sexta-feira, 2 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 73

- SENSUAL -
- CONTO -
O seu nome era Odete. Pelos menos era como as deusas da noite a chamavam. Sensual, eternamente lasciva ela era o universo carnal entre todas as damas que por ali passaram ou estavam onde qualquer homem lhe daria o reino por um instante de amor. Odete chegara aquele bordel fazia alguns meses. Talvez dois talvez mais. Quando apareceu pelo lupanar, ninguém notou a sua verdadeira sensualidade. Afinal, todas que estava ali eram mulheres também. Alguns homossexuais. E dois ou três homens de verdade. Tais homens já estavam com as suas meretrizes. O surgimento de mais uma mulher não lhes fazia diferença. Com roupas sem brilhos e vaidade, vestindo uns meros trapos qualquer a dama queria apenas um lugar para poder dormir. Em contrapartida, ela faria o que o dono da casa mandasse. Essa era a regra, esse era o ritual de todas as damas que ingressavam na vida de meretriz. O seu passado, ela preferia não falar. Quando alguém lhe perguntava de onde era, era respondia:
--- De muito longe. Lá nos confins. Longe mesmo. Não vale a pena dizer. – falava Odete
Longe ou não, ela era naquele momento uma mulher vestida de trapos. Ouvindo bem o que lhes diziam os homens da casa, ela apenas obedecia ao dizer:
--- Som senhor. – voz de Odete.
O lupanar era de um sujeito bastante rico que nunca aparecia no local. Todo o apurado do dia lhe era fielmente depositado em um Banco por outro homem que se fazia de dono do randevu. As damas não conheciam o verdadeiro dono do salão. Alguns nem perguntavam quem era ele. Todos viviam do prazer de encantamento provocante das belas damas e, isso, era tudo afinal.
Com o passar dos dias apareceu por lá um jovem rapaz que todos os presentes, até mesmo a gerente que tomava conta das damas, o chamavam de “Padre”. Ele chegou como sem querer chegar e se bancou em uma mesa um pouco afastada do salão. As mulheres acorriam para ter com o “Padre” e este não dava a maior importância ao que elas ofereciam.
O “Padre” cujo nome era Elias, coisa que pouca gente sabia, tinha sido seminarista de um Convento e, depois deixou tudo de lado invocando que não tinha prazer para ser padre de verdade. Mesmo assim, na rua por onde seguia, sempre com livros debaixo do braço. Os jovens que por ali estava haviam de lhe chamar de “Padre”. E por “Padre” ficou a sua fama de alguém que era de parcos recursos, pois todo o dinheiro que recebia da repartição pública onde trabalhava, ele gastava boa parte na aquisição de livros acadêmicos ou não. No bordel, o Padre estava por lá todas as semanas, sempre na sexta-feira ou no sábado. Ali o Padre preferia ler o que estava em seu braço e assim, se defendia do assédio das mulheres e até mesmo dos homossexuais, porção que ele chamava de “marica” ou homens “fracos” e “medíocres”.
Certa vez, onde ele estava só, bebericado seu copo de uísque, se acercou dele a jovem Odete, já com uns trapos novos, porém modestos. E ali a jovem perguntou ao “Padre” se podia sentar apenas para olhá-lo.
--- Sente. Faz favor. Não se importe comigo. - disse o “padre” com a sua voz branda.
Então a jovem se acomodou, sentada em frente ao “Padre”, com as mãos apoiadas ao queixo, olhos atentos, cabelos loiros e finos, boca de uma sensualidade sem par, temendo ser repreendia por alguém. Mesmo assim, Odete estava ali. Sorridente e cheia de encanto, a qual o “Padre” em nada se deslumbrou, a dama somente estava fazendo “salão” enquanto o moço se deleitava na leitura e não raro sorria. Foi num desses momentos que, a dama querendo despertar a curiosidade do “Padre”, então lhe foi à prova.
--- Que livro é esse? – perguntou Odete de forma sensual.
--- Um livro. Olhe. – e lhe pôs o livro a sua vista.
Ela apanhou o livro e folheou com certo cuidado e o entregou de volta, dizendo.
--- Um livro. De certo que o nome não chama lá muita atenção. – responde Odete.
--- O MORTO. – proferiu o Padre.
--- É. Interessante. Mas não vale a pena sorrir por causa de um morto. – disse Odete
--- Engana-se. É neste contesto que está o que me fez sorrir. – contestou o ”Padre”.
--- Eu bem podia ser a “Freira”. – respondeu Odete a sorrir.
--- Como? Por que “freira”? – perguntou o “Padre”
--- Por nada. Besteira minha. Você é o Padre e eu seria a Freira. – respondeu Odete.
--- Ah sim Entendi. Mas me chamam de “padre” por outros motivos. – relatou Elias.
--- Eu sei. Ouvi falar. Interessante. Mas vale a pena. – falou a mulher.
O homem ainda estava distraído no texto do seu livro que nem prestou atenção ao que a jovem moça ou mulher da vida dissera. E continuou a ler um seu novo livro, “O Morto” que ele adquirira naquele dia.
--- O que foi que você disse? – perguntou Elias.
--- Nada não. Tolice minha. – sorriu a dama.
--- Ah bom. Faz tempo que você está aqui? – perguntou o “Padre”.
--- Aqui ou no bordel? – inquiriu Odete.
--- No bordel. Desculpe. Fui mau na expressão. – disse o “Padre”.
--- Dois meses, mais ou menos. – respondeu Odete um tanto seria.
--- Por que não sai dessa vida? – perguntou Elias, que acabara de fechar o livro e se voltar para moça de vez.
--- Não paga a pena. Sair só se for com você. – replicou sorrindo a dama da noite.
--- É de se pensar. – concluiu o “Padre, olhando as vestes da jovem carente de algo mais.
E os dois entraram em conversa mais amena, Odete falando de sua vida de meretriz e o “Padre” apenas a escutar com toda a atenção os sermões da mulher. Passaram-se horas naquele mesmo ambiente onde a conversar às vezes esfriava e o “Padre” procurava fazer arder mais ainda o fogo das intenções da dama. Pelo meio da noite, eles foram a alcova onde Odete tinha o seu incomodo “lar” para ali aconselharem-se com maior carinho. O “Padre” era um homem simples, porem garboso. Fizeram amor como se fazia a qualquer dia ou hora. Ela não teve a menor emoção em fazer aquele ato com o “Padre”. Porém, foi ai que a historia mudou de rumo. Elias, então, ao saciar a sua extrema vontade pediu a jovem:
--- Case comigo! – falou Elias.
--- Como? – falou Odete alarmada com o pedido feito àquela hora da madrugada.

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