segunda-feira, 1 de março de 2010

LUZ DO SOL - 41

- NINA -
- CONTO -

Essa história começou assim. Antônio Felix era um homem de fazer qualquer coisa que se pedisse ou mandasse. Alto, forte, corpulento, cara enfarruscada, dentes amarelos tendo a dentadura completa, mãos fortes, cabelos por todo o corpo, pés chatos. Era mais ou menos assim o homem. Na sua vida já passaram várias mulheres e com nenhuma delas Antônio casou. A última mulher de sua curta ou longa vida – Antônio estava com 53 anos – fora a mulher de vida alegre que todos a chamavam de Nina. Seu nome, na verdade, era Antonina. A mulher ainda era bem jovem, com seus 26 anos. Os dois brigavam a vida toda. Quando menos se esperava, lá estavam os dois em contenda. Ninguém se metia, pois Antônio era valente como o cão e todos, na rua, o temiam. Quando ele estava de mau humor, era coisa feia. O homem descia pela rua onde morava, trombudo, cara feita, chapéu atolado na cabeça, cuspindo de lado e fazendo as mais maluquices da vida, balançando as mãos para cima e para baixo. Era assim que Antônio Felix vivia, a gesticular por sabe Deus o que. No dia em que começou a nova briga, quem morava por perto escutava o que se passava colando o ouvido na parede da casa e morrendo de achar graça pela confusão que começara. E essa confusão daquele dia teve um tempo demorado como o homem a perguntar:
--- VAI DAR? – voz de Antônio.
--- NÃÃÃÃO! – respondeu Nina.
--- QUER DIZER QUE NÃO VAI DAR? – pergunto Antônio.
--- NÃÃÃO! Nem que me mate! Pronto! – estourou Nina.
--- SINHA PUTA! EU TE REBENTO A CARA! – falou o homem.
--- POIS ARREBENTE!!! ARREBENTE! BATA QUE EU QUERO VER! – bradou a mulher.
Com a força do demônio, Antônio Felix, meteu-lhe a mão pra cima. Pegando no rosto da mulher, que sem poder se agarrar em coisa alguma se postou em cima da cama, que o leito dilatou com o impacto do corpo sobre seu lastro. Tão logo caiu, Nina se levantou com fúria assassina para enfrentar a fer. Chamou dos mais pelos agressivos nomes como se aquilo satisfizesse o seu ego e o homem lhe deu novos tabefes e socos do rosto para a mulher novamente cair ao chão. Nina não se dava por vencida e partiu para cima de Felix, agarrando-lhe a garganta como toda força. E o homem, de qualquer jeito se depreendeu. Uma forte bofetada fez a mulher ir ao chão novamente. De imediato. Felix agarrou de uma peixeira que colocada em cima de um balcão e partiu sobre a mulher desferindo não se sabe quantos golpes, pela barriga, pelo peito, braços, coxas enquanto a mulher se debatia extenuada gritando aos berros, pedindo por socorros a quem a pudesse ouvir. Então, sem mais resistência, ferida de morte, Nina calou.
--- PUTA! –disse Felix.
Nesse mesmo instante, uma verdadeira multidão entrou na casa de Nina para desapartar a briga do casal. Quem entrou no quarto viu Antônio completamente nu, mostrando todo o seu corpo melado de sangue de sua mulher. Algumas mulheres saíram com medo e um rapaz de seus 25 anos, viu o que Felix tinha feito e partiu contra o homem desferindo uma só cutilada no peito, vendo o homem cair para trás gritando nos estertores da morte.
--- Você me matou seu corno! – rompeu Felix mortalmente ferido e se agüentando na cama, rolou por sobre a sua mulher já morta e totalmente nua também. Vendo o que tinha feito contra o criminoso, o rapaz saiu de casa a correr, gritando em desespero:
--- Matei a fera! Matei a fera! Matei a fera! – gritava o jovem matador.
Ao seu encalce, um monte de gente gritando como ali houvesse um verdadeiro e eterno defensor do poder. Na casa de Nina, a algazarra era demais e, no meio da rua outra multidão fazia coro com o rapaz.
--- Ele matou o facínora. Ele matou o facínora. Ele matou o facínora. – gritava o povo.
Num instante verdadeiro, alguém se aproximou do herói e desferiu-lhe uma cacetada em cima da nuca. O herói cambaleou para um lado e para o outro e findou por atolar a sua cara em uma lama que se fazia na rua e ali morreu. O rapaz que desferiu a cacetada fugiu para lugar distante. O povo que acompanha o herói se aproximou e retirou o corpo da poça de lama. Duas mocinhas caíram sobre o corpo do herói já morto e largaram a chorar. Eram duas irmãs da vítima que matou o homem que tinha morto a sua mulher, Nina. Uma mulher acorreu e caiu por cima do corpo do herói, a chorar sobre a vítima que ainda estava com a faca na mão.
Nesse momento, um carro da Radio-Patrulha apareceu no local. Um soldado gordo saltou e veio para perto da multidão. Queria saber o que tinha havido. Todos queriam informar. Outros dois soldados estavam por perto. E a gritaria se formou com cada qual dizendo uma versão. Um tumulto sem fim do povo da rua.
--- Pára todo mundo. Se não eu prendo todos! – disse o cabo.
O povo não se conteve e começou a barulheira. Nesse mesmo tempo um outro carro da policia apareceu por perto. E depois, outro. Então era um subtenente que comandou a operação. O sub queria saber o que acontecera. O povo, então começou a falar tudo de um jeito só, com cada um dizendo a sua versão a ponto de enlouquecer até o Comandante do Batalhão. Com a zoadeira danada que acabara de ser formada, o sub ordenou, sem saber mais o que fazer.
--- Pára todo mundo. Vão tudo para o xadrez. – condenou o sub.
Chegando ao xadrez o povo todo começou a algazarra, cada um querendo contar a sua versão ao delegado que a esta altura estava em pânico com tamanha alatomia. A sala da delegacia se encheu de gente, até as pessoas que nem estiveram no local da briga, todos querendo informar sobre o que acontecera. Com tanta confusão, o Delegado não se conteve e mandou todo mundo entrar na chave.
--- Tão presos! Acabou. E pronto! – deferiu o delegado.
Foi um tempo e tanto para a polícia chegar ao inicio da história. Na rua onde não tinha mais ninguém, pois o corpo do destemido herói foi retirado pela própria família para um outro local. Só havia movimento na casa de Nina, onde algumas pessoas tratavam de arrumar as vítimas, vestindo-lhes vestes um pouco mais decentes para poder providenciar o enterro. Eram poucas pessoas, enfim. A polícia ficou sabendo que tudo tinha começado naquele ponto. E assim, o pessoal foi posto da rua, quando então, mulheres, homens, rapazes, moças e meninos continuaram com a sua alatomia para desespero do delegado.

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