sorriu. Na mesa, tinha de tudo um pouco. Dino sorriu para Francisca e sentou em uma cadeira de palha onde pôs o café e colheu uma tapioca. Depois de comer tal tapioca, se arvorou numa pamonha. Com isso estava de barriga cheia. O tamanho da tapioca era salutar e ele não precisava de mais nada.
--- Leite? – perguntou dona Maria mãe de Francisca.
--- Run-run. – disse o garoto querendo sorrir sem poder, pois a boca estava cheia de pamonha.
Francisca sorriu a valer. E ele saiu correndo para fora para se livrar dos gases que podiam ser maus cheiros como ele pensava. A moça então chamou de volta.
--- Menino! Vem cá! – chamou Francisca inquieta.
Ele não respondeu, pois estava experimentando soltar os seus gases e ver se eram ou não maus cheiros. Após um breve tempo, o garoto voltou, tirando dos dentes o resto da pamonha.
--- Voltei. – disse ele com a cara sem vergonha.
--- Pra onde você foi? – perguntou Francisca.
--- Ali fora. – respondeu Dino com a cara deslambida.
Por volta das oito horas, Francisca encilhou o burro e chamou Dino para dar uma volta por todo o terreno do sitio. O menino obedeceu e subiu na garupa do burro. A moça disse a Dina:
--- Ai não. Na frente. – falou a moça com carinho.
O garoto trocou de posição e eles começaram a caminhada. Passaram pelas vacas, bodes, cabras, galinhas, perus, gansos e até mesmo tatus. Seguiram em frente no burro até entrarem em um matagal onde não tinha mais ninguém. Era mata fechada. Depois de andarem um bom trecho a moça topou com uma choupana feita de reboco com as velhas portas trancadas.
--- É aqui. Desça. – disse Francisca alegre.
--- Desça pra onde? – perguntou o garoto meio assombrado.
--- Desça. Ora. Vamos entrar na casinha. – falou a moça com um ar de quem sabia o queria fazer. Então, agarrou o garoto pela cintura e entrou na casa. De lá só saíram quando era quase meio dia. Em um ato de frenesi por demais vibrante a moça se refez das suas necessidades que a atormentavam por aqueles longos e indecentes dias.

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