quarta-feira, 31 de março de 2010

LUZ DO SOL - 71

- CAROL -

- CONTO -

Há alguns anos Carol viveu o máximo de sua beleza e feminilidade. Nos bailes dos elegantes clubes sociais ela era presença marcante com suas vestes ricas e insinuantes. Enfim, era uma diva brilhante ao sabor dos que mais cobiçavam a sua extasiante figura de mulher inevitável e fatal. Valsa, então, era o seu marco forte em meio a um burburinho daqueles que lhe faziam roda a um cálice de champanhe e uns delicados salgadinhos apetitosos feitos de onerosos crustáceos, evento rico para o paladar dos freqüentadores dos salões de baile. Nos tempos saudosos de Carol, havia um belo e impetuoso jovem que marcaria os seus encantos ao lado dos mais ambiciosos moços dos quais a moça não se apartava jamais. E foi em uma noite de seus maviosos encantos que Otávio teve o marco de sua melhor presença. Aproveitando o momento de embriaguez da admirável mulher, o jovem envolveu-se em plena sedução ao seu redor elevando a dama nos seus mais imagináveis sabores de extasiantes cortes. Pela vez primeira a dama deixou-se cair nos atrativos de Otávio.
Ao amanhecer de um domingo, Carol viu então que estava ternamente abraçada ao seu eternal namorado que ele a conseguira atrair para a sua alcova repleta de cetim. De augusto e soberbo local Carol se sentia a apenas uma pequenina mulher. Notara apenas que o seu amante ainda dormia. Ela, porém, estava a despertar, com o gosto amargo de champanhe e a vontade eterna de vomitar tudo o que saboreara na noite que passou. Carol também observara que estava totalmente despida. Então, sem mais um, porém, ela se largou para a cabine de vaso sanitário e ali vomitou tudo o que tinha em seu estômago por entender que, então, era uma simples mulher. Após vomitar o que podia a mulher caiu em lágrimas:
--- Detesto! Detesto! Detesto! Canalha! Aproveitou-se de minha embriagues. – dizia baixinho.
O dia era de chuva. Plena chuva. Ninguém se atreveria a locar, pois era somente eterna chuva. Carol viu isso através da cortina da janela onde residia Otávio. Ele a levou para o seu luxuoso e brilhante apartamento as altas horas da madrugada quando já ninguém habitava pelos corredores das ruas. Mesmo assim, Carol não se lembrava de coisa alguma. Apenas, quando acordara ela se viu desprotegida de todos os seus luxuosos adornos.
Sem temer coisa alguma, Carol agarrou de um estilete e foi até onde Otavio dormia e golpeou por várias vezes em seu peito. O rapaz acordou com a dor da morte e tentou por vários momentos aplacar a ira da mulher que não se satisfazia. Era o homem e a mulher. Ela esfaqueando a ele. Com o tempo, o rapaz desfaleceu e caiu mortal. Ainda assim, Carol lhe desfechava outros golpes por toda a parte de seu peito até esmorecer de cansada, deixado o estilete cair de suas mãos.
--- Pronto cretino! Era assim que querias? Asqueroso! Viu! Repugnante! – clamou a mulher totalmente ensangüentada.
Otavio, já sem vida, emborcara na cama onde seus músculos das pernas estremeciam para a morte. O coração todo esfacelado, já não pulsava. Carol olhava o feito que acabara de executar. Ela então caiu no chão, protegida com uma toalha de felpo, com as pernas encolhidas, a cabeça pendendo nos trêmulos joelhos e as lágrimas descendo aos borbotões. A mulher por fim se sentia vingada pela ultrajante forma com que o rapaz a possuíra. A chuva caía mais forte na rua e o vendaval entrou pela janela do quarto de dormir arrebatando tudo o que tinha pela frente. A janela bateu com rigor, freneticamente, esvoaçando papeis e livros pelo enorme dormitório de Otávio pondo em estado de temor a jovem mulher Carol. Foi isso por um breve e seguro instante e Carol temeu a ventania que se fez presente. Frio cruel que a jovem mulher sentiu. Carol se encheu de temor por conta do temporal que fazia com ventos fortes e mais que isso.
--- Que ventania! – pensou Carol.
E a mulher procurou fechar com todo o seu esforço as janelas que foram terrivelmente abertas por aquele vendaval. A toalha que embrulhava Carol findou caindo no tapete deixando-a inteiramente despida. Ela estava fechando a janela e quando viu a sua nudez comprometida e agachou-se para apanha a toalha e subir com impulso para cobrir os seus peitos até então desnudos. Isso se deu por mais de uma vez e a mulher não tendo resposta apenas clamou:
--- Merda! Merda! Merda! – gritou Carol.
O zumbido frenético da rajada de vento não deixava a mulher alcançar a paz por um segundo. Por fim, Carol agarrou-se ao peitoril da janela e assim teve forças para fechar de tudo a vidraça. Por fim, buscou se assear por completo do sangue do morto que ainda cobria o seu corpo. Ela abriu o chuveiro para tomar um banho quente, uma vez que o tempo chuvoso esfriara todo o ambiente. Um banho salutar não fora o cadáver de Otavio que continuava deitado da cama de casal. Ela estremeceu com medo do homem não estar morto e vir a ter novamente ao seu lado. De imediato, Carol fechou a porta do banheiro e voltou ao seu banho reconfortante. Nesse dado momento, algo despencou dentro do banheiro. A jovem se assustou por completo. Carol procurou ver o que havia ocorrido e viu os materiais de asseio que o rapaz guardava naquele local. Todos os materiais despencaram e estavam espalhados pelo chão. O susto incrível tomou conta de Carol. E ela se pergunta:
--- Como pode? – indagou Carol.
A chuva bramia mais forte ainda. De cima do prédio do apartamento havia água caindo aos borbotões. Ali e em toda vizinhança. Era uma calamidade sem par. A mulher, apavorada temeu pelo pior.
--- O tempo está horroroso! – balbuciou Carol.
Em pura coincidência, do lado de fora do banheiro veio um barulho surdo e esquisito. Era a gota de água que faltava. Aquela zoada tremenda como que não era possível. Carol, de repente, veio à porta fechada do banheiro e ficou desamparada a escutar o que podia ter sucedido então. Porém nada mais fez tumulto. Carol tremia de medo por tudo o que acontecia. O morto na cama, os barulhos na janela, a sua roupa molhada, os perfumes, sabonetes e xampus derrubados. Então, aquele barulho ocorrendo sem maiores explicações. Após certo tempo de escuta arrepiante, Carol resolveu abrir a porta do banheiro. Ela olhou e não viu coisa alguma. Marchou para a sala, e nada de anormal. Ela bisbilhotou em outros locais do apartamento, e tudo estava em paz. De repente, Carol chegou ao quarto onde Otavio estaria morto. Qual não foi sua surpresa: os restos mortais de homem haviam desaparecido do lugar, na cama em que ela o deixou. Uma voraz pancada em sua fronte e a mulher desmaio de vez.




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