terça-feira, 6 de abril de 2010

LUZ DO SOL - 77

- LUAR -
- CONTO -
Extremamente bela, a mocinha como todos na fazenda a conheciam como apenas Luar saiu naquela manhã de primavera por entre os deleitosos pés de cafezais onde ninguém a veria, e ali se masturbou na ânsia do desespero clamando por alguém que não vira nunca mais. Era o seu prazer incontido o de se seduzir ao amanhecer na fazenda de seu avô, rico proprietário de terras e de cafezais. Sua cor morena era como o sangue que lhe untava as veias. Filha de uma bela mucama ainda jovem quando a concebeu, a ninfa foi criada na própria casa dos pais e avós como uma jovem rica e doce igual às açucenas. Manhã de sol, Luar andou a esmo pelos quintais de plantio de cafés onde tudo era cheiro de amor eterno. O aroma que os cafezais faziam era como um tépido sentido de puras rosas primaveris. O seu amor fugidio fora embora para a grande metrópole em busca de estudos e ela ficara ao relento, apenas ficando a lembrança do seu terno amado. Nos leirões dos cafezais, Luar se completou em êxtase ao sentir a lembrança do voluptuoso amado com quem ela fizera inúmeras vezes amor em seu brando chão arroxeado onde os demais empregados jamais teriam que vir a colher café naquela época do ano. Luar lembrava o perfume aromatizante dos cafezais no gosto de sua paixão que lhe incendiara.
O vestido que estava a usar, ela arrancara e agitara ao leu ficando nua inteiramente despida apenas com o fogo do seu corpo. Nos estertores da ânsia, a noiva do tempo apenas ansiava por seu divino e ardente amor, longe dos olhos da sensual mulher. Foi um tempo de melancolia aquele pelo qual a meiga morena passava nos arrabaldes da fazenda. Ao final de tudo Luar copiosamente chorava por ter feito na ânsia do amor eterno o desprazer de se mitigar por tanto atento desamor.
--- Ô meu lindo amor. Onde você está? – narrava ela consigo.
Na náusea do desespero, Luar voltava a colher as suas vestes espalhadas por entre os cafezais recheados de pomos de frutos. Extenuada por tanta amargura sentida, ela enxugava as lágrimas do seu rosto ao tempo em que juntava vagarosamente o parco agasalho que até então sacudira para o alto. A se ver tão nua, ela sentiu remorso.
--- Por que, amor? Por quê? – perguntava Luar à aragem.
De forma lenta, Luar voltou para a fazenda ao tentar se recompuser do que acabara de cometer em seu próprio corpo. Os homens da lida procuravam fazer o seu lavor em outras partes dos cafezais. De onde vinha à jovem, não se avistara mais ninguém, pois não havia por lá café pronto para colher. Alguém perguntou a jovem por onde ela andara, e a jovem respondeu simplesmente:
--- Por ai. Na fazenda. Nos cafezais. – disse isso e saiu ao banheiro.
Quem perguntou ficou a olhar a jovem um pouco desconfiado. Esse alguém nem saberia dizer o porquê de tal desconfiança. Talvez a moça estivesse de outro namoro com algum empregado da fazenda. Talvez sim. Talvez não. E ficava com certeza a duvida da cabeça desse alguém. A linda jovem Luar era apresentada como uma púbere da própria casa e ninguém ousava dizer que ela era filha de uma mucama. Por isso, o seu pai nem se importava com o que a filha fazia nas horas vagas. O avô, já velho, em nada se metia e tinha a jovem como sua própria neta, filha de um filho dele. Não raras vezes, o velho avô pedia à neta que lesse algum artigo que lhe dizia interesse. E ela, obediente, fazia a vontade do avô. Sua mãe morrera fazia alguns anos de uma “tal doença braba”. Na verdade, a mãe de Luar morrera de câncer, fato que não se falava por aqueles tempos.
Quando a mãe de Luar estava a beira da morte, lhe segredou o que de fato acontecera na casa da fazenda. E pediu pelo amor de Deus que ela não dissesse a ninguém o que lhe confessara. A jovem ficara por demais assustada com aquela revelação feita a hora da morte pela mucama. Fato que nunca pensara na verdade. Nesse dia Luar chorou. E a moça ficou por vários dias de plena e absoluta melancolia ao se lembrar do que dissera a mulher no fim dos seus dias de vida na fazenda. Apesar de que ela soubesse da sua origem materna, outra pessoa não caberia dizer desse acontecimento. Luar era tido como neta do velho e ponto final.
No sepultamento de sua mãe legitima, o seu pai esteve presente como também o seu avô, avó e mesmo a mãe adotiva e algumas irmãs. Nem todas estavam presentes ao velório e sepultamento da mucama pelo fato que outros mais estavam residindo na Capital. A mãe de Luar foi sepultada no tumulo da própria família dos Hortênsios. Dias de prantos e muitas lágrimas. A mãe adotiva de Luar fazia a vez de uma mãe legitima. À Luar, ela jamais comentou a respeito da origem filha amada. Para todos os efeitos, ela era a verdadeira mãe da jovem. Suas duas outras irmãs que talvez soubesse de algo, nunca teceram explicação alusivas. Apenas a mãe biológica quando estava a morrer, confessou a filha a sua vida e a razão de todos não falarem coisa alguma a respeito do assunto. Por isso, Luar também calou.
O seu jovem amado era um filho de fazendeiro que morava na mesma região. Eles se amavam desde criança. Brincaram de esconde-esconde e de outras brincadeiras de meninos e com o tempo os dois se viram apaixonados. Certa vez, Luar e seu namorado foram até ao cafezal onde ambos fizeram sexo à luz da lua. Era noite de pleno verão. Lua cheia. Amor intenso e eterno. Desde esse tempo, os dois sempre estavam agarrados no meio do cafezal até o dia em que o rapaz disse que teria que viajar para a Capital. Luar chorou. Chorou demais. Eterna melancolia. Após tantos anos de infância e de namoro, ele teria que partir. E ela ficaria só. E foi assim que se deu. Em momentos de desespero Luar voltava sempre ao cafezal e ali matava a sua vontade e a recordação do jovem eterno namorado. Naquele dia, também.

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