quarta-feira, 3 de março de 2010

LUZ DO SOL - 43

- CARINA -
- CONTO -
O seu jeito arrebitado de andar e de falar já deixava Patrício com seu ar de delinqüente a ferver a flor da pele. Coisa alguma de eterna atitude fazia Carina ficar de modo mais suave ao discorrer os seus pensamentos sempre explosivos como quase todas as mulheres do interior que vivia de uma função de plena dona do mundo, como Carina se sentia em seu altar dos prazeres. Jovem, bela, atraente a mulher tinha de tudo para se jogar aos pés de um senhor de terras. Mesmo assim, ela, Carina, não cabia neste trono. O seu modo de andar deixava os senhores de terra estupefatos em querer poder lhe acariciar, para a sorte de Patrício, um “cafetão” que governava parte das mulheres de alcova daquele ambiente. E neste círculo estava Carina. Contudo, ela não se importava com o ganhar ou não do bom ou mau dinheiro que se fazia nos eternos cabarés de uma cidade interiorana. Bem decotada, cabelos soltos e longos, pele macia, rosto encantador, olhar miúdo, sobrancelha bem feitas, boca miúda e esplendorosa, nariz atrevido, assim era a mulher que todos a desejavam e não podiam ter. Só alguns e quem ela quisesse podia coabitar o seu recinto de amor. Ao ver tudo isso, Patrício ficava nos estertores da morte e só apelava para a bebida como forma de esquecer aquela mulher e o salutar dinheiro que ela faria com os senhores de terras, os mais procuradores de mulher trivial. Se algum homem perguntasse a Carina por quanto ela ficava com ele, lá vinha a resposta:
--- Não lhe interessa! – dizia a mulher.
--- Mas, uma vez só! – perguntava o desatento homem.
--- Vai dar! – respondia Carina.
E assim a mulher vivia. O cabaré “Pomar das Deusas” era o recinto mais atraente do seu lugar. Vinda de família pobre, desonrada pelo próprio pai, a mulher, logo cedo de sua vida tornou-se a exuberante dama de lupanar daquela simples cidade no meio do interior. Ela conheceu outra mulher que se chamava de Orquídea que a levou para habitar o “Pomar das Deusas”. Antes disso, Carina perambulou do outros locais menos descentes a procura do ganha-pão para assim poder viver. Esteve amigada por algum tempo com outro rapaz de idade aproximada a sua e o deixou por questão puramente sexual, quando o jovem lhe fez certas propostas, a seu ver, indecorosa.
--- Por trás nem o fela da puta que fez o que quis. – respondeu Carina embravecida.
E assim, sem mais nem menos, deixou o camarada com quem ela vivia e saiu a rodar por cantos incertos até encontrar Orquídea com quem teceu célebre amizade. Com relação a Patrício, ela foi orientada a ter um cafetão, pois ele lhe dava garantia de ganhar mais dinheiro com os pobres homens donos de terra da região. E Carina aceitou a oferta de certo modo salutar. De tudo o que fazia na noite, uma parte ficava para Patrício que ainda tinha outros rendimentos de mulheres que habitavam o lugar. Mesmo assim, Carina não se fez de rogada. De tudo o que fazia, nem mesmo a parte do leão corria para as mãos do seu “homem”. Ela ficava com a parte bem maior que deveria dar ao cafetão. E foi assim, que a bela morena foi se fazendo na vida. De certa vez, conversando com Orquídea, ela foi orientada para ir morar na capital, pois seu jeito de amar, andar até mesmo debruçar era o melhor imaginável para os homens ricos da cidade. Com 20 anos de idade, ela chegou à capital procurando uma “pensão” de esmerada qualidade. E logo a encontrou. Antão, em pouco tempo, Carina estava feita da vida colhendo os frutos que já plantara durante sua curta existência de mulher de cabaré. Todos os homens a aplaudiam com esmero e qualidade por ser aquela jovem mulher da vida uma esplendorosa dama de esmerada qualidade.
Nos salões onde Carina estava os eternos namorados da mulher a queriam apalpar as suas nádegas, braços, coxas antes mesmo de alcançar a maliciosa parte maliciosa que cada qual só teria vez na real alcova entre coberta de estilo luxuoso atapetada de esplendor onde a pura e infantil jovem se acaba envolvida em aventuras e meigas depravações. Os cantos das paredes desciam cobertas de cetim acortinando total o ambiente. Em plena luz do candelabro sobre a cama alcochoada escorregavam plenas róseas lacrimais que adornavam as teorias da libertinagem de modo a aconchegar os corações delirantes. De tudo havia na alcova de Carina, a linda e encantadora mulher que habitava naquele local de depravação sensual. Penteadeiras com variadas marcas de essência e de perfumes aromáticos, um dossel pendurado com cortinas bancas criando um verdadeiro ninho provençal do estilo Século XII da França. As cortinas serviam para proteger os seus nobres ocupantes em úmidos tempos de frio. Tudo ali eram charme, elegância e estilo. E a dama da noite, delirante e amada dava a seu amante um pouco do amor perdido ou nunca encontrado.
Com seu estilo de nobreza, Carina, charmosa, amável e expressiva, muito criativa e um tanto curiosa tinha certa dificuldade na concentração e como gostar de compartilhar com tudo e com os outros. Mesmo assim, ao sabor de sua existência, ela continuava a amar o outro alguém que buscavam no seu lacrimejante amor um pouco de doçura para o seu desprovido amargo ser. Na alcova, aquela mulher era inebriante e explosiva igual fera embravecida até os estertores do encanto. Depois de tudo, a saudade de certo amor que não se fez por completo e que deixou para sempre no eterno envelhecer do seu apogeu da glória. Para a perene vida que passava, Carina vivia a vicejar com abundante força a espera de um nobre cavalheiro onde o universo escondia para o seu inacabável saber. Um dia chegaria a ela esse nobre cavalheiro de escol, se na verdade existisse.

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